AbdonMarinho - Sarney & Dino: A volta dos que não foram.
Bem Vindo a Pag­ina de Abdon Mar­inho, Ideias e Opiniões, Domingo, 22 de Setem­bro de 2024



A palavra é o instru­mento irre­sistível da con­quista da liber­dade.

Sar­ney & Dino: A volta dos que não foram.


SARNEY & DINO: A VOLTA DOS QUE NÃO FORAM.

Por Abdon Marinho.

CON­HECIDO por suas análises políti­cas sem­pre apu­radas, o poeta, cro­nista, escritor, cineasta e ex-​deputado Joaquim Nagib Haickel escreveu uma com um título despre­ten­sioso: “Sobre 2022”. Lá fez diver­sos prognós­ti­cos sobre os pos­síveis cenários. Em um deles, jus­ta­mente a que cau­sou maior bur­bur­inho, assen­tou: “A mon­tagem de um cenário ainda maior, algo mais mon­u­men­tal, que resul­tasse em uma ampla coal­isão, que envolvesse tam­bém o grupo Sar­ney, o que sacra­men­taria de uma vez a eleição de todos, sem que muitas forças, políti­cas e finan­ceiras fos­sem despendi­das. Neste caso a vaga ao senado ser ofer­e­cida ao grupo Sar­ney, cabendo a Wev­er­ton aceitar indicar o suplente de senador e o vice-​governador”.

Deixando falar o cineasta, com­ple­tou: “Essa arquite­tura seria digna de um Oscar de mel­hor direção de arte”.

Pois bem, muito emb­ora con­corde com a assertiva de que tal arquite­tura mere­ce­ria gan­har a estat­ueta do Oscar de mel­hor direção de arte, cer­ta­mente haverão de con­vir, que a união Sar­ney & Dino, ou vice-​versa, pas­saria longe do Oscar de mel­hor roteiro original.

Quan­tas vezes, eu mesmo, que não sou ninguém, falei sobre isso? Quan­tas vezes não disse que o sonho de Dino é ser o can­didato a vice-​presidente na chapa de Lula e que isso pas­saria por uma artic­u­lação com o velho moru­bix­aba maran­hense? Quan­tas vezes não disse que Dino pode­ria se “col­i­gar” a Sar­ney até por bem menos que uma can­di­datura a vice-​presidente ou qual­quer outra coisa, desde que pudesse man­ter seu espaço de poder?

E olhem que mesmo min­has primeiras análises sobre tais pos­si­bil­i­dades, no texto “Sar­ney & Dino: o acordo que não ousa dizer o nome”, não eram orig­i­nais, mas, ape­nas fruto do que já teste­munhei na política maranhense.

Lem­bro que em agosto/​setembro de 2003, no primeiro ano do gov­erno Lula, uma “facção” petista “inven­tou” e ten­tou levar adi­ante a can­di­datura do então juiz Flávio Dino à prefeitura de São Luís. Até então o prazo de fil­i­ação e domicílio eleitoral eram de no mín­imo um ano antes do pleito. Dino, por ser juiz não pos­suía for­mal­mente fil­i­ação, pre­cis­aria sair da mag­i­s­tratura e filiar-​se a um par­tido, no caso o PT.

Con­forme noti­ciou na época o saudoso jor­nal­ista Wal­ter Rodrigues, o juiz Dino e o dep­utado Wash­ing­ton Luiz, que salvo engano, assumira como suplente, chegaram a vis­i­tar a então senadora Roseana Sar­ney, onde lhe dis­seram que não se “opo­riam” caso ela se fil­iasse ao Par­tido dos Tra­bal­hadores — PT.

Em 2002, os Sar­ney, que romperam com os tucanos por conta da “Oper­ação Lunus”, apoiaram a can­di­datura de Lula e, em 2003, estavam man­dando e des­man­dado nos espaços políti­cos do gov­erno fed­eral no estado e, tam­bém, no Brasil.

O PT local, emb­ora no poder cen­tral, era como “peru novo”, ou seja, “comia na mão de Sar­ney”, e, pelo menos, uma das várias facções, não viam “nada demais” em fazer de Roseana Sar­ney uma “com­pan­heira”, ainda mais se isso servisse para pavi­men­tar o cam­inho de um “quadro raiz” do petismo, momen­tanea­mente investido na condição de juiz, no comando da prefeitura da cap­i­tal.

Acred­ito que a divul­gação da matéria no Col­unão de Wal­ter Rodrigues, com tais infor­mações, muito provavel­mente, vin­das de out­ras “facções” petis­tas, acabou “melando” aquela artic­u­lação e o então juiz acabou desistindo do seu intento de virar “político de mandato” naquela ocasião.

Na sem­ana seguinte à matéria, ao encon­tro e ao suposto “con­vite” para Roseana “virar” petista, vieram os des­men­ti­dos, da parte dos artic­u­ladores din­istas.

Como a política é “dinâmica”, dois anos depois, já em 2006, o gov­er­nador José Reinaldo “encantou-​se” por Dino e o fez dep­utado fed­eral, num esquema oposi­cionista ao grupo Sar­ney de quem ele fora “enam­orado” há, ape­nas, dois anos.

Anos depois, em ret­ribuição ao fato de Zé Reinaldo lhe ter feito “nascer” para a política com mandato e toda con­tribuição que deu até torná-​lo gov­er­nador, impediu de forma cruel que encer­rasse a car­reira política com senador, tra­bal­hando, incansavel­mente, para a eleição de Wev­er­ton Rocha e Eliziane Gama, em 2018, dois ali­a­dos de “primeira hora”.

