AbdonMarinho - Moro na terceira via.
Bem Vindo a Pag­ina de Abdon Mar­inho, Ideias e Opiniões, Sábado, 23 de Novem­bro de 2024



A palavra é o instru­mento irre­sistível da con­quista da liber­dade.

Moro na ter­ceira via.


MORO NA TER­CEIRA VIA.

Por Abdon Marinho.

LEM­BRO que min­has primeiras lições de política tive-​as com um sen­horz­inho já ido nos anos e que morava a duas casas da casa de meu pai, em Gonçalves Dias, chamado Paulo Santu, lá pelos fins dos anos setenta e começo dos oitenta, quando saindo do povoado Cen­tro Novo, fomos habitar aquela urbe.

Seu Paulo morava em uma casa antiga sim­ples em estilo neo­clás­sico com janelas altas e pare­des grossas. Era alfa­bet­i­zado e gostava muito de política. Era, tam­bém, um “devoto” de Sar­ney – e digo devoto no sen­tido lit­eral –, na sala prin­ci­pal, a de vis­i­tas”, de cimento queimado e pare­des caiadas, em meio aos retratos dos san­tos, lá estava, emoldu­rado, o retrato de Sar­ney. Se não me falha a memória, ao lado de um Sagrado Coração de Jesus e um de Nossa Sen­hora. Era o retrato do Sar­ney acadêmico da Acad­e­mia Brasileira de Letras — ABL que o mesmo con­fec­cionara logo após a posse da ABL e man­dara dis­tribuir aos seus ali­a­dos Maran­hão afora, jun­ta­mente com um suple­mento com o dis­curso, alguma obra ou biografia.

Eram tex­tos ou obras que o seu Paulo Santu lia com inigualável devoção. Nunca soube se chegou a con­hecer o ex-​presidente por quem nutria tanto apreço. Acred­ito que não.

Como amigo dos fil­hos –pois tinha uma vasta prole –, estava sem­pre por sua casa e vez ou outra con­ver­sava com ele.

Certa vez, falando sobre um político local, disse: —Ah, seu Paulo, agora Fulano se acabou. Ele, então me respon­deu: — Que nada, meu filho, todo cachorro tem suas pulgas.

Em outra situ­ação, tam­bém política, disse-​me que nunca vira alguém jogar pedras em árvores sem fru­tos. Além da clás­sica “não se chuta cachorro morto”.

Pois bem, faço essa intro­dução para aden­trar ao assunto prin­ci­pal deste texto: a via­bil­i­dade de uma ter­ceira via política pro­tag­on­i­zada pelo ex-​juiz e ex-​ministro Sér­gio Moro em um cenário de político de guerra onde se opõem os bol­sonar­is­tas e os lulis­tas.

Sem­pre achei que o brasileiro médio não é dado a rad­i­cal­iza­ção, preferindo um cam­inho mais ao cen­tro.

Disse isso em 2018 e acabei “que­brando a cara” pois uma grande parcela dos cidadãos brasileiros, cansa­dos com os des­gov­er­nos petis­tas, acabaram ele­gendo o sen­hor Bol­sonaro.

A despeito disso, acred­ito que a eleição do atual pres­i­dente foi um “ponto fora da curva”, que, acred­ito, não se repe­tirá em 2022.

Acred­ito, ainda, que o voto de protesto das últi­mas eleições dará lugar a uma decisão mais comedida.

Até então, por bene­fí­cio mútuo, as duas prin­ci­pais can­di­dat­uras postas apos­tavam na rad­i­cal­iza­ção dos dis­cur­sos.

Pois bem, a par­tir da fil­i­ação par­tidária de Moro os dois can­didatos acima começaram a mesclar os dis­cur­sos. Con­tin­uam apo­s­tando que a rad­i­cal­iza­ção poderá os levar a repe­tir o segundo turno de 2018, mas, já enx­er­gando que o “fator Moro” pode ser um complicador.

A prova disso é que se “uni­ram” nos ataques ao ex-​juiz.

Aí lem­brei das vel­has lições de Paulo Santu.

Se acham que a dis­puta se dará entre os dois, por quais motivos, ori­en­tam as “bases” e até mesmo pes­soal­mente, lançam ataques uni­formes a este can­didato? A resposta é que já devem ter descoberto que o pos­sível can­didato do Podemos tem poten­cial para crescer e ameaçar a vitória de ambos.

Primeiro, der­rotando um para ir para o segundo turno e, depois, der­rotando o que sobrar.

Não estivessem “vendo” tal pos­si­bil­i­dade, o com­por­ta­mento dos dois prin­ci­pais can­didatos seria outro: estim­u­lar o maior número de can­di­dat­uras da chamada “ter­ceira via”, frag­men­tando o máx­imo que pudessem tal votação e apostarem no dis­cur­sos rad­i­cais de sorte a repe­tirem o que ocor­reu há qua­tro anos.

Não deve­mos esque­cer o número recorde de abstenção, votos nulos ou bran­cos que tive­mos naquele pleito.

Nestes poucos dias após a fil­i­ação par­tidária, o ex-​juiz vem mostrando pos­suir a “liga” que pode agluti­nar todos os descon­tentes em torno de uma ter­ceira via.

As primeiras pesquisas ates­tam que já saiu na frente de Ciro Gomes, ex-​candidato à presidên­cia desde sem­pre e um dos quadros téc­ni­cos mais prepara­dos da República; e muito adi­ante dos demais nomes pos­tos que dev­erão dis­putar como “fig­u­rantes”.

