AbdonMarinho - UM FAROL NUMA LONGA NOITE SOMBRIA.
Bem Vindo a Pag­ina de Abdon Mar­inho, Ideias e Opiniões, Sábado, 23 de Novem­bro de 2024



A palavra é o instru­mento irre­sistível da con­quista da liber­dade.

UM FAROL NUMA LONGA NOITE SOMBRIA.

UM FAROL NUMA LONGA NOITE SOMBRIA.

Os municí­pios brasileiros (quase todos) acabam de aprovar o Plano Nacional de Edu­cação e con­cluir suas metas para o setor através de seus planos municipais.

Uma exigên­cia da leg­is­lação que con­tou com o envolvi­mento de grande parcela da sociedade, no exame e diag­nós­tico de uma situ­ação, e no apon­ta­mento de soluções para os próx­i­mos dez anos.

Os planos munic­i­pais, estad­u­ais e o nacional de edu­cação, não tenho dúvida, trata-​se um avanço no setor e que vem com­por, com out­ras ini­cia­ti­vas, tais como a a aprovação do FUN­DEB, depois trans­for­mado em FUN­DEF, o Plano Nacional de Edu­cação de 2001, um esforço para reti­rar o Brasil da vex­atória situ­ação em que se encon­tra desde sempre.

Por estes dias li uma reportagem sobre a edu­cação da Fin­lân­dia. Lá, a edu­cação já se encon­tra num pata­mar tão avançado que há não pos­si­bil­i­dade de com­para­r­mos com a nossa. A começar pelas esco­las, todas com o mesmo nível estru­tural – sendo que noventa e nove por cento delas são públi­cas –, e a idên­tica qual­i­dade de ensino, seja na capita do país, seja numa aldeia per­dida entre seus infind­áveis lagos.

O Brasil está muito dis­tante desta real­i­dade. As difer­enças do nível edu­ca­cional varia entre o norte e o sul; zona rural e zona urbana; se as esco­las são públi­cas ou pri­vadas e por aí vai, há difer­ença até entre o fato de está local­izada numa região quente ou fria.

Não é sem razão que o nosso país, sendo umas das maiores econo­mias do mundo, pos­sua uma edu­cação que fica nos últi­mos lugares em qual­quer indi­cador que se use para aferir a qual­i­dade do ensino ou o nível do aprendizado.

Como já disse em out­ras opor­tu­nidades, se a edu­cação brasileira não serve para comparar-​se a qual­quer outra do mundo que preza o saber, o con­hec­i­mento e a val­oriza­ção de tais princí­pios como solução para o desen­volvi­mento e para o aplainar das desigual­dades soci­ais, a edu­cação do estado do Maran­hão, ocupa as últi­mas posições nas avali­ações neste setor, noutras palavras: somos os últi­mos entre os últi­mos, o que não é algo muito alvissareiro.

Pois bem, é neste quadro som­brio que vis­lum­bro um faixo de luz para a edu­cação maran­hense através do pro­grama do gov­erno estad­ual “Escola Digna”.

Trata-​se da primeira e mais con­sis­tente pro­posta edu­ca­cional de grande porte que tenho notí­cia no Brasil. Emb­ora não seja de alvitre elo­giar antes que se torne real­i­dade, a pro­posta é muito boa.

Tão boa que, Infe­liz­mente, ao que parece, a equipe do gov­erno não con­seguiu apre­sen­tar o plano como se deve e o próprio gov­er­nador, talvez não tenha se dado conta do seu alcance.

Numa reunião da qual par­ticipei, acom­pan­hando alguns prefeitos, o gov­er­nador tra­tou do “Pro­grama Escola Digna”, no meio de out­ras ini­cia­ti­vas de gov­erno, que, emb­ora rel­e­vantes, nem chegam perto do alcance do pro­grama edu­ca­cional. Na reunião sua excelên­cia referiu-​se ao pro­grama como sendo a sub­sti­tu­ição de esco­las de palha, adobe, chão batido, etc., por esco­las dignas.

Ora, a ideia que fica para quem ouve tais colo­cações, e talvez por isso não tenha des­per­tado tanto inter­esse dos gestores munic­i­pais, a fora aque­les que não ligam para nada, é que haverá uma mera sub­sti­tu­ição dos bar­racões, casas de far­inha, choupanas por esco­las feitas de tijo­los e cober­tas de tel­has, com sorte, com um san­itário onde os alunos pos­sam fazer suas necessidades.

