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Bem Vindo a Pagina de Abdon Marinho, Ideias e Opiniões, Quinta-feira, 02 de Maio de 2024



A palavra é o instrumento irresistível da conquista da liberdade.

Escrito por Abdon Marinho


A DEFESA DA DEMOCRACIA É COMPROMISSO DE TODOS - Parte 2.

Por Abdon C. Marinho.

MILHARES foram às ruas quando os comunistas chineses derrubaram o antigo governo e assumiram o poder, mas nem todos os chineses estavam na Praça da Paz Celestial saudando o ou festejando o governo que se instalara;

Milhares foram às ruas quando os bolcheviques derrubaram a monarquia russa e instalaram o regime comunista naquela nação – e depois a espalhou pelos diversos países vizinhos para formar a União Soviética –, mas nem todos os russos estavam na Praça Vermelha apoiando o novo governo e a todas as atrocidades que vieram depois;

Milhares foram às ruas saudar o fascismo de Mussolini, mas nem todos – muito menos a maioria dos italianos ou mesmo dos romanos –, participaram ou foram coniventes com a Marcha sobre Roma que obrigou antigo governo a ceder e a levar os facistas ao poder na Itália no início do século passado;

Milhares de alemães foram as ruas saudar a ascensão do nazismo na Alemanha, mas nem todos os alemães participavam ou apoiavam as pautas nazistas ou participavam dos seus comícios no Reichsparteitagsgelände – local dos comícios do Terceiro Reich, em Nuremberg, Alemanha. 

Além dos quatro exemplos acima – nem tanto os dois primeiros cujo os regimes feudais os semi-feudais cederam lugar diretamente às ditaduras comunistas –, poderíamos citar inúmeros outros exemplos apenas restritos ao ocidente de falsos messias alçados ao poder com as falsas promessas de libertar o povo e que acabaram por os levar a regimes ditatoriais e repressivos do que aqueles povos jamais puderam imaginar. 

Um exemplo, Cuba, a queridinha dos esquerdistas brasileiros, saudada como um paraíso na terra, com indicadores sociais e educacionais elevados, mas que é uma ditadura repressiva que impede as pessoas até mesmo de pensar e expor sua liberdade de pensamento ou de crítica política. Agora mesmo o regime cubano julga e condena centena ou milhares de cidadãos porque estes protestaram contra o governo no ano passado. 

Um outro exemplo, a Nicarágua. Quantos não saudaram a chamada Revolução Sandinista no inciso dos anos oitenta, como prenúncio da liberdade de um povo massacrado pela ditadura de Somoza. 

E o que temos na Nicarágua hoje depois que líder Daniel Ortega prendeu quase toda a oposição para ganhar as eleições? Temos uma ditadura que massacra o povo, a divergência e que, agora mesmo, prende, julga e condena a duras penas, pelo “pecado” de protestarem contra o regime diversos cidadãos, inclusive clérigos católicos. 

O exemplo, talvez, mais claro é o da Venezuela. Quantos não saudaram a chegada de Chávez ao poder como prenúncio da libertação do povo venezuelano da exploração dos conglomerados econômicos estrangeiros, dos governos corruptos, etc? E o que temos hoje na Venezuela, em pouco mais de vinte anos desde que os chavistas chegaram ao poder? Acho que tudo pode ser resumido numa frase: a destruição de uma nação. 

O resto, a fome, à miséria, a prostituição, a violência, o narcotráfico, etc., etc., são apenas frutos da destruição da nação. 

Os verdadeiros democratas não podem olhar para tais países e, por conveniência ideológica ou afinidade política, dizer que tudo vai muito bem ou que se trata de assuntos internos de países estrangeiros para silenciarem diante dos descalabros. 

Mas, voltando ao assunto do texto, durante muitos anos, enquanto estudava sobre o fascismo e o nazismo – o comunismo deixo de fora pelas razões expostas acima –, como os cidadãos italianos e alemães se deixaram “seduzir” pelas pautas de Mussolini e Hitler, sendo povos, há cem anos, tão evoluídos politicamente? Como permitiram que líderes absolutamente loucos levassem à destruição de suas nações e causassem tanto sofrimento aos povos do mundo? Foram seduzidos com as promessas de grandezas de suas nações? Pelas promessas de riquezas para os seus povos? 

Os livros de história e os documentários diversos narram as ascensões do fascismo, na Itália e do nazismo, na Alemanha. Origens, métodos, fundamentos, podem até divergirem, mas numa coisa se igualam: a utilização dos mecanismos da democracia para destruição da própria democracia. 

