AbdonMarinho - SURURU NA CASERNA.
Bem Vindo a Pag­ina de Abdon Mar­inho, Ideias e Opiniões, Sábado, 23 de Novem­bro de 2024



A palavra é o instru­mento irre­sistível da con­quista da liber­dade.

SURURU NA CASERNA.

SURURU NA CASERNA.

O gov­erno Flávio Dino ainda não começou mas mem­bros da equipe já demon­stra falta de tato em lidar com os mil­itares que coman­darão a par­tir de 1º de janeiro de 2015.

Começa pela incom­preen­são do papel e da hier­ar­quia mil­i­tar pas­sando pela comu­ni­cação equiv­o­cada com qual tratam o assunto.

Não faz sen­tido algum que mem­bros do futuro gov­erno (não sei se o próprio gov­er­nador) e as pes­soas divul­gam suas inqui­etações tratarem pub­li­ca­mente questões inter­nas dos quar­téis, prin­ci­pal­mente da forma que vêem tratando: como polêmica, como fux­ico, como boato. Ao faz­erem isso, dão azo aos equívo­cos que come­tem os próprios mil­itares com con­tes­tação públi­cas através de notas ofi­ci­ais, entre­vis­tas, declar­ações a blogues ou nas redes soci­ais. Coisa de maluco – dos dois lados – que frag­iliza as instituições.

Claro que há uma ten­ta­tiva de causar difi­cul­dades ao futuro gov­erno. Essas licenças, essas pro­moções e out­ros atos, são feitas com esse propósito. Mas tudo isso cessa o dia 31 de dezem­bro. Fal­tam poucos dias. Não faz sen­tido esse tipo de “bate-​boca” público. A impressão que tenho é que jog­a­ram uma isca e os inte­grantes do futuro gov­erno a morderam.

A Con­sti­tu­ição do Estado do Maran­hão é clara e tax­a­tiva no seu artigo 114: A Polí­cia Mil­i­tar, orga­ni­zada com base na hier­ar­quia e dis­ci­plina, força aux­il­iar e reserva do Exército, será regida por lei espe­cial, competindo-​lhe o poli­ci­a­mento osten­sivo, a segu­rança do trân­sito urbano e rodoviário, de flo­restas e man­an­ciais e as rela­cionadas com a pre­venção, preser­vação e restau­ração da ordem pública.

Pre­cisa ser mais claro que isso?

Claro que não, todos os mil­itares sabem o que isso sig­nifica e con­hecem a regra con­sti­tu­cional e o seu papel muito bem.

Sabem, por exem­plo, que a par­tir de de 1º de janeiro de 2015, o seu “comandante-​em-​chefe”, por assim dizer, será o novo gov­er­nador a quem devem obe­diên­cia e disciplina.

O gov­er­nador, por sua vez, deve saber que com uma cane­tada só poderá rever todos os atos que achar em desacordo com as neces­si­dades do Estado, sus­pendendo férias, cur­sos, e out­ras coisas mais.

As medi­das, que pos­sam ser con­sid­er­adas atos jurídi­cos per­feitos, que ten­ham verniz de legal­i­dade serão/​deverão con­tes­tadas nos tri­bunais com­pe­tentes, à luz da lei e do orde­na­mento jurídico, as demais revis­tas admin­is­tra­ti­va­mente. Não é o fim do mundo que isso ocorra.

Em resumo, não há razão alguma para a falsa polêmica que se instalou, muito pelo con­trário, esse “bate-​boca” tolo só enfraquece a insti­tu­ição poli­cial e o gov­erno que vai se ini­ciar, sem qual­quer sen­tido prático para quais­quer dos inter­es­sa­dos e muito menos ainda para a população.

E isso acon­tece jus­ta­mente quando a vio­lên­cia grassa às ruas e ameaça a todos. Este ano o Maran­hão, prin­ci­pal­mente a região met­ro­pol­i­tana da cap­i­tal, tornou-​se um dos lugares mais inse­guros do mundo para se viver. Disse do mundo, vejam bem. Ter­mos autori­dades, pre­sentes e futuras, num debate estéril chega a ser um deboche com a sociedade.

Já é hora dos futuros gov­er­nantes enten­derem que quar­tel não é sindi­cato, que as coisas na caserna não se resolvem com esse debate público, através de redes soci­ais, notas e contra-​notas em jor­nais. Por outro lado os mil­itares pre­cisam obser­var os princí­pios da vida cas­trense, sobre­tudo as con­sti­tu­cionais de hier­ar­quia e dis­ci­plina. Se não fazem isso, logo, logo, terão sol­dado dando tamp­inha na costa de coro­nel, para não dizer algo pior.

Encerro dizendo que não inter­essa a ninguém, exceto aos mar­gin­ais e aos foras-​da-​lei, que o futuro gov­erno e os mil­itares come­cem o gov­erno em clima antag­o­nismo, como se se tratasse de uma querela qual­quer e não algo que diz respeito à segu­rança pública dos cidadãos.

Abdon Mar­inho é advogado.