Inter­ações Democráti­cas* com Abdon Marinho

*Por Eden Jr., espe­cial para o ATUAL7


Certa vez, em uma de nos­sas raras con­ver­sas, o advo­gado Abdon Mar­inho me disse que começou a escr­ever e ten­tar anal­isar o cenário político local porque sen­tia muita falta das ideias de Wal­ter Rodrigues (jor­nal­ista paraense, com extensa atu­ação na imprensa regional, morto em 2010) a respeito da política maran­hense. Há alguns anos, Mar­inho, que gosta de ser apre­sen­tado somente como advo­gado, lançou-​se na mis­são de decifrar e prospec­tar o ambi­ente da política, elab­o­rando arti­gos que são lança­dos a cada sem­ana em seu site pes­soal. Entendo que Mar­inho vem saindo-​se muito bem nessa autoa­tribuída tarefa, e tornou-​se um dos mais sen­satos e per­spi­cazes críti­cos em atu­ação no estado. Foi com Mar­inho que inter­agi sobre suas impressões a respeito dos últi­mos lances da aque­cida atmos­fera política estad­ual e que terão impacto na eleição de 2022.

No embate dos até agora gov­ernistas, o vice-​governador Car­los Brandão e o senador Wev­er­ton Rocha, quais as per­spec­ti­vas de tri­unfo dos dois em relação à dis­puta pelo gov­erno do Estado em 2022?

Acho pre­cip­i­tado aferir per­spec­ti­vas com um cenário em que os dois “can­didatos” se apre­sen­tam como sendo “do mesmo lado”. Como, até aqui, são as duas can­di­dat­uras postas, só ire­mos ter uma visão mais clara quando elas se con­frontarem. Quando isso ocor­rer e nas condições que ocor­rer ire­mos, efe­ti­va­mente, saber o tamanho de cada um. Saber­e­mos, inclu­sive, o “tamanho” do atual gov­er­nador. Não con­seguir eleger o suces­sor será con­tabi­lizado como uma der­rota pes­soal, como o foi a eleição para prefeito da capital.

Você acred­ita na hipótese de Wev­er­ton Rocha entrar na con­tenda de gov­erno do Estado em oposição ao can­didato do gov­er­nador Flávio Dino?

O senador Wev­er­ton Rocha, desde sem­pre, tra­balha para ser gov­er­nador. O cenário mais favorável para isso é a eleição de 2022, quando não terá “nada a perder”, pois, no caso de insucesso, seguirá como senador por mais qua­tro anos. Nos últi­mos qua­tro anos ele con­struiu as condições para ser can­didato, com vasto leque de apoios e sabe que difi­cil­mente as mes­mas condições se repe­tirão dali a qua­tro anos ou depois disso. O inusi­tado, o ponto fora da curva, será não ser candidato.

Wev­er­ton Rocha real­mente está vivendo um dilema de jogar o des­tino de sua car­reira política em 2022, con­siderando que se deixar para con­cor­rer ao Palá­cio dos Leões em 2026 pode enfrentar o próprio Flávio Dino ou se optar em dis­putar a recon­dução ao Senado pode ter como opo­nente Car­los Brandão, nesse caso, for­t­ale­cido tendo em vista que sairia da chefia do Exec­u­tivo estadual?

Como disse ante­ri­or­mente, as car­tas estão postas para que seja o can­didato a gov­er­nador, e, se eleito, aco­modar essa gama de inter­esses das lid­er­anças que o apoia.

O prob­lema é que para isso ocor­rer terá que “matar» o “ali­ado” gov­er­nador Flávio Dino, que quer, deseja e neces­sita, man­ter sua influên­cia política no estado para, tam­bém, poder aco­modar aque­les que lhe são fiéis. Não podemos esque­cer, que em 2026 serão duas vagas ao Senado. O prob­lema é que qua­tro anos no ambi­ente volátil da política é uma eternidade.

Em relação ao senador Roberto Rocha, e seu de atre­la­mento ao pres­i­dente Bol­sonaro, qual a chance dessa estraté­gia sur­tir efeitos pos­i­tivos ao ponto de colo­car o tucano como um dos fortes can­didatos ao Exec­u­tivo estad­ual em 2022? Ou Roberto seguirá outro cam­inho: como a Câmara Fed­eral, a ten­ta­tiva de reeleição ao Senado ou mesmo o encer­ra­mento da car­reira política?

O senador Roberto Rocha é um dos políti­cos mais per­spi­cazes do Maran­hão. Ele sabe, que muito emb­ora se apre­sente como rep­re­sen­tante do “bol­sonar­ismo” no Maran­hão, isso não é garan­tia ou certeza de que será sufi­ciente para elegê-​lo para um cargo majoritário, mesmo porque out­ros tam­bém se apre­sen­tam como “bol­sonar­is­tas” para dividir os mes­mos votos. Além disso, o pres­i­dente da República não pos­sui apoio majoritário no estado. Não acred­ito que pos­sua apoio nem de 30% dos eleitores maran­henses. Os out­ros 70% o odeia e a tudo que rep­re­senta. Outra difi­cul­dade posta é a difi­cul­dade do pres­i­dente Bol­sonaro em trans­ferir votos. Vimos isso nas eleições munic­i­pais de 2020. Daí não acred­i­tar que o senador Roberto Rocha aposte todas as suas fichas ape­nas no suposto apoio do pres­i­dente Bolsonaro.

Foi divul­gado que a ex-​governadora Roseana Sar­ney vai con­cor­rer a uma vaga na Câmara dos Dep­uta­dos no ano que vem. Esse é des­tino mais provável da emede­bista, e com essa can­di­datura ela pavi­menta a sua aposen­ta­do­ria defin­i­tiva da política nesse cargo ou o Grupo Sar­ney ainda tem alguma per­spec­tiva de retomar a con­t­role do gov­erno estadual?

