AbdonMarinho - Reflexões para o Oito de Outubro.
Bem Vindo a Pag­ina de Abdon Mar­inho, Ideias e Opiniões, Quinta-​feira, 02 de Maio de 2024



A palavra é o instru­mento irre­sistível da con­quista da liber­dade.

Reflexões para o Oito de Outubro.


REFLEXÕES PARA O OITO DE OUT­UBRO.

Por Abdon C. Marinho.

O MUNDO acorda em sus­pense diante da nova guerra eterna entre Judeus e Palesti­nos. Ontem, 7, o grupo Hamas de forma sur­preen­dente ata­cou o Estado de Israel, matando e seques­trando dezenas, talvez, cen­te­nas de civis.

O hor­rip­i­lante cam­inho do ter­ror­ismo.

Em reação aos ataques, Israel ataca com exces­siva força os palesti­nos já espremi­dos na Faixa de Gaza, tam­bém civis, tam­bém tra­bal­hadores, tam­bém inocentes e que sofrem há décadas com a guerra e com a falta de tudo, inclu­sive, de uma existên­cia digna.

A guerra é sem­pre bru­tal e suas víti­mas mais efe­ti­vas são aque­les que nada fizeram.

Ansiosos por se posi­cionarem, muitos já escol­heram o seu lado.

Esse lado nunca é o lado das ver­dadeiras víti­mas.

Ah, é legit­imo o dire­ito de autode­fesa. Claro que sim, é legí­timo.

O que não é legí­timo é quando se usa um dire­ito legí­timo para come­ter ato de vin­gança cole­tiva, punindo, prin­ci­pal­mente, aque­les que nada fiz­eram e que não pos­suem condições mín­ima de se defend­erem.

O nome para isso é covar­dia. Outro nome: ter­ror­ismo de estado e até genocídio.

Os veícu­los de comu­ni­cação e seus donatários pare­cem sen­tir orgas­mos múlti­p­los a cada min­uto que atu­al­izam o número de vidas per­di­das.

Na Europa, a invasão russa na Ucrâ­nia já cam­inha para o segundo ano sem uma per­spec­tiva de solução.

Além das víti­mas fatais choca o sofri­mento dos mil­hões de cidadãos que, de uma hora para outra, se viram pri­va­dos de suas vidas, de suas casas, do seu con­vívio famil­iar e comu­nitário. Muitos foram viver noutra pla­gas, sofrendo pri­vações e todo tipo de pre­con­ceito e incom­preen­sões e, até mesmo, abu­sos diver­sos.

Na Ásia, a pop­u­lação afegã voltou ao indizível sofri­mento de tem­pos pretéri­tos com as mul­heres, sobre­tudo elas, sofrendo todo tipo de abu­sos, humil­hações e pri­vações.

A mesma situ­ação que mul­heres e meni­nas enfrentam no Irã, na Arábia Sau­dita e tan­tos out­ros países. Humil­hação, pri­vação, abuso.

Mel­hor sorte não têm os povos do lado de cá do Atlân­tico.

Hon­duras tornou-​se uma ditadura asquerosa com os san­din­istas que há quarenta anos pen­sá­va­mos que fos­sem red­imir aquele povo tornado-​se seus opres­sores tão ou piores que os lacaios da ditadura de Somoza.

Quanta decepção. Lem­bro que na juven­tude tín­hamos Daniel Ortega como herói lib­er­ta­dor do povo hon­durenho e hoje o vemos pren­dendo, expro­priando opos­i­tores como os tira­nos mais san­guinários.

Merece relevo que até a igreja católica que nos primór­dios do san­din­ismo os apoiou, hoje sente o braço forte da ditadura sobre seus mem­bros e sobre o seu patrimônio.

O san­din­ismo e Ortega, de lib­er­ta­dores viraram (ou sem­pre foram) opres­sores do povo.

Em alguns casos, como das expro­pri­ações dos adver­sários, viraram, na ver­dade, ladrões do povo. Reles ladrões que usam do poder que pos­suem para “tomar” o patrimônio alheio na mão grande.

Essa é a “sorte” de tan­tos out­ros povos das Améri­cas. Os bar­bu­dos de Sierra Maes­tra não iam levar paz e pros­peri­dade a Cuba? Chávez e os seus não iam devolver o pro­gresso à Venezuela?

O que é desses países além de car­i­cat­uras de regimes total­itários?

