AbdonMarinho - E daí, senhor presidente?
Bem Vindo a Pag­ina de Abdon Mar­inho, Ideias e Opiniões, Domingo, 22 de Setem­bro de 2024



A palavra é o instru­mento irre­sistível da con­quista da liber­dade.

E daí, sen­hor presidente?

E DAÍ, SEN­HOR PRES­I­DENTE?
Por Abdon Mar­inho.
E daí, sen­hor pres­i­dente, que ninguém na história do nosso arremedo de República em qual­quer dos seus momen­tos – mesmo os piores –, pro­feriu uma frase tão desastrada, tão desprovida de empa­tia e respeito pelos seres humanos quando vossa excelên­cia.
Nem mesmo o ex-​presidente João Figueiredo quando nos ester­tores do régime mil­i­tar, talvez cansado, talvez fati­gado pelos encar­gos do car­gos, e disse preferir o cheiro dos seus cav­a­los aos odores humanos foi tão infe­liz quanto vossa excelên­cia .
Quando o repórter lhe per­gun­tou sobre o que achava de haver­mos “cravado” a marca de mais de cinco mil mor­tos por conta da pan­demia, a resposta pode­ria ser qual­quer outra, menos um desqual­i­fi­cado “e daí?”, como se estivesse falando com seus “par­ceiros de copo” em um bote­quim de ponta de rua.
E já que falta respeito pelos que perderam a vida muitos deles por conta da inér­cia das autori­dades a quem se con­fiou a respon­s­abil­i­dade pelos des­ti­nos dos esta­dos e da nação – inclu­sive da sua –, dev­e­ria lem­brar que cada um dos que pere­ceu era o pai, a mãe, o avô, a avó, o filho, o neto, o irmão, o par­ente ou o amigo de tan­tos out­ros que além da dor da perda da impos­si­bil­i­dade de poder despedir-​se do que par­tiu, passa a humil­hação de ver seu ente querido ser tratado como uma mera estatís­tica indigna de um man­i­fes­tação de con­sid­er­ação, apreço ou sol­i­dariedade.
E daí, sen­hor pres­i­dente, que ontem foram mais de cinco mil, hoje já serão quase seis mil, depois sete mil, e não se sabe até onde vai.
São vidas humanas que estão se per­dendo, seres humanos, não meras estatís­ti­cas como o sen­hor imag­ina e deseja min­i­mizar.
Enquanto isso, a pan­demia vai sendo usada – de forma inédita no mundo, em qual­quer tempo –, como munição para a guerra política que não cessa nem diante da morte.
E daí, sen­hor pres­i­dente, que já mor­reram mais brasileiros nesta pan­demia do que prac­in­has na Segunda Guerra Mundial – e num espaço de sem­anas.
E dai, sen­hor pres­i­dente que a sua presidên­cia acabou, o sen­hor só gov­erna porque tem a tutela dos gen­erais, que prov­i­den­ciam até a tinta da sua caneta “bic”, sem eles vossa excelên­cia já não estaria mais dizendo-​se chefe do exec­u­tivo nacional.
E daí, sen­hor pres­i­dente, que o sen­hor nem poderá colo­car na oposição a culpa do fra­casso do seu gov­erno. A oposição andou foi longe de alcançar o seu despreparo e empenho em destruir o seu gov­erno quanto o sen­hor.
Aliás, a oposição esquerdista, comu­nistas, petis­tas, e out­ros que os valha – prin­ci­pais respon­sáveis por sua eleição, por terem escol­hido e apos­tado na rad­i­cal­iza­ção das últi­mas eleições –, junto com o sen­hor, vai voltar para as fran­jas do esquec­i­mento.
E dai, sen­hor pres­i­dente, que o sen­hor não poderá cul­par ninguém, coisa alguma, nem aposição, nem o vírus, nem esse ou aquele min­istro, nem o povo, o único cul­pado pelo fra­casso do seu gov­erno é o próprio pres­i­dente.
