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Bem Vindo a Pagina de Abdon Marinho, Ideias e Opiniões, Terça-feira, 30 de Abril de 2024



A palavra é o instrumento irresistível da conquista da liberdade.

Escrito por Abdon Marinho

A ESPERANÇA POR UM FUTURO MELHOR. 

Por Abdon C. Marinho.

DOMINGO, 8 de janeiro, acordei muito mais cedo do que “de costume”. Quase no horário “normal” da semana, às 4:30 horas da manhã. 

Enquanto perseguia o sono para dormir mais um pouco pensava no que poderia ser o tema que abordaria no nosso já célebre “textão do fim de semana”, quando sentasse logo mais na poltrona inspiradora para escrever. 

Assuntos não faltam. E para quem gosta de escrever sobre política, a semana que passou foi um “prato cheio”, posse dos novos governantes nos estados e no poder central, uma semana inteira de posses de ministros, os primeiros “atropelos”, os primeiros desacertos, muitos ministros desconectados da realidade do país falando bobagens, uma torre de Babel dos tempos modernos a ponto da semana encerrar com o presidente da República convocando os quase quarenta ministros estado para “um pára pra acertar”. 

Outro assunto ainda presente na linha da política nacional é a irresignação dos derrotados com o resultado do pleito. Depois de ficarem acampados por mais sessenta dias nas portas dos quartéis pedindo golpe militar, essa turma, embora em menor grupo, promete não descansar até o novo presidente “descer a rampa”. Até onde soube, continuam em suas redes sociais insuflando os militares brasileiros para o golpe militar e organizando marchas de protestos contra o governo que ainda nem começou. 

Todos estes assuntos dariam bons textos – e darão, em um outro momento. 

Para hoje, pensei em um texto “para cima”, para renovar as nossas esperanças em um futuro melhor, onde os sonhos dos cidadãos e cidadãs, muito além das dificuldades que enfrentarão durante todo o ano, possam se realizar. 

É uma tradição cristã que na primeira sexta-feira do ano os crentes dirijam-se as igrejas em busca de bençãos para o ano que se inicia – o que também se pode fazer nos cultos e missas dominicais –, numa feliz coincidência a data “caiu” justamente no dia consagrado aos Santos Reis, uma celebração que remete aos três reis magos que, seguindo a estrela do oriente, foram ao encontro do Rei-menino para testemunhar e o presentear com ouro, incenso e mirra. 

O ano que inicia vem junto com a posse de novos governos o que,  por si, já é um sinal de novos tempos e/ou de renovação. 

Apenas para ilustrar o sentimento de que os novos governantes tragam efetivamente esperanças e um futuro melhor para o povo brasileiro e maranhense, registro que achei muito auspicioso que tanto o governante federal quanto o estadual, este último, mais ainda, tenham dado destaque a questão da educação. 

O governador reeleito, aliás, tem tratado disso desde o dia seguinte à sua reeleição e reafirmado sempre que pode que a educação será a primeira prioridade do seu governo.

Como este é um assunto que me é muito caro, tenho escrito sobre ele constantemente. Outro dia falei sobre o trabalho hercúleo para, ao menos, colocarmos a educação nacional nós mesmos patamares da educação dos grandes países do mundo. Falava, inclusive, de recente pesquisa apontando a educação nacional com uma década de atraso e, muito pior que isso, que levaremos seis décadas para corrigir tal distorção. 

País nenhum avança sem uma base educacional sólida. 

A história está aí para provar que foram os povos que investiram mais em educação os que conseguiram superar os seus níveis de pobreza e partilhar o sucesso econômico entre os seus cidadãos. 

Daí serem auspiciosas as falas dos novos governantes a respeito da educação. Claro que as falas, os discursos, precisam “virar” ações concretas em prol de uma educação que seja de qualidade e acessível a todas as crianças. 

Uma ação estratégica do governo estadual dentro dessa política de se melhorar a educação é o chamamento de prefeitos e secretários municipais de educação para um “alinhamento” sobre a qualidade do ensino fundamental. 

Nos anos em que me dedico a esse tema, me convenci que o  problema central da educação brasileira encontra-se no ensino fundamental – sem descuidar, claro dos anos seguintes.

É lá, com as crianças de tenra idade, que precisamos melhorar a qualidade do ensino, mais ferramentas, mais conteúdos, fazendo com elas criem gosto pelo saber. 

Vivemos a cultura do adiantamento. 

