AbdonMarinho - A MISÉRIA E A DERRAMA.
Bem Vindo a Pag­ina de Abdon Mar­inho, Ideias e Opiniões, Sábado, 11 de Maio de 2024



A palavra é o instru­mento irre­sistível da con­quista da liber­dade.

A MIS­ÉRIA E A DERRAMA.

A MIS­ÉRIA E A DERRAMA.

Por Abdon Marinho.

O MARAN­HÃO está mais pobre. Qual­quer que seja a des­culpa que apre­sen­tem pouca ou nen­huma relevân­cia terá diante da infor­mação divul­gada pelo Insti­tuto Brasileiro de Geografia e Estatís­tica — IBGE, de que 54,10% da pop­u­lação maran­hense vive abaixo da linha da pobreza, ou seja, em números do ano pas­sado (2017), recebem para viver até 406 reais/​mês. Destes, um número igual­mente sig­ni­fica­tivo é o de cidadãos que vivem no que denom­i­nam de extrema pobreza.

O insti­tuto con­fir­mou o que, sem a pré­cisão dos índices, já iden­ti­ficara e par­til­hara, em diver­sas opor­tu­nidades, com as pes­soas que leem meus tex­tos.

Ando o Maran­hão todo, con­verso com muita gente. Nestes anos assisti o empo­brec­i­mento do estado e da sua gente. Qual­quer hora que passe­mos pelas estradas maran­henses vemos mul­ti­dões de cidadãos de “cara ‘pro’ vento” sen­ta­dos em suas por­tas, nos bares, debaixo de árvores.

Se viajo no começo ou fim de mês vejo os cidadãos, de todas as idades, aglom­er­a­dos nas por­tas de casas lotéri­cas – não importa o dia da sem­ana. Nem me per­gunto o que fazem, já sei: enfileiram-​se para rece­ber o “Bolsa Família”.

O Maran­hão tornou-​se um estado de mendi­gos, de depen­dentes da cari­dade alheia.

Nos encon­tros com ami­gos do inte­rior quando per­gunto qual a situ­ação econômica do municí­pio, quase sem­pre escuto a mesma resposta: “ — Doutor, se “tirarem” o “bolsa família” metade da pop­u­lação morre”.

Este empo­brec­i­mento do estado não é de hoje. Vem de décadas de falta de uma política de enfrenta­mento da mis­éria e se torna mais aguda no pre­sente momento quando, por neg­li­gen­cia e ambição, já perdemos parte sig­ni­fica­tiva dos nos­sos recur­sos nat­u­rais.

Neste meio tempo, destruíram os pequenos arran­jos de pro­dução agrí­cola e cri­ação que levou a pop­u­lação à dependên­cia das políti­cas assis­ten­cial­is­tas dos gov­er­nos, coroando o caos com a uma forte pen­e­tração do trá­fico de dro­gas até mesmo nos menores povoa­dos.

A pro­dução famil­iar da zona rural maran­hense não chega nem perto do era nos anos setenta e iní­cio dos oitenta – ape­nas para citar o que temos de lem­brança mais próx­ima.

Sou filho de agricul­tores e como tal lem­bro bem que no nosso povoado, naque­les tem­pos, ninguém pas­sava neces­si­dade, pois todos tin­ham suas roças, com pro­dução abun­dante de arroz, fei­jão, milho, abób­ora, melan­cia, macax­eira; todos tin­ham um pequeno pomar com pro­dução de laranja, tanja, lima, manga, caram­bola, etc; na cri­ação de ani­mais se tinha os por­cos, as gal­in­has, os patos, as gal­in­has de Angola – que chamá­va­mos de guinés –, cabras, carneiros e, os de mel­hor condição, até uma pequena vacaria. Mesmo os mais humildes tin­ham um chiqueiro com por­cos e um plantel de gal­in­has.

O mais inter­es­sante de se lem­brar é que os cidadãos não pre­cisavam do “gov­erno” para viver e ter como se sus­ten­tar e a suas famílias.

Era “feio” pedir e só quem esmolava eram os cegos ou alei­ja­dos – e ainda assim con­strangi­dos e enver­gonhados, pediam des­cul­pas ao bater numa porta para pedir.

