AbdonMarinho - O BRASIL PRECISA VENCER OS MITOS PARA AVANÇAR
Bem Vindo a Pag­ina de Abdon Mar­inho, Ideias e Opiniões, Sábado, 23 de Novem­bro de 2024



A palavra é o instru­mento irre­sistível da con­quista da liber­dade.

O BRASIL PRE­CISA VENCER OS MITOS PARA AVANÇAR

O BRASIL PRE­CISA VENCER OS MITOS PARA AVANÇAR.

Por Abdon Mar­inho.

AMI­GOS me per­gun­tam quais as min­has expec­ta­ti­vas para o futuro do país a par­tir das eleições do ano que vem.

Não se trata de uma inda­gação de fácil resposta.

O Brasil pas­sou de um país despoli­ti­zado para o mais enga­jado politi­ca­mente do mundo. Ape­nas para ter uma ideia, desde as eleições de 2018 que os brasileiros –uns com mais, out­ros com menos ênfase –, não descem dos palan­ques.

Acho que já não chegaram a pen­sar em gov­ernar ou em ser oposição – como é nor­mal nas democ­ra­cias –, mas, ape­nas acu­mu­lar forças e estraté­gias para as próx­i­mas eleições. Para “vencerem”. Mas, vencer quem ou o quê?

Vive­mos dias de chat­ice sem fim pois os “mili­ton­tos” metem a política em tudo.

Qual­quer reunião famil­iar, aniver­sário, uma sim­ples cerve­jinha de fim expe­di­ente, lá está a pauta política, mais afa­s­tando que jun­tando as pes­soas; lá estão o Bol­sonaro, o Lula – prin­ci­pal­mente estes –, mas, tam­bém, os out­ros, a tomarem de conta dos debates.

Tem sido assim desde 2018 e o fenô­meno parece não apre­sen­tar sinais de arrefec­i­mento.

Dias desses tratando com um amigo sobre um assunto total­mente difer­ente, pelas tan­tas surge um polvo – sim, polvo, o molusco mar­inho –, e este amigo foi logo dizendo que o polvo lem­braria a outro molusco mar­inho, a lula que reme­te­ria a um deter­mi­nado político brasileiro.

Vejam a que grau cheg­amos. Os brasileiros pas­samos mais tempo tratando da vida de políti­cos, que sequer sabem das nos­sas existên­cias, que tratando de assun­tos de seus reais interesses.

Ah, mas esse grau de poli­ti­za­ção não é bom para o país? Não, nec­es­sari­a­mente.

Ini­cial­mente, porque é falso acred­i­tar que o Brasil é um país poli­ti­zado, na ver­dade o que nos tor­namos foi uma nação sec­tária divi­dida em alas, em que qual­quer uma não pensa e não tem qual­quer inter­esse em paci­ficar o país, mas, sim, em man­ter a nação divi­dida e em “guerra” para con­tin­uarem no poder.

Depois que a única pre­ocu­pação das “alas” não é gov­ernar e sim tornar-​se “majoritária” e, a par­tir daí, imple­men­tar seu pro­jeto de poder.

Em resumo, enganam-​se os que pen­sam que esta­mos diante de uma con­tenda pela implan­tação de um pro­jeto de gov­erno para o país.

Na ver­dade o que sem­pre esteve e estar em jogo é a implan­tação de pro­je­tos de poder calça­dos no autoritarismo.

Não se trata de nada novo. Foi assim na implan­tação do comu­nismo na União Soviética, na China; foi assim na implan­tação do Fas­cismo na Itália, no Nazismo, na Ale­manha; foi assim na implan­tação das ditaduras de Cuba, da Cor­eia do Norte, da Venezuela, e tan­tas out­ras.

O traço comum de todos os esses regimes total­itários é a cri­ação de mitos, a “eleição” de inimi­gos do povo, o ataque aos veícu­los de comu­ni­cação inde­pen­dentes e nor­mal­iza­ção dos abu­sos.

Mito, soci­o­logi­ca­mente apren­demos, e essa é a definição dos dicionários é “uma crença, geral­mente desprovida de valor moral ou social, desen­volvida por mem­bros de um grupo, que fun­ciona como suporte para suas ideias ou posições”

No mito da cav­erna, Platão (427347 a.C.), diz que a condição do homem no mundo é semel­hante àquela de escravos pre­sos no inte­rior de uma cav­erna, situ­ação que só lhes per­mite ver do exte­rior as som­bras que são aí pro­je­tadas.

A cav­erna rep­re­senta o mundo dos sen­ti­dos, no qual só se percebem as som­bras das coisas.

O exte­rior é o mundo das ideias, rep­re­sen­tado pelas próprias coisas e pelo Sol, que sim­boliza o Bem. De acordo com Platão, a Filosofia é que dá ao homem a condição de sair da cav­erna e perce­ber a real­i­dade e o mundo das ideias.

O Brasil vive atual­mente o seu Mito da cav­erna, não con­segue enx­er­gar além da “caixa” em que foi colo­cado por suas con­veniên­cias políti­cas ou ideológicas.

É a mesma situ­ação que diver­sos out­ros países já viveram nos últi­mos cem ou duzen­tos anos: a con­strução e pro­moção de mitos.

