AbdonMarinho - ALIENADOS.
Bem Vindo a Pag­ina de Abdon Mar­inho, Ideias e Opiniões, Sábado, 23 de Novem­bro de 2024



A palavra é o instru­mento irre­sistível da con­quista da liber­dade.

ALIENADOS.

ALIEN­ADOS.
Talvez a pres­i­dente, o gov­erno, o par­tido e seus ali­a­dos esperem uma man­i­fes­tação como aquela con­tra Col­l­lor no 7 de setem­bro de 1991, para acor­darem. Min­i­mizam as man­i­fes­tações das ruas, as desqual­i­fi­cam e chegam ao risível argu­mento de que se trata de uma orques­tração patroci­nada pela oposição, que não se con­for­mou com a der­rota e quer um ter­ceiro turno; pela tal elite branca, rica, pre­con­ceitu­oso con­tra o par­tido, este, vítima de tudo.
Esse dis­curso, já feito pela própria pres­i­dente, por min­istro do gov­erno, pelas lid­er­anças par­tidárias não de uma argu­men­tação tosca, chegando às raias do insulto à inteligên­cia do povo brasileiro.
Um breve histórico dos fatos lança luz de como cheg­amos ao pan­elaço de domingo e os seus des­do­bra­men­tos.
Durante a cam­panha eleitoral a presidente/​candidata acu­sou os adver­sários de, caso eleitos, destruírem os pro­gra­mas soci­ais, de plan­tar juros altos para col­herem recessão, de aumen­tar os preços públi­cos, reti­rar os avanços D a edu­cação, a saúde e mais um rosário de sandices. Lem­bram dos livros per­dendo as letras, do bife sumindo da mesa?
Eleita, a pres­i­dente, começou a fazer jus­ta­mente aquilo que jurara, solen­e­mente, não fazer, «nem que a vaca tussa», disse.
Assim, começou por aumen­tar o preço da ener­gia elétrica, aumen­tar os juros, levar o país à recessão, ao cresci­mento neg­a­tivo; difi­cul­tou o acesso dos tra­bal­hadores ao seguro-​desemprego, a aposen­ta­do­ria. Achou opor­tuno reduzir o valor das pen­sões. Diari­a­mente tomamos con­hec­i­mento do calvário que tem sido para as famílias con­seguirem aces­sar a página do FIES.
Em seguida achou que era a hora de ele­var os preços dos com­bustíveis, jus­ta­mente no momento em que o bar­ril de petróleo atingiu, no mer­cado inter­na­cional, sua menor cotação, descendo de mais de US$ 100 dólares para pouco mais US$ 40 dólares. Com isso o Brasil pas­sou a ter um do mais caros com­bustíveis de todo mundo. Logo o nosso país, ven­dido nos últi­mos anos, como uma potên­cia no setor.
O preço dos gêneros ali­men­tí­cios que já vin­ham numa cres­cente ele­vação, cau­sada por diver­sos fatores, inclu­sive a escassez de água, subi­ram ainda mais, reduzindo o poder de com­pra dos salários num cenário de cresci­mento nulo.
Pois bem, qual­quer dona de casa, tra­bal­hador, sabem que as coisas estão bem mais caras; que o mesmo din­heiro que enchia o car­rinho de super­me­r­cado, não está dando nem para chegar a metade.
Esse mesmo cidadão, essa dona de casa, jovem, paga mais caro pelo trans­porte público e os que con­seguiram com­prar um carro, não con­seguem mais usá-​lo porque o com­bustível tornou o uso do carro um luxo que poucos podem se per­mi­tir.
Não bas­tasse isso, temos a certeza que uma quadrilha se instalou em diver­sos nichos de poder com o claro propósito de roubar recur­sos públi­cos. Os números do alcance, rev­e­la­dos até aqui é que descon­fi­amos serem bem maiores, fogem à com­preen­são quan­ti­ta­tiva do cidadão comum, dos que pagam impos­tos.
No fatídico domingo, 8 de março, a pres­i­dente ignorou toda essa ret­ro­spec­tiva para fazer um dis­curso que não unia léu com créu e que era, clara­mente, rec­heado de men­ti­ras, fal­si­dades.
A reação ao dis­curso, que o gov­erno, o par­tido e seus ali­a­dos ten­tam min­i­mizar, vai muito além do bater pan­elas chiques em sacadas.