Toda essa far­tura, no Maran­hão de hoje, foi sub­sti­tuída pela esmola men­sal das “bol­sas” e pelas pedras de crack. Não encon­tramos mais a velha pro­dução famil­iar, não se acha uma gal­inha para se fazer uma canja.

A regra é essa. O que não é isso são as exceções.

Como dizia este quadro de desalento não vem de hoje, não é fruto de um único gov­erno, entre­tanto é igual­mente falso imag­i­nar que o atual gov­erno nada tem de respon­s­abil­i­dade com o que viven­ci­amos.

Cheg­amos ao final do quarto ano deste gov­erno, e muito pouco – ou quase nada –, foi feito para apon­tar um rumo de cresci­mento econômico para o estado, pelo con­trário as ini­cia­ti­vas foram, quase sem­pre, no sen­tido de frag­ilizar ainda mais a já fraca econo­mia local e com isso a mis­éria do povo.

A falta de aptidão para a gestão e a incom­preen­são de con­ceitos bási­cos dos atu­ais diri­gentes do estado têm servido como catal­isadores para o aumento da pobreza.

Em qua­tro anos de gov­erno não foram capazes, sequer, de “estancar” o atraso, quanto mais apre­sen­tar pro­postas con­sis­tentes que pro­movam o desen­volvi­mento econômico con­sor­ci­ado com o desen­volvi­mento social. O resul­tado aparece nos índices.

É ele­men­tar que não ter­e­mos desen­volvi­mento social, sobre­tudo, que reverta o quadro de pobreza tão extrema, sem que ten­hamos um desen­volvi­mento econômico con­sis­tente.

É isso que o atual gov­erno “teima” em não com­preen­der.

A essa “incom­preen­são” deve ser cred­i­tada a “estraté­gia” gov­ernista de bus­car o desen­volvi­mento através da ele­vação da carga trib­utária – em qua­tro anos já se aumen­tou os trib­u­tos estad­u­ais e taxas, três vezes.

Em nen­hum lugar do mundo tal estraté­gia fun­cio­nou. Pelo con­trário onde ten­taram fazer isso se afu­gen­tou empre­sas e se que­braram as que exis­tiam.

Esse (pés­simo) hábito de asfix­iar a camada pro­du­tora da nação e/​ou de se uti­lizar da ele­vação das car­gas trib­utárias a ponto das mes­mas se tornarem uma espé­cie de “con­fisco” ou mesmo, como se chegou em alguns regimes a con­fis­car pro­priedades, levou a ex-​primeira-​ministra britânica Mar­garet Thatcher a cun­har a céle­bre frase: “o Comu­nismo fra­cassa na hora que acaba o din­heiro dos out­ros”, algo mais ou menos assim.

O gov­erno comu­nista do Maran­hão, parece tra­bal­har no sen­tido de dar razão a antiga pre­miê .

Não faz muito tempo um jor­nal­ista disse, em tom de pil­héria, mas nem por isso com menos acerto, que a única ini­cia­tiva econômica do atual gov­erno teria sido a redução sub­stan­cial da trib­u­tação de uma deter­mi­nada rede de super­me­r­ca­dos em detri­mento de todas as demais. Medida esta, aliás, que teve efeito jus­ta­mente oposto do, imag­ino eu, alme­jado, pois “que­brou” os demais empresários do ramo, e mesmo, os pequenos com­er­ciantes de bair­ros, que ficaram sem capaci­dade com­pet­i­tiva.

Como com­pe­tir com quem paga dois por cento de imposto, se tem que desem­bol­sar pelo menos dezoito por cento?

No comér­cio, setor afe­tado mais dire­ta­mente pelos desac­er­tos econômico do atual gov­erno, só os cora­josos têm resis­tido, os demais têm “baix­ado as por­tas”.

Basta andar pelos cen­tros de comér­cio ou vias ded­i­cadas ao ramo para con­statar isso.

Outro dia, numa ida ao Tri­bunal de Justiça, me pus a con­ferir as lojas ainda aber­tas na Avenida Castelo Branco, uma das movi­men­tadas antiga­mente, nem um terço per­manecem aber­tas. Fecharam quase todas.

