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Bem Vindo a Pagina de Abdon Marinho, Ideias e Opiniões, Sábado, 23 de Novembro de 2024



A palavra é o instrumento irresistível da conquista da liberdade.

Escrito por Abdon Marinho


Frases e sucessão.

Por Abdon C. Marinho*.

 

GOSTO muito de frases, principalmente de uma frase bem feita. Gosto tanto que vez ou outra até  “arrisco” a lapidar alguma.

 

Há algum tempo um amigo me perguntou: –– Abdon, tu achas que estão “fritando” o Camarão? 

 

Para os leitores que não são do estado ou Brasil, a indagação era uma referência ao vice-governador do Maranhão e, então, secretário de educação, Felipe Camarão.

 

Respondi-lhe: –– Se estão “fritando” o camarão não sei, mas se estiverem é no “alho e no orleans”. 

 

Uma referência a um prato típico da culinária maranhense e ao nome do governador. 

 

Ele e outros para quem disse a frase não se contiveram e riram a valer do trocadilho.

 

Encerrado o pleito municipal começaram as indagações sobre a sucessão de 2026. Ocupado e dividido entre as atividades da advocacia e as empresariais, não tenho acompanhado direito. (Faz alguns anos que decidi promover alguns projetos educacionais. Será a minha contribuição por tudo que recebi da vida).

 

A falta de tempo tem me “roubado” o prazer do hobby da escrita – mas a causa é boa.

 

Uma tarde dessas recebi um amigo que queria saber minha opinião sobre a sucessão de 2026. 

 

Respondi-lhe com as frases que fui colecionando ao longo dos anos, as quais, muitas, já compartilhadas com os leitores.

 

Disse-lhe que o “dono da bola” do jogo da sucessão era o governador no estado, Carlos Orleans Brandão. Ressalvado que ele era o “dono da bola, mas não o dono do jogo”, pois sendo a política um “jogo de equipe” ele dependeria de outros atores e conforme a decisão que tomasse “poderia jogar ou não o jogo da politica”.

 

Tive que explicar na frase de Magalhães Pinto 1909 - 1996  (?), politico mineiro,  que a “politica é como as nuvens, você olha ela estar de um jeito, olha novamente, ela estar de outro jeito”.

 

É dizer, caso o governador decida por ficar até o fim do mandato tem todas as condições de eleger o seu sucessor, tal o nível de hegemonia politica que alcançou.

 

Por outro lado há uma frase – não me recordo se me foi dita pelo saudoso Cafeteira (1924 - 2018), um frasista nato, ou se ele apenas a repetiu para mim –,  que é a seguinte: “o Senado é bem melhor que o céu, pois no céu para entrar você precisa morrer, já no Senado você desfruta de suas vantagens e benesses ainda vivo”. Cafeteira bem sabia disso pois foi senador por dezesseis anos.

 

Esse é o jogo da politica.

 

Se sua excelência quiser entrar no “céu dos vivos” a partir de 2027 – é quase certo que uma das vagas será dele, se desejar – o “dono da bola” passaria a ser o crustáceo, “frito ou não”, que teria oito meses de governo pela frente e dois cabos eleitorais incontroversos: os leões que guarnecem o palácio do mesmo nome. 

 

Nesse novo jogo o campeonato – ou devo dizer a arena –, estaria aberto entre vários competidores o próprio Camarão, com seus leãozinhos, o Hilton Gonçalo, prefeito de Santa Rita, a Iracema Vale, presidente da Assembleia, o Eduardo Braide, Prefeito de São Luís; e diversos outros agentes políticos da atualidade e mesmo aqueles que ainda possam se apresentar como competitivos pelos próximos dois anos, inclusive, alguém elegível da família do atual governador.

 

Cogitou-se a possibilidade do atual governante continuar como o “dono da bola” mantendo o sonho de entrar vivo no céu do Senado a partir de 2027. 

 

Nessa hipótese o Camarão, que é legitimado a sucedê-lo, renunciaria junto com ele, abrindo a possibilidade da Assembleia Legislativa eleger indiretamente um governador para tirar o restante do mandato, este, inclusive, com a possibilidade de candidatar-se a reeleição. 

 

Mas o que levaria alguém a renunciar a oito meses de comando do estado com possibilidade de disputar a reeleição no cargo?

 

Há uma frase de ninguém menos que Getúlio Vargas que diz o seguinte: “os Tribunais de Contas são os lugares onde ‘arquivamos’ os nossos amigos”. Poderia acrescentar, também, os “incômodos”. 

 

Sabemos que não faltam vagas no TCE e mesmo que não tivesse ou não houvesse a possibilidade de abrirem até lá, sempre se poderia contar com a “renúncia” de alguém “cansado” da labuta. A questão residiria na famosa frase de um jogador de futebol ao receber as lições do técnico. O técnico dizia como a equipe deveria jogar, que jogadas deveria armar, quando o jogador interrompeu e indagou: –– sim, professor, mas o senhor combinou tudo isso com os “russos” também? 

