AbdonMarinho - Reflexões para o futuro.
Bem Vindo a Pag­ina de Abdon Mar­inho, Ideias e Opiniões, Sábado, 23 de Novem­bro de 2024



A palavra é o instru­mento irre­sistível da con­quista da liber­dade.

Reflexões para o futuro.



REFLEXÕES PARA O FUTURO.

Por Abdon Marinho.

COS­TUMO DIZER que para começar­mos a enten­der o Brasil faz-​se necessário “olhar o quadro inteiro”, mais que isso, olhar para o pas­sado e para o pre­sente e intuir o que pre­ten­dem para o futuro.

Sem­ana pas­sada o Par­tido dos Tra­bal­hadores — PT “saudou” a eleição de Daniel Ortega, na Nicarágua, como a mais lídima man­i­fes­tação pop­u­lar, sobera­nia do povo sobre o “impe­ri­al­ismo”. Claro que depois da pés­sima recepção da man­i­fes­tação o par­tido lançou uma segunda nota dizendo que a nota ante­rior não fora sub­metida à direção par­tidária e que a posição do par­tido “é de defesa da autode­ter­mi­nação dos povos, con­tra inter­fer­ên­cia externa e respeito à democ­ra­cia, por parte de gov­erno e oposição”.

Ortega elegeu-​se para um quarto mandato con­sec­u­tivo tendo a esposa como vice-​presidente após pren­der sete adver­sários, mais de uma cen­tena de opos­i­tores em um arremedo de eleição mar­cada pela vio­lên­cia e pela pouca par­tic­i­pação pop­u­lar.

Em todo caso, não faria muita difer­ença se tivesse tido grande par­tic­i­pação pop­u­lar. Nas ditaduras, na maio­ria das vezes, o povo já foi de tal maneira alque­brado que até acha nor­mal o que lhe sucede, mesmo as pri­vações aos dire­itos mais ele­mentares.

O PT prati­ca­mente fez desa­pare­cer do seu site qual­quer refer­ên­cia ao processo eleitoral na Nicarágua, assim como, qual­quer notí­cia a respeito da ditadura venezue­lana, que já levou 95% da pop­u­lação a situ­ação de mis­éria; ou mesmo a Cuba ou a Cor­eia do Norte, out­ras ditaduras que sem­pre con­taram – e con­tam –, com o apoio e a sol­i­dariedade dos líderes petis­tas.

Esta sem­ana o sen­hor Bol­sonaro ini­ciou um périplo pelos países do mundo “onde se sente em casa”: as ditaduras mais repres­so­ras do Ori­ente Médio, lugar em que os gov­er­nantes tornaram-​se donos dos países, não admitindo qual­quer tipo de oposição, onde as mul­heres e as mino­rias não pos­suem quais­quer dire­itos e são tratadas como se fos­sem objeto e sujeitas a perderem a vida ao menor deslize.

Por detrás da opulên­cia dos seus mon­u­men­tais pré­dios e mesquitas existe uma história de opressão con­tra as mul­heres e mino­rias e inex­iste qual­quer espaço para dis­cordân­cia ou livre man­i­fes­tação de pen­sa­mento ou de opinião.

Claro, dirão os bol­sonar­is­tas, o pres­i­dente está falando e aper­tando as mãos de tais dita­dores no inter­esse do nosso país, fazendo negó­cios e trazendo divisas.

— “Ain”, Abdon é con­tra que se esta­beleça relações diplomáti­cas e comerciais?

Não é nada disso, até porque o sen­hor Bol­sonaro nunca teve esse tipo de pre­ocu­pação. Não estão, os gov­ernistas pre­ocu­pa­dos com as boas relações com­er­ci­ais no Ori­ente Médio.

Se estivessem pre­ocu­pa­dos com isso, com o comér­cio, com a solidez da nossa econo­mia, não teriam pas­sado dois anos “espez­in­hando” a China, prin­ci­pal par­ceira com­er­cial do Brasil.

E coloco o “espez­in­har” entre aspas – mil­hares delas –, porque o Brasil que pre­cisava (e pre­cisa) da China e não o con­trário – ainda mais naquele período de pan­demia incon­trolável.

Outra coisa, que história é essa (se for ver­dade) que o pres­i­dente e sua comi­tiva estão sendo “ban­ca­dos” por gov­er­nos estrangeiros? Viraram putas (com todo o respeito a essas profis­sion­ais)? Que relação com­er­cial é essa em que uma das maiores econo­mias do mundo aceita que o outro par­ceiro pague suas contas?

Logo, não se trata de acor­dos ou parce­rias com­er­ci­ais, mas, sim, afinidades “ide­ológ­i­cas”.

Algo bem semel­hante ao dis­curso petista da “grande man­i­fes­tação pop­u­lar e democrática” com que se referiu a “eleição na Nicarágua ou “autode­ter­mi­nação dos povos” quando se trata da defesa dos seus dita­dores de esti­mação.

Assi­s­tir Bol­sonaro e os seus embas­ba­ca­dos diante dos dita­dores do Ori­ente Médio não é muito difer­ente das solenidades “beija-​mão” pro­movi­das por Lula e os seus adu­ladores quando vis­i­tavam Fidel Cas­tro e/​ou mesmo, Hugo Chávez.