E daí, sen­hor pres­i­dente, que hoje o seu gov­erno é refém de tipos como Maia e Alcolum­bre, no Con­gresso Nacional, ou como Dias Tof­foli, no Supremo Tri­bunal Fed­eral, os primeiros rep­re­sen­tantes de uma parcela ínfima do eleitorado, e o segundo sem voto algum. Mas não foram eles que cresce­ram, foi vossa excelên­cia que diminuiu – e con­tinua a diminuir –, não foi o Con­gresso Nacional ou Supremo Tri­bunal Fed­eral que cresce­ram, foi a presidên­cia que foi dimin­uída – e dimin­uída pelo sen­hor, pelo seu gov­erno.
E daí, sen­hor pres­i­dente, que para se man­ter no poder – emb­ora como “pato manco” –, com todo o respeito dev­ido aos patos e aos man­cos, o sen­hor além de ser tute­lado pelos mil­itares, de ser refém de tipos como Maia, Alcolum­bre, Tof­foli, e tan­tos out­ros, ainda terá que entre­gar uma boa parte do gov­erno – senão todo o gov­erno –, a velha polit­ica, tão bem rep­re­sen­tada por tipos como Roberto Jef­fer­son, Walde­mar da Costa Neto e tan­tos out­ros que pen­sá­va­mos terem fica­dos nas pági­nas já esque­ci­das da história.
Pois é, jus­ta­mente no dia em que o sen­hor se dava uma de “valente” em um “comí­cio” intem­pes­tivo na porta do QG do Exército brasileiro e dizia que não iria “nego­ciar com ninguém” já tra­mava as trata­ti­vas com aquela que se con­ven­cio­nou chamar de “a banda podre da polit­ica”.
São jus­ta­mente aque­les que o sen­hor prom­e­teu afas­tar defin­i­ti­va­mente do poder e do din­heiro público que agora voltam – e pelo seu con­vite.
É o sen­hor que os adu­lam para lhe emprestar a sus­ten­tação para per­manecer no gov­erno – não se trata de gov­ernar, isso já se perdeu há muito tempo, ape­nas ficar no gov­erno posando de autori­dade enquanto, no entorno, a turma se farta.
O sen­hor até que, ainda, pos­sui apoio pop­u­lar, con­forme as pesquisas de opinião apon­tam. Algo em torno de 35% (trinta e cinco por cento), emb­ora sig­ni­fica­tivo, já longe do per­centual obtido na eleição.
A iro­nia é que muitos dos eleitores que apare­cem nas pesquisas são eleitores novos. O seu eleitorado se deslo­cou, já imag­i­nou se não tivesse feito todas as lam­banças que fez e con­ser­vado o eleitorado orig­i­nal, que lhe deu a vitória nas urnas?
E daí, sen­hor pres­i­dente, que o meu pai – um fla­ge­lado da seca, anal­fa­beto por parte de pai, mãe e parteira –, cos­tu­mava dizer que “quando a cabeça não pensa, o corpo padece”.
O sen­hor vem sab­otando o gov­erno – e a con­fi­ança dos mil­hões de eleitores que o elegeu – , desde antes da posse; já na posse, ao per­mi­tir que um dos fil­hos “tomasse” posse junto, mostrou que de fato não seria um pres­i­dente com­pleto, de lá para cá, a cada dia, a cada declar­ação, só aumen­tou a sab­o­tagem ao gov­erno – mais, dev­ido a colo­cações infe­lizes do que, pro­pri­a­mente ações.
E daí, sen­hor pres­i­dente, que o sen­hor não é vitima, pelo con­trário, é o sujeito e autor de suas próprias asnices e com elas com­pro­m­ete o futuro da nação.
E daí? Talvez a nação nada mais seja do que um brin­quedo a sat­is­fazer egos.
Abdon Mar­inho é advogado.