Con­vi­dada para uma exposição da con­strução civil, a pres­i­dente com­pare­ceu antes da aber­tura do evento, ainda assim, rece­beu estrepi­tosas vaias dos expos­i­tores e dos empre­ga­dos do evento tendo que inter­romper a vis­i­tação. Para com­ple­tar o vex­ame, foi falar sobre o nada para uma platéia de pouco mais cem pes­soas num auditório com capaci­dade para mais de oito­cen­tas. Temos aí, ou um equívoco mon­u­men­tal ou a con­statação de que lim­i­taram o acesso de mais pes­soas para evi­tar out­ras situ­ações con­strange­do­ras. Será que entre os que vaiaram estavam só os ricos, bran­cos, como cos­tu­mam dizer?
No mesmo momento, na cap­i­tal da República, numa Comis­são Par­la­men­tar de Inquérito da Câmara dos Dep­uta­dos, um depoente rev­elava, ao vivo, em rede nacional, que con­seguiu, ele, o sub do sub, alo­cado numa dire­to­ria menor da Petro­bras, US$ 100 mil­hões de dólares, deixando claro que o restante da propina era repas­sada a pes­soas do par­tido. Fora a falta de pudor do depoente (acho que ao expor as vísceras do esquema cor­rupto presta um serviço ao país), o fato mais emblemático durante o tempo que durou o depoi­mento, foi o par­tido da pres­i­dente e seus ali­a­dos não erguerem a voz para con­tes­tar o lamaçal em que se enredaram ou rev­e­lar qual­quer con­strang­i­mento com o que estava sendo dito. Ao invés disso, ape­sar do depoente deixar claro que a par­tir de 2004, houve a «insti­tu­cional­iza­ção» da cor­rupção, insis­tiam em querer chamar para associar-​se à ban­dal­heira, o gov­erno do par­tido que os ante­cedeu no poder. A já con­hecida e ava­cal­hada tese de que o cul­pado por tudo foi o FHC. Depois de 13 anos no poder diz­erem que a culpa é ante­ces­sor só tem uma definição: patet­ice.
A pres­i­dente, o gov­erno, seu par­tido e ali­a­dos, rev­e­lando que acabaram de chegar de uma galáxia dis­tante, insis­tem em dizer que o protesto é de uma elite minoritária, rica, que sequer con­hece a coz­inha. Além de ser um argu­mento bobo, pois ainda que fosse, é legí­timo a qual­quer brasileiro, rico, pobre, branco, preto, amarelo, ver­melho, protes­tar sem, com isso serem con­sid­er­a­dos golpis­tas ou anti­democrático. Aliás, numa democ­ra­cia, difer­ente do que pen­sam, não exis­tem temas-​tabus, qual­quer assunto, ao menos em tese pode ser debatido, crit­i­cado. Essa é uma con­quista da cidada­nia brasileira. O gov­erno, qual­quer que seja, não pode esta­b­ele­cer as pau­tas da sociedade e dizer os temas que podem ou não serem debati­dos e por quem.
Além disso, o argu­mento é fajuto. Todas as pes­soas com quem con­verso, isso inclui, donas de casas, sec­re­tarias, motoris­tas, estu­dantes, pedreiros, qual­quer um, dizem que as vaias foram e são mere­ci­das e que tam­bém vaiariam se tivessem opor­tu­nidade.
A exceção dos gru­pel­hos que o din­heiro público sus­tenta, todos os demais brasileiros, sérios, tra­bal­hadores, pagadores de impos­tos, sentem-​se traí­dos pelo atual gov­erno, estão insat­is­feitos. O gov­erno, o par­tido e seus ali­a­dos não con­seguem enten­der que a pres­i­dente prati­cou um este­lion­ato eleitoral para obter a vitória e que, foi e tem sido, no mín­imo, leniente com a cor­rupção que tomou de conta do país. Esque­cem que os primeiros que sen­ti­ram no bolso o custo da ban­dal­heira, são jus­ta­mente os mais pobres, a classe média, em seus vários extratos. Essas pes­soas não estão sat­is­feitas, estão aper­tando os cin­tos, fazendo mila­gre com o salário para que o din­heiro não acabe antes do mês.
Acho difí­cil que façam colar o argu­mento de que os mais pobres estão felicís­si­mos com o gov­erno da pres­i­dente Dilma Rouss­eff e com a cor­rupção.
Insi­s­tir na tese de que os ricos, bran­cos e a classe média não têm o dire­ito ao protesto é quase tão inverossímil quanto, como querem, a existên­cia dos pobres maso­quis­tas, estes que vendo tudo isso aplaude o gov­erno.
Abdon Mar­inho é advogado.