A forma como colo­cam, e até mesmo como a pro­pa­ganda – inclu­sive ofi­cial –, divulga, nos faz pen­sar em algo muito menor do que de fato o pro­grama é.

Diria que a difer­ença entre o que o pro­grama se propõe ao que ven­dem é a mesma difer­ença com­par­a­tiva entre ouro e barro.

Vejam, eu gosto e sou um apaixon­ado pelo tema, leio quase tudo sobre o assunto, não con­hecia, até bem pouco tempo o pro­grama do gov­erno, só fui conhecê-​lo numa con­versa que tive­mos com a secretária Áurea Praz­eres, acom­pan­hando a prefeita de Mor­ros, Sil­vana Malheiros.

Naquela opor­tu­nidade, mostrá­va­mos à secretária os grandes avanços no setor con­segui­dos pela política edu­ca­cional daquele municí­pio alcança­dos a par­tir de 2009, quando a prefeita, se val­endo dos recur­sos próprios, começou uma política de val­oriza­ção do mag­istério aprovando um plano de car­gos e car­reiras para o setor e dando ini­cio a sub­sti­tu­ição de escol­in­has – de uma ou duas salas, mul­ti­se­ri­adas, fun­cio­nando em taperas, casa feitas e cober­tas de pal­has, adobe, em salas de casa de famílias, paróquias, casa de far­in­has –, por polos edu­ca­cionais, estru­turas com seis ou mais salas de aula, coz­inha, refeitório, salas de infor­mática, sec­re­taria, dire­to­ria, pátio interno e e out­ros equipa­men­tos, para os quais são dire­ciona­dos os estu­dantes num raio de até oito ou nove quilómet­ros, e fechando, por con­seguinte, dezenas de esco­las que só exis­tiam no nome.

Os pólos edu­ca­cionais de Mor­ros já foram respon­sáveis pelo fechamento de quase uma cen­tena de esco­las indig­nas. Até 2016 dev­erá ter­mi­nar com todas elas, per­mitindo que os alunos da zona rural ten­ham as mes­mas condições de apren­dizado que têm os alunos da zona urbana, os mes­mos recur­sos edu­ca­cionais, como acesso à infor­mática, à inter­net e a todos os demais meios necessários e impre­scindíveis a uma edu­cação de qual­i­dade, inclu­sive com a implan­tação do ensino médio nos pólos evi­tando que os jovens saiam do con­vívio dos país para morarem na sede do municí­pio, muitas das vezes de “favor”, sendo explo­rados no tra­balho domés­tico, à pros­ti­tu­ição e muito mais suscetíveis ao apelo das dro­gas, hoje uma real­i­dade em todos os municí­pios maranhenses.

Após a apre­sen­tação a secretária nos expôs que o Pro­grama Escola Digna é uma ver­são ampli­ada e mel­ho­rada (até pelo fato do gov­erno estad­ual pos­suir mais recur­sos que os municí­pios) deste mod­elo que já vem sendo implan­tado em Morros.

O Estado vai replicar diver­sos mod­e­los de esco­las, com até doze salas (con­forme a neces­si­dade) em quase todos os municí­pios maran­henses, dotando-​as, em parce­ria com os municí­pios, das condições ade­quadas de fun­ciona­mento, alcançando, inclu­sive a edu­cação indí­gena, rel­e­gadas a um segundo plano e que ao longo dos anos têm servido de escoad­ouro de recur­sos públicos.

Se o gov­erno con­seguir tirar do papel tal pro­jeto, se for vig­i­lante na exe­cução, não per­mitindo que os recur­sos das esco­las sejam desvi­a­dos para os bol­sos dos esper­tal­hões de sem­pre, o Maran­hão estará diante de sua ver­dadeira rev­olução, de algo tão grandioso que não podemos, no momento, quantificar.

Como disse antes, o pro­jeto é muito bom, apre­senta con­sistên­cia e tem tudo para rep­re­sen­tar a ver­dadeira mudança para o Maranhão.

Algo tão bom que nem o gov­erno se deu conta do seu sig­nifi­cado. Um ver­dadeiro farol numa longa e som­bria noite.

Abdon Mar­inho é advogado.