AbdonMarinho - OS CARRÕES CRESCERAM.
Bem Vindo a Pag­ina de Abdon Mar­inho, Ideias e Opiniões, Sábado, 23 de Novem­bro de 2024



A palavra é o instru­mento irre­sistível da con­quista da liber­dade.

OS CAR­RÕES CRESCERAM.

OS CAR­RÕES CRESCERAM.

Há quase dez anos (os fatos ocor­reram em dezem­bro de 2005) o saudoso jor­nal­ista Wal­ter Rodrigues nos nar­rava o caso do atro­pela­mento e morte das sen­ho­ras Mareni Reis e sua filha Larissa Reis, quando saíam do tra­balho com des­tino a suas casas na noite do dia 2 de dezem­bro de 2005, na avenida dos Holandeses.

As víti­mas, que eram domés­ti­cas, foram atro­peladas, segundo dis­seram diver­sas teste­munhas, durante um «racha» que era cometido por dois fil­hin­hos de papai, com seus car­rões lux­u­osos importados.

Nar­rava, o jor­nal­ista, a ver­dadeira oper­ação abafa que fora mon­tada para que o caso não tivesse o destaque mere­cido e acabasse esque­cido – como aliás foi – pela mídia e pelas autoridades.

Como um dos autores do delito era menor, enten­deram que a autori­dade poli­cial que dev­e­ria apu­rar o caso seria a respon­sável pelos atos infra­cionais cometi­dos por cri­anças e ado­les­centes. Pos­te­ri­or­mente, divulgou-​se, que o Min­istério Público Estad­ual inter­viera para impedir a divul­gação do caso, suposta­mente, para não expor o menor envolvido e identificado.

Assim, nunca soube, com certeza, a iden­ti­dade do segundo envolvido no «pega» que ceifou a vida de duas trabalhadoras.

Na época, ainda segundo teste­munhos, o segundo envolvido seria o empresário Mar­cos Regadas Filho, que apre­sen­tou seu álibi, teste­munhas e uma declar­ação do CEUMA dando conta que estivera naquela insti­tu­ição fazendo uma prova com horário agen­dado entre as 19 e às 20:40 horas. É do texto de WR: Segundo o del­e­gado José Fracinetti Couto, da Del­e­ga­cia de Aci­dentes de Trân­sito (DAT), o sin­istro foi “mais ou menos às 20h30”.

Em entre­vista ao mesmo jor­nal­ista, o empresário declarou que seria o maior inter­es­sado na apu­ração e esclarec­i­mento de todos os fatos, uma vez que nada tinha com a morte das duas vítimas.

Deixou de explicar foi o curioso inter­esse da elite social, inclu­sive alguns lig­a­dos a ele através de par­entesco por afinidade, ter movido céu e terra para que o fato não fosse divul­gado. Pesquisas na inter­net rev­e­lam a quase total ausên­cia de infor­mações sobre o acon­te­cido, acho que só o próprio WR e mais um ou outro.

A cortina de silên­cio, o cordão de iso­la­mento erguido em torno do episó­dio, nunca per­mi­tiu que se soubesse o que de fato ocor­rera, quem seria o outro respon­sável, se con­seguira iden­ti­ficar e punir todos os envolvidos.

A imprensa, que no calor dos acon­tec­i­men­tos, já igno­rava ou fora «con­ven­cida» a igno­rar o episó­dio, com o pas­sar do tempo, esqueceu-​o por com­pleto. Nunca retornaram ao caso, nem para afir­mar que o empresário, con­forme o mesmo afir­mara, era com­ple­ta­mente inocente das acusações lançadas por detra­tores maldosos.

Este caso me veio à mente ao ver um piloto de helicóptero fazendo manobras que, a primeira vista, seriam ile­gais e causavam risco à segu­rança de ban­his­tas e aos bar­cos que tran­si­tavam pelo Rio Preguiças, em Bar­reir­in­has, no final de sem­ana pro­lon­gado pelo feri­ado da pátria.

Diante da reper­cussão ini­cial nas redes soci­ais e em alguns blogues, o empresário Mar­cos Regadas Filho (con­cidên­cia?), veio a público declarar, que difer­ente do noti­ci­ado, não estava colo­cando em risco a vida de ninguém – muito pelo con­trário –, estava numa manobra de sal­va­mento vez que avis­tara um cidadão que imag­i­nara está se afogando.

A fala do Olímpo parece ter sido sufi­ciente para fazer calar os veícu­los de comu­ni­cação – que diari­a­mente se ocu­pam em divul­gar até briga de viz­in­hos –, subita­mente, se deram por sat­is­feitos com as expli­cações e sequer se man­i­fes­taram cobrando uma inves­ti­gação das autori­dades aeronáu­ti­cas ou da mar­inha para esclare­cer de forma cabal o episó­dio e as respon­s­abil­i­dades dos envolvidos.

Inves­ti­gação seria/​é necessária até mesmo para inocen­tar e recon­hecer o mérito do empresário em ten­tar sal­var uma vida. Até mesmo para pôr fim aos boatos de que as manobras foram feitas com intenção crim­i­nosa e que foi muito mais que uma. Até mesmo para fazer ces­sar as notí­cias de que fatos como estes são useiros e vezeiros nos finais de sem­ana naquele municí­pio, para uma elite que se sente intocável pela lei, o que a faz pen­sar poder fazer tudo que quiser.

A ninguém serve o silên­cio das autori­dades diante dos abu­sos que são cometi­dos dia sim e no outro tam­bém. Bar­reir­in­has mesmo, é um exem­plo disso. Ainda hoje per­manecem inúmeras con­struções invadindo áreas de preser­vação per­ma­nente à beira do rio. Anun­cia­ram que iriam fazer cumprir a lei, mas ao que parece, tam­bém esqueceram.

O Brasil, o Maran­hão e mesmo Bar­reir­in­has, não podem con­tin­uar como «terra de ninguém», para os que pen­sam estarem imunes ao alcance da lei e das regras de con­vivên­cia social.

Nada con­tra, que nos lim­ites legais, e no recesso dos seus lares ou no espaço de suas vidas pri­vadas, façam o que quis­erem, inclu­sive, exercerem o dire­ito de serem vul­gares e deslum­bra­dos. Fora disto, não podem matar, roubar ou colo­car em risco a vida das pes­soas como forma de com­pen­sação aos seus trau­mas e frustrações.

Já passa da hora de se pôr fim a estes e a tan­tos out­ros abu­sos. Quan­tas Mare­nis ou Laris­sas não perderam a vida nos últi­mos anos? Quan­tas mais perderão?

Abdon Mar­inho é advogado.