AbdonMarinho - Economia
Bem Vindo a Pagina de Abdon Marinho, Ideias e Opiniões, Quinta-feira, 16 de Maio de 2024



A palavra é o instrumento irresistível da conquista da liberdade.

 A DESGRAÇA É MAIOR.

O IPEA  (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), órgão de pesquisa vinculado a presidência da República, finalmente  parou de fazer política e resolveu divulgar sua análise sobre os dados pesquisados pelo IBGE na PNAD (Pesquisa Nacional de Amostra de Domicílios), que não haviam feito antes para que os dados não influenciassem o resultado das eleições. Noutras palavras, querem dizer que o povo não tem o direito de saber sobre uma pesquisa nacional, custeada com o dinheiro público, porque o o dono da pesquisa, o povo, poderia não gostar do resultado. Fico perplexo com esse tipo de insulto, mas, fazer o quê?

O resultado era aquele que todos desconfiavam, que foi divulgado por fontes oficiosas – sem chancela oficial –, que a aumentara no último ano o número de miseráveis, aos mais de dez milhões abaixo da linha da pobreza, somaram-se mais quase quatrocentos mil. 

O índice revelou que o Maranhão (o Estado que mais cresce na região nordeste) é o segundo  mais miserável da federação.  

O que isso tem demais? Nada. Não tem nada nesta pesquisa que já não tenha dito nos meus textos ou que as pessoas mais atentas não tenham se dado conta. 

Apesar disso, acredito que a pesquisa esteja errada. Na minha opinião pesquisadores, economistas e demais intelectuais que analisam os dados não têm a real dimensão da miséria no Brasil e no Maranhão. 

Explico minhas razões.

Há mais de trinta anos viajo por todo o Estado. Acredito que conheça já todos os seus municípios, senão, faltam bem poucos. Desde que me tornei advogado, não tem uma semana, um mês em que não faça uma pequena viagem. 

Por onde passo observo, converso com um ou com outro. A última viagem que fiz não faz muito tempo, fui a região da baixada. 

Em todas essas viagens observo que as áreas de plantios estão encolhendo, nos últimos tempos quase não encontro mais nenhuma. Se faltam plantios, sobram pessoas ociosas, nos povoados, nas cidades do interior. A qualquer hora do dia vejo multidões de desocupados, nas mesas dos bares, nas portas de casa, debaixo de alguma árvore, jogando dominó, baralho, tomando uma pinga. 

Vejo isso e sei que o crescimento do Maranhão, como mostra a propaganda oficial estadual, a redução da miséria como mostra propaganda federal, é ilusória, cortina de fumaça. 

Vamos a um pequeno exemplo. A legislação em vigor exige que ao menos 30% (trinta por cento) da alimentação escolar seja adquirida junto aos produtores locais. Como vemos não é muito, mas que mais tenho ouvido é que a maioria dos municípios não conseguem produzir o suficiente para fornecer essa alimentação as escolas. 

Outro dia, participando de uma reunião com um prefeito e um promotor de justiça, ouvi o primeiro expor de forma categórica que por mais que faça chamadas públicas, que convoque a sua comunidade, para cumprir a legislação vigente, tem que recorrer a outras praças, até noutros estados. Que gostaria de comprar mais dos produtores locais, incentivar as economias dos povoados. Não consegue. Assim como esse, são muitos os prefeitos e gestores que não conseguem comprar na produção local a alimentação escolar, de hospitais e de outros programas. 

O governo anuncia recordes de produção, mas na verdade estão falando da monocultura de exportação. A pequena produção para alimentar a economia local não existe mais mais no Maranhão. Praticamente tudo que se consome nas grandes, médias e até pequenas cidades, vem de outros mercados, da Bahia, de Goiás, Tocantins e até do região sul. Como disse outras vezes, basta fazer o teste da CEASA. É um absurdo quando se considera que o Maranhão já foi considerado um dos celeiros do Brasil, ainda possui recursos hídricos em abundância e terras férteis extensas. Não nos surpreende, em nada, que tenhamos ficado em segundo lugar entre os mais miseráveis. As pessoas mais atentas assistiram esse empobrecimento. Outro dia falava sobre isso com meu irmão, sobre a nossa infância e juventude, sobre a fartura da nossa família e dos nossos vizinho, não havia quem não possuísse galinhas, porcos, caprinos, ovinos, uma vaca, uma roça com arroz, feijão, milho, legumes, etc., tanto para consumo quando para vender. Procurem isso, hoje,  no interior do nosso estado. Não há mais nada disso. 

Quando digo que as pesquisas não refletem a realidade é elas ignoram esses fatos. Pegam uma situação estanque em o cidadão agrega a sua renda, os benefícios que recebem do governo para retirá-los da linha pobreza. Acontece que essa renda não é própria. Experimentem retirar da economia das famílias essas bolsas para ver quais as índices reais. Experimentem colocar essa multidão para procurar emprego e vejam o que acontece. A situação econômica do cidadão não sofreu qualquer alteração para melhor, pelo contrário, sem as esmolas recebidas estão bem mais pobres. Não temos como nos afastar desta verdade. Não há, também, como nos afastar dos efeitos colaterais perversos que estão ocorrendo atualmente, dentre os quais o aumento da taxa de natalidade das famílias mais pobres que buscam, através dos filhos, receber um pouco mais do governo; adolescentes engravidando para satisfazer um luxo, comprar uma moto, uma geladeira, um fogão…

É elementar que as autoridades não compreendam que não pode haver riqueza sem produção, sem geração de trabalho, emprego e renda, com as pessoas vivendo de esmolas.

As políticas sociais – que são necessárias, há que se reconhecer –, são usadas para mascarar a grave realidade social que atravessa o país. O que resta as pessoas de bem é que não tardem a acordar desde delírio. antes que seja tarde.

Abdon Marinho é advogado.