O traço difer­en­cial é que por aqui existe uma dis­puta de “mitos” pela hege­mo­nia ou pela con­quista de devo­tos e, por exten­são, do poder.

Na mitolo­gia bol­sonar­ista, o seu líder é o mais preparado dos homens, dom­ina da med­i­c­ina à econo­mia com as mãos amar­radas nas costas; é o mais hon­esto dos homens e a primeira família a mais casta de todas.

Por conta disso são persegui­dos.

Na mitolo­gia bol­sonar­ista acredita-​se que os seus ali­a­dos – que são os mes­mos de tan­tos gov­er­nos que os ante­ced­eram –, são hon­estos, cas­tos e que as denún­cias de cor­rupção, se sur­girem, pois têm como mis­são dom­i­nar e desar­tic­u­lar os órgãos de fis­cal­iza­ção e con­t­role, são ape­nas intri­gas da oposição.

Orça­mento secreto de trinta ou mais bil­hões de reais admin­istrado por ali­a­dos no Con­gresso Nacional para garan­tir apoio da base e de alguns “opos­i­tores”, nada mais é do que o claro exem­plo da par­tic­i­pação pop­u­lar.

Rachad­in­has, sucesso imo­bil­iários, oper­ação com din­heiro vivo, os “micheques”, tudo são ilusões, fake news, invenções.

Destru­ição do aparato inves­tiga­tivo de pro­teção do estado, uma medida salu­tar.

Algo muito semel­hante é o que ocorre na mitolo­gia lulopetista.

Para os “devo­tos” desta seita o ex-​presidente Lula é o mais inocente dos homens, uma alma casta que fez um gov­erno onde a cor­rupção não ape­nas nunca exis­tiu como os que que ten­taram foram impe­di­dos de fazê-​lo.

Os escân­da­los do men­salão, do petrolão, e tan­tos out­ros, não exi­s­ti­ram, não pas­saram de perseguição dos adver­sários através dos seus “braços” na imprensa e no judi­ciário, com um apoio prov­i­den­cial do Min­istério Público e da Polí­cia Fed­eral, ali­a­dos dos inimi­gos inter­na­cionais para impedir o avanço do Brasil e seu modo de gov­ernar, impedindo-​os de dar con­tinuidade ao cír­culo vir­tu­oso.

Tudo que cansamos de assi­s­tir nos gov­er­nos petis­tas, mes­mos os maiores escân­da­los estão sendo con­ver­tido em peças de fic­cionais, em coisas e situ­ações que nunca exi­s­ti­ram de ver­dade.

É assim que o bol­sonar­ismo e o lulismo se apre­sen­tam per­ante o país e o mundo: como víti­mas incom­preen­di­das do “sis­tema”.

Esses mitos são respal­da­dos por mil­hares ou mil­hões de sec­tários que “com­praram” tais con­tos da carochinha e ten­tam repas­sar para out­ros tan­tos mil­hões no propósito de faz­erem sua “ala” se tornar majoritária.

Pelo que assis­ti­mos nos gov­erno petis­tas e pelo que assis­ti­mos no atual gov­erno, a con­strução destes mitos não servi­ram ao país – que pouco ou nada avançou nas últi­mas décadas e que no atual gov­erno apon­ta­mos para um retro­cesso ainda maior –, muito pelo con­trário, servi­ram e vem servindo para o enriquec­i­mento de uns poucos e o empo­brec­i­mento da nação inteira.

Assim, voltando a inda­gação ini­cial, só con­sigo enx­er­gar um futuro promis­sor para o país a par­tir do momento que con­seguirmos vencer estes mitos que amaçam a nação e a impede de crescer.

E digo isso equidis­tante de qual­quer sen­ti­mento de aver­são pes­soal por ambos.

Vejam, em pleno século XXI, no Brasil, esta­mos falando na pos­si­bil­i­dade do atual pres­i­dente não recon­hecer o resul­tado das eleições pop­u­lares que ocor­rerão no próx­imo ano. Isso porque o próprio já ameaçou de não recon­hecer e lançar o país em guerra civil por diver­sas vezes.

Ainda hoje – e isso em relação as duas alas –, falam em cen­surar, fechar, con­tro­lar ou não ren­o­var con­cessões de veícu­los de comu­ni­cação porque dis­cor­dam de suas lin­has edi­to­ri­ais. E falam com nat­u­ral­i­dade e con­tando com o assen­ti­mento cúm­plice da plateia pois para ela é nor­mal que isso ocorra.

Essas são pau­tas atrasadas e incom­patíveis com o mundo que vive­mos hoje.

Quando pas­sam tais ideias e con­ceitos de como vêem o mundo não estão pen­sando para o futuro, mas, sim, para o pas­sado.

Estão plane­jando e se voltando para ditaduras que muito emb­ora ainda exis­tam no pre­sente têm ori­gens no pas­sado.

Diante de tudo que vejo só acred­ito no futuro para o país no curto e médio prazo se o povo brasileiro for capaz de der­ro­tar seus mitos.

Sem isso con­tin­uare­mos com uma nação divi­dida entre alas que ten­tam impor seus “pro­jet­inhos” atrasa­dos de república de bananas.

Abdon Mar­inho é advo­gado.