Faço esse reg­istro histórico ape­nas para dizer que a artic­u­lação Dino & Sar­ney para a eleição estad­ual de 2022, até pode­ria, como pon­tif­i­cou o cineasta Joaquim Nagib Haickel, gan­har o Oscar de direção de arte, mas, jamais o de roteiro orig­i­nal, repito, con­forme rev­e­lado há quase vinte anos pelo jor­nal­ista Wal­ter Rodrigues.

E, antes mesmo de WR exercer com o bril­han­tismo seu mis­ter e rev­e­lar o que os pro­tag­o­nistas que­riam man­ter oculto, se voltar­mos a história um pouco mais, até o ano de 1984, na cam­panha pelas dire­tas já ou pela chapa Tancredo/​Sarney, lá encon­traremos o “líder estu­dan­til” Flávio Dino dividindo “palanque” com o então senador Sar­ney, ex-​presidente do PDS, par­tido de sus­ten­tação da ditadura, tam­bém afeito aquela pauta.

E, muito emb­ora isso seja ape­nas uma pil­héria, se voltar­mos um pouco mais no tempo, lá pelos anos setenta, encon­traremos o infante Flávio Dino, em alguma visita do seu pai, Sálvio Dino ou do avô, Nico­lau Dino, a Sar­ney, dizendo com seus botões ou em voz alta: — pai/​vô, quando eu crescer quero ser como o “tio” Sar­ney.

Mas isso é piada. Não levem a sério, por favor.

Então, ao meu sen­tir, essa con­jec­tura de Haickel a respeito de uma hipotética união dos gru­pos Dino & Sar­ney, nada mais é do que “a volta dos que não foram”.

Dino não desis­tiu do sonho de ser o can­didato a vice-​presidente na chapa com Lula e para isso, muito emb­ora o Maran­hão não rep­re­sente muita coisa no cenário político/​eleitoral brasileiro, pre­cisa con­tar com a valiosa amizade de Sar­ney com Lula.

Não sendo, ape­nas isso, sufi­ciente, tra­balha, incansavel­mente, noutras duas frentes: fusti­gar sem­pre que pode – e não falta motivos para isso –, o pres­i­dente Bol­sonaro, prin­ci­pal adver­sário de Lula, até agora; e atacar o ex-​juiz Sér­gio Moro, que filiou-​se a um par­tido político e, cer­ta­mente, dis­putará as próx­i­mas eleições.

Emb­ora, unindo-​se ao bol­sonar­ismo e ao petismo nos ataques a Moro, a investida con­tra o ex-​companheiro de toga, tem um cál­culo político próprio.

Dino, Ciro, e diver­sos out­ros, que gravi­tam em torno de uma ter­ceira via política para o país, sabem que o ex-​juiz Moro é o nome que ameaça os seus son­hos de chegarem algum dia à Presidên­cia da República.

Ainda que Moro não ultra­passe Bol­sonaro ou Lula para ir para o segundo turno das eleições de 2022 – quando gan­haria (assim como qual­quer outro) de qual­quer um deles –, será o nome mais forte para as eleições de 2026, quando dev­erá dis­putar com muito mais chances con­tra essa turma.

Esse é o o motor dos ataques de Ciro e, prin­ci­pal­mente, de Dino con­tra o ex-​juiz Sér­gio Moro.

Não temos notí­cias – exceto pelo fato do pai ter sido mem­bro de um par­tido –, de qual­quer ativi­dade político par­tidária de Moro até a recente fil­i­ação, bem difer­ente, do que se sabe de Dino, que antes, durante e depois da mag­i­s­tratura, sem­pre teve um, dig­amos, “enga­ja­mento” político e lig­ação próx­ima com par­tidos, tanto que, con­forme divul­gado, ampla­mente, na mídia cog­i­taram e “tra­bal­haram” por sua can­di­datura à prefeito da cap­i­tal em 2004, quando ainda era juiz. Con­forme rev­e­lam as noti­cias da época, isso não foi feito à sua rev­elia, ele sabia e até par­ticipou de reuniões neste sen­tido.

Lem­bro que quando saiu o suposto des­men­tido sobre as artic­u­lações com Roseana Sar­ney, assi­nado por Fran­cisco Gonçalves, um dos líderes do movi­mento “pró-​Dino prefeito” e atual secretário de alguma coisa no gov­erno Flávio Dino, dis­seram até que “era men­tira que Dino teria con­vi­dado Roseana para filiar-​se ao PT”, entre out­ras coisas.

WR, em resposta, assen­tou que a matéria jamais dis­sera tal coisa, até porque Dino não pos­suiria legit­im­i­dade para con­vi­dar quem quer que fosse para ingres­sar em um par­tido político.

Lem­bro que, inspi­rado como só ele, WR “destrin­chou” o des­men­tido e até deu “aula” de redação ao mis­sivista.

Pois é, aí quando vejo o ataque de Dino a Moro imputando-​lhe crime ou com­por­ta­mento incom­patível com a mag­i­s­tratura, o que me vem à lem­brança é o dito pop­u­lar “macaco olha o teu rabo” ou aquela velha lição do meu saudoso pai, anal­fa­beto por parte de pai, mãe e parteira, que ensi­nava: “— ah, meu filho, quem disso usa, disso cuida”.

Abdon Mar­inho é advogado.