AbdonMarinho - SEGURANÇA: PASSA A HORA DE AGIR.
Bem Vindo a Pag­ina de Abdon Mar­inho, Ideias e Opiniões, Sábado, 23 de Novem­bro de 2024



A palavra é o instru­mento irre­sistível da con­quista da liber­dade.

SEGU­RANÇA: PASSA A HORA DE AGIR.

SEGU­RANÇA: PASSA A HORA DE AGIR.

Não sei a quan­tas estão as estatís­ti­cas sobre a segu­rança no nosso estado de janeiro até aqui. Isso se deve ao fato do Maran­hão con­seguir pro­duzir fenô­menos que os filó­so­fos, até os mais evoluí­dos, só ten­ham imag­i­nado: reunir no mesmo espaço físico e tem­po­ral o céu e o inferno.

Isso é o que deduz­i­mos ao nos infor­mar­mos nos veícu­los de comu­ni­cação local. Se opos­i­tores ao gov­erno exper­i­men­ta­mos o pior dos infer­nos, se ali­a­dos, esta­mos no paraíso, com a segu­rança fun­cio­nando mel­hor que na Suécia.

Tomemos ape­nas um fato: uma oper­ação poli­cial que deteve, numa festa, cerca de 180 pes­soas. Para os rep­re­sen­tantes da oposição uma pat­a­coada sem tamanho, mere­ce­dora de um pedido for­mal de des­cul­pas. Por sua vez, para os gov­ernistas uma ação elogiável e de caráter preventivo.

Ora, não se trata de uma coisa ou outra: a ação está longe de ser elogiável, tanto é assim que esse tipo de ação – ver­i­fi­cação de idade de quem fre­quenta fes­tas e infer­n­in­hos –, não faz parte da rotina da polí­cia e sim dos con­sel­hos tute­lares. A polí­cia foi, na ver­dade, esperando pren­der dezenas de inte­grantes de quadrilhas, o que não acon­te­ceu. Por outro lado, não foi o «fim do mundo», pat­a­coada, abu­siva e mere­ce­dora de pedi­dos de des­cul­pas. A polí­cia pode­ria, sim – ressal­va­dos abu­sos –, fazer a ver­i­fi­cação que fez, apreen­der menores e drogas.

O que con­tin­u­amos a assi­s­tir, infe­liz­mente, é os políti­cos não tratarem a questão da segu­rança com a pri­or­i­dade que ela merece ter. Con­tin­uam na polit­i­calha nojenta e indifer­ente ao sofri­mento da população.

Inde­pen­dente de diz­erem ou não que a vio­lên­cia diminuiu, não é isso que sen­ti­mos no dia a dia das ruas. Nós cidadãos esta­mos com medo, receosos de sair­mos de casa, de andar nas ruas, de nos diver­tir­mos. Não é con­ce­bível que uma cidade turís­tica as pes­soas ten­ham medo de ir à praia, fre­quen­tar o cen­tro histórico, vis­i­tar a cidade reli­giosa de São José de Ribamar.

Difi­cil­mente encon­tramos alguém, em todo estado, que não tenha uma história de vio­lên­cia para con­tar. Se não lhe acon­te­ceu dire­ta­mente, cer­ta­mente acon­te­ceu com um par­ente próx­imo, um amigo.

Outro dia, um amigo, pro­mo­tor de justiça, narrou-​me que teve de aban­donar sua casa para morar noutro lugar. Gostava da casa, foi obri­gado a mudar-​se após ser assaltado duas vezes na porta, numa delas, estava na com­pan­hia de uma del­e­gada de polí­cia que nada pode fazer.

Por estes dias, ban­di­dos invadi­ram a casa de uma del­e­gada de polí­cia e fiz­eram um «raspa», ainda no ano pas­sado foi a vez de um ofi­cial da polí­cia. Mostram com isso que não têm o menor respeito pela autoridade.

Se out­rora, era comum encon­trar­mos poli­ci­ais andando far­da­dos nas ruas, entrando nos cole­tivos, hoje só fazem isso – usam farda –, durante o expe­di­ente. Findo este, ainda nos quar­téis ou bases de apoio, tro­cam a farda por tra­jes civis. Não querem virar alvo dos ban­di­dos. Se antes os ban­di­dos trem­iam ao encon­trar um poli­cial far­dado hoje dá-​se jus­ta­mente o oposto, os poli­ci­ais temem os ban­di­dos, escon­dem as far­das, colo­cam para secar atrás da geladeira, escon­dem a iden­ti­dade profissional.

Isso já vem ocor­rendo há algum tempo.

A rotina de explosão de caixas eletrôni­cos no inte­rior do estado, a pro­lif­er­ação do trá­fico e do con­sumo de dro­gas, refletem, tam­bém, o quanto as peque­nas cidades estão vul­neráveis e o quanto as forças poli­ci­ais disponíveis para sua segu­rança são insu­fi­cientes e/​ou despreparadas para enfrentar o poder de fogo dos bandidos.