Na car­ru­agem da política, os políti­cos são pas­sageiros e não con­du­tores. Os pos­tu­lantes vão se colo­cando nas posições que lhes são mais cômodas. Para a ex-​governadora a posição mais cômoda, no atual cenário, é uma vaga na Câmara dos Dep­uta­dos. Não creio que exista “clima” para uma can­di­datura majoritária para o grupo Sar­ney nas cir­cun­stân­cias atu­ais, muito menos para um retorno ao gov­erno estadual.

O gov­er­nador Flávio Dino anun­ciou que vai pleit­ear uma vaga no Senado em 2022. Esse é o cam­inho mais sen­sato para o comu­nista: aban­donar o desejo de chegar ao Palá­cio Planalto, mesmo que seja numa can­di­datura a vice na provável chapa de Lula?

Como Roseana, Flávio Dino, quer asse­gu­rar o que está à mão. Até para impedir que out­ros se ensaiem pela vaga do Senado. Com o ex-​presidente Lula no páreo da dis­puta pres­i­den­cial, o sonho de dis­putar a presidên­cia fica adi­ado. No Senado da República poderá se destacar – em meio a tan­tas nul­i­dades –, e ser o can­didato em 2026, quando, acredita-​se, até pela idade e por out­ras condições, o ex-​presidente Lula não dis­putará a eleição ou reeleição, caso seja can­didato ano que vem e ganhe.

Sobre um recente artigo seu, do iní­cio de maio, em que você aventa a pos­si­bil­i­dade de uma união Dino, Roseana e Car­los Brandão numa chapa em comum para 2022, como se daria esse cenário?

Con­forme disse no artigo, esse não é um cenário a ser descar­tado. Muito emb­ora o sen­hor Flávio Dino já tenha reser­vado a “vaga” de dis­puta pelo Senado, tam­bém o fez com o propósito de usá-​la como “moeda de troca” mais adi­ante. Uma das “tro­cas”, que vale­ria a pena, seria de can­didato a vice-​presidente da República na chapa com o ex-​presidente Lula. Uma nego­ci­ação envol­vendo o ex-​presidente Sar­ney, pode­ria abre­viar o cam­inho do gov­er­nador para o Palá­cio do Planalto, ainda que na vice-​presidência. Em tal cenário, Dino sairia para vice-​presidente, Roseana, para senadora e Brandão para gov­er­nador. Uma com­posição envol­vendo o PSDB (Brandão); MDB (Roseana;) PT (Lula) e Dino (no PCdoB ou PSB), seria uma aliança que inter­es­saria a todos.

O dep­utado fed­eral Josi­mar Maran­hãoz­inho é carta fora do bar­alho para a sucessão do gov­erno de 2022 ou ele ainda tem alguma per­spec­tiva de sucesso nessa empreitada?

Em que pese o dep­utado ter uma vasta base de sus­ten­tação, com diver­sos prefeitos, dep­uta­dos fed­erais e estad­u­ais, o jogo da eleição majoritária será “bruto”. Não vejo no dep­utado o per­fil de quem vai enfrentá-​lo. O dep­utado “cresceu” politi­ca­mente ao evi­tar con­fron­tos dire­tos e sendo hábil nas fran­jas do poder. Man­tém, claro, a can­di­datura com a pre­ten­são de val­orizar um apoio futuro que ainda não está certo para quem será.

Há espaço para alguma can­di­datura “out­sider”, ou outra fora desse grupo de atores políti­cos fal­ado acima, que seja viável na dis­puta ao gov­erno estad­ual no ano que vem, como a dos prefeitos Lah­e­sio Bon­fim e Maura Jorge?

Eleição dos chama­dos “out­siders” são fenô­menos raros. São exceções à regra. Não digo que não vá acon­te­cer, mas são pon­tos fora da curva. Na quase total­i­dade dos proces­sos eleitorais, o que vemos são estru­turas con­sol­i­dadas, calçadas nas lid­er­anças políti­cas locais, prefeitos, vereadores, “cimen­tadas” com muita verba, que podem ser públi­cas ou pri­vadas. A essa altura do campe­onato não sabe­mos se os pos­síveis “out­siders” pos­suem, sequer par­tido. Sem con­tar não existe a pos­si­bil­i­dade de can­di­dat­uras avul­sas. Assim, na “bru­tal­i­dade” do jogo político não é de se estran­har, que lá na frente, essas pes­soas fiquem até mesmo impe­di­das de con­cor­rer por falta de leg­enda. Como cos­tumo dizer, para uma can­di­datura viável exi­s­tir é pre­ciso “com­bi­nar” com muita gente.

Na con­tenda entre Car­los Brandão e Wev­er­ton Rocha pode estar a gênese do fim do nascente ciclo Din­ista no comando da política estadual?

É certo que haverá a cisão do grupo. Uma parte dos políti­cos seguirá com o senador Wev­er­ton e outra com o grupo com o atual gov­er­nador. Na even­tu­al­i­dade do senador Wev­er­ton gan­har, o “din­ismo”, como os movi­men­tos que o pre­ced­eram (vitorin­ismo e sarneísmo), deixará de exi­s­tir e terá sido ape­nas um gov­erno de tran­sição. Na even­tu­al­i­dade de Brandão, apre­sen­tado como can­didato do gov­er­nador, vencer, o movi­mento “din­ista” terá uma sobre­v­ida com a eleição de alguém lig­ado ao sen­hor Flávio Dino, em 2026, ou do seu próprio retorno, caso não vingue o pro­jeto para o Planalto e não pos­sua as condições necessárias para a cam­panha presidencial.