Par­tidos grandes como o União Brasil (ex-​DEM e PSL) e per­son­agens impor­tantes, como o gen­eral aposen­tado San­tos Cruz, já se aprox­i­mam do Podemos e do ex-​juiz que, como can­didato, não ficou devendo muitos aos profis­sion­ais da política.

Do outro lado, emb­ora muito fortes, temos o Lula e o Bol­sonaro.

Os últi­mos acon­tec­i­men­tos rev­e­lam que o Lula e o petismo, depois de tudo, até mesmo de uma tem­po­rada como hós­pedes do estado, não apren­deram nada.

Con­tin­uam “ado­radores” de ditaduras asquerosas ao redor do mundo; defen­sores de pau­tas atrasadas; insul­tando a inteligên­cia do povo brasileiro e inca­pazes de uma autocrítica.

São os mes­mos Lula e PT que se opuseram a eleição no Colé­gio Eleitoral, em 1985, a Con­sti­tu­ição de 1988, a Plano Real; que defend­eram e par­tic­i­param da destru­ição da Venezuela; que extra­di­taram atle­tas persegui­dos para Cuba e que acham que eleições na Nicarágua com todo tipo de repressão é com­parável ao processo eleitoral da Ale­manha.

Por mais que ten­tem con­ser­tar a fala do Lula, a ver­dade é que ele acha que se Ângela Merkel pôde ficar no poder 16 anos, o seu amigo Daniel Ortega tam­bém pode, inde­pen­dente do faça para isso, inclu­sive, pren­der toda a oposição. Não foi assim na defesa do chav­ismo quando engen­dravam a destru­ição da Venezuela?

E sobre a cor­rupção nos gov­er­nos petis­tas? Insul­tam o povo com o dis­curso que nunca ocor­reu, tudo foi “perseguição do Moro”.

Fin­gem esque­cer que desde que chegaram ao poder, em 2003, se asso­cia­ram as maiores quadrilhas espe­cial­izadas em aliviar os cofres públi­cos; que o “men­salão” e depois o “petrolão” san­graram o país em bil­hões e bil­hões de dólares – pois cor­rupção que vale a pena tem que ser em dólar –, e que o Lula só está solto por conta de “inex­plicáveis” artifí­cios jurídi­cos e não por ser inocente.

Outro dia li que fal­tavam U$ 14 bil­hões de dólares para “fechar” a conta da inocên­cia do Lula. Este é o mon­tado recur­sos recu­per­a­dos ou a recu­perar antes que o “acórdão envol­vendo todo mundo” acabasse com a “Lava a Jato”.

Acred­ito que está conta diga respeito “ape­nas” aos que foram e estavam sendo recu­per­a­dos pela Oper­ação Lava Jato de Curitiba.

E o Bol­sonaro? O Bol­sonaro é ape­nas um pân­dego que nunca gov­ernou, nunca teve aptidão para gov­ernar e que nunca gov­ernará; o que diz durante o dia – nestes quase três anos de “des­gov­erno” –, foi des­men­tido no começo da noite, no máx­imo, no dia seguinte.

Com­pul­sivo pela men­tira e despreparado a não mais poder, fez disso uma estraté­gia para se man­ter no poder ainda iludindo uma massa de incau­tos, quando, na ver­dade, o gov­erno é exer­cido pelo “cen­trão”.

Sim, o mesmo cen­trão que foi :sócio majoritário” das ban­dal­has do petismo.

O mantra do incauto Bol­sonaro é dizer que é mel­hor ser do “cen­trão” do que do “esquerdão”, dis­curso tosco para a massa ignara.

Sem falar nas out­ras maze­las, como crise cam­bial, crise ambi­en­tal, crise san­itária, desmonte do serviço público, “rachad­in­has”, “micheques”, cartão cor­po­ra­tivo e ter­mos virado cha­cota no cenário inter­na­cional, mas, ape­nas, na prin­ci­pal “plataforma” do bol­sonar­ismo: o com­bate à cor­rupção, segundo dizem, o “bol­solão”, que nada mais é do que o velho “men­salão” dos gov­er­nos petis­tas, já con­sumiu, só esse ano, mais de R$ 30 bil­hões de reais.

Isso só através das chamadas “emen­das de rela­tor”, que Bol­sonaro pode­ria ter vetado e não fez, já levaram, “na cara dura”, dos cofres da viúva.

E vejam que coisa inter­es­sante: nos tem­pos da “nova política” do bol­sonar­ismo não querem nem que a pat­uleia saiba quem se locu­ple­tou do din­heiro público, “transparên­cia só daqui pra frente”.

Será que esse povo não “cora” de con­strang­i­mento ao defend­erem tais absur­dos? Quer dizer que as excelên­cias “levam” trinta bi do orça­mento da União e os idio­tas pagadores de impos­tos não têm nem o dire­ito de saber. É isso mesmo? Essa é a nova política?

Neste cenário de “Mad Max”, em que o povo brasileiro se depara com a pos­si­bil­i­dade de retorno ao desas­tre petista ou con­tin­uar com o gov­erno do cen­trão tendo à frente um pres­i­dente que “não diz coisa com coisa”, não é fora de propósito o aparec­i­mento de uma “ter­ceira via” capaz de se opor a ambos.

É assim que vejo essa ráp­ida ascen­são de Moro na ter­ceira via, sem con­tar que é muito engraçado assi­s­tir os lulopetis­tas e os bol­sonar­is­tas “unidos” con­tra alguma coisa.

Abdon Mar­inho é advogado.