SOMOS TODOS HOMO (MAS DILMA NÃO SABE).
É verdade, somos todos homo, mas antes que tirem conclusões precipitadas ou interprete como ofensa, leia o texto. Não se deve pretender conhecer o livro por sua orelha, não é?
Pois bem, como costuma fazer sempre que abre a boca, nossa ilustre presidente da República, tortura a língua pátria até não mais poder. Deve sentir alguma tara sádica por maltratar a língua de Camões.
A última agressão foi sair-se com um tal de "mulher sapiens". Imaginou a devoradora de livros do Planalto: se há homo sapiens, deve haver a "mulher sapiens", afinal deve imperar a tal igualdade de gênero.
Só faltou acrescentar ao pensamento, se não houver mando uma Medida Provisória para o Congresso Nacional para que aprove isso, afinal, sou a presidenta.
Tal assertiva faz todo sentido para quem fez uma uma lei obrigando a flexão da palavra conforme o gênero, impondo e exigindo que fosse tratada por presidenta. Ou, a que se dirige a patuleia tratando-a por todos e todas. Como se o pronome TODOS – como já expliquei em um texto e o Aurélio desde sempre ensinou –, não significasse: "Todas as pessoas; toda a gente; todo o mundo; o mundo inteiro; deus e o mundo, deus e todo mundo, deus e todo o mundo: “Em Portugal todos falam de tudo” (Luís Forjaz Trigueiros, Ventos e Marés, p. 111)".
O mesmo ocorre com o substantivo masculino HOMO, originário do latim homo e usado na etnologia e na paleontologia, significando:
1. Gênero de primatas simiiformes, hominídeos, ao qual pertence o homem.
2. Espécie desse gênero, como, p. ex., a Homo habilis, a Homo erectus, a Homo sapiens. [Os adjetivos latinos habilis (hábil), erectus (ereto), sapiens (inteligente) designam a característica que as distingue, que marca o progresso, no tempo, do gênero. À subespécie Homo sapienssapiens pertence o homem atual.]
Como explicitado no dicionário o homo abrange todo gênero de primatas simiiforme, hominídeos, sendo que a nossa subespécie é a homo sapienssapiens. Pelo menos era assim até o governo da companheirada e o continua sê-lo no resto do mundo.
Como não passo de néscio, talvez não tenha me dado conta que esteja em curso uma mudança no latim (já ouvi dizer que no Brasil nem o passado é definitivo), talvez se reinvente a etnologia, paleontologia, quem sabe, afinal, nunca antes na história deste país...
Outro dia ouvi dizer que pretendem criar ou estabelecer uma língua só nossa, o brasileiro, em oposição ao português.
Ainda não sei o que pensar sobre o assunto, entretanto no nosso país andam falando e escrevendo num dialeto tão particular, que se consultado, não teria razão para me opor. Preferível isso ao maltrato diário.
Mas voltando ao último ataque à língua, ainda pátria, no discurso em que se misturou mandioca com milho, fico pensando se em meio a tantos livros que a governanta jura ler, não sobrou um dicionário carcomido pelo tempo, uma brochura, que fosse, que lhe permitisse passar os olhos antes de nos brindar com tantas tolices.
Importa indagar, ainda, se em meio aos milhares de assessores que o contribuinte paga religiosamente e por imposição, não sobrou nenhum com coragem ou conhecimento para orientar sua excelência antes de suas falas.
A presidente, queiramos ou não, gostemos ou não, é o retrato da nação. Não é aceitável ou compreensível que tenhamos de passar por tantos vexames no cenário internacional. Será que a ninguém socorre intervir no sentido de impedir esses constrangimentos? Será que é o temor de perder o emprego, a boquinha, conforme confirmou a maior liderança do partido, o senhor Lula? Ou será que é apenas o gene da sabujice a aflorar nos contundentes aplausos a cada tolice?
Se no planalto a ignorância serve de desculpas às agressões, na planície entortam o significado das palavras por esperteza, malandragem.
Não faz muito, ouvi, na esteira de diversas prisões de mais um escândalo nacional, que sobrepreço, que os dicionaristas dizem ser um preço acima do normal, significa, a menos, para os defensores dos encalacrados, apenas um termo técnico; na mesma linha o verbo DESTRUIR tem apenas o sentido de explicar. Basta dizer que esta acepção ainda não se encontra prevista em nenhum dos dicionários conhecidos.
Faz todo sentido termos uma língua só nossa. Aliás, repito, já a falamos, a escrevemos, a interpretamos.
Por estas, e tantas outras, é que digo: já trataram melhor a última flor do Lácio, inculta e bela, nas palavras do poeta Olavo Bilac.
Abdon Marinho é advogado.
Escrito por Abdon Marinho
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