AbdonMarinho - AS TREVAS DO ENSINO MÉDIO.
Bem Vindo a Pag­ina de Abdon Mar­inho, Ideias e Opiniões, Domingo, 24 de Novem­bro de 2024



A palavra é o instru­mento irre­sistível da con­quista da liber­dade.

AS TREVAS DO ENSINO MÉDIO.

AS TREVAS DO ENSINO MÉDIO.

FIZ O ENSINO MÉDIO no Liceu Maran­hense em mea­dos dos anos oitenta. Naquela época, e já se vão trinta anos, falava-​se na neces­si­dade de se refor­mar o ensino médio. Os mestres mais anti­gos recla­mavam, com saudades, dos tem­pos mais glo­riosos da edu­cação no estado. Uma das pau­tas do movi­mento estu­dan­til daque­les dias na escola era pela reaber­tura dos lab­o­ratórios de física, química e biolo­gia fecha­dos há anos.

Ape­nas este exem­plo com­prova a neces­si­dade de refor­mas no ensino médio há, pelo menos, cinquenta ou sessenta anos. Isso, ape­nas o que con­seguimos men­su­rar numa exper­iên­cia real, pois sabe­mos que a edu­cação do começo e até mea­dos do século pas­sado era, em tudo, supe­rior ao ensino ofer­e­cido nos dias atu­ais, em que pese todos os avanços tec­nológi­cos e de con­hec­i­mento que tive­mos. A pes­soa con­cluía o secundário (cien­tí­fico, téc­nico ou o nor­mal) e estava pronto para vida. Sabia quando pouco, uns três idiomas, e ainda latim e grego. Con­hecia ciên­cias, física, química, biolo­gia, geografia e história como poucos doutores de hoje conhece.

Em que pese os inves­ti­men­tos feitos em edu­cação nos últi­mos vinte anos, o fato incon­teste, é que o país não tem avançado, os indi­cadores, quais­quer que sejam, colo­cam o Brasil numa posição vex­atória. Temos uma nação de anal­fa­betos. Até mesmo estu­dantes de cur­sos supe­ri­ores deixam as uni­ver­si­dades como anal­fa­betos funcionais.

Diante de tudo isso é de se imag­i­nar que não haja divergên­cias quanto à neces­si­dade de refor­mar­mos o ensino no país. E que comece a reforma pelo ensino médio que apre­senta os piores resul­ta­dos desde muito tempo, deixando a impressão que perdeu o norte e ficou parado no limo do tempo. Pior, se degradando.

E, ape­sar de todo mundo saber desta neces­si­dade de refor­mar­mos a edu­cação no país, ninguém enfren­tou o prob­lema. Pro­postas coz­in­ham nos par­la­men­tos ou nos con­sel­hos de edu­cação, tanto o nacional quanto nos estaduais.

Pois bem, agora, depois de décadas, o gov­erno apre­sen­tou uma pro­posta de reforma que será dis­cu­tida no Con­gresso Nacional e será sub­metida aos con­sel­hos de edu­cação e a reação de diver­sos movi­men­tos estu­dan­tis e soci­ais – emb­ora não rep­re­sen­tem a grande maio­ria da pop­u­lação –, é de repú­dio à pro­posta de reforma do ensino médio. Para demostrar seu descon­tenta­mento inven­taram um novo mod­ismo: a ocu­pação de pré­dios públi­cos, prin­ci­pal­mente as esco­las, impedindo os que querem estu­dar e tra­bal­har de fazê-​lo. Segundo divul­gam, já são cen­te­nas de esco­las ocu­padas em todo país, impedindo mil­hares de estu­dantes de se prepararem para as provas de fim de ano e até de faz­erem o exame nacional de ensino médio – ENEM, que o portão de entrada para cen­te­nas de faculdades.

A sen­sação que fico é de que habito uma nação de malu­cos – com o dev­ido respeito a estes, que são inca­pazes de prej­u­dicar, por desejo próprio a out­rem, se o fazem é por conta de alguma enfermidade.

Ora, a reforma do ensino médio é uma pauta histórica do movi­mento estu­dan­til e de diver­sos segui­men­tos da sociedade que têm pre­ocu­pação com os des­ti­nos do país. Como é que se tem uma pro­posta encam­in­hada pelo gov­erno neste sen­tido e, ao invés de sentarem à mesa e dis­cu­tir o que é pos­sível apri­morar, acres­cen­tar ou suprimir, faz-​se é protes­tar da forma mais vio­lenta con­tra a pro­posta, inclu­sive, segundo soube, ainda indi­re­ta­mente, até com vítima fatal?

Os protestos são as provas mais elo­quentes que o ensino clama, efe­ti­va­mente por refor­mas. Não faz sen­tido algum que se proteste con­tra aquilo que sem­pre se reivin­di­cou e sem abrir espaço para discursão.

Com relação aos arti­fi­cie da patranha, isso ape­nas com­prova que não pos­suem e nunca pos­suíram qual­quer com­pro­misso com a edu­cação. Se tivessem apre­sen­tariam pro­postas alter­na­ti­vas, emen­das ao pro­jeto. Não querem, sequer, dis­cu­tir. Não recon­hecem a legit­im­i­dade do gov­erno. Ten­ham paciência.

O dis­curso: esta­mos prote­s­tando con­tra a reforma por ser­mos a favor da edu­cação é uma balela sem tamanho. Estivessem inter­es­sa­dos mesmo em edu­cação iriam dis­cu­tir a pro­posta e apon­tar as fal­has – se exis­tentes –, e não prej­u­dicar mil­hares de estu­dantes, cerce­ando o seu dire­ito de assi­s­tirem aulas, faz­erem provas e a par­tic­i­parem do ENEM.

A situ­ação chega a ser sur­real. Os que protes­tam, quase todos já foram as ruas protestarem por refor­mas no ensino médio. As ditas refor­mas nunca ocor­reram. Agora recla­mam de uma ini­cia­tiva de pro­posta – que não é defin­i­tiva – quando pas­saram treze anos no poder e não tomaram ini­cia­tiva nenhuma.

Leio aqui que a enti­dade de rep­re­sen­tação dos estu­dantes secun­daris­tas infor­mam – com júbilo –, os seguintes números: 1022 esco­las ocu­padas; 85 uni­ver­si­dades ocu­padas; 102 insti­tu­tos fed­erais ocupados.

As pes­soas sen­sa­tas nos cabe inda­gar a quem inter­essa prej­u­dicar tan­tos jovens. Não faz sen­tido, somente a guerra ide­ológ­ica pode jus­ti­ficar tamanho despautério. Pas­saram a vida cla­mando por refor­mas no ensino médio e, apre­sen­tada uma pro­posta, ninguém quer dis­cu­tir, preferindo impedir que os alunos assis­tam aulas e apren­dam alguma coisa.

Não é sem razão ter­mos uma das piores edu­cação do mundo. Não tem um indi­cador que não ateste isso.

Enquanto isso, os ver­dadeiros estu­dantes, os que têm inter­esse de apren­der são impe­di­dos. Basta ver quan­tos dias efe­tivos de aula foram min­istra­dos neste ano.

E, pior, com a omis­são das autori­dades e órgãos que dev­e­riam zelar pelos inter­esses dos estu­dantes. Uma ver­gonhosa omissão.

Basta!

Abdon Mar­inho é advogado.