AbdonMarinho - A democracia venceu. A derrota tem dono.
Bem Vindo a Pag­ina de Abdon Mar­inho, Ideias e Opiniões, Domingo, 22 de Setem­bro de 2024



A palavra é o instru­mento irre­sistível da con­quista da liber­dade.

A democ­ra­cia venceu. A der­rota tem dono.

A DEMOC­RA­CIA VENCEU. A DER­ROTA TEM DONO.

Por Abdon Marinho.

DIZEM os mais sábios que eu que se aprende mais com os reveses e difi­cul­dades do que com as vitórias e facil­i­dades. Um outro dito, bem comum, é aquele que diz que mares tran­qui­los não fazem bons mar­in­heiros.

Encer­radas as apu­rações das eleições na cap­i­tal do estado, consagrou-​se a democ­ra­cia, a von­tade livre e sober­ana da pop­u­lação da cidade. Entre­tanto, muito mais do que isso, mostrou aos donos do poder, os novos “dinotários” desta cap­i­ta­nia, que, ainda que pos­sam muito, não podem mais que o povo.

Essa é a lição que, se tiverem sabedo­ria e humil­dade, espero que ten­ham apren­dido.

Na Roma antiga de tan­tas glórias e tan­tos césares, o Senado impôs uma regra aos des­files em se fes­te­javam os tri­un­fos das suas cam­pan­has ao redor do mundo: ao lado do gov­er­nante, enquanto esse saia a “saborear” seus feitos, um cidadão repetia ao seu ouvido, à exaustão “tu és mor­tal” ou “tu és ape­nas um homem”.

O propósito de tal recomen­dação era evi­tar que o gov­er­nante vito­rioso, saudado como um Deus pelo povo, assim se achasse.

Se, no pleito que se encerra, tive­mos a democ­ra­cia como a grande vito­riosa, temos, por outro lado, que a der­rota não está órfã e, mais, que a der­rota tem um dono que é o atual ocu­pante do gabi­nete prin­ci­pal do Palá­cio dos Leões.

O can­didato que ofi­cial­mente con­sta como “não eleito”, no mapa de apu­ração do Tri­bunal Supe­rior Eleitoral — TSE, para onde chegou, pode até se con­sid­erar vito­rioso pois a der­rota não é dele.

Todos que assis­ti­mos e acom­pan­hamos de perto esses últi­mos 15 dias, somos sabedores que houve uma “troca de can­didatos”, o can­didato Duarte Júnior, que ficou em segundo lugar e pas­sou para a etapa seguinte, cedeu lugar ao gov­er­nador Flávio Dino, que assumiu a can­di­datura como se fosse sua e se expôs além do dev­ido.

Desde a rede­moc­ra­ti­za­ção do país, que per­mi­tiu as eleições nas cap­i­tais a par­tir de 1985, que acom­panho as eleições em São Luís, e não me recordo de uma inter­fer­ên­cia maior da parte do gov­erno estad­ual na eleição da cap­i­tal do que nesta. Nem mesmo naquela primeira eleição, em que o gov­erno estad­ual teve um can­didato cujo slo­gan era “Força Total”.

Naquela eleição, ocor­rida há trinta e cinco anos, “fez-​se de tudo”, mas, ainda assim, chegou foi longe de alcançar o que foi feito nesta e que rogo a Deus, nunca mais se repita.

Se me per­mitem uma ale­go­ria sobre estas eleições, seria como aquela em que temos dois meni­nos brig­ando no recreio da escola e um irmão, bem maior e mais forte, assume lugar daquele que está apanhando.

O gov­er­nador do estado, esse irmão maior, parece ter dito: se afasta que agora é comigo.

Pois é, e apan­hou feio.

Como dizíamos, fazendo um para­lelo com as eleições de 1985, o gov­erno estad­ual ten­tou – e inter­feriu –, no pleito, mas ficou foi longe de colo­car todos os secretários na cam­panha do can­didato, ameaçando, chan­tage­ando, con­strangendo servi­dores públi­cos a aderirem e a fazer cam­panha e, muito menos, que o vice-​governador chamasse os que não estavam na cam­panha de “deser­tores”, que na acepção comum da palavra é “aquele que aban­dona uma causa, um par­tido, uma luta qual­quer do qual era par­tidário ou um dever ou com­pro­misso a que estava afeito ou vin­cu­lado”, e que o próprio gov­er­nador fosse para a “linha de frente” da cam­panha, como se aquela fosse a sua própria eleição.

Sim, vive­mos no Maran­hão, no atual pleito eleitoral, uma situ­ação inédita na nossa história.

Desde que o atual gov­erno se instalou que me per­gunto quem são os con­sel­heiros do gov­er­nador – em diver­sos tex­tos já falei disso –, pois causa-​me espé­cie que ninguém tenha a cor­agem de lhe chamar a atenção para as lou­curas que comete.

O saudoso amigo Wal­ter Rodrigues dizia: — Abdon, lou­curas só são admis­síveis quando feitas por amor, pois o amor tem razões que a própria razão descon­hece. Dizia isso, e caia na gar­gal­hada.

A exceção dos amantes e dos loucos, por serem inim­putáveis, deve­mos agir com racional­i­dade.

