AbdonMarinho - Passando batido e dormindo no ponto
Bem Vindo a Pag­ina de Abdon Mar­inho, Ideias e Opiniões, Sábado, 23 de Novem­bro de 2024



A palavra é o instru­mento irre­sistível da con­quista da liber­dade.

Pas­sando batido e dor­mindo no ponto

Passando batido e dor­mindo no ponto.

Se Félix (o da nov­ela) dissesse num dos seus chistes: “– Pelas con­tas do rosário, só posso ter dormido no ban­quete de Herodes para per­mi­tir a entrega da cabeça de João Batista a dança­rina Salomé”, não retrataria de forma mais per­feita o que acon­te­ceu na reunião da Comis­são de Interge­stores Bipar­tite – CIB, em que foi aprovada uma res­olução que ter­mina por liq­uidar a nossa já com­bal­ida saúde municipal.

Li que a CIB, reunida no último dia 23 de janeiro, decidiu, que São Luís irá remu­nerar os trata­men­tos feitos em anos ante­ri­ores, pela cidade de Teresina, de pacientes ori­un­dos do Maran­hão, por pro­posta do secretário de saúde do estado. Em sen­tido fig­u­rado, ape­nas isso, temos o ban­quete de Herodes (a reunião CIB) na qual foi entregue a cabeça de João Batista (a verba da saúde) para Teresina (Salomé). Isso só foi pos­sível por que Félix (o secretário) dormiu e deixou pas­sar a patranha. Para evi­tar que a saúde munic­i­pal que­bre faz-​se necessário que o municí­pio recorra ime­di­ata­mente as instân­cias próprias do Min­istério da Saúde e até da justiça, se for o caso. Se pas­saram batido e dormi­ram no ponto é hora de cor­rer atrás e evi­tar o prejuízo.

Não sou mil­i­tante da área, ape­nas uma das tan­tas pes­soas que vem acom­pan­hando o assunto desde muito tempo, e como tal, sei que as decisões da CIB são fruto de con­senso entre os secretários de saúde dos municí­pios, inte­grantes da CIB. Não posso acred­i­tar que ninguém, nem mesmo o secretário de saúde do Municí­pio de São Luís tenha se erguido para aler­tar a vio­lên­cia que se estava fazendo con­tra a saúde da cap­i­tal. Ade­mais, o Municí­pio de São Luís, até por sua condição de gestor pleno teria o poder de vetar a decisão absurda que querem trans­for­mar em res­olução obri­g­ando São Luís a pagar atendi­men­tos pretéri­tos feitos pelo Estado do Piauí, que pelo vol­ume torna imprat­icável qual­quer política de saúde daqui para frente.

Ora, pelo que me informei, até essa nova res­olução, estava em vigor uma outra pactu­ada tem­pos atrás, que vinha esta­b­ele­cendo que os atendi­men­tos dev­e­riam ser feitos nas unidades onde o municí­pio do paciente é ref­er­en­ci­ado, se o municí­pio dese­jar man­dar o paciente para outra unidade que não a de refer­ên­cia dev­e­ria fazê-​lo através de uma guia própria para que o municí­pio que receba o paciente possa cobrar da Sec­re­taria de Estado e esta descon­tar do teto do municí­pio que encam​in​hou​.No caso da dívida exi­s­tir, e acred­ito que exista, que seja descon­tada dos tetos de quem man­dou os pacientes.

Diante disso, da falta deste con­t­role, que se desconte do teto de São Luís, os val­ores destes atendi­men­tos para o qual o municí­pio não con­tribuiu de nen­huma forma, e para o qual não se tem como aferir de forma dev­ida, é uma temeri­dade que beira a irre­spon­s­abil­i­dade tanto por omis­são quando por comis­são do mem­bros da CIB.

