AbdonMarinho - OS ESQUECIDOS DO PETROLÃO.
Bem Vindo a Pag­ina de Abdon Mar­inho, Ideias e Opiniões, Sábado, 23 de Novem­bro de 2024



A palavra é o instru­mento irre­sistível da con­quista da liber­dade.

OS ESQUE­CI­DOS DO PETROLÃO.

OS ESQUE­CI­DOS DO PETROLÃO.

A crônica política/​policial do escân­dalo con­hecido como “petrolão\\\» tem esque­cido um grande grupo de pes­soas. Falo dos pequenos e médios acionistas que foram engana­dos pelo gov­erno Lula/​Dilma e inve­sti­ram as suas econo­mias, FGTS, na com­pra de ações da Petro­bras, na promessa de um inves­ti­mento seguro e um retorno garan­tido. Um enorme con­tin­gente de trabalhadores.

Não faz muito tempo, já foi no final segunda metade da década pas­sada que o gov­erno fez uma ampla cam­panha de incen­tivo aos cidadãos para com­prarem as ações da empresa. A mídia apre­sen­tava o Brasil com o novo \\\«El Dourado”, o pres­i­dente de então, o Sr. Lula, o novo xeque do petróleo. O Brasil sairia da condição de impor­ta­dor, para autossu­fi­ciente e expor­ta­dor de combustíveis.

A pro­posta, por si, era muito sedu­tora para ser igno­rada pelos que podiam inve­stir, tin­ham out­ras ações ou o fundo de garan­tia por tempo de serviço — FGTS. Estavam fazendo um grande inves­ti­mento, tornando-​se acionistas de uma das maiores empre­sas do mundo e de que­bra estavam aju­dando o país, garan­ti­ndo que espec­u­ladores do cap­i­tal externo se apro­pri­assem da riqueza que era do país, que era dos brasileiros. Os cidadãos com­prarem ações da empresa, era um gesto cívico. Era como se estivésse­mos par­tic­i­pando da segunda cam­panha o “O Petróleo é Nosso”.

A estraté­gia de enganação tam­bém tinha um viés político. Foi usada como instru­mento da cam­panha que elegeu a pres­i­dente Dilma naquele 2010. Diziam que enquanto os tucanos que­riam pri­va­ti­zar a empresa, eles abri­ram seu cap­i­tal aos brasileiros, per­mitindo que fos­sem donos e que gan­has­sem com o “Pré-​Sal” e mais toda a babo­seira que cos­tu­mam dizer quando bus­cam votos.

Pois bem, de 2010 para cá a Petro­bras já perdeu quase 60% do seu valor de mer­cado. Avali­ada em 380 bil­hões de dólares naquele ano, hoje está avali­ada em 154 bil­hões de dólares, com per­spec­tiva de queda.

A má gestão levou a empresa a con­strange­dora situ­ação de não poder divul­gar seu bal­anço trimes­tral. As inves­ti­gações poli­ci­ais rev­e­lam, até aqui, des­falques mon­u­men­tais. Um rombo tão grande que um sub do sub, o Sr. Bar­usco, aux­il­iar do Sr. Duque, indi­cado para a Dire­to­ria de Serviços da empresa pelo ex-​ministro José Dirceu, ofer­e­ceu, num acordo de delação pre­mi­ada, para devolver, em troca de redução de pena, a assom­brosa quan­tia de 100 mil­hões de dólares. Imag­i­nar que o “sub do sub” tenha esto­cado essa quan­ti­dade de recur­sos para devolver (sabe­mos que nunca devolvem todo o \\\«mal havido\\\») per­mite dimen­sionar o roubo superla­tivo que viti­mou a empresa e seus acionistas, grande parte deles tra­bal­hadores brasileiros.

Os reais números do escân­dalo talvez nós, do povo, jamais ven­hamos a saber. Já os val­ores que foram \\\«tun­ga­dos dos pequenos investi­dores são mais fáceis de serem apurados.

Vejamos como a ban­dal­heira, agora rev­e­lada, empo­bre­ceu os tra­bal­hadores. Em 2010 foi efe­t­u­ada a maior cap­i­tal­iza­ção da história, em qual­quer parte do mundo, de uma empresa, algo em torno de R$ 120 bil­hões de reais. Essa empresa, nossa Petro­bras cansada de guerra. No processo de cap­i­tal­iza­ção, as ações ordinárias foram nego­ci­adas a R$ 2,65 e as ações pref­er­en­ci­ais a R$ 26,30. Pois bem, na cotação do dia 26/​11/​2004, as mes­mas com­pradas naquele ano valiam, respec­ti­va­mente, R$ 13,27 e R$ 14,10. Uma perda de – 55,27% e – 46,39%.

O gov­erno que já tra­mava nas som­bras e no lodo da cor­rupção a destru­ição da Petro­bras, arras­tou as finanças de mais de 400 mil tra­bal­hadores, que foram estim­u­la­dos a inve­stirem num negó­cio seguro, a cap­i­tal­iza­ção da empresa, até 30% das con­tas do FGTS.

Olhando assim, ficamos com a impressão que o pre­juízo do cré­dulo e patri­ota cidadão que con­fiou no gov­erno, se resume à perda de 55,27% para os que com­praram as ações ordinárias e de 46,39% para os que com­praram ações pref­er­en­ci­ais. Lamen­tavel­mente, é um pouco pior. No mesmo período, se os recur­sos tivessem per­maneci­dos deposi­ta­dos nas con­tas vin­cu­ladas do FGTS, teriam ren­dido algo em torno de 20% (vinte por cento), por baixo, ou seja, o pre­juízo de cada poupador, deve ser acrescido desta cor­reção que deixaram de receber.

Ainda que a empresa se recu­pere, o que pode acon­te­cer, esse pre­juízo não será com­pen­sado como devido.

Anal­isa­dos os fatos com os olhos de hoje, após essa sucessão de escân­da­los que enver­gonham a nação, não há como deixar de con­cluir que o golpe aos tra­bal­hadores brasileiros foi premeditado.

Lem­bram que a pro­pa­ganda ofi­cial e de crítica aos opos­i­tores era de que, enquanto os opos­i­tores pre­tendiam “entre­gar” a prin­ci­pal empresa brasileira ao cap­i­tal­ismo inter­na­cional, as grandes ban­cas, aos megain­vesti­dores, eles (o gov­erno, o partido0, estavam per­mitindo que os tra­bal­hadores brasileiros fos­sem seus donos?

A pro­pa­ganda era emo­cio­nante. Os tra­bal­hadores seriam os donos da empresa. Usaram e abusaram deste dis­curso no pleito de 2010.

Na ver­dade, a ideia era bem outra. Que­riam os tra­bal­hadores como sócios, porque estes, diluí­dos na mul­ti­dão não teriam tanta força para se faz­erem ouvir. E estavam certos.

Sobre as maiores víti­mas, prin­ci­pal­mente, por serem os mais frágeis na dis­puta, ninguém escuta falar. As fed­er­ações, sindi­catos e con­fed­er­ações, quase todas apar­el­hadas e “pel­e­gas\\\» fazem um elo­quente e sepul­cral silên­cio diante do crime prat­i­cado con­tra os tra­bal­hadores. Por iro­nia, justo por aque­les que prom­e­teram defendê-​los. Não deixa de ser irônico.

Abdon Mar­inho é advogado.