AbdonMarinho - CRISE?! QUE CRISE?
Bem Vindo a Pag­ina de Abdon Mar­inho, Ideias e Opiniões, Sábado, 23 de Novem­bro de 2024



A palavra é o instru­mento irre­sistível da con­quista da liber­dade.

CRISE?! QUE CRISE?

CRISE?! QUE CRISE?

Não pre­cisa ser doutor. Qual­quer pes­soa, até a mais sim­plória, sabe que o primeiro passo para se tratar uma enfer­mi­dade é diagnosticá-​la, a par­tir daí min­is­trar os remé­dios corretos.

Não se pode, por exem­plo, min­is­trar a quem está res­fri­ado o mesmo medica­mento daquele que está com dor de bar­riga. Antes, porém, de min­is­trar o remé­dio é pre­ciso que se saiba que a pes­soa está res­fri­ada e não com dor de barriga.

Em que pese a gravi­dade das crises que passa o país (são várias), o gov­erno, seus ali­a­dos e asse­clas, insis­tem na can­tilena que só existe uma crise: a política.

Esta crise política é provo­cada pela oposição que não se con­forma com a der­rota e que se aliou aos setores mais atrasa­dos do país, da mídia con­ser­vadora, dos entreguis­tas, etc.

Vão além, insis­tem na tolice que, super­ada a crise política, os demais prob­le­mas brasileiros deixarão de exi­s­tir. Sim­ples assim, num passé de mágica.

Ora, o país não sairá deste atoleiro se o gov­erno, tal qual D. Quixote, enx­er­gar como inimi­gos os moin­hos de ven­tos; se atribuir aos adver­sários políti­cos a respon­s­abil­i­dade pelos prob­le­mas da nação estando no poder há treze anos; se con­tin­uarem a se eximirem das suas respon­s­abil­i­dades; e, con­tin­uarem a iden­ti­ficar câncer como sendo uma gripe.

Como o gov­erno pode insi­s­tir em igno­rar a crise econômica que assola o país se a mesma é teste­munhada e sen­tida por todos? Se as famílias a cada dia vêm o salário min­guar e as con­tas aumentarem? Sobrar mês e fal­tar salário? Se o desem­prego se faz pre­sente em quase todos os lares? Se os pais estão tendo de escol­her entre a edu­cação e o plano de saúde dos filhos?

Façamos um breve exper­i­mento. Puxe pela memória o que ouviu do noti­ciário econômico nos últi­mos dias. Você deve ter se recor­dado de algo assim: taxa de juros a mais ele­vada dos últi­mos doze anos; dólar, desde 2002 que não alcançava a atual cotação; desem­prego a maior taxa dos últi­mos tem­pos; inflação, a maior desde a cri­ação do Plano Real; cresci­mento do país, o gov­erno reduziu a pre­visão de cresci­mento mais uma vez, agora crescer­e­mos para — 3% (menos três por cento). Cer­ta­mente, se você não se recor­dou de algo assim, recordou-​se de algo bem parecido.

Então, não há crise econômica?

Pior que isso, é que, ainda quando recon­hecem a existên­cia da crise, veem com a ladainha que a mesma é mundial, que todas as nações estão em crise e que no Brasil a crise é até bem menor que noutros países; que é a famosa crise do sis­tema capitalista.

São afir­mações men­tirosas. Fal­tam com a ver­dade quando afir­mam isso. A média de cresci­mento mundial é bem maior que a nossa; a média do cresci­mento da América Latina e da América do Sul é mel­hor que a nossa; os demais blo­cos econômi­cos apre­sen­tam mel­hores resul­ta­dos que os nossos.

Acred­ito que só este­jamos mel­hores que as nações con­flagradas pelas guer­ras e pelas nações que nos espel­hamos como mod­elo, como a Venezuela e a Bolívia.

Vejam que o gov­erno que nega a crise econômica já infor­mou que fechará as con­tas desde ano com um deficit de 117 bil­hões de reais. Conhecendo-​o como o con­hece­mos, cer­ta­mente esse número será supe­rior. Os econ­o­mis­tas do gov­erno con­tin­uam vici­a­dos na tal da con­tabil­i­dade cria­tiva, na tal das pedaladas.

O país está em crise e este gov­erno e o que o ante­cedeu são os culpados.

A Era petista pas­sou a incen­ti­var o con­sumo ao invés da pro­dução. O par­que indus­trial brasileiro está sucateado. Noutra quadra temos shop­ping cen­ter em abundân­cia, vendendo pro­du­tos, na maio­ria das vezes, a pro­dução das nações que incen­ti­varam o for­t­alec­i­mento de suas indus­trias, que destravaram seu crescimento.

O resul­tado é que nos­sas fábri­cas estão ultra­pass­das, estão falindo, estão pro­duzindo muito pouco. O pouco que pro­duzem não tem capaci­dade de com­pe­tir com out­ras indus­tria ao redor do mundo.

A con­se­quên­cia do mod­elo equiv­o­cado é a demis­são de mil­hares de tra­bal­hadores, só este ano já foram fecha­dos quase um mil­hão de pos­tos de tra­bal­hos. O agrava­mento da crise – não é pos­sível pre­ver quando a mesma irá arrefe­cer – causará muito mais desemprego.

Crises políti­cas por si não afe­tam a econo­mia como esta­mos vendo acon­te­cer no Brasil. Crises políti­cas se resolvem com a sub­sti­tu­ição dos gov­er­nantes, com eleições. E isso não dev­e­ria ser estranho a ninguém.

Assim, não é com­preen­sível se falar em crise emi­nen­te­mente política diante de tal real­i­dade, como os país de família vivendo na incerteza sem saberem se estarão empre­ga­dos amanhã, se terão como garan­tir o sus­tento de suas famílias; com os jovens olhando para os lados sem quais­quer per­spec­ti­vas – pesquisa recente apon­taram que o Brasil é um dos países onde os jovens menos acred­i­tam num futuro melhor.

Não é demais lem­brar que junto com o desem­prego vêm o aumento da vio­lên­cia, da depressão, da pros­ti­tu­ição, do uso de dro­gas, de suicí­dios e tan­tos out­ros males.

Todos os países que exper­i­men­ta­ram a crise econômica sev­era viven­cia­ram – em maior ou menor graus –, as situ­ações nar­radas acima, basta ver o que acon­te­ceu na Argentina, na Espanha, na Venezuela, ape­nas para ficar nestes poucos exemplos.

O gov­erno brasileiro, infe­liz­mente, con­tinua escravo de uma cegueira sele­tiva – que o apri­siona e faz con­tin­uar com a velha lengalenga de sem­pre –, que não nos leva a lugar algum e não resolve o prob­lema de ninguém, sobre­tudo, dos que mais precisam.

Abdon Mar­inho é advogado.