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Bem Vindo a Pagina de Abdon Marinho, Ideias e Opiniões, Terça-feira, 26 de Novembro de 2024



A palavra é o instrumento irresistível da conquista da liberdade.

Escrito por Abdon Marinho

BASTA NÃO ROUBAR?

Por Abdon Marinho.

TENHO refletido nos últimos dias, pós quarentena, nos males causados pelas administrações do Partido dos Trabalhadores - PT – e seus aliados –, ao Brasil. Não falo apenas dos atos praticados no exercício dos encargos. Destes, podemos, com boa vontade, até apurar coisas positivas e diversos avanços. 

O que, efetivamente, me preocupa são os efeitos para a posteridade.

Recentemente, em um debate com os candidatos à prefeitura de São Paulo, um dos assuntos que dominou os participantes foi a “ameaça” de um retorno dos petistas ao comando da cidade. 

O receio parece ser tanto que o representante do partido encontra-se, nas pesquisas de opinião, atrás, até mesmo, de radicais, como o candidato do Partido Socialista e Liberdade - PSOL, representado pelo notório Guilherme Boulos, que, ao menos em tese, estaria à esquerda do PT.

O que assistimos em São Paulo é o que acontece no macro cenário da política nacional. 

Estimulados por ambos os lados, como se houvessem apenas dois, os brasileiros, somos compelidos ou empurrados para o seguinte dilema: se criticamos o governo Bolsonaro, somos logo colocados no grupo dos “esquerdistas, comunistas, saudosistas” da roubalheira dos governos petistas. 

Se, por outro lado, criticamos a roubalheira, os equívocos, a bandalha que foram os governos petistas, logo somos chamados bolsonaristas, infames, intolerantes, racistas, genocidas, e tudo mais.

Nos debates extremados que tomaram de conta da política nacional, os governos tidos por sociais-democratas, que na curta experiência após a ditadura, se fazem representar pelos dois governos do Partido da Social Democracia Brasileira - PSDB, são colocados, na conta dos petistas como “de direita” e, por isso mesmo, combatidos; e, pelos bolsonaristas, como comunistas, de esquerda, cúmplices da corrupção, aliados e a encarnação do mal, devendo ser combatidos por isso.

É assim, entre dois pólos que lutam pelo poder e/ou para a manutenção de suas ideias a qualquer custo, que a maior parte da sociedade brasileira vê-se compelida, embora sem lado, a escolher um dos dois que mais “berram”. 

O debate do “nós contra eles” teve início com primeiro governo Lula, que a despeito de ter recebido o governo numa transição pacífica – como nunca tínhamos visto entre partidos de oposição –, logo que assumiu tratou de satanizar o governo anterior. 

Isso foi feito, não com o propósito de “fazer diferente” ou evoluir no propósito de governar para o bem comum, mas sim, para aniquilar aquela que era a principal força de oposição em um projeto hegemônico de poder. 

Em linhas gerais, o petismo vem experimentando o mesmo método de desconstrução que utilizou contra os seus antecessores. 

Assumiram com uma bandeira de “puros” e no governo revelara-se aos olhos da nação capazes de coonestarem e participarem de esquemas de corrupção inimagináveis aos cidadãos brasileiros, até então. 

É esse contraponto que o bolsonarismo vem fazendo de forma eficiente – também num projeto hegemônico de poder –, impingindo a todos os seus críticos a pecha de cúmplices ou participes dos esquemas petistas de corrupção, mesmo que estes nunca tenham passado por perto de qualquer dos governos petistas ou auferido quaisquer vantagens de seus governos. 

O título do texto é uma provocação.

Aprendi desde muito cedo, aliás, desde sempre, que a honestidade não é favor, mérito ou faculdade, mas sim um dever, uma obrigação do cidadão. 

Outra coisa, ninguém que se pretende honesto deve sê-lo para impressionar ou para os outros. Devemos ser honestos para nós mesmos. 

E isso não “vantagem” nenhuma.

O ex-presidente Lula da Silva, no seu discurso de posse, no já longíquo janeiro de 2003, fez uma solene promessa à nação brasileira: não apenas não roubar, mas impedir que outros roubassem no seu governo.

O tempo que é o senhor da razão e as dezenas de processos civis e criminais contra o ex-presidente e sua troupe provam que não fez nenhuma coisa nem outra.

Os mais variados esquemas já revelados – e acreditamos que de muitos jamais saberemos –, subtraíram dos cofres da nação bilhões de dólares e as penas aos implicados se conta em milhares de anos.

As maltas fiéis do lulopetismo negam as evidências – e provas da bandalha –, como elas nunca tivessem existido e tudo que assistimos nos últimos anos fossem uma “armação” da direita conservadora, escravocrata e ressentida que nunca superou a chegada de “operário” (que nunca trabalhou) ao poder.

Esse negacionismo à luz de todas as evidências é o principal combustível para o bolsonarismo se firmar e se fortalecer no poder.

As hostes bolsonaristas – e já ouvi de diversos defensores deste novo credo –, repetem como se fosse um mantra: o homem não está roubando; até agora, com toda vigilância, ninguém nunca apontou qualquer ato de corrupção e outras coisas na mesma linha.

Enquanto isso, a “boiada” vai passando, como bem assinalou o ministro anti-meio ambiente do atual governo.

