AbdonMarinho - TOME TENTO, BOLSONARO!
Bem Vindo a Pag­ina de Abdon Mar­inho, Ideias e Opiniões, Domingo, 22 de Setem­bro de 2024



A palavra é o instru­mento irre­sistível da con­quista da liber­dade.

TOME TENTO, BOLSONARO!

Ditadura Militar no Brasil: O Que Você Precisa Saber Para o Enem?

TOME TENTO, BOLSONARO!

Por Abdon Marinho.

DESDE O ANO pas­sado que o pres­i­dente da República, sen­hor Bol­sonaro, vem batendo o “pez­inho” para dizer que se as eleições do próx­imo ano não forem como ele quer “não vai ter eleição”.

Sabe-​se, até, que o Gal. Braga Netto, min­istro da defesa, andou man­dando “reca­dos” ao Con­gresso Nacional no sen­tido ten­tar influ­en­ciar suas decisões a respeito daquela pau­tar pres­i­den­cial.

Isso sem con­tar que nos dias que se seguiram, lá estava ele, um gen­eral – ainda que aposen­tado –, no comando de toda a tropa mil­i­tar, passe­ando de moto com o pres­i­dente como se fosse “um chaveir­inho” daquela autoridade.

Algo tão patético e con­strange­dor que dev­e­ria causar a repulsa das pes­soas comuns mais, sobre­tudo, das tropas.

Pois bem, como dizíamos, o pres­i­dente, sem­pre que pode, ameaça a nor­mal­i­dade democrática do país, a última foi no domingo 1º de agosto: “Vocês estão aí, além de cla­mar pela garan­tia da nossa liber­dade, bus­cando uma maneira que ten­hamos eleições limpas e democráti­cas no ano que vem. Sem eleições limpas e democráti­cas, não haverá eleição. Nós que exigi­mos. Pode ter certeza. Vocês são de fato o meu Exército, o nosso Exército, para que a von­tade pop­u­lar seja expressa na con­tagem pública dos votos”, disse o pres­i­dente em uma gravação feita do Palá­cio da Alvorada.

As colo­cações do pres­i­dente da República são sérias por dois motivos e encerra uma contradição:

Primeiro, que se não está falando sério, e por isso ninguém trata com importân­cia que dev­e­ria ter, reforça a imagem que a autori­dade máx­ima da República não passa de um pân­dego a quem as pes­soas tratam como um pequi roído.

Segundo, que se está falando a ver­dade é porque encontra-​se em curso um golpe mil­i­tar a colo­car em risco todas as con­quis­tas que tive­mos até aqui.

A con­tradição: ninguém pode falar em liber­dade e ao mesmo tempo ameaçar a real­iza­ção de eleições.

O pres­i­dente da República – ou quem quer que seja –, não pode dizer “não vai ter eleições” ou condiciona-​las ao seu pen­sa­mento.

Como não vai ter eleição?

As eleições do país encontram-​se mar­cadas para ocor­rerem reg­u­la­mente desde a pro­mul­gação da Con­sti­tu­ição Fed­eral, em 5 de out­ubro de 1988, na redação orig­i­nal do artigo 77, con­stava que as eleições ocor­re­riam, três meses antes do tér­mino dos mandatos.

A par­tir da Emenda Con­sti­tu­cional nº. 16, de 1997, ficou esta­b­ele­cido:

Art. 77. A eleição do Pres­i­dente e do Vice-​Presidente da República realizar-​se-​á, simul­tane­a­mente, no primeiro domingo de out­ubro, em primeiro turno, e no último domingo de out­ubro, em segundo turno, se hou­ver, do ano ante­rior ao do tér­mino do mandato pres­i­den­cial vigente”.

Vou além, mesmo durante a ditadura a peri­od­i­ci­dade das eleições foi algo que a Con­sti­tu­ição Fed­eral con­sagrou e, muito emb­ora, a eleição ocor­resse através do Colé­gio Eleitoral e com os eleitos pre­vi­a­mente escol­hi­dos, nen­hum dos generais/​presidentes ousaram ques­tionar a reg­u­lar­i­dade dos pleitos.

Cada um cumpriu o seu mandato – que era único –, e foi para casa colo­car seu pijama.

A Con­sti­tu­ição de 1967, por coin­cidên­cia, igual­mente no artigo 77, esta­b­ele­cia:

Art 77 — O Colé­gio Eleitoral reunir-​se-​á na sede. do Con­gresso Nacional, a 15 de janeiro do ano em que se findar o mandato presidencial.

§ 1º — Será con­sid­er­ado eleito Pres­i­dente o can­didato que, reg­istrado por Par­tido Político, obtiver maio­ria abso­luta de votos do Colé­gio Eleitoral.

§ 2º — Se não for obtida maio­ria abso­luta na primeira votação, repetir-​se-​ão os escrutínios, e a eleição dar-​se-​á, no ter­ceiro, por maio­ria simples.

§ 3º — O mandato do Pres­i­dente da República é de qua­tro anos”.

Vejam os sen­hores que o pres­i­dente, talvez envaide­cido ou insu­flado por algum “sol­dad­inho de chumbo” fala como se pre­tendesse inau­gu­rar um mod­elo de ditadura que nem a ditadura mil­i­tar brasileira nos seus vinte e um anos de triste memória, ousou.