No que­sito amor a ditaduras, far­inha do mesmo saco.

Há quase vinte anos o petismo criou o men­salão, um mecan­ismo de com­pra de apoio par­la­men­tar, para fazer aprovar tudo que que­ria.

Por tal artifí­cio os par­la­mentares da “base” rece­biam um “extra” para apoiarem o gov­erno.

Os recur­sos ile­gais vin­ham de diver­sas fontes e irri­gavam as con­tas das excelên­cias.

Descoberto o esquema, mas já con­comi­tante a ele, cri­aram o “petrolão”, outro esquema de cor­rupção fun­dado na apro­pri­ação de empre­sas estatais – notada­mente a Petro­bras –, mas com ram­i­fi­cações noutros organ­is­mos estatais ou não como Banco Brasil, Caixa, BNDES, FNDE e tan­tos out­ros, lotea­dos entre os par­tidos para que dessem sus­ten­tação ao gov­erno.

A pat­uleia, por conta da Oper­ação Lava Jato e out­ras, acabou tomando con­hec­i­mento de uma pequena parte do muito que roubaram dos cofres públi­cos.

Quan­tias tão absur­das que tornou-​se comum o sub do sub do sub alguma coisa, em acor­dos de delação pre­mi­ada, oferecer-​se para devolver algo como cem mil­hões de dólares para não ser preso.

Além do PT, par­tido do pres­i­dente, quem tam­bém estavam na “linha de frente” dos escân­da­los de cor­rupção acima referi­dos, eram, entre out­ros, o PTB, de Roberto Jef­fer­son; o PP, de Ciro Nogueira e Arthur Lira; o PL, de Walde­mar da Costa Neto, futura “casa” do pres­i­dente; parte do DEM e do MDB, além de diver­sos out­ros.

São as mes­mas agremi­ações políti­cas, prati­ca­mente, as mes­mas pes­soas que deste os primeiros anos do petismo que “san­graram” a nação que con­tin­uam “dando as car­tas” na atual gestão.

Além de ocu­parem os mes­mos espaços políti­cos de antes – e se locu­pletarem como sem­pre –, na atual quadra política cri­aram uma nova modal­i­dade de cor­rupção o “bol­solão” que tam­bém atende pelo sin­gelo nome de “emenda do rela­tor”.

Quando “inven­taram” isso lá atrás disse que o Brasil cri­aram o par­la­men­tarismo irre­spon­sável, pois entre­garam uma parcela sig­ni­fica­tiva do orça­mento para ser admin­istrada pelo par­la­mento sem que hou­vesse qual­quer controle.

O tempo, sen­hor de tudo, com­prova que estava certo.

As emen­das de rela­tor ou “bol­solão” é ape­nas uma espé­cie de “neto” do velho men­salão dos primór­dios do petismo, que tem como propósito com­prar o apoio do par­la­mento para as medi­das do governo.

No que­sito ban­dalha, tudo como dantes no quar­tel de Abrantes.

Agora mesmo, quando o STF deter­mina que haja transparên­cia no empenho das tais “emen­das do rela­tor”, o Con­gresso Nacional reage, reclama de interferência.

Ora, ora, quer dizer que as excelên­cias, além dis­porem do orça­mento da união, ou seja do nosso din­heiro, não querem que saibamos para onde ele está indo? Ou será que não está indo? O que as excelên­cias querem ocul­tar? Por que o Con­gresso Nacional, quase todo, teme que se rev­ele quem foram (ou quem são) os ben­efi­ciários do bol­solão e para onde foram os bil­hões e bil­hões de reais que foram dis­tribuí­dos nos anos de 2019, 2020 e 2021? Quem da oposição rece­beu ou recebe mesada do gov­erno Bol­sonaro?

Nesta reflexão chamo atenção do leitor para a seguinte situ­ação: seja men­salão, seja petrolão, seja bol­solão, o “modus operandi” da turma que se encon­tra no poder é, com algu­mas vari­ações, o mesmo. E a vítima é sem­pre a nação.

O Brasil con­sti­tuiu uma casta per­dulária que fez – e con­tinua fazendo –, for­tuna a par­tir do pat­ri­mo­ni­al­ismo e da apro­pri­ação dos recur­sos públi­cos.

Acho engraçado quando ouço algum ingênuo (ou tolo) dizer que não existe cor­rupção no atual gov­erno, lem­bro sem­pre daquele velho bor­dão: sabe de nada, inocente.

Agora mesmo se diglad­iam em torno da tal PEC dos pre­catórios ou do calote – que tratare­mos em um texto especí­fico –, o dis­curso de quem a aprovou é que fiz­eram isso para per­mi­tir um bene­fí­cio de 400 reais para o “Auxílio Brasil”, o novo apelido da “Bolsa Família”.

Como nos tem­pos do gov­er­nos petis­tas usam os pobres e a neces­si­dades mais urgentes para escon­der os ver­dadeiros inter­esses.

No que­sito falta de orig­i­nal­i­dade, empate téc­nico.

Ninguém viu, por exem­plo, falarem que pode