Um argumento e uma imagem é comum a ambos: que falam em nome do povo e exibem imagens de seus atos políticos, como se ali, naqueles eventos, estivessem toda a população do pais  – ou mesmo que estivessem –, que suas pautas eram justas, corretas, honestas e não apenas a busca do poder pelo poder. 

Merece estudos sociológicos – e depois históricos –, a atual quadra política brasileira. 

Com cem anos decorridos desde a marcha sobre Roma empreendida por Mussolini, e pouco menos que isso, desde que Hitler e seus nazistas ascenderam ao poder na Alemanha, valendo-se da fragilidade e dos mecanismos democráticos da República Weimar, os fatos que ocorrem no Brasil talvez não expliquem, mas, certamente, ajudarão a entender o ocorrido naquelas nações. 

Imaginem que cem anos depois, com todo progresso científico, tecnológico e de comunicação, temos um líder político exercendo mandatos consecutivos há quase trinta anos, sem nunca ter erguido a voz uma única vez em defesa da liberdade – ao contrário disso, sempre teve um comportamento em defesa da ditadura militar, de torturadores, contra as minorias, etc., e tal –, que agora (somente agora) diz estar numa “cruzada” contra os que querem acabar com a liberdade do povo – e grande parte da sociedade, que se diz consciente e esclarecida, porque sabe utilizar o WhatsApp, acredita. 

Imaginem que tem um líder que fala que acabou com a corrupção no governo. Mas, nunca, em tempo algum, tivemos tanta corrupção, até mesmo no seio da família deste líder, grande parte dela institucionalizada através de vários mecanismos – mas o povo, tão esclarecido por saber acessar as redes sociais, acha que está tudo certo, que o que vale é apenas impedir que os corruptos de outrora voltem à cena do crime, para os da atualidade tudo está muito bem, ainda que grande parte deles sejam oriundos do antigo regime.

Resta-me a impressão de que as pessoas são ou estão dispostas a acreditarem em qualquer coisa que lhes digam ou aceitar como qualidades os defeitos de quem admira.

Uma última prova disso é o que testemunhamos no último Sete de Setembro. 

Milhares de pessoas reunidas na Praça dos Três Poderes, na capital da República, para festejar a Independência do Brasil, não uma independência qualquer, mas “data cheia” do bicentenário. 

Era milhares pessoas vestidas com as cores nacionais – talvez centenas de milhares –, famílias inteiras, idosos, jovens, crianças, cidadãos que professam os diversos credo religiosos, milhares para saudar à Pátria, mas, milhares deles, para engrossar as fileiras do “seu líder”.

E o que era para ser um ato cívico de saudação à pátria, tornou-se um comício político/eleitoral à vista de todos, de religiosos, de militares (até generais), das famílias brasileiras, das delegações estrangeiras que vieram prestigiar o aniversário da nação – bem poucas na verdade, apenas  o presidente de Portugal, Marcelo Rebelo de Sousa, além de outras autoridades estrangeiras, como José Maria Neves, presidente de Cabo Verde; general Umaro Sissoco Embaló, presidente da Guiné-Bissau; doutor Zacarias Albano da Costa, secretário-executivo da Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP) e Constantino Alberto Bacela, ministro de Moçambique para Assuntos da Casa Civil.

Não bastasse a baixeza de se transformar a data mais importante da nação – que por sua importância deveria ser posta acima de tudo –, evento político/eleitoral, os presentes ainda tiveram que ouvir um discurso de campanha indigno até mesmo de ser feito por o mais reles dos candidatos a vereador em quaisquer cafundós do país, cujo o “ponto alto” ou seria o “ponto baixo”, em qualquer escala de grandeza, foi o chefe da nação “puxar um coro” de que seria “imbrochável” – termo que muito embora os dicionários cultos desconheçam –, sabemos do que se trata. 

Lá estava o chefe da nação, no dia ímpar da pátria, promovendo tal espetáculo, para crianças, jovens, idosos, senhoras, pessoas de diversos credos religiosos e que integram o que chamam de a “família cristã” brasileira.

Lá estavam soldados e generais assistindo ao aviltamento da pátria. 

Ninguém protestou – durante ou depois –, no máximo, silenciaram e deixaram de responder ao coro de “imbrochável”, como fizeram milhares de outros. 

Imagino que Mussolini e Hitler, mesmo no auge de suas loucuras, nos seus ensandecidos discursos megalômanos, nunca ousaram tanto. 

E no Brasil? Alguma vez nestes duzentos anos de independência do Brasil assistimos a maior desrespeito a nação? 

Acredito que não. 

Mas, se estamos dispostos a fingir que nada aconteceu, aplaudir, apoiar para que continue assim, talvez não tenhamos do que reclamar no futuro. 

Abdon C. Marinho é advogado.