AbdonMarinho - O MARANHÃO E AS VILAS DE POTEMKIN.
Bem Vindo a Pag­ina de Abdon Mar­inho, Ideias e Opiniões, Segunda-​feira, 29 de Abril de 2024



A palavra é o instru­mento irre­sistível da con­quista da liber­dade.

O MARAN­HÃO E AS VILAS DE POTEMKIN.

O MARAN­HÃO E AS VILAS DE POTEMKIN.
Por Abdon Mar­inho.
O QUE teria em comum o Maran­hão do século XXI com a Rús­sia Czarista do século XVIII?
A qual­quer um a quem se fizesse tal inda­gação cer­ta­mente diria que nada.
Um olhar mais atento perce­berá out­ras simil­i­tudes além da grande mis­éria gras­sava aquele Império e que foi tão bem retratadas nas obras de Górki e Dos­toiévski, já no século XIX.
Uma outra é a que recor­damos agora.
Como sabe­mos, a Cza­rina Cata­rina II, a Grande, que gov­ernou o Império Russo de 1762 a 1796, viveu muito além dos pudores daquela época o que lhe per­mi­tiu cole­cionar um vasto número de amantes – uma série em exibição em diver­sas platafor­mas de mídia (e que recomendo) traz uma impor­tante visão daquele momento –, den­tre eles Potemkin (Grig­ory Alexan­drovich Potemkin, 17391791).
Foi este mil­i­tar, que virou favorito de Cata­rina e a aju­dou gov­ernar por 17 anos, o cri­ador de um mar­ket­ing extra­ordinário para aque­les tem­pos e que ainda hoje inspira muitos políti­cos inclu­sive no nosso estado nos dias atu­ais, razão pela qual me veio à lem­brança.
Conta a história (ou seria lenda) que após a incor­po­ração da Crimeia (a primeira incor­po­ração em 1783 ) mas na iminên­cia de um outro con­flito com os Otomanos, este orga­ni­zou uma excursão de Cata­rina com diver­sos out­ros políti­cos europeus para mostrar que a nova pos­sessão estava per­feita­mente integrada, habitada e próspera.
Para isso, man­dou con­struir diver­sas vilas com madeira e papelão com tudo que uma vila pode­ria ter: casas, igre­jas, comér­cios, etcetera, entre Kiev e Sebastopol.
Assim, quando Cata­rina e seu séquito pas­savam, iam vendo lin­das vilas bem pin­tadas, cri­anças brin­cando, homens de Potemkin fan­tasi­a­dos de cam­pone­ses felizes tra­bal­hando, out­ros saudando a Corte de Peters­burgo e lin­das planí­cies com gado, etc.
Na ver­dade, por trás daque­las fachadas, aquela parte do país era deserta e o povo mis­erável.
Ao longo dos sécu­los muitos políti­cos fiz­eram o mesmo que fez o favorito de Cata­rina e, ainda hoje, as “vilas de Potemkin” servem para des­ig­nar obras de fachada.
E, aqui entra o novo velho Maran­hão cansado de guerra.
Desde que o atual gov­er­nador do estado tornou-​se “amante” da ideia de vir a ser pres­i­dente da República, vestiu-​se de Potemkin e pas­sou a espal­har a pesa­dos cus­tos para o con­tribuinte, suas “vilas prósperas”.
Quem assiste às preleções de sua excelên­cia no rádio ou nos pro­gra­mas de tele­visão imag­ina que o Maran­hão virou um oásis de desen­volvi­mento e que o nosso gov­er­nante é um “gênio da raça” com capaci­dade para solu­cionar todos os prob­le­mas do Brasil e do mundo.
A real­i­dade, infe­liz­mente, dis­corda da impressão: e o gov­erno é como as vilas de Potemkin, de fachada.
Recen­te­mente, enquanto em entre­vis­tas sua excelên­cia “vendia-​se” como a solução para os prob­le­mas do país – qual­quer semel­hança com as orga­ni­za­ções Taba­jara é mera coin­cidên­cia –, uma matéria do Jor­nal Valor Econômico lançava um pouco de luz sobre a real­i­dade maran­hense.
Segundo a pub­li­cação o Maran­hão é o estado da fed­er­ação com mais mis­eráveis, com 12,2%(doze e dois avos por cento) das famílias sobre­vivendo abaixo da linha da mis­éria, com menos de 85 reais por mês.
Em ter­mos abso­lu­tos, con­siderando que o Maran­hão, segundo esti­ma­tiva do Insti­tuto Brasileiro de Geografia e Estatís­tica — IBGE, pos­sui uma pop­u­lação de 7 mil­hões de habi­tantes, temos um exército de desvali­dos supe­rior à casa dos mil­hões, quando con­sid­er­amos que as famílias mais pobres são jus­ta­mente aque­las que pos­suem mais inte­grantes.