A vio­lên­cia só tem aumen­tado. Os números infor­mam que no ano pas­sado a cap­i­tal do Maran­hão foi a ter­ceira mais vio­lenta do Brasil.

Como disse, não sei o que os números dirão deste ano que já prin­cipia o fim, mas, cer­ta­mente, não será muito difer­ente do ano que passou.

A mídia lig­ada à oposição já insinua que o gov­er­nador pre­tende fazer alter­ações na pasta.

Caso haja um fundo de ver­dade na notí­cia, não acred­ito que uma sim­ples mudança de tit­u­lar da pasta venha a resolver o problema.

Não se pode, como faz num time de fute­bol, e até mesmo noutros setores, resolver a questão com a sub­sti­tu­ição do técnico.

Falta as autori­dades enten­derem que segu­rança pública não pode ser tratada como política de gov­erno pois deve ser tratada como política de Estado.

Um amigo sin­te­ti­zou muito bem isso. Inda­gado sobre qual, para ele, dev­e­ria ser a prin­ci­pal política pública, respon­deu: – segu­rança. Pre­ciso está vivo para usufruir todas as outras.

A segu­rança, como uma política pública de Estado, o próprio gov­er­nador – com a autori­dade que lhe foi con­ferida pelo povo maran­hense –, dev­e­ria chamar os out­ros poderes, Judi­ciário, Leg­isla­tivo, o Min­istério Público Estad­ual, os prefeitos munic­i­pais, enti­dades da sociedade civil, a Ordem dos Advo­ga­dos do Brasil, a Sociedade de Dire­itos Humanos, a CNBB, a Asso­ci­ação Com­er­cial, e tan­tas out­ras, para, num foro per­ma­nente, dis­cu­tirem e traçarem metas con­jun­tas de com­bate a criminalidade.

Um secretário de segu­rança – qual­quer que seja –, não pos­sui respaldo para esse tipo de chama­mento. Acred­ito que só o gov­er­nador, como man­datário maior do Estado do Maran­hão, possui.

Não adi­anta ficarem no jogo de empurra-​empurra com um assunto de tamanha gravidade.

Ao Poder Exec­u­tivo cabe a respon­s­abil­i­dade de equipar seu sis­tema de segu­rança, fornecendo mais recur­sos humanos, mais estru­tura, para reprimir e previnir o crime.

Noutra frente pre­cisa travar um com­bate, sem tréguas, con­tra a cor­rupção que insiste em flo­re­cer den­tro das polícias.

Na cap­i­tal e prin­ci­pal­mente nos inte­ri­ores, são comuns as denún­cias de envolvi­men­tos de agentes poli­ci­ais com o trá­fico, com cober­tura a ações crim­i­nosas. É necessário por fim nisso. Se, de fato, exis­tem poli­ci­ais cor­rup­tos e ali­a­dos do crime, estes pre­cisam deixar, ime­di­ata­mente, as fileiras da poli­cia e rece­berem as punições da lei.

O Min­istério Público pre­cisa fazer com que os inquéri­tos andem.

O Judi­ciário fazer com que os deli­tos se trans­formem em penas a serem cumpridas.

Quase nada disso vem acon­te­cendo. Os crim­i­nosos con­fiam na inefi­ciên­cia do Estado em puni-​los, por isso mesmo, o crime, para eles é uma ari­dade compensadora.

Quem con­hece o sis­tema de segu­rança – já ouvi poli­ci­ais afir­marem em pro­gra­mas de rádio –, sabe que quase nada é apu­rado. Exceto os crimes de reper­cussão (os que saem na mídia), os menores, como invasão a domicílios, rou­bos, assaltos, não raro, caem no esquecimento.

O per­centual de crimes solu­ciona­dos, segundo dizem, não chega a 10% (dez por cento). Isso pre­cisa mudar.

As forças estatais e até da sociedade civil, pre­cisam se unir, tra­bal­harem em con­junto no com­bate à vio­lên­cia, repito. Sem isso, esta é uma guerra fadada ao fracasso.

A forma como veem fazendo – esta­mos vendo –, não surte o resul­tado. Parece que enx­ugam gelo.

A cada feri­ado – sei que no cumpri­mento da lei –, a justiça deter­mina a soltura de cen­te­nas de pre­sos. Destes muitos não voltam, ficam soltos nas ruas come­tendo deli­tos. Custa que estes bene­fí­cios sejam con­ce­di­dos com maior rigor? Talvez com a colo­cação de mecan­is­mos de ras­trea­mento? Que antes de soltar se ava­lie, junto com o MPE e a poli­cia, o per­fil de cada um? Este é ape­nas um exemplo.

No aspecto macro, o gov­er­nador pre­cisa chamar para si esta respon­s­abil­i­dade, mostrar para o ban­dido que ele não luta con­tra um poli­cial ape­nas, que ele terá que enfrentar o Estado que estará unido na defesa da sociedade.

É o que penso.

Abdon Mar­inho é advogado.