Imaginamos que a criança que não aprendeu nada ou quase nada nos anos iniciais do fundamental vai conseguir corrigir a distorção nos anos finais; se não acontecer isso, aprenderão no médio.

A realidade nos prova o contrário. A criança que não tem estímulos nos primeiros anos, passa a ter um desapego cada vez mais crescente para a escola, aí começam a surgir a evasão escolar, o envolvimento com o crime, etc.

Quando a família ou o Estado se dão conta, aquela criança que poderia ter um futuro brilhante, já se tornou cliente do poder judiciário e freguês das polícias. 

Cada vez mais cedo registramos envolvimento de crianças e adolescentes com os mais variados delitos. Cada vez mais cedo os pais não têm qualquer controle sobre os filhos.

Com isso, o drama social só vai aumento em uma progressão geométrica. 

Com isso perde o país, em riquezas, perde a sociedade, perdem as famílias e perdem os próprios jovens que poderiam ter uma vida útil para a sociedade e para própria família. 

Qual a contribuição que uma criança que envereda pelo caminho dos atos infracionais e depois para crime deu à sociedade? Nenhuma. 

A solução para a tragédia nacional anunciada, demanda tempo, demanda dedicação, demanda recursos e é apenas uma solução: educação. 

As nações, os estados, os municípios não gastam com educação, eles investem. E o retorno é sempre infinitamente superior ao que investiram. 

Só a educação, principalmente a educação pública, que é a grande responsável pela formação da maior parcela da sociedade, poderá nos levar a um futuro melhor. 

É a educação a única ferramenta que tem poder de mudar a realidade dos estados e nações e a vida das pessoas. 

Nas minhas “pregações” sobre o tema – e tenho feito muitas, ultimamente –, costumo dizer que sem a educação nunca teria chegado a lugar nenhum, talvez nem tivesse saído do povoado onde nasci – e do qual me orgulho. Tive poliomielite com cerca de dois anos, depois veio orfandade com quase cinco anos, filho de pais analfabetos por parte de pai, mãe e parteira. 

O que teria sido da minha vida sem a educação pública? 

Falava sobre a importância da educação na vida das pessoas com o amigo Max Harley Passos Freitas – um dos melhores contadores públicos do nosso estado, quiçá do país. 

Dizia-lhe da minha própria experiência e contei-lhe de um episódio que vivi e que não tenho razão para ocultar. 

Acho que tinha por volta de onze ou doze anos, anos oitenta, vivíamos o “boom” dos garimpos pelo estado do Pará e Maranhão, só se falava que fulano ou sicrano haviam “bamburrado” em Serra Pelada. Pela televisão, ainda em preto e branco, víamos aquele “formigueiro humano” subindo e descendo com sacos nas costas, com areia ou barro para serem lavados em busca do precioso metal. 

Os interiores do Maranhão estavam repletos de garimpeiros, vizinhos, amigos, alguns com idade quase igual a minha. 

Foi de um destes que certa vez ouvi uma proposta que nunca mais esqueci. 

Ele chegou para mim – tinha vindo e já estava voltando para Serra Pelada –, e disse: — Abdon, sabes o que tu poderias fazer? Poderias ir para o garimpo. Como tu és aleijado, poderias ficar rico pedindo esmolas. 

Claro, foi só uma ideia e a pessoa que a propôs jamais teve qualquer intenção de ofender-me, era, apenas, uma opção de vida que estava na mesa, como tantas outras.  

Quando contei a Max o episódio, sensível, ele achou “muito forte” que alguém tenha sugerido na minha infância/adolescência que poderia pedir esmolas no garimpo. 

Vendo-o à flor da pele, como na música de Zeca Baleiro, mudei de assunto. 

Mas essa foi a opção para muitas pessoas. Muita gente deixou a escola, o trabalho na roça para irem tentar a vida nos garimpos naqueles anos oitenta. E ainda hoje essa é uma opção para muitos maranhenses e brasileiros;  e, registro, nada tenho contra, mas que seja uma opção e não a “única opção”.  Os cidadãos, principalmente, crianças e adolescentes precisam terem outras oportunidades para fazerem suas escolhas.

Quase quarenta anos depois, com muita leveza, porém com muita seriedade e sem vitimismo, posso dizer que foi a educação que me salvou-me de viver de esmolas no garimpo de Serra Pelada ou nas ruas do Brasil. 

Esses e tantos outros fatos nos enchem de esperança por um futuro cada vez melhor. 

Abdon C. Marinho é advogado.