Após “cavarem” a atual crise com “espan­tosa ded­i­cação” o atual gov­erno acena, pela ter­ceira vez em qua­tro anos, com um “pacote anti­crise” com­posto basi­ca­mente por dois ingre­di­entes: ele­vação da carga trib­utária sobre o setor pro­du­tivo e dem­a­gogia. Ambos custea­dos pelo suado din­heiro dos con­tribuintes.

É fácil com­preen­der. O gov­erno aumenta os impos­tos e taxas, o que causa revolta dos con­tribuintes, então para tornar o “aco­cho” mais palatável, ele acena inserções de taxas para alguns segui­men­tos: pro­pri­etários de moto­ci­cle­tas até deter­mi­nadas cilin­dradas; alguns itens da cesta básica; alguns microem­preende­dores.

Acon­tece que o gov­erno não “dar” nada a ninguém, até porque não pro­duz um alfinete, assim, como pre­cisa de din­heiro para custear inclu­sive os seus exces­sos, o que vai arrecadar pre­cisa ser sem­pre mais, até para ban­car as supostas “bon­dades”.

Enten­deram? No fim das con­tas quem acaba pagando por tudo, somos nós, os pagadores de impos­tos, até as supostas gen­tilezas.

Agora mesmo, na hora que colo­car um real de gasolina, trinta cen­tavos e meio, tilinta no cofre do gov­erno, sem que ele faça nada em troca na edu­cação, na saúde, na infraestru­tura, na assistên­cia. E os indi­cadores estatís­ti­cos estão aí para provar.

Mesmo aquilo que pode­riam fazer para econ­o­mizar nosso din­heiro não é efeito. Basta con­ferir os incon­táveis pré­dios alu­ga­dos para o estado, quando pode­riam, per­feita­mente, emb­ora pas­sando por alguns aper­tos usarem sua própria estru­tura.

Todos os dias sinto na pele o que acabo de dizer.

Ao lado do meu escritório o gov­erno estad­ual alu­gou o pré­dio do antigo Hotel Panorama, dizem que por mais de cento e cinquenta mil reais (valor que acho exces­sivo, pois pelo que tomei con­hec­i­mento, o Min­istério Público que ocu­pava o mesmo espaço ante­ri­or­mente, pagava cerca da metade disso).

Não é só, o mesmo pré­dio ficou “parado” por quase um ano, enquanto era refor­mado, e como a reforma per­dura, acred­ito que esteja sendo custeada pelo con­tribuinte.

Poder-​se-​ia até achar nor­mal tal situ­ação se não exis­tisse, a menos de 200 met­ros do pré­dio alu­gado, um pré­dio próprio do gov­erno estad­ual, adquirido para fun­cionar, jus­ta­mente, a Sec­re­taria de Estado da Edu­cação, por quase 30 mil­hões, e que se encon­tra subutilizado.

Ora, se ficaram quase um ano esperando (e/​ou ban­cando) a reforma num pré­dio alheio, por que não refor­maram, adap­taram ou mesmo con­struíram suas insta­lações no pré­dio do antigo Hotel São Luís, que pos­sui uma área bem maior que o espaço que estão ocu­pando atual­mente?

Acred­ito que seria muito mais saudável para as con­tas públi­cas e não estariam “inf­er­nizando” a vida dos moradores, escritórios e clientes daquela região.

Mesmo duas medi­das que pode­riam tomar para facil­i­tar a vida das pes­soas fiz­eram, que era pro­lon­gar a Rua dos Pin­heiros até a Avenida Fer­reira Gullar e interli­gar a Rua das Figueiras com a Rua dos Pin­heiros por trás do Asilo de Men­di­ci­dade.

Chega a ser ina­cred­itável que num único episó­dio o gov­erno estad­ual con­siga causar tan­tos males as finanças públi­cas e as vidas dos con­tribuintes.

Duvi­dem sem­pre dos bem-​intencionados e dos gov­er­nos, pois já sabe­mos os ambi­entes que habitam, não é?

Abdon Mar­inho é advo­gado.