Quando diz – e já o fez mais uma vez –, ou faz do jeito que quer ou não terá eleição ano que vem, seria opor­tuno que as insti­tu­ições o inti­masse a dizer o que pretende.

Uma coisa é ele e seus seguidores irem às ruas pedindo para os votos serem impres­sos, nada con­tra, é um dire­ito de cada um pedir o que quiser.

Bem difer­ente é arvorar-​se do ridículo papel de dita­dor e dizer que se não tiver o voto impresso não ter­e­mos eleições.

Quem foi que lhe deu autori­dade para dizer isso? Quem pensa que é?

Ele con­fia no quê ou em quem para propalar esse tipo de bravata?

Vai colo­car as tropas nas ruas para impedir as eleições?

Fechar o Con­gresso Nacional e os tribunais?

Nomear gov­er­nadores, senadores, dep­uta­dos fed­erais e estad­u­ais? Vai “fechar” tudo e con­cen­trar o poder Brasília com a família e apanigua­dos? Ou será que vai nomear mil­itares para admin­is­trarem os esta­dos e fun­cionarem como juízes, desem­bar­gadores e ministros?

É opor­tuno esse tipo de inda­gação porque os mandatos, nos ter­mos da Con­sti­tu­ição Fed­eral, têm data certa para encer­rarem, 31 de dezem­bro de 2022.

O que virá depois disso se o pres­i­dente diz que não ter­e­mos eleições ano que vem?

Assis­ti­mos a essa série de despautérios com ares de falsa normalidade.

Lem­bro que quando fomos às ruas, em 1984, pedindo dire­tas já e per­der­mos no Con­gresso Nacional com a rejeição da Emenda Dante de Oliveira, volta­mos para chorar em casa e nos preparar­mos para a dis­puta no Colé­gio Eleitoral.

Quem quer dis­putar ou respeita as regras esta­b­ele­ci­das ou sai do jogo.

O que não pode é o pres­i­dente da República e seus ali­a­dos pres­sion­arem o Con­gresso Nacional – o que é legí­timo –, e diz­erem que se não fiz­erem como querem não ter­e­mos eleições – o que é ilegítimo.

O que me per­gunto é se enlouqueceram.

Aliás, antes disso, me per­gunto se as pes­soas que foram às ruas pedi­rem voto impresso tam­bém estão asso­ci­adas ao pro­jeto golpista de “não ter eleições” na hipótese do Con­gresso Nacional, como está pare­cendo, vetar a proposta.

Vão pegar em armas con­tra as eleições mar­cadas desde 1988?

Fico aqui pen­sando se esse povo, de fato, sabe o que é um golpe.

Será os nos­sos mil­itares – cuja maio­ria nunca deu um tiro –, sabem o que sig­nifica sub­me­ter mil­hões de brasileiros a um golpe ou pen­sam que não haverá reação interna e/​ou internacional?

Vão pren­der os que se rebe­larem con­tra o golpe onde? Em cam­pos de con­cen­tração na Amazô­nia? Ou vão abrir fogo e matar os mil­hões que forem às ruas protestarem?

É guerra civil que querem?

Assim, como dizia no gov­erno de Dilma Rouss­eff não saber o que aquele povo tomava no café da manhã, no caso atual gov­erno tenho quase certeza que a alfafa é bati­zada.

Só isso para jus­ti­ficar essa sucessão de bra­vatas, essas maluquices sem sentido.

Noutra quadra, o Con­gresso Nacional, diante das declar­ações do pres­i­dente, já dev­e­ria pas­sar os olhos pelo artigo 85 da Constituição.

Por alto, iden­ti­fico, pelo menos, três Crimes de Respon­s­abil­i­dade do gov­er­nante, vejamos:

Art. 85. São crimes de respon­s­abil­i­dade os atos do Pres­i­dente da República que aten­tem con­tra a Con­sti­tu­ição Fed­eral e, espe­cial­mente, contra:

….

II — o livre exer­cí­cio do Poder Leg­isla­tivo, do Poder Judi­ciário, do Min­istério Público e dos Poderes con­sti­tu­cionais das unidades da Fed­er­ação;

III — o exer­cí­cio dos dire­itos políti­cos, indi­vid­u­ais e sociais;

IV — a segu­rança interna do País;

Comete crime ao ten­tar impedir o livre exer­cí­cio do Poder Leg­isla­tivo e dos poderes con­sti­tu­cionais das UF, con­forme “reca­dos” do min­istro da defesa ao pres­i­dente da Câmara dos Deputados.

Atenta con­tra o o exer­cí­cio dos dire­itos políti­cos dos cidadãos, notada­mente o dire­ito de votarem e serem votados.

E, por último, a segu­rança interna do país, uma vez que o “golpe” que anun­cia levará o país a uma guerra civil.

O Brasil pas­sou vinte um anos sob um régime dita­to­r­ial, sem liber­dade para escol­her dire­ta­mente seus gov­er­nantes e, a par­tir de 1985, com a rede­moc­ra­ti­za­ção do país pas­samos a escol­her os nos­sos pres­i­dentes, o que faze­mos desde 1989, agora nos aparece um “bra­vateiro” para dizer que ou fazem do jeito que ele quer ou não terá eleição.

Ora, quem ele pensa que é para querer usurpar uma con­quista que nos foi tão cus­tosa?

Como diria meu pai, tome tento, Bolsonaro!

Abdon Mar­inho é advo­gado.