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Bem Vindo a Pagina de Abdon Marinho, Ideias e Opiniões, Terça-feira, 26 de Novembro de 2024



A palavra é o instrumento irresistível da conquista da liberdade.

Escrito por Abdon Marinho

VIDA DE GADO.

Por Abdon Marinho.

SEMANA passada escrevi dois textos. Um dizia que o governo Bolsonaro acabara, no outro criticava a postura do governo estadual em promover, sem amparo científico o “liberou geral” da economia, sem considerar o alastramento da pandemia pelo interior do estado, a perda de mais de duas mil vidas, o número de óbitos diários acima da casa dos trinta, justificando que não seria “tutor de ninguém e que cada um deveria cuidar de si”.

Aos dois textos, as reações apaixonadas típicas dos dias atuais. 

Depois de tantos anos não deveria mais “dá trela”, como dizia lá no meu interior, entretanto, não posso deixar de registrar a profunda contradição das falanges bolsonaristas ao reclamarem – com o mesmo discurso dos seus adversários –,  de um texto, ao meu sentir, sereno que só passa a percepção do autor em relação ao governo atual. 

Os ataques desnecessários –  porque não me convencerão do contrário –, e contraditórios, pois falam como máxima democrática na liberdade de expressão, incluindo a defesa da supressão da própria democracia brasileira, como é o caso das manifestações em defesa de um golpe militar, do fechamento do Congresso Nacional e Supremo Tribunal Federal - STF (e por extensão de toda a justiça); de atos institucionais como AI-5, que suprimiu as liberdades individuais dos cidadãos, e ao mesmo tempo são refratários à liberdade de expressão quando esta é para criticar o governo que defendem. 

Quer dizer que a liberdade de expressão que alberga até a defesa do fim da liberdade não serve para que se defenda ideias diferentes ou contrárias às suas ideias? 

Não, não acho razoável – e jamais acharei –, que em nome de uma suposta liberdade se defenda a implantação de uma ditadura, o fechamento das instituições próprias da democracia ou se suprima as liberdades individuais. 

Acho menos razoável, ainda, que um presidente da República incentive, direta ou indiretamente, por ação ou omissão, este tipo de movimento. 

A tola conceituação de que existem “ditadura boa”  é, aliás, o que os iguala mais, ainda, às ideias que dizem combater: o tal comunismo. 

Colocam o “comunismo” como se este estivesse enfronhado nas instituições do país e perseguindo os novos “cavaleiros” das liberdades nacionais. 

Os defensores do comunismo, a militância de base – pois os dirigentes comunistas em todos lugares do mundo e em todos os tempos sempre quiseram “se darem bem” –, foram forjadas, também, no falso conceito de que as ditaduras comunistas “eram do bem”. 

Para estes, a direita corrupta e perversa passam os dias a tramar contra a classe trabalhadora sendo necessário uma “ditadura do bem” para libertar o povo. 

Assim, também, os foram outros dois movimentos hediondos da história recente da humanidade: o fascismo e o nazismo. Este último quase conseguindo o seu intento de impor uma ditadura em uma grande parte do globo terrestre, mas, ainda causando sofrimento e mortes a milhões de pessoas. 

A história mostra que milhões de alemães “do bem”, defendiam e idolatravam os líderes nazistas e a sua ditadura “restauradora”. 

O mesmo acontecendo com milhões de italianos “do bem”. 

Só foram perceber seus equívocos no final ou reta final da Segunda Guerra Mundial. 

Os verdadeiros democratas – por mais que os extremistas digam o contrário –, são conscientes que não existe ditadura boa, ou do bem. 

Não bastassem os exemplos históricos, os tristes exemplos dos regimes autoritários que teimam em sobreviver, estão aí para comprovar o que digo.

Os soluços autoritários, venham de onde vierem, precisam ser combatidos no nascedouro. 

Foi isso que disse uma pesquisa recente da Folha de São Paulo, que apontou que quase oitenta por cento da população brasileira é contra a ditadura. 