Causa espanto é que diante de um fato tão absurdo ninguém tenha se lev­an­tado e erguido a voz con­tra. Não se com­preende sequer a posição da Sec­re­taria de Saúde do Estado em pro­por e enca­par tal proposição. A impressão que fica é que ninguém sabe fazer conta ou fiz­eram ouvi­dos moucos ao que fora pactu­ado ante­ri­or­mente. Em qual­quer dos casos imperou o silên­cio, da forma que imperou quando Salomé pediu a cabeça do pro­feta João Batista.

Em qual­quer dos casos ainda isso não elide a respon­s­abil­i­dade do secretário de saúde do municí­pio que não usou do seu poder para impedir o que estava acon­te­cendo. Aliás, cada vez mais se torna palpável o descon­hec­i­mento da atual equipe da saúde para gerir o sis­tema. Parece que ninguém sabe o que é o SUS. Eu e as pes­soas acos­tu­madas com o SUS ainda não con­seguimos enten­der que con­vênio foi aquele que o municí­pio assi­nou com o HUUFMA na sem­ana pas­sada uma vez que a unidade já faz parte da rede munic­i­pal desde 2004, quando São Luís pas­sou a gestor pleno do sis­tema, recebendo mais de R$ 80 mil­hões anu­ais, dos quais R$ 43 mil­hões repas­sa­dos dire­ta­mente pelo Min­istério da Saúde do teto do municí­pio para o HUUFMA e o restante medi­ante apre­sen­tação de fat­u­ra­mento. Isso sendo feito na última década.

O municí­pio é que não tem cobrado e envi­ado os pacientes, como dev­e­ria, para unidade, cau­sando como resul­tado a sobre­carga da rede própria munic­i­pal. Ora, se se trata de um con­vênio novo, sig­nifica que vão pagar o dobro que já vem sendo pago? Vão onerar ainda mais o teto finan­ceiro do municí­pio? Se não é con­vênio novo, porque sub­me­teram o prefeito a apre­sen­tar uma novi­dade de museu? Se não é novo e agora dizem que vão fazer o dev­e­riam vir fazendo na última década, o HUUFMA vai devolver o que já rece­beu durante esse tempo todo? Con­fesso que ainda não entendi o que acon­te­ceu. Vão ape­nas fazer o que já deviam está fazendo? Vão dobrar a capaci­dade de atendi­mento? O HUUFMA tem condições para fazer isso? Vão pagar o dobro pelo serviço? São per­gun­tas que exigem do Sr. Félix (o secretário), os esclarec­i­men­tos devidos.

A impressão que fica é que a Sec­re­taria de Saúde, con­duziu o prefeito, num exem­plo de absurdo, a com­prar um carro que já lhe per­ten­cia. Pois a unidade já rede do municí­pio, apre­sen­tar como novi­dade é agir como o cidadão que com­pra o carro que já lhe per­ten­cia. Vamos com­bi­nar que esse tipo de coisa é de matar de inveja, os com­pe­tentes vende­dores de car­ros que fazem ponto ali na pedra que fun­ciona na Praça Cat­ulo da Paixão Cearense. Acho que nen­hum deles con­seguira tal feito.

O prefeito da cidade deve ser admi­rado pela paciên­cia com que tem tol­er­ado tan­tos desac­er­tos, infe­liz­mente; cada dia que passa essa paciên­cia com a falta de gestão causa danos muitas das vezes irreparáveis à pop­u­lação ludovi­cense. Ainda ontem, li uma notí­cia que pela dureza, até hoje me custo acred­i­tar. Li que um cidadão que acidentou-​se na Avenida dos Africanos, prati­ca­mente no coração da cidade, veio a óbito, segundo dizem, pela demora no atendi­mento de urgên­cia e emergên­cia da cidade. Me custa acred­i­tar que isso tenha ocor­rido. Esta­mos numa cap­i­tal de mais de um mil­hão de habi­tantes e que é gestora plena do sis­tema de saúde, não tem cabi­mento que pes­soas mor­ram por falta de atendi­mento. Não dá para acred­i­tar. Acho que nem o Félix (o da nov­ela) seria capaz de achar nor­mal esse tipo de coisa.

Abdon Mar­inho é advogado.