Uma eleição na cap­i­tal é uma eleição impor­tante, é fato, mas não tanto assim. Hoje, o eleitorado de São Luís, rep­re­senta menos de 15% (quinze por cento) do eleitorado do estado. Ou seja, não faz nen­hum sen­tido, se pen­sar­mos com racional­i­dade, que o gov­er­nador e, mais grave, o gov­erno, se exponha como se expôs, na dis­puta, a ponto da autori­dade máx­ima estad­ual “chamar para a briga” nas redes soci­ais, o can­didato adver­sário.

Não dev­e­ria ter se envolvido no primeiro turno e, muito menos agora, ter “assum­ido” a cam­panha munic­i­pal no segundo.

Tudo errado desde o começo. E não teve ninguém para dizer que o gov­er­nador do estado se exce­dia.

Tão errado que o gov­er­nador só con­seguiu “levar para apoiar o seu can­didato” os seus depen­dentes, mel­hor dizendo, os secretários “din­ode­pen­dentes”.

Nem mesmo os políti­cos expres­sivos do seu próprio par­tido aten­deram ao chamado; o mesmo acon­te­cendo com os par­tidos da sua base de sus­ten­tação.

Vejam que do tal con­sór­cio, só lem­bro de ter visto aten­dendo a “ordem” do gov­er­nador para apoiar o can­didato “chapa branca”, o can­didato do Par­tido Comu­nista do Brasil — PC do B, e, assim mesmo, um apoio tão esquisito, tendo em vista tudo que o “apoiado” disse dele e da família dele, que acred­ito que o apoio, teve mais efeito con­trário que a favor.

Os demais, aque­les que não se enga­jaram na cam­panha adver­sária, preferi­ram a neu­tral­i­dade.

É ver­dade que o can­didato do gov­er­nador “semeou” estes ven­tos. Mas, mesmo assim, sua excelên­cia, tendo tal des­culpa para “ficar na sua”, fez foi o con­trário, per­doou todos os “malfeitos” do can­didato, e “caiu de cabeça” na cam­panha. Ignorou, até mesmo, a gravís­sima infor­mação de que o can­didato pas­sara, pelo menos, cinco dias fazendo cam­panha quando se sabia con­t­a­m­i­nado pela COVID-​19.

Segundo li, mesmo ami­gos pes­soais, de lon­gas datas, do gov­er­nador, acharam “lamen­tável” a escolha ou pos­tura do gov­er­nante.

Muitos movi­dos pelos próprios inter­esses e out­ros por dever cívico, enten­deram que não podiam aten­der o chamado do gov­er­nador nesta estraté­gia de “tudo ou nada” que ado­tou no segundo turno destas eleições.

Como disse, desde a primeira eleição de cap­i­tal, após a rede­moc­ra­ti­za­ção do país, em 1985, não tín­hamos notí­cias de um grau tão grande de “inter­venção” do gov­erno estad­ual no pleito.

Esse sen­ti­mento, a com­preen­são de que a ati­tude do gov­er­nador em relação ao pleito era exces­siva e rep­re­sen­tava um retro­cesso às con­quis­tas democráti­cas do país, levou diver­sas pes­soas, inclu­sive, muitas que nunca tiveram qual­quer apreço pelo can­didato que sagrou-​se vito­rioso nas urnas, a lhe hipote­car apoio e sol­i­dariedade.

Uns fiz­eram isso pub­li­ca­mente, out­ros, entre os seus ami­gos e con­heci­dos e, out­ros, sim­ples­mente, votando nele.

Se os exces­sos públi­cos causaram repulsa das pes­soas de bem, criando o efeito “Davi ver­sus Golias”, as infor­mações – que jamais serão provadas –, de que ultra­pas­saram todos os lim­ites para alterar a von­tade do povo, pode ter sido respon­sável pela difer­ença de votos não ter sido mais expres­siva.

Ao agir de forma tão impen­sada – ou por razões que descon­hece­mos –, arrisco dizer que o gov­er­nador “frag­ili­zou” sua posição como lid­er­ança política capaz de alçar voos mais alto, ameaçando, até mesmo, a condição de vir­tual senador eleito, em 2022.

Os “deser­tores” de hoje – que no fri­gir dos ovos, pos­suem mais rep­re­sen­ta­tivi­dade, inclu­sive eleitoral –, pen­sarão duas vezes antes de embar­car numa suposta “can­di­datura nata”, de sua excelên­cia ao senado, vaga que poderá acabar “sobrando” para o atual prefeito da cap­i­tal, que sai do pleito “bem na fita” e sem nen­hum arran­hão.

A iro­nia do dia da eleição ficou por conta de uma postagem de sua excelên­cia dizendo que votou “com muita gratidão aos que enfrentaram e der­ro­taram a ditadura mil­i­tar, devolvendo-​nos o dire­ito de escol­her os nos­sos governantes”.

Acred­ito que os ludovi­censes ao votarem con­tra sua excelên­cia e o seu can­didato estiveram imbuí­dos do mesmo sen­ti­mento das mem­o­ráveis lutas dos anos oitenta con­tra a ditadura.

A democ­ra­cia venceu. A ditadura perdeu nova­mente.

Abdon Mar­inho é advo­gado.