Nunca o índice dos que apoiam a democracia, desde 1988, foi tão elevado, o que confirma aquilo que já nos dizia Ulysses Guimarães por ocasião da promulgação da Constituição: “o povo brasileiro tem ódio e nojo de ditadura”. 

O recado não poderia ser mais claro e deveria nortear a conduta do atual governo. Ou seja, defender a democracia é condição essencial para governar. 

Noutra palavras, não sabe brincar, não desce para o play.

Nada nos vale qualquer sucesso ou “milagre econômico” como pregavam os militares ainda durante a ditadura, sem o respeito às instituições republicanas e a democracia. 

O povo brasileiro não deseja e jamais vai defender uma ditadura, seja ela de “direita” ou de “esquerda”, ainda que seus “militantes” digam, dia após dia, que existem ditaduras boas. 

Desde sempre que a minha pauta é defesa da democracia e dos seus valores; que me coloco contra o péssimo hábito das lideranças tratar o povo como gado, incapaz de formular seus próprios conceitos. 

Faço isso a vida inteira. Já no movimento estudantil, em meados dos anos oitenta, com o surgimento do pluripartidarismo e as diversas correntes defendendo os regimes totalitários da esquerda ou da direita me colocava contra. 

O mesmo comportamento durante o movimento universitário. 

Já naqueles anos, meados dos anos noventa e início dos anos dois mil, muito antes das redes sociais, já assumia publicamente minhas ideias e as externava, nos fóruns de debates ou por outros meios.  

Naquele tempo as “redes sociais” eram os programas matutinos de rádio. 

Um dos mais requisitados era o do saudoso jornalista Roberto Fernandes, na Rádio Educadora Rural do Maranhão, para lá, quase toda semana, ligava para expor minhas posições sobre os temas políticos comunitários, criticava prefeito, governador, deputados, ministros.

Depois veio a participação em programas de rádio e de televisão, através de entrevistas. 

Nunca me furtei a assumir minha posição ou de dizer o que pensava a respeito dos mais variados temas ou governos.

Quando criticava os governos do grupo Sarney, pelos aduladores destes, era chamado de esquerdista; quando criticava os governos da esquerda, era chamado de direitista. 

Nos últimos trinta anos tem sido assim. 

Quando critico os governos ditos de esquerda sou chamado de direitista; quando crítico os da direita, sou chamado de esquerdista.

As crítica, geralmente, partem das “bases”, daqueles que querem “mostrar serviço” ou adular os chefes. 

Os líderes, salvo uma ou outra exceção, sequer me conhece, já a militância insana e desocupada, nem chega a ler ou a formular uma convicção sobre qualquer coisa, já lança os ataques pelo título do texto.

Com o advento da acessibilidade a comunicação social através das redes sociais, blogues, sites, resolvi escrever minhas ideias. 

Fora os textos que se perderam numa ou outra mudança de provedor, no meu site, hoje tem quase mil textos, onde falo de tudo – e de todos. 

Nunca tive medo ou a necessidade de esconder atrás do anonimato. 

Desde o tempo que ligava para as emissoras de rádio até hoje sempre assumi minhas posições. Meus textos, para que ninguém tenha dúvidas quanto à autoria, assino-os no início e no final. Não temo patrulhamentos – nunca os temi. 

Quando, no início, disse que nem deveria “dá trela” as tolices que muitos dizem nas redes sociais ou mesmo em comentários privados, é porque isso vem de longe.

Mas, vez por outra, é importante assentar algumas verdades básicas para que os militantes, ao menos, tenham o trabalho de fazer alguma pesquisa e aprendam a separar o joio do trigo. 

Ah, o título do texto é só uma justa homenagem a uma linda música do grande cantor brasileiro Zé Ramalho, nada a ver com a insanidade dos militantes de lado a lado que passam os dias se digladiando nas ruas, nas Redes Sociais e nos grupos de WhatsApp. 

Abdon Marinho é advogado.