AbdonMarinho - A MEMÓRIA ME TRAIU OU A AMIZADE DE DEUS E ABRAÃO
Bem Vindo a Pag­ina de Abdon Mar­inho, Ideias e Opiniões, Sábado, 23 de Novem­bro de 2024



A palavra é o instru­mento irre­sistível da con­quista da liber­dade.

A MEMÓRIA ME TRAIU OU A AMIZADE DE DEUS E ABRAÃO

A MEMÓRIA ME TRAIU OU A AMIZADE DE DEUS E ABRAÃO.

Abdon C. Marinho*.

COMO sabem, escrevo de memória.

É assim: após o café da manhã me instalo na poltrona pen­sadora, abro a tela do tablet e começo a escr­ever con­fiando uni­ca­mente na memória, nas lem­branças, sem qual­quer pesquisa. Uma ou duas horas depois, o tex­tão do fim de sem­ana está pronto para ser publicado.

No último final de sem­ana no texto Palestina ≠ Hamas ≠ Israel cometi um equívoco (já cor­rigido) que foi dizer que Ló inter­ced­era junto a Deus pela não destru­ição de Sodoma/​Gomorra e não Abraão, como seria o cor­reto.

Neste caso a memória me traiu duas vezes.

Cerca de dez ou quinze min­u­tos após a pub­li­cação do texto, minha sobrinha Már­cia Mar­inho me apon­tou o equívoco. Como estava andando pelo sítio acabei esque­cendo de fazer a cor­reção que só fiz ontem após rece­ber men­sagem do colega Eli Medeiros apon­tando o mesmo equívoco no texto.

A ambos meus sin­ceros agradecimentos.

Na ver­dade, como sabe­mos Deus era “chapa” de Abraão, daque­les de sen­tar na varanda de casa e ficarem levando um papo enquanto Sara prepar­ava o cafez­inho para ambos.

No episó­dio, em sen­tido reverso, que usei para criticar a matança indis­crim­i­nada de inocentes em Gaza, sobre­tudo, cri­anças, mul­heres, idosos e enfer­mos por Israel na sua guerra con­tra o grupo ter­ror­ista Hamas, deu-​se o seguinte:

Vis­i­tava Deus os ‘parças’ Abraão e Sara e após dizer que a última engravi­daria em breve, ape­sar da idade avançada, fazendo com que Sara risse Dele – viram o grau de intim­i­dade? Quando Deus disse que Sara ficaria grávida, ela pois-​se a rir de suas palavras. Tipo assim: –– conta outra bar­budo –, começaram a con­ver­sar sobre a situ­ação de Sodoma e Gomorra, enquanto Sara fora a coz­inha preparar o café.

Deus anun­ciou que lançaria os mís­seis mais potentes para destruir as duas cidades.

Tendo Abraão pon­der­ado: –– Destru­irás o justo com o ímpio (em lin­guagem atual: tu vai destruir os inocentes junto com os culpados?).

Veja a intim­i­dade de Abraão era tão grande que ele o chamava de tu.

E con­tin­uou Abraão: –– Se por­ven­tura hou­ver cinquenta jus­tos na cidade, destru­irás tam­bém e não pouparás o lugar por causa dos cinquenta jus­tos que estão den­tro dela? Longe de ti que faças tal coisa, que mate o justo com o ímpio; que o justo seja como o ímpio, longe de ti. Não faria justiça o juiz de toda a terra?

Veja que Abraão deu uma “chamada” em Deus, chamando-​o à razão. Dizendo ser injusto que cul­pa­dos e inocentes fos­sem punidos jun­tos.

Deus pen­sou, viu que o ‘parça’ Abraão estava certo, disse: –– Tá bom, se eu achar em Sodoma cinquenta inocentes, por conta deles não lançarei os mís­seis destruidores.

Abraão, já certo que vencera, o “barba” na argu­men­tação de fundo, foi além: –– já que disse o que penso, con­tinuo a dizer: Se não forem cinquenta, mas ape­nas quarenta e cinco, pela falta de cinco destru­irás a cidade.

Deus respon­deu: –– Está bem, Abraão, não lançarei os mís­seis se achar ali quarenta e cinco.

Abraão: –– e se forem quarenta?

Deus: –– não lançarei os mís­seis por causa dos quarenta inocentes.

Abraão: –– e se forem trinta os inocentes?

Deus: –– não lançarei os mís­seis por causa desses trinta.

Abraão: –– e se forem ape­nas vinte?

Deus: –– não lançarei os mís­seis de fab­ri­cação amer­i­cana por causa desses vinte.

