AbdonMarinho - O Sítio Santa Eulália
Bem Vindo a Pag­ina de Abdon Mar­inho, Ideias e Opiniões, Sábado, 23 de Novem­bro de 2024



A palavra é o instru­mento irre­sistível da con­quista da liber­dade.

O Sítio Santa Eulália


O SÍTIO SANTA EULÁLIA.

Por Abdon Marinho.

O ECON­O­MISTA Aziz San­tos, que pos­sui uma longa car­reira no setor público e uma genuína pre­ocu­pação com o inter­esse da cole­tivi­dade, nos trouxe, por estes dias, através de suas redes soci­ais, o pro­jeto do gov­erno Jack­son Lago para o Sítio Santa Eulália, assen­tando ser pre­ocu­pação daquele gov­erno dar uma solução para aquele valiosís­simo espaço urbano.

O pro­jeto que restou incon­cluso pelo fim pre­maturo daquele gov­erno não era um pro­jeto qual­quer, mas sim, um pro­jeto de Oscar Niemayer, que viria somar-​se aos dois out­ros: a Praça Maria Aragão e o Museu de Arte Con­tem­porânea, que não saiu do papel.

Ainda segundo Aziz San­tos, cor­rob­o­rada pelos doc­u­men­tos que junta na pub­li­cação, a ideia do arquiteto era trans­for­mar o Sítio em um Par­que Ecológico com pré­dios de aparta­men­tos, pré­dios para escritórios de grandes empre­sas e pré­dios para uso do público para­le­los à Avenida Car­los Cunha.

Tudo isso pas­sando pela autor­iza­ção dos servi­dores públi­cos – pro­pri­etários da área –, e, com o grupo que gan­hasse a lic­i­tação assu­mindo a con­strução do par­que e a sua manutenção por 35 anos sem cobrar quais­quer taxas do Estado.

Par­tic­u­lar­mente não con­hecia o pro­jeto. Acred­ito que dis­cussões ficaram bas­tante restritas.

O assunto trazido por Aziz San­tos, entre­tanto, nunca foi tão urgente para os servi­dores públi­cos, para o estado e para a cidade de São Luís e já estava na “nossa” pauta para ser tratado neste espaço de ideias.

Emb­ora acred­ite que boas ideias se comu­niquem – a história está cheia de exem­p­los de exper­i­men­tos tec­nológi­cos surgindo simul­tane­a­mente em diver­sas partes do mundo sem que seus cri­adores ten­ham con­ver­sado ou tro­cado quais­quer comu­ni­cações entre si –, o texto que pen­sei antes de ler a postagem de Aziz tinha como inspi­ração a con­statação da degradação da área do Sítio Santa Eulália, que me parece, encontra-​se em total abandono.

No meio da sem­ana – fazendo um enorme esforço físico pois as per­nas não estão aju­dando muito ulti­ma­mente –, fui ao fórum falar com um mag­istrado sobre alguns proces­sos de inter­esse do escritório.

Ao sair da sala e me aprox­i­mar dos ele­vadores percebi que a ocu­pação irreg­u­lar do Sítio Santa Eulália – em com­para­ção com uma outra ver­i­fi­cação feita há cerca de dois anos –, aumen­tou sig­ni­fica­ti­va­mente.

Per­tur­bado com o a avanço da “ocu­pação”, não me con­tive e, tão logo cheguei ao escritório pedi a dois dos meus colab­o­radores que voltassem ao fórum para tirar algu­mas fotos que, jun­ta­mente com a imagem de satélite do Google Earth, ilus­tram o texto.

Já tratei deste assunto uma ou duas vezes, sem que tenha des­per­tado o inter­esse de qual­quer autori­dade respon­sável.

Com o pas­sar dos dias, meses, anos, a “ocu­pação” só aumenta até chegar o ponto de torná-​la irre­ver­sível e um prob­lema social de grande enver­gadura.

Quando falei do assunto pela primeira – acho que através de uma breve postagem numa rede social –, não devia ter no local mais que meia dúzia de casas e bar­ra­cos. As fotos que ilus­tram o texto de hoje apon­tam para um número bem mais sig­ni­fica­tivo.

O que causa maior per­plex­i­dade é que a ocu­pação está ocor­rendo bem ali, à vista de todos. Já é comum, ao pas­sar­mos na avenida ver­mos car­ros ou motos saírem de lá, como se fosse um bairro.

