O DESPERTAR DA SERPENTE.
AH, SÃO LUÍS! Que ingrato é o futuro que te espera.
Vez ou outra me vejo a pensar na lenda da “serpente encantada”, aquela onde está narrada que sob as fundações da cidade se encontra adormecida uma serpente de proporções descomunais crescendo sem parar, e que, quando sua cauda encontrar-se com a cabeça, toda a cidade ruirá e a ilha desaparecerá para sempre.
Será mesmo?
Não creio. Pois, se assim fosse, a serpente teria que se apressar e despertar o quanto antes. Analiso o quadro sucessório. Os candidatos colocados à disposição dos munícipes – embora ninguém ouse dizer publicamente, até porque muitos dos formadores de opinião estão comprometidos com este ou aquele candidato, ressalvadas as exceções, que apenas justificam a regra –, são de tal forma inconsistentes nas suas propostas que acredito não sobrará nada para ser destruído quando a serpente despertar do seu merecido sono.
Os candidatos, até onde sei, são pessoas boníssimas, não conheço, no trato pessoal, nada que os desabone. Mesmo o que está no mandato (e por isso mais exposto), é merecedor dos maiores elogios no campo pessoal, os mais íntimos dizem, como um elogio: é uma moça. Independente da outra quase unanimidade que aponta sua administração como das menos eficientes para não dizer coisa pior.
Os direitos de respostas que sua coligação conseguiu nas propagandas adversárias atestam isso: chega a ser risível o prefeito da capital, depois de quatro anos, pedir direito de resposta para dizer que fez três escolas, cuja capacidade das mesmas, somadas não passa de mil alunos; ou que está construindo uma ou outra ali: e que se encontra em andamento a licitação de uma outra.
A iniciativa – pedir o direito de resposta e o conseguir – tem até o condão de retirar dos adversários o tempo, mas os esclarecimentos que presta retrata o quanto sua administração não correspondeu ao que se esperava e se espera de uma prefeito da capital. Mil vagas numa população de mais de um milhão de habitantes, me perdoem, não é nada.
Os outros (menos expostos), não se tem muito, também, do que falar, até porque, neófitos no teste da administração pública, não tiveram a chance de errar.
Mas, pelo fato de serem pessoas, me permitam a licença, “boas para casar”, os credenciam a gerirem uma cidade com problemas monumentais? A preparem a cidade para os novos desafios de uma economia globalizada? Para as grandes demandas que já estão presentes e que aumentarão substancialmente quando iniciar a siderúrgica que os chineses pretendem fazer em Bacabeira? Ou caso a Zona de Exportação do Maranhão - ZEMA, seja aprovada e implantada na capital?
Acredito que não. A maioria nem toca neste assunto. Aliás, não vi ninguém falar no assunto.
Apesar disso, não duvido das boas intenções dos candidatos. Até acredito que queiram o melhor para cidade. O que não vejo, e as propostas não deixam claro, é como irão transformar a boa intenção em realidade. Sem contar o fato de não enxergarmos nas propostas a identificação, clara, dos principais problemas e a forma que irão enfrentá-los.
A rigor a campanha da capital tornou-se uma embate de marqueteiros audaciosos – e como são audaciosos.
Antes da campanha, por exemplo, a cidade fervilhava de problemas. Eram os buracos, nas ruas, a educação que não saia do lugar, as humilhantes filas para marcar ou conseguir uma consulta; o esgoto que não chega a quem precisa, a água que ainda é um bem raro na maioria dos lares.
Diante de tudo isso, nos aparece a propaganda do atual prefeito para nos vender a ideia de que ele é “competente e experiente”. Como, cara-pálida, se ainda ontem – segundo amplamente divulgado – o seu governo era rejeitado por quase setenta por cento dos munícipes?
Só mesmo a audácia justifica dizer que o atual gestor faz uma administração competente.
O pior é que não vemos os demais candidatos questionarem tal mote. Talvez concordem com ele ou não tenham nada a apresentar para mostrar que o que foi feito (ou não feito) poderia ter sido diferente, na eficiência ou no resultado.
Diante da inércia dos demais candidatos em contestarem a ideia de que o atual gestor é competente e experiente, talvez ele até o seja, mas se comparado aos demais competidores.
Vejamos, se há a concordância, inclusive, dos demais competidores, de que o gestor atual é competente e experiente, por isso mesmo, merecedor do voto, significa que teremos mais do mesmo, a continuação da experiência e competência dos últimos quatro anos.
Será que isso mesmo que a cidade quer e precisa? Um governo experiente, competente e de continuação?
Um outro equivoco – e que envolve o silêncio obsequioso do governo estadual – é forma como “vendem” parceria prefeitura/estado na realização de obras na capital. Passam a ideia de que só continuarão com a parceria se o atual gestor for reconduzido nas eleições de outubro.
Ora, se bem me lembro, o próprio governador, por ocasião da posse, anunciou a patuleia que estava “fundando” a República no Maranhão. Que tipo de república é essa onde o comando do estado só mantém parceria se o eleitor escolher o candidato preferido do governador? Seria esta uma República? Talvez a república dos coronéis.
Vejam, até quero acredita que a ideia do governo não seja essa. Mas resta implícito na propaganda, ainda que de forma indireta ou subliminar – para usar um jargão jurídico –, que as tais parcerias só vão continuar se o atual gestor for eleito. E não vemos ninguém, nem do governo, nem os opositores do atual prefeito contestar, dizer que não é nada disso.
Como dizia papai, quem cala consente.
Encerro externando meu profundo desalento com os candidatos postos e, principalmente, com o que demostraram até aqui, neste inicio de campanha. Ainda estamos no começo da campanha – embora já principie o fim –, vamos torcer que digam a que vieram e o que têm a oferecer.
Essa falta de perspectiva me faz lembrar uma conversa que tive com um velho amigo do interior do estado. Questionava-o sobre os sucessivos equívocos nas escolhas dos gestores daquele município, já iam para a terceira ou quarta eleição e sempre um pior que o outro, até parece que a cidade foi fundada num cemitério de burros.
Disse-lhe: – Meu amigo, o povo deste teu município não sabe escolher um prefeito que preste?
Respondeu-me com uma metáfora que lembro até hoje: – Doutor, se eu vou no mercado e só encontro à venda frango, só posso comprar frango, só vou comer frango.
São Luís, ao que parece, foi acometida por uma escassez de candidatos jamais vista. Você olha para um lado, olha para outro e fica com sensação de vai comer frango por mais quatro anos.
Ah, São Luís! Pouca coisa restará quando a serpente despertar.
FELIZ ANIVERSÁRIO, CIDADE QUERIDA.
Abdon Marinho é advogado.