AbdonMarinho - A Páscoa e o triunfo da humanidade.
Bem Vindo a Pag­ina de Abdon Mar­inho, Ideias e Opiniões, Domingo, 22 de Setem­bro de 2024



A palavra é o instru­mento irre­sistível da con­quista da liber­dade.

A Pás­coa e o tri­unfo da humanidade.


A PÁS­COA E O TRI­UNFO DA HUMANIDADE.

Por Abdon Marinho.

CRE­DES!? Todo aquele que vive, e crê em mim, nunca mor­rerá.

Ouvi as palavras que saiam da boca do padre como um con­selho e/​ou um con­solo der­radeiro diante da dor da perda de um ente querido na missa de corpo pre­sente que encomen­dava sua alma ao Pai celestial.

Naquela mis­são imposta por seu min­istério, ao padre cumpria a dupla função: encomen­dar ao Cri­ador a alma do que par­tia e con­so­lar a dor dos que ficavam.

Para isso, socorreu-​se das palavras do próprio Cristo Sal­vador, num daque­les mais ilus­tra­tivos episó­dios de fé que nos narra a Bíblia Sagrada: a ressur­reição de Lázaro.

O livro sagrado nos rev­ela que uma das famílias que mais pri­vava da amizade de Jesus era a família de Marta.

E, ela (Marta) man­dara avisar Jesus da enfer­mi­dade e morte de Lázaro, seu amigo/​irmão. Mas Jesus retar­dou no regresso, por isso Marta diz-​lhe, segundo o Evan­gelho de João: “Disse, pois, Marta a Jesus: Sen­hor, se tu estivesses aqui, meu irmão não teria morrido.

Mas tam­bém agora sei que tudo quanto pedires a Deus, Deus to concederá.

Disse-​lhe Jesus: Teu irmão há de ressuscitar.

Disse-​lhe Marta: Eu sei que há de ressus­ci­tar na ressur­reição do último dia.

Disse-​lhe Jesus: Eu sou a ressur­reição e a vida; quem crê em mim, ainda que esteja morto, viverá.

E todo aquele que vive, e crê em mim, nunca mor­rerá. Crês tu isto?” João 11:2126.

Marta ainda argu­menta que se pas­saram muitos dias desde a morte do irmão e que este já estaria em decom­posição.

Cristo, porém, tudo podia – e tudo pode, não nos esqueçamos disso –, e por isso ressus­ci­tou a Lázaro que já repousava na man­são dos mor­tos há dias.

Nestes dias, entre a Paixão e a Pás­coa, me pus a refle­tir sobre tais ensi­na­men­tos.

Busquei na memória dis­tante aquela lem­brança do que nos disse o pároco naquela missa de corpo pre­sente: “todo aquele que vive, e crê em mim, nunca mor­rerá”.

Não é que a fé nos deixe imunes ao medo do perec­i­mento antes daquela que jul­g­amos a hora da morte, mas ela (fé) nos con­forta diante do impon­derável.

O próprio Cristo sen­tiu o imenso peso do perec­i­mento, na noite em que se deu a prisão e pos­te­rior cru­ci­fi­cação: “Indo um pouco mais adi­ante, prostrou-​se com o rosto em terra e orou: ‘— Meu Pai, se for pos­sível, afasta de mim este cálice; con­tudo, não seja como eu quero, mas sim como tu queres’». Mateus 26:39.

E assim se deu, con­forme a von­tade de Deus.

Seu único filho foi preso, pade­ceu sob Pôn­cio Pilatos e foi cru­ci­fi­cado entre os dois malfeitores e de lá lançou o seu perdão: “— Pai, perdoa-​lhes, pois não sabem o que estão fazendo”. Lucas 23:34.

Na der­radeira hora, em voz alta Jesus brada, ainda segundo o Evan­gelho de Lucas: “— Pai, nas tuas mãos entrego o meu espírito”. E expirou. Lucas 23:46.

