AbdonMarinho - O candidato.
Bem Vindo a Pag­ina de Abdon Mar­inho, Ideias e Opiniões, Sábado, 23 de Novem­bro de 2024



A palavra é o instru­mento irre­sistível da con­quista da liber­dade.

O candidato.


O CANDIDATO.

Por Abdon C. Marinho*.

UMA DAS lições mais impor­tantes da minha car­reira jurídica aprendi com o colega e decano da advo­ca­cia maran­hense, Car­los Augusto Macedo Couto, pro­fes­sor Car­los Couto, para os próx­i­mos. A lição não me foi dada como pro­fes­sor, mas, como colega e como cidadão.

Con­forme já disse algu­mas vezes, come­cei a minha car­reira jurídica pelo Dire­ito Eleitoral, primeiro pelo fato de, desde muito cedo, pos­suir envolvi­mento político: mil­itân­cia estu­dan­til e par­tidária ini­ci­ada ainda criança/​adolescente e depois por gostar, efe­ti­va­mente, daquela movi­men­tação.

O ingresso na fac­ul­dade de dire­ito, alcançou-​me, em 1991, quando já tra­bal­hava com o dep­utado Juarez Medeiros na Assem­bleia Leg­isla­tiva, fazia admin­is­tração noturno e tra­bal­hava durante o dia. Aprovado para o curso de dire­ito, tran­quei o curso de admin­is­tração para seguir a car­reira jurídica.

Em 1992 já estava par­tic­i­pando da minha primeira cam­panha eleitoral; em 1994, jun­ta­mente com Roberto Paula, Chico Branco, estava na coor­de­nação da cam­panha eleitoral do ex-​governador Epitá­cio Cafeteira ao gov­erno estad­ual, atuando como coor­de­nador e como uma espé­cie de estag­iário do Dr. Laplace Pas­sos, que era o advo­gado da cam­panha.

Tendo con­cluído o curso de dire­ito em 1996 e rece­bido a carteira da OAB/​MA em 1997, já nesse ano e até as eleições do ano seguinte, 1998, atuei nova­mente como coor­de­nador da cam­panha eleitoral do ex-​governador e senador Cafeteira ao gov­erno estad­ual.

Esse breve histórico para dizer que desde “menino” que tenho atu­ação no ramo do dire­ito eleitoral, prin­ci­pal­mente, atuando como advo­gado junto ao Tri­bunal Regional Eleitoral — TRE. Antes da pan­demia – e de alguns per­calços já relata­dos em tex­tos ante­ri­ores –, não tinha sessão, mesmo as admin­is­tra­ti­vas, que não me fizesse pre­sente, gan­hando dos cole­gas o car­in­hoso apelido de “oitavo mem­bro da corte” e de “decano do tri­bunal”, com dire­ito a “cadeira cativa” e tudo mais, com os cole­gas mais novos, quando chegava, por excesso de defer­ên­cia, levantar-​se para que pudesse sen­tar.

Foi nos primeiros anos como advo­gado atu­ante no TRE – quando mil­i­tava mais do que advo­gava –, que recebi a lição do mestre Couto, referida acima.

Era uma eleição ren­hida e o resul­tado de um jul­ga­mento, que achava abso­lu­ta­mente injusto, como tan­tos out­ros que vieram depois dele que me tirou do sério e me fez perder a com­pos­tura, a ponto de fazer comen­tários duros a respeito dos jul­gadores.

Vendo meu com­por­ta­mento, Couto chamou-​me e me disse: — meu caro doutor, se não acred­itares na Justiça, serás eter­na­mente frustrado e infe­liz com min­istério que escol­h­estes seguir. Não adi­antas esbrave­jar ou ten­tar “resolver no grito”. Preparas o teu recurso, vais atrás de out­ras instân­cias. Um advo­gado não tem o dire­ito de não acred­i­tar na Justiça. Algo mais ou menos assim.

Com mais meio quarto de século de profis­são e mais de vinte anos da lição rece­bida do mestre, mesmo com uma “car­rada de decepções” no cur­rículo, nunca perdi minha fé na Justiça.

Vendo a par­tir das visão e exper­iên­cia que tenho hoje – e já tendo con­hec­i­mento de tan­tas decepções –, a lição do mestre Couto “me salvou”, pois, já imag­i­naram alguém pas­sar um quarto de século (até aqui) ou a vida toda fazendo algo em que não acred­ita? Imag­i­nando que a Justiça apren­dida na vida ou nos ban­cos esco­lares não passa de uma ficção? Que tudo são “esque­mas” ou cor­rupções?

Ao meu sen­tir, pelo menos para este escriba que vos fala, seria uma vida de extrema infe­li­ci­dade. E a razão da nossa existên­cia é ser­mos felizes.

A minha profis­são de fé é acred­i­tar na Justiça, ape­sar de tudo.