Pior que a omis­são das autori­dades – que têm o dever de zelar pelo patrimônio dos servi­dores –, é a omis­são dos próprios servi­dores, através de suas rep­re­sen­tações.

Não tenho notí­cias – e já peço des­cul­pas se estiver errado –, de nen­hum protesto, de nen­huma cobrança dos sindi­catos dos servi­dores para que o Insti­tuto de Pre­v­idên­cia — IPREV adote alguma medida a fim de res­guardar o patrimônio dos servi­dores públicos.

Se existe alguma medida judi­cial em curso, alguma solic­i­tação de providên­cias, alguma medida conc­reta, é algo que vem sendo man­tido em segredo.

O mais crível, entre­tanto, é que a rep­re­sen­tação sindi­cal não queira se pro­nun­ciar ou protes­tar con­tra a omis­são do gov­erno estad­ual e esteja, tam­bém, se omitindo em algo que causa um imenso pre­juízo ao patrimônio dos servi­dores e a própria cidade, que não demora, terá que con­viver com uma nova favela no seu coração.

Torço para está errado, mas temo que os servi­dores acabem por perder uma fatia impor­tante do seu patrimônio, uma autên­tica joia da coroa.

Não seria uma novi­dade. Ao longo dos últi­mos anos os recur­sos dos fun­cionários públi­cos, des­ti­na­dos às suas aposen­ta­do­rias, deixaram de ser super­av­itário para apre­sen­tar pre­juí­zos a ponto de, a qual­quer momento, com­pro­m­e­ter o paga­mento de pen­sões e aposen­ta­do­rias aos seus atu­ais ben­efi­ciários – para o futuro, só Deus sabe.

Ape­sar de tudo isso ser fato público não temos notí­cias de maiores protestos dos servi­dores públi­cos e/​ou dos seus rep­re­sen­tantes.

Mesmo a notí­cia de que irão protes­tar por aumento salar­ial – uma vez que a maio­ria dos servi­dores públi­cos estão sem qual­quer rea­juste há mais de cinco anos –, vem sendo tratada como “seg­redo”, como se fos­sem fazer alguma coisa só para dizer que farão e amenizar a imagem de “pelegos”.

Já os protestos, com pau­tas genéti­cas con­tra o gov­erno fed­eral, têm direto até a chamada na tele­visão, em horário nobre. Fica aqui o registro.

Devo dizer que faz tempo que não via rep­re­sen­tantes de servi­dores tão alheios aos inter­esses dire­tos das cat­e­go­rias e ”alin­hados” aos inter­esses do gov­erno de plan­tão – e olha que acom­panho isso desde o gov­erno Luiz Rocha.

Voltando ao Sítio Santa Eulália, lem­bro no final da década de oitenta, no gov­erno Cafeteira, ele ten­tou con­struir residên­cias para servi­dores públi­cos naquela área, chegando a ini­ciar a urban­iza­ção e a deixar pronta – se não me falha a memória –, a rede de esgoto e água, em um finan­cia­mento junto a Caixa Econômica Fed­eral — CFF.

O pro­jeto não foi em frente dev­ido aos infind­áveis protestos de todos lados. Anos depois Cafeteira diria que as “elites” locais não que­riam que os servi­dores viessem morar em área nobre da cidade.

O gov­erno Cafeteira acabou há trinta anos. Com o pas­sar do tempo, o Sítio Santa Eulália, a exem­plo da reserva do Range­dor, com a conivên­cia das autori­dades e a omis­são dos rep­re­sen­tantes dos servi­dores foi sendo “comido” pelas bor­das.

Um dia se con­strói um órgão aqui, noutro um tri­bunal ali e, por fim, alguns desvali­dos e out­ros esper­tal­hões, se preparam para “tomar” o que resta da área. Isso, repito, à vista de todos.

Otimista, Aziz fala que nem tudo está per­dido e cita um impor­tante pro­jeto do arquiteto e urban­ista Gus­tavo Mar­ques para área.

Pelo que demon­stram as autori­dades atu­ais do nosso estado, não conservo o mesmo otimismo.

Abdon Mar­inho é advo­gado.

Comen­tários

0 #1 abde­laziz san­tos 15-​03-​2020 15:12
Li seu artigo de hoje sobre o Sítio Santa Eulália, como sem­pre faço com todos os out­ros
Você tem sido a espinha dor­sal da apre­ci­ação crítica mais ele­vada ao gov­erno Flávio Dino. Tenho apren­dido muito com você
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