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Bem Vindo a Pagina de Abdon Marinho, Ideias e Opiniões, Quinta-feira, 02 de Maio de 2024



A palavra é o instrumento irresistível da conquista da liberdade.

Escrito por Abdon Marinho

AOS PERSEGUIDOS.

Por Abdon Marinho.

QUANDO acordei, ainda na madrugada, a primeira lembrança que assaltou-me à mente foi da conversão de Saulo, que nos conta os Atos dos Apóstolos. Fiquei repetindo, intimamente, Saulo, por que me persegues? Diversas vezes, até lembrar da construção completa: “Saulo, Saulo, por que me persegues? E ele disse: Quem és, Senhor? E disse o Senhor: Eu sou Jesus, a quem tu persegues”. (at. 9:4-5). 

Durante todo o dia fiquei com a lembrança a martelar a cabeça. Não sou tão religioso assim, a ponto de lembrar passagens bíblicas. Até, pelo contrário, muitos devem ser os pecados que carrego. E, me perguntei: por que esta passagem tão específica? 

Voltei-me a Saulo. Esta parte do livro dos Atos, trata,  justamente, da sua conversão. Sabemos que antes dela, Saulo tinha como ofício a perseguição aos primeiros Cristãos. Era sua “missão”. Não por possuir um ódio a este ou aquele ou a todos daquele grupo, especificamente, mas sim, por combater as verdades que pregavam. A boa nova que, por designação de Jesus Cristo, tinham a incumbência de propagar a todos os povos. 

Esse era o trabalho de Saulo: perseguir aqueles que propagassem aquelas verdades. 

Ao longo da história humana – até hoje –, muitos são os sofrem perseguições por professarem uma fé distinta da maioria, diferente daquela dos donos do poder, ou por falarem a verdade. Quantos não foram os mártires a morrerem de forma horrenda por não se curvarem aos deuses pagãos de Roma? Quantos não são os que ainda hoje sofrem perseguições por sua fé, suas ideias ou seus princípios? Quantos não são os que sofrem por expor as inconsistências, as incompetências dos “líderes com pés de barro”? Não teria sido mais fácil negar a Deus e aos ensinamentos de Jesus para salvarem as próprias vidas e dos seus próximos? Não era (e não é) mais cômodo “ficar na sua” para não ser molestado, podendo até auferir algumas vantagens dos poderosos que acham não merecerem questionamentos ou que lhes apontem as falhas? 

Saulo ouviu a Jesus, conheceu a verdade, converteu-se. De perseguidor passou a perseguido. E, por sua fé, morreu.

Depois – e por séculos –,  foi a vez dos cristãos se tornarem perseguidores, agora usando a sua fé como justificativa.

Com o passar dos anos, dos séculos, dos milênios, até chegarmos aos dias atuais, em que a sociedade se orgulha de viver tempos de tolerância, as perseguições continuam. São as mesmas, talvez com novas roupagens. 

Quantos não são os exemplos que nos chegam diariamente, pelos vários meios de comunicação, informando sobre tortura, encarceramentos arbitrários, punições coletivas de pessoas por professarem uma fé? 

Em alguns países mesmo a posse de uma bíblia é motivo para prisão por anos.

Quantos não foram os jornalistas ou comunicadores mortos ou aprisionados nos últimos anos por divulgarem notícias contra os poderosos?

O Brasil, que há mais de trinta anos diz viver uma democracia plena, ocupa o sexto lugar nas perseguições contra os profissionais de imprensa, atrás, apenas, de ditaduras sanguinárias. 

Aqui mesmo, próximo a nós, temos conhecimento das perseguições sofridas por aqueles que não temem dizer a verdade, ou de posicionar-se de forma distinta àquela dos donos do poder. 

Não faz muito tempo passamos o desagradável constrangimento, vergonha mesmo, ao vermos a mais elevada Corte de Justiça do país “inventando” uma investigação clandestina cujo o propósito único é perseguir aqueles que emitem críticas as posições e excessos das excelências, bem como aos seus incontáveis abusos. 

E, por menos que isso, essa mesma Corte ordenou a censura prévia a duas publicações jornalísticas, em flagrante violação à Constituição da nação. 

E, nestas terras timbiras, quantos não já foram os jornalistas, comunicadores ou mesmo cidadãos,  que sofreram (ou sofrem) perseguições por expressarem suas ideias ou fazerem críticas aos poderosos de plantão? Ao denunciarem a empulhação e as mentiras vendidas como verdades? 

Quantos não são “punidos”, tendo que gastar o pouco que possuem para custear suas defesas nas varas da Justiça? Quantos não já foram condenados por crimes de opinião, inclusive, com restrições à suas liberdades de locomoção? 

O combate à verdade continua cada vez mais firme, talvez, mais sofisticados, onde os poderosos querem passar de respeitáveis democratas. Mas as perseguições estão aí, à vista de todos, sem quaisquer constrangimentos. 

Antes, pelo contrário, é exercida com orgulho, como demonstração de força, para aniquilar e calar qualquer um que ouse pregar a verdade ou a mostrar seus pecados. 

Agem, assim, como Saulo perseguindo aqueles por sua fé, sua crença, por pregarem a verdade que lhe foi ordenada por Jesus para que pregassem.

Aos perseguidos, aos não se cansam ou que têm coragem para sofrer os martírios em nome da verdade ou do que consideram justo, como muitos já o fizeram anteriormente, em nome da fé, resta a esperança nas palavras do próprio Jesus: “Bem-aventurados os que sofrem perseguição por causa da justiça, porque deles é o reino dos céus”. (Mateus 5:10).

Abdon Marinho é advogado.