Não abro mão, abso­lu­ta­mente, deste credo, pois, se assim o fizesse, estaria dizendo que toda a minha vida profis­sional foi inútil, seria tra­gado pela infe­li­ci­dade.

Como tra­bal­har, fazer algo que não acred­i­tas? Qual o sen­tido de levar uma vida sabendo que o fruto do teu tra­balho não é bené­fico a ninguém?

Agora pus-​me can­didato ao cargo de desem­bar­gador na vaga des­ti­nada, pela Con­sti­tu­ição da República, para advo­ca­cia no critério do Quinto Con­sti­tu­cional.

Um amigo muito próx­imo e querido lis­tava as difi­cul­dades da empreitada:

— Abdon, tu não és “fidalgo”, ou seja, não és filho de gente impor­tante, não nasceu no seio da elite; levas uma vida de “Cas­murro”, não fre­quenta os “salões” de even­tos; não és amigo íntimo (ou não íntimo) dos con­sel­heiros da ordem ou dos desem­bar­gadores e, muito menos, do gov­er­nador, que dá a cane­tada final.

Retru­cava aos argu­men­tos dizendo que pos­suía a prin­ci­pal cre­den­cial: a fé ina­balável na Justiça.

O fato de não ser “fidalgo” ou de não ter nascido no seio da elite, tam­bém, não pode­ria servir como critério; e, muito emb­ora, leve uma vida de “Cas­murro”, sou con­hecido por todos e tenho ideias claras e públi­cas sobre todos os temas com os quais terem que me debater na even­tu­al­i­dade de “chegar lá”.

E quanto ao fato de não poder “fazer cam­panha” dev­ido às lim­i­tações que pas­sas por conta da poliomielite? Indagou.

Pon­derei, em relação a tal assertiva, que não era o que pode­ria ter feito nos últi­mos meses ou que pode­ria fazer no tempo que resta para o primeiro escrutínio, o fator deter­mi­nante para a escolha, mas sim, o que fiz ou como me com­portei ao logo de toda uma vida.

Como tive que via­jar – con­forme relatei na crônica da sem­ana pas­sada –, deixei ao encargo dos meus colab­o­radores a incum­bên­cia de efe­t­uar o reg­istro da can­di­datura – o que fiz­eram em tempo hábil –, entre­tanto, uma inter­pre­tação equiv­o­cada que deram ao edi­tal, acabou por deixarem de fora alguns doc­u­men­tos, o que só foi suprido no prazo de 48 horas, con­forme pre­visão editalícia.

Cheguei a ficar tenso com a situação.

Muito emb­ora saiba das difi­cul­dades que ter­e­mos ao longo da cam­in­hada: primeiro, ser escol­hido pelos advo­ga­dos e advo­gadas aptos a votarem na eleição direta, no total de 12 (doze); segundo, ser escol­hido entre os 06 (seis) pelo Con­selho Estad­ual da OAB; ter­ceiro, fig­u­rar na lista trí­plice, for­mu­lada pelo TJMA; e, por fim, ser escol­hido pelo gov­er­nador.

Dizia aos cole­gas e colab­o­radores que inde­pen­dente do resul­tado de cada uma das eta­pas, o que me impor­tava era poder ser can­didato, dizer a todos: — ei, eu estou aqui.

Ao poder dizer isso – somente isso –, estou dizendo a todas as cri­anças pobres ou ricas, fil­has de cam­pone­ses ou de abas­ta­dos, pre­tas, bran­cas ou de quais­quer das cores do arco-​íris, de qual­quer religião ou credo, que elas tam­bém poderão chegar onde quis­erem, pois o filho de D. Neuza e de seu Van­der­lino, agricul­tores, anal­fa­betos por parte de pai, mãe e parteira e for­agi­dos da seca, chegou até aqui.

É isso que move. Gan­har, ser escol­hido são os obje­tivos, mas o que me move para par­tic­i­par de tal processo é a ideia de que estou sendo o fanal para alguém, sobre­tudo, para aque­les nunca tiveram nada na vida além da força de von­tade.

Sou de uma família grande. Meus avós tiveram mais de uma dúzia de fil­hos e com eles vieram para o Maran­hão, para viver da agri­cul­tura na região do médio Mearim; meus pais tiveram mais de uma dezena de fil­hos.

Destas duas ger­ações, fui o primeiro a con­cluir um curso supe­rior, ape­sar de todas as difi­cul­dades que enfrenta­mos: a pobreza, a seca, a pólio, a orfan­dade na primeira infân­cia e todas as demais situ­ações já relatadas em diver­sas out­ras oportunidades.

Hoje, na nossa família imensa, com diver­sos doutores, pro­fes­sores, todos bem for­ma­dos e podendo se esta­b­ele­cer onde quis­erem, ouvi de um sobrinho a declar­ação que mais me tocou e emo­cio­nou: — tio, o sen­hor foi a minha inspiração.

Abdon C. Mar­inho é advo­gado.