Abraão insis­tiu: –– brother, des­culpa a “apor­rin­hação”, vai que só encon­tre ali dez inocentes?

Deus: –– cabra tu estás chato, tá bom, se achar os dez inocentes não lançarei os mís­seis, vou man­dar verificar.

Foi a hora que Sara chegou com o café, Deus tomou uma xícara com uma broa de milho, se des­pediu do casal e foi cuidar dos seus afaz­eres – que já eram muitos.

Dias depois foi que man­dou os anjos fazer o censo dos inocentes de Sodoma/​Gomorra e foram acol­hi­dos por Ló.

Não tendo os anjos recenseadores encon­tra­dos os inocentes que Abraão imag­i­nara que tivesse, e ainda ten­taram “pas­sar” os mes­mos, Deus lançou ataques vio­len­tos com todos os mís­seis que pos­suía no arse­nal celes­tial, não deixando sequer vestí­gios das cidades.

Ape­nas Ló e suas fil­has se sal­varam. Enquanto fugiam para as mon­tan­has ou out­ras ter­ras dis­tantes já que as cidades não eram cer­cadas, a esposa de Ló olhou para trás e foi con­ver­tida em uma estátua.

Con­forme disse no texto ante­rior, Deus só lançou os seus mís­seis após a ver­i­fi­cação “in loco” da inex­istên­cia de inocentes.

O que ocorre nos dias atu­ais é que o exército judeu, difer­ente do que tanto cobrou Abraão de Deus, estão mirando nos inocentes e não nos cul­pa­dos.

É o con­trário do acordo cel­e­brado naquela tarde entre Deus e Abraão (o pai de todos eles) enquanto aguar­davam o café de Sara.

Outro “parça” que tem tudo a ver com os con­fli­tos dos nos­sos tem­pos foi Moisés. Mas nesse caso Deus teve sua parcela de responsabilidade.

Como escrevo “de memória” como dito acima, só lem­bro de dois caras que tiveram intim­i­dade com Deus a ponto de con­ver­sarem cara a cara, ou como se dizia antiga­mente, na face do Sen­hor: Abraão e Moisés.

Só que no tempo de Abraão Deus tinha mais tempo, podia ficar uma tarde inteira tro­cando umas ideias com ele, dis­cutindo sobre as coisas terrenas.

Já no tempo de Moisés o trampo estava mais pux­ado. Já haviam con­fli­tos por todos os lados, Deus já pen­sando em destruir tudo e começar de novo.

Deus já não tinha tanto tempo e para agravar a situ­ação Moisés era gago.

Imag­ine, você cheio de coisas para fazer e pre­cisar fazer uma reunião com o gago para passar-​lhe uma con­sti­tu­ição inteira.

Por isso que só saíram os dez man­da­men­tos dita­dos por Deus a Moisés.

A respon­s­abil­i­dade div­ina nos episó­dios recentes deu-​se pela falta de tempo de Deus e pela gagueira de Moisés.

Quando Deus salvou os hebreus do cativeiro no Egito – os fazendo vagar por quarenta anos pelo deserto –, Moisés subiu no monte para rece­ber a con­sti­tu­ição do povo, que como disse, Deus só teve tempo de ditar os dez man­da­men­tos, mandando-​o se virar com o resto das leis.

Pois bem, naquela opor­tu­nidade, após pas­sar ditar a con­sti­tu­ição, Deus dirigiu-​se a Moisés e indagou: –– Ok, Moisés, já os tirei do cativeiro, já te ditei a con­sti­tu­ição, agora me diz ai para onde queres que mande o seu povo?.

Moisés começou: –– ca-​ca, ca-​ca…

Deus, sem tempo, foi no mais rápido: –– certo Moisés, todo mundo para Canaã.

E foi cuidar dos out­ros conflitos.

Na ver­dade Moisés que­ria dizer Canadá.

Por conta dessa falta de comu­ni­cação, dessa impaciên­cia div­ina temos esse con­flito todo.

Como os ami­gos devem saber, esse texto é uma crônica, não tomem ao “pé da letra” mas tem fundamento.

A atual guerra me fez recor­dar, tam­bém, a série de debates que travei com o saudoso amigo Wal­ter Rodrigues por conta das diver­sas “inti­madas” ocor­ri­das antes de sua morte. Todas elas, claro, nem de longe, tão vio­len­tas quanto a atual, o que per­mi­tia ao amigo dizer, entre a pil­héria e a pre­ocu­pação: –– Abdon, em todo o Ori­ente Médio não existe uma única pedra que ainda não tenha sido ati­rada uns con­tra os out­ros.

Saudosas e tristes memórias.

Abdon C. Mar­inho é advogado.