Mesmo o Brasil, será que não cam­in­hamos para um mod­elo autoritário? Que garan­tias pos­suem os cidadãos diante de poderes con­sti­tuí­dos con­fla­gra­dos e com seus mem­bros só pen­sando nos próprios inter­esses?

O Brasil sofreu uma ten­ta­tiva de golpe, de supressão da democ­ra­cia, de forma atípica – muito emb­ora os mem­bros da inten­tona mais pare­cerem o esfar­ra­pado exército de Bran­ca­le­one –, mas a nossa democ­ra­cia não sairá vito­riosa se con­tin­uar­mos a pen­sar no inter­esse próprio em detri­mento do inter­esse do país.

A democ­ra­cia no mundo todo parece-​me cada vez mais frag­ilizada. Não são poucos os países onde líderes autoritários ameaçam ou estão tomando o poder na maio­ria das vezes com o apoio do povo que não apren­deram nada das lições históri­cas.

Vejam que mesmo a democ­ra­cia amer­i­cana – durante sécu­los um exem­plo de esta­bil­i­dade –, apre­senta sinais de frag­ili­dade.

Há três anos, como uma republi­queta de bananas qual­quer, sofreu uma ten­ta­tiva de golpe, quando por meios vio­len­tos ten­taram alterar o resul­tado eleitoral.

Agora, de forma inédita na sua história, des­ti­tuíram o pres­i­dente da Câmara dos Dep­uta­dos por causa da exces­siva polar­iza­ção política.

Não demora, como ocor­reu na Ale­manha nos anos ante­ri­ores ao nazismo, aque­les que ten­taram der­rubar a democ­ra­cia amer­i­cana chegarão ao poder mesmo todos sabendo que não pos­suem qual­quer com­pro­misso com ela.

O homem, defin­i­ti­va­mente, é o ser mais irra­cional do plan­eta pois emb­ora sabendo e tendo capaci­dade para dis­cernir entre o certo e o errado ele busca o cam­inho errado, ainda que isso só traga diss­a­bores para si mesmo e para todos no seu entorno.

Desde sem­pre sabe­mos que deve­mos preser­var a natureza, cuidar do plan­eta que é a “casa” de todos.

O que fize­mos? Destruí­mos o plan­eta, des­mata­mos as flo­restas, mata­mos os rios, cór­re­gos, igara­pés, poluí­mos os mares, con­sum­i­mos além do necessário.

Como sabe­mos e temos a opor­tu­nidade de con­statar, um dia a conta chega.

A cada dia o plan­eta está mais aque­cido, geleiras der­retem, a cada dia, a cada mês, dizem foi o mais quente de todo o sem­pre.

Even­tos climáti­cos nunca vis­tos acon­te­cem em todo mundo, calor escal­dante na Europa, tromba d’água na África, seca nunca vista na Amazô­nia, tor­na­dos e enchentes no sul Brasil.

Condições climáti­cas extremas, agravadas pela pobreza mais extrema ainda, além das guer­ras inter­nas e abu­sos con­stantes provo­cam as ondas de migração de pes­soas que só bus­cam um pouco de mel­hora para suas vidas.

Pes­soas que são aban­don­adas ou deix­adas à própria sorte quando não são mais mal­tratadas ainda.

Ninguém se acha cul­pado, ninguém se acha respon­sável – talvez Deus –, se a seca dos rios amazôni­cos, mata os peixes e mamíferos e se os humanos mor­rem de sede ou con­somem lama.

Mas é, tam­bém, em nome de Deus que se come­tem os maiores absur­dos. Na grande maio­ria das vezes aque­les que bradam o dia inteiro o nome de Deus são os primeiros a duvi­darem de sua existên­cia.

Ao fazer tais reflexões sobre os nos­sos dias, esse pequeno recorte neste 8 de out­ubro, imag­ino se não somos o mais retum­bante fra­casso da criação.

Daqui a pouco nen­hum de nós estará aqui. Nada. Nen­huma pro­priedade, nen­huma for­tuna, nen­huma posse. Nada disso nos servirá mais. Talvez não sejamos, sequer, um retrato na parede.

Daqui a pouco, talvez nem o plan­eta exista mais.

Nossa própria descendên­cia talvez não mais exista para nos honrar.

E isso encadeia uma outra inda­gação: o que esta­mos fazendo para ser­mos hon­ra­dos?

O que esta­mos, efe­ti­va­mente, fazendo de útil para ela, para a nossa descendên­cia?

São tan­tas reflexões. São tan­tas inda­gações.

Abdon C. Mar­inho é advo­gado.