A EDUCAÇÃO DO ATRASO.
Ainda não criaram um instituto de pesquisa ou organismo mundial que apresente a educação brasileira numa situação favorável. Todos institutos/organismos alertam para a indigência intelectual e de conhecimento dos nossos jovens.
Quando qualquer dado é divulgado, não precisamos ter muito trabalho para encontrar o Brasil, basta olhar a planilha ou tabela de trás para frente. É batata! Lá está o Brasil na rabeira, pontificando nas últimas posições.
Faz pouca diferença se analisarmos conhecimentos básicos em linguagem, matemática ou ciências, o caos é generalizado.
Mas, o que esperar da educação de um país quando, a começar das autoridades, impera a ignorância? Quanto até a presidente da República dirigi-se à patuleia como TODOS e TODAS? ou cria conceitos absurdos como “mulher sapiens”? Faz odes à mandioca e mistura ciência co a Arca de Noé, além de outras tolices que já entraram para anedotário nacional?
Incapazes de reconhecer seus próprios desacertos, os governantes brasileiros acham mais oportuno encontrar culpados externos ou ideologizar o debate.
Um cenário tão dantesco seria de se imaginar que as ideais para melhorar a educação nacional fossem consideradas bem-vindas ou quando menos discutidas. Infelizmente, para infelicidade geral da nação e das crianças, tudo se torna motivo de embate político, disputas ideológicas que transbordam dos interesses da educação.
Um exemplo que ilustra bem o clima de guerra ideológica em prejuízo da educação é o que vimos recentemente no Estado de São Paulo por ocasião de uma proposta de reorganização do ensino. Reparem que dos estados brasileiros, São Paulo se encontra entre os melhores, o que não é grande coisa diante do quadro nacional de fim de fila.
Pois bem, a tentativa de mudança a ser implantada quase gera um “guerra civil”, mais uma vez de cunho ideológico, Claro. O que mais ouvi foi: “os tucanos vão fechar escolas”; os tucanos são inimigos da educação”; os tucanos isso, os tucanos aquilo.
Embora de longe, não consegui enxergar um motivo plausível para repulsa à proposta de reforma do ensino. Até tentei entender. Me esforcei para assistir uma entrevista dos chamados lideres estudantis por trás do movimento. O entrevistador perguntou a mocinha por que ela era contra a reorganização. Ela respondeu que estudava na escola desde que era criança, que chamava os professores de tios e tias, que tinha uma ligação afetiva com a escola. Desisti na primeira resposta. Entendi, pela primeira resposta, que a oposição à reforma não tem base racional e sim, emocional, que foi explorada de forma inescrupulosa pelas forças opositoras ao governo paulista, que incentivaram o movimento dos jovens e depois passaram a usá-lo politicamente.
Ora, o eixo central da proposta do governo paulista é a separação em círculos educacionais: o primeiro do 1º ao 5º ano; o segundo do 6º ao 9º ano; e, o terceiro voltado para o ensino médio.
A jovem líder estudantil discorda. Ela quer todo mundo junto e misturado na mesma escola.
Eu discordo dela, educadores e especialistas sérios, também.
Qualquer pessoa, ainda aqueles que não vivam o dia a dia da educação, sabem que escolas voltadas exclusivamente para crianças, pré-adolescentes e adolescentes, têm mais chance de dar certo, são mais seguras e focalizam mais a especialidade. Escolas voltadas só para crianças até o quinto ano, com todos os instrumentos de ensino voltados para elas, certamente, terão melhor aproveitamento. O mesmo acontecendo com as destinadas as crianças do sexto ao nono e as exclusivas do ensino médio.
Tanto isso é verdade que a maioria das escolas com funcionamento misto (do primeiro ano ao ensino médio) tentam colocar inclusive barreiras físicas para impedir o contato entre eles, até mesmo para evitar a prática do “bullying” e outras formas de violência presentes nas escolas. Não vejo como saudável crianças de 5 ou 6 anos convivendo no mesmo ambiente que jovens de 16 ou 17 anos; meninas de 12, 13 ou 14 anos com rapazes do ensino médio.
Há quem diga isso não tem relação com o aprendizado. Há quem defenda, até, que crianças estudem com adultos em salas mistas. Sustentam que “a troca de experiências” entre crianças e jovens facilitam o aprendizado.
Voltemos a proposta dos círculos. Dados técnicos apontam que as escolas que o adotaram o modelo apresentaram melhora que variam de 15 a 30% (quinze a trinta por cento). Isso não é bom? Num país onde as iniciativas para melhorar o ensino minguam, uma melhoria nestes percentuais é alvissareira.
Em contraposição a isso, o que têm os opositores da proposta? Ninguém sabe.
Não deixa de ser esquisito que representantes da categoria dos professores tenha emprestado apoio aos estudantes quando a proposta de especialização, da separação dos estudantes por idade, é uma pauta histórica deles.
A critica de que escolas serão fechadas ou que a ideia de a reforma é meramente monetarista, como entendem alguns, inclusive do Ministério Público e do Judiciário, não se sustentam.
Primeiro porque existem regras quanto ao número de alunos por sala a serem obedecidas. Caso coloquem alunos que extrapolem as normas cabe as entidades protestarem. O mesmo fazendo em caso de redução dos investimentos no setor.
Segundo porque não o fim do mundo fechar escolas se estas já não cumprem seu papel, se estão sendo sub utilizadas. Nestas condições, o ideal é que sejam mesmo fechadas e os recursos destinados a outras escolas. Ou que tenham outras funções: como escolas de música, idiomas, centros de convivência ou de práticas esportivas, etc.
Entendo que para o país superar o atraso precisa investir com racionalidade os recursos públicos, se desapegar de velhos conceitos que têm levado a educação brasileira para a rabeira da fila.
O Brasil não suporta mais uma educação ideologizada, ineficiente, que se ocupa de formar analfabetos funcionais.
Abdon Marinho é advogado.
(Texto sem correção).