Não é pouca coisa, esta­mos falando de dois, três ou talvez qua­tro mil­hões de mis­eráveis.
É certo que o Maran­hão sem­pre esteve na “rabeira” do desen­volvi­mento não se podendo atribuir toda a respon­s­abil­i­dade ao atual gov­erno, na ver­dade a mis­éria do estado é histórica e há até quem diga que ser mis­erável “faz parte da nossa tradição”.
Por outro lado, é certo, tam­bém – e os números estão aí para teste­munhar –, que o estado, sob a gestão comu­nista, o número de famílias mis­eráveis aumen­tou em 40,23% (quarenta e vinte três avos por cento), saltando de quase nove para mais de doze por cento.
Vejam só, logo neste gov­erno que tinha como ban­deira de luta a redução da mis­éria e das desigual­dades, insti­tuindo, inclu­sive um pro­grama chamado Mais IDH nos trinta municí­pios mais pobres do estado, a mis­éria aumen­tou con­sid­er­av­el­mente.
Para quem “se vende” como o “resolvedor-​geral da República”, só estes números são sufi­cientes para provar que o sucesso da gestão se assemelha às Vilas de Potemkin.
A avali­ação fica ainda mais des­fa­vorável quando sabe­mos que o atual gov­erno rece­beu o estado com as con­tas prati­ca­mente em ordem, com as despe­sas com pes­soal abaixo dos quarenta por cento da receita; com servi­dores com salários em dias; com um fundo pre­v­idên­cia com polpu­dos recur­sos em caixa; e com con­tratos para o ingresso de recur­sos em caixa para obras estru­tu­rantes na casa dos bil­hões de reais.
Mas não foi só. Além de tudo isso, o atual gov­erno foi eleito, como se diz pop­u­lar­mente, “sem dever nada a ninguém”, podendo demi­tir quem quisesse, equi­li­brar muito mais as con­tas públi­cas, redis­cu­tir con­tratos, reduzir cus­tos e se preparar para os dias difí­ceis que viriam.
Todos, até mesmo os mais desin­for­ma­dos sabiam, que o país, os esta­dos e os municí­pios estavam atrav­es­sando uma crise que vinha desde 2012. Sua excelên­cia, que passa a ideia de que sabe muito, decreto sabia disso.
Infe­liz­mente, o Maran­hão perdeu, com o gov­erno que se ini­ciou em 2015, um grande chance de, mesmo na crise, dar um salto de qual­i­dade.
O que assis­ti­mos hoje, quase cinco anos depois de ini­ci­ado o desas­tre comu­nista, é a despesa com a folha de pes­soal nos lim­ites da lei de respon­s­abil­i­dade fis­cal; é o fundo de pre­v­idên­cia que­brado, sem que os aposen­ta­dos saibam até quando vão rece­ber em dia suas aposen­ta­do­rias e pen­sões; é o estado endi­vi­dado além de sua capaci­dade de paga­mento e cada vez devendo mais; é a total ausên­cia de obras estru­tu­rantes; é o des­perdí­cio de recur­sos públi­cos; são as pou­cas obras (mal) feitas se des­man­chando com as primeiras chu­vas; etc., etc., etc.
O certo é que o Maran­hão está no “atoleiro” do qual não con­seguirá sair soz­inho, por seus próprios meios.
Quem pode nos socor­rer é o gov­erno fed­eral com grandes pro­je­tos estru­tu­rantes como a explo­ração de Cen­tro de Lança­mento de Alcân­tara; com a ampli­ação e a con­strução de novos por­tos; é a interli­gação das redes fer­roviárias a estes por­tos, e out­ros pro­je­tos mais.
Indifer­ente a tudo isso, sobre­tudo à mis­éria que só aumenta, o atual gov­erno pref­ere se con­duzir por uma pauta ide­ológ­ica que só atende aos próprios inter­esses do gov­er­nante e seus ali­a­dos – os mil­hões de mis­eráveis que “se lixem”.
E, noutra quadra, segue con­stru­indo as suas “Vilas de Potemkin”, para quais não fal­tam recur­sos no orça­mento do estado. Na pasta da comu­ni­cação foram exe­cu­ta­dos em 2017, mais de 91 mil­hões de reais; em 2018, quase 62 mil­hões reais e a pre­visão para 2019 é de 63 mil­hões de reais. É muito din­heiro.
Com tan­tos recur­sos (pro­por­cional­mente, supe­ri­ores aos gas­tos do gov­erno fed­eral) querem vender a ideia que o Maran­hão é um paraíso, que esta­mos acel­er­a­dos no rumo do desen­volvi­mento e que temos os mel­hores gov­er­nantes de todos os tem­pos.
Tudo tão real quanto as vilas de Potemkin entre Kiev e Sebastopol.
Abdon Mar­inho é advogado.