A Pás­coa, a ressur­reição de Jesus Cristo, que hoje se comem­ora é a vitória sobre tudo isso. Tudo que tinha de acon­te­cer para se cumprir a as escrit­uras sagradas e a von­tade de Deus.

Não podemos nos lim­i­tar a fes­te­jar – os que creem –, a ressur­reição do Sal­vador sem com­preen­der que ela sig­nifica o tri­unfo da humanidade sobre todos males.

E porque digo o tri­unfo da humanidade? Porque Jesus foi, como ele próprio recon­heceu, ape­nas o cam­inho, o instru­mento para o cumpri­mento da von­tade do Sen­hor único. Foi por isso que disse: — “Eu sou o cam­inho, e a ver­dade e a vida; ninguém vem ao Pai, senão por mim”. João 14:6.

Vive­mos uma Pás­coa espe­cial.

Em muitos anos antes desta e, acred­ito, muitos anos depois, não viver­e­mos um momento de tamanha importân­cia e de provação para a humanidade.

São dias de tribu­lações, sen­ti­men­tos à flor da pele.

Por isso mesmo deve­mos refle­tir sobre o momento que vive­mos e bus­car na fé indi­vid­ual de cada um – e todas devem e pre­cisam ser respeitadas –, as respostas que pre­cisamos, mas, sobre­tudo, o con­forto e a res­ig­nação para vencer os desafios que estão pos­tos.

É impor­tante para que obten­hamos êxito neste intento que deix­e­mos de lado os debates – ainda que impor­tantes –, sobre o que não é essen­cial.

Sabendo onde quer­e­mos chegar, em que porto atracare­mos após a tor­menta, o impor­tante é vencer­mos a tempestade.

Como fruto, talvez, da minha fé, car­rego comigo a con­vicção de todos os diss­a­bores, inclu­sive, o que mais nos aflige neste momento, são pas­sageiros e fazem parte do “cresci­mento” como humanos.

E, por conta disso, procuro tirar as mel­hores lições.

A vida seguia tran­quila e nor­mal – den­tro do que seja nor­mal para as cir­cun­stân­cias de cada um –, quando, não mais que de repente, nos surge um inimigo invisível aos olhos, dev­as­ta­dor, impiedoso a nos impor uma série de restrições – ainda que tem­porárias –, e a nos obri­gar a refle­tir sobre o que real­mente é impor­tante para as nos­sas vidas.

Este acon­tec­i­mento, antes de deses­perar, nos exige, primeiro, a serenidade para com­preen­der o que se passa; e, segundo, abne­gação, para combatê-​lo; e, por fim, talvez o mais impor­tante, humanidade para vencê-​lo.

Quando falo humanidade – e daí o título do texto fazer a lig­ação entre a Pás­coa e o tri­unfo da humanidade –, estou falando na soma dos todos, das qual­i­dades e defeitos, dos enormes avanços tec­nológi­cos e cien­tí­fi­cos que con­quis­ta­mos ao longo dos sécu­los, mas, tam­bém, da mesma humanidade pela qual o Cristo mor­reu e a quem per­doou da Cruz.

É com fun­da­mento nestes sen­ti­men­tos, nes­tas certezas, que firmo a con­vicção de que mais uma vez, como já ocor­rera diver­sas out­ras vezes, que tri­un­fare­mos.

A ressur­reição de que trata a Pás­coa não é ape­nas o renasci­mento de Jesus no coração de cada um dos cristãos que creem na sua palavra, ainda, que não vivam da sua fé, mais sim, e tam­bém, o renasci­mento de toda a humanidade.

A humanidade que tri­un­fará e renascerá mais justa, solidária, fra­terna e con­sciente de seu papel nesta longa jor­nada da vida.

Inde­pen­dente da fé de cada ser humano, um único sen­ti­mento deve nos guiar neste momento: o sen­ti­mento da esper­ança; e a certeza de que poder­e­mos ser bem mel­hores do que fomos até aqui.

Uma feliz e abençoada Pás­coa para todos.

Abdon Mar­inho é advo­gado.