Para os defensores do credo bolsonarista a “formação de família” que aliviou ou cofres públicos em milhões de reais através do famoso esquema de “rachadinha” não é nada. 

— Ora, todo mundo faz: vereadores, deputados, senadores, membros do poder judiciário e até do Ministério Público, que deveria fiscalizar a lei. Por que com os Bolsonaro seria diferente?

Dizem para justificar o injustificável.

O que significam os depósitos sem origem na conta da primeira-dama de pouco menos de cem mil diante dos milhões roubados pelos petistas? 

É claro que numa escala de grandeza não se tem como comparar, mas é corrupção do mesmo jeito.

Enquanto o mundo inteiro assiste com estupor as queimadas recordes na Amazônia e no Pantanal.

Para os defensores do credo bolsonarista isso sempre existiu, é coisa de ONG’s estrangeiras interessadas em questionar a soberania do país sobre assuntos internos, é coisa de índios e de caboclos que usam esse método para limpeza do solo, é coisa do Leonardo di Caprio.

Órgãos de monitoramento via satélite do Brasil e do mundo interior estão errados. 

As imagens estão erradas, são infiltrados esquerdistas que querem desestabilizar o governo.

E a boiada vai passando.

Numa reunião convocada numa sexta-feira para acontecer na segunda, o Conselho Nacional de Meio Ambiente – Conama, que foi “desidratado” pelo atual governo, para excluir a participação da sociedade, revogou diversas normas de proteção ambiental, seja a proteção dos manguezais, das restingas, do cerrado, da exploração dos rios, lagos e da proteção as áreas de reservatórios.

O que tem? É o desenvolvimento. 

O mercado e a especulação imobiliária em geral, agradece. 

E é assim em toda a pauta ambiental, exploração desordenada de garimpos em reservas e áreas indígenas, incentivos à grilagem de terras públicas nas bordas da Amazônia e do Pantanal e por aí vai. 

Vejam que mesmo o “gancho” que usam para se contrapor aos governos petistas se tornou contraditório.

Como falar em combate à corrupção quando o governo é “sustentado” politicamente pelos mesmos parlamentares – com poucas exceções –, envolvidos em onze de cada dez escândalos de corrupção dos governos petistas.

— Mas o “homem” precisa governar. Vai governar com quem?

Dizem as maltas do bolsonarismo utilizando, praticamente, o mesmo argumento do ex-ministro Zé Dirceu, em 2003, ao lotear o governo e montar o esquema que ficou conhecido como “mensalão” e depois “petrolão”.

O que tem de diferente é que a corrupção encontra-se “institucionalizada” através de outros mecanismos, não mais totalmente dentro do governo federal. 

Agora usam a principal moeda da República: as emendas, distribuídas a granel e sem controle, inclusive, legal, para garantir a sustentação do governo.

Quantos bilhões o governo não lançou mão nos últimos tempos para “agradar” a base aliada? 

Como nos governos anteriores ninguém liga para as burras da viúva – ou ligam em demasia, tanto que as querem para si.

E o governo federal, presidente à frente, faz de tudo para satisfazer a gula e ficar de bem com o eleitorado. 

Pois, mais do que colocar o país no rumo do desenvolvimento e do progresso, o que está em jogo já é a disputa eleitoral de 2022. 

Outro dia, os parlamentares aprovaram um “mimo” de isenção de quase um bilhão para as igrejas, o presidente por recomendação da ilegalidade pela equipe econômica, mas já dizendo aos seus aliados do Congresso que derrubem o próprio veto. 

A mesma coisa é a “guerra” que trava para criar um programa assistencial mais robusto que o criado pelo petismo, que por sua vez era uma junção dos programas criados pelo PSDB. 

Tudo com um propósito: comprar votos explorando a miséria do povo – ainda que o país tenha que pagar as consequências. 

Noutra frente, e com igual importância, trabalham com incomum afinco para – e juntos –, para acabar com todos os avanços na área de controle e combate institucional à corrupção. 

Não foi sem motivos que o presidente nomeou um procurador-geral de fora da lista tríplice formulada pelos integrantes do MPF. 

Os resultados estão aí, a forças tarefas de combate à corrupção nos estados – as várias “lava jato” estão sendo desmobilizadas. 

Alguém se lembra que o ex-juiz Moro deixou a magistratura porque acreditou na promessa que no governo não iria “pescar” corruptos com vara de pesca, mas com redes?

Desde o seu primeiro dia que assistiu a “promessa” esvair. 

Viu o projeto de combate à corrupção ser aniquilado; as ações de combate à corrupção serem redirecionadas. 

Viu as tentativas de aparelhamento da Polícia Federal. 

E, por fim, teve que pedir demissão.

Agora, assiste aqueles mesmos corruptos que deveriam ser investigados, julgados e condenados “estancarem a sangria” –como bem queria o notório ex-senador Romero Jucá –, e reverterem com o silêncio e complacência de todos,  os avanços no combate à corrupção que ele – e tantos  juízes –, o Ministério Público, a Polícia Federal, travaram. 

Assiste, também, o presidente da República a escolher ministro do STF, em comum acordo com o centrão, em convescote com Gilmar Mendes e Dias Tóffoli, as principais reservas morais do nosso Supremo. 

Sobra a impressão que o Brasil faz um triste retorno a um triste passado. 

Abdon Marinho é advogado.