 

No caso da sucessão o “russo” seria o Camarão, e a pergunta que se faz – ele, inclusive, negou tal possibilidade –, é se ele estaria disposto ou toparia renunciar a oito meses de mandato para, nas palavras de Vargas, ser “arquivado” no tribunal.  

 

Lembro que em 2013 até cogitaram um “campeonato” nesses moldes. A governadora de então, Roseana Sarney, renunciaria, o vice-governador iria para o TCE  e o candidato “preferido”, Luis Fernando, seria eleito indiretamente pela Alema e candidato a própria reeleição. 

 

Até chegaram a executar a primeira parte da estratégia do jogo, o vice-governador, Washington Oliveira acabou indo para o “arquivo” do TCE, o que era absolutamente improvável em condições “normais”, mas em algum momento “erraram o ponto”, o candidato preferido “foi desistido” da disputa, Roseana ficou até o fim e perderam para Flávio Dino. 

 

Apenas para conjecturar, se o “campeonato eleitoral” tivesse seguido o roteiro originalmente planejado, talvez até tivessem ganho de Flávio Dino ou a eleição teria sido mais equilibrada – ou menos vexatória.

 

Em 2006, se não me falha a memória, chegaram a cogitar o mesmo tipo de jogo, mas o vice-governador de então, Jurandir Lago, não teria topado – se é verdade, deve arrepender-se até hoje –, o governador Zé Reinaldo ficou até o fim e elegeu seu sucessor e fez Flávio Dino deputado federal, trazendo-o do judiciário para a politica ou vice-versa. 

 

Caso o atual governador resolva seguir esses dois exemplos e ficar até o fim, pelos exemplos acima, estou certo que só o fará por alguém da família e de quem goste muito, pois aí, recorro a outra frase célebre, essa do meu pai: “sangue dói”. 

 

É dizer, o governador até poderá renunciar ao “céu onde se entra vivo”, mas se isso acontecer, podem “tirar o cavalinho da chuva”, será por alguém “de sangue”, pois na frase imortal, novamente de Magalhães Pinto “Gratidão em política só dura 48 horas”.

 

Não precisa ser um gênio da política para chegar a essa conclusão. O governador que é inteligente – se não fosse não teria  “se criado” nesse ramo e não teria chegado onde chegou se não tivesse sagacidade.  

 

Além do mais, tem dois exemplos  “dentro de casa”. 

 

Se em algum momento lhe assaltar alguma dúvida sobre o que fazer poderá dissipá-la com uma ou duas ligações: –– Zé Reinaldo, valeu a pena teres ficado até o fim para garantir a eleição do sucessor e dos aliados? Ou: –– Roseana, valeu a pena ter desistido do “céu” em 2014? 

 

Mas como já dizia um outro famoso homem público “a política é arte das aparências”. Os maliciosos dizem, na verdade, que é “a arte da enganação”. Em qualquer das situações é necessário que se tenha “nervos de aço”. Não há espaço para amadores ou para os afoitos.

 

Nessa perspectiva o pensamento aqui esboçado pode fazer sentido ou não. Posso está certo ou totalmente errado.

 

O querido ex-deputado Marcony Farias me conta um “causo” delicioso envolvendo o ex-governador mineiro Benedito Valadares (1892 -1973). Conta a lenda que o autor da frase “eu não sou contra, nem a favor, muito pelo contrário”, certa vez se preparava para deixar o Palácio da Liberdade quando chegou sua esposa, dona Odete, para irem juntos para casa. 

 

Enquanto se arrumam para sair, chega um deputado com uma urgência: –– governador, governador, o senhor cometeu um grave erro ao nomear fulano de tal como diretor da escola tal. O sujeito é um “comunista subversivo” que está colocando os jovens contra a gente. 

 

Benedito ouviu, matutou e disse: –– é, deputado, o senhor tem razão. 

 

Deixavam o palácio quando encontraram o dito diretor: –– governador, não acreditem nesses meus detratores, eles não têm compromisso com a educação do estado e querem fazer politicalha com a mesma.

 

Novamente, o governador ouviu com tranquilidade, refletiu e disse: –– o senhor tem toda razão, diretor.

 

D. Odete que a tudo assistia, virou-se para ele: –– mas, Benedito, você deu razão para o deputado, em seguida deu razão para o diretor, são coisas totalmente antagônicas, como é que pode?

 

Benedito virou-se para a esposa e com olhar carinhoso respondeu: –– é, Odete, você tem razão.

 

Sobre o quadro da sucessão estadual de 2026, encerro com frase do político maranhense, Lister Caldas, que diria: “quem viver verá”.

 

Abdon C. Marinho é advogado.

 

PS. O amigo João Jorge de Weba Lobato, ex-prefeito de Santa Helena, colabora com esse escriba para dizer (e provar) que frase que me foi repassada por Cafeteira é de autoria do grande brasileiro, antropólogo, educador e que foi senador da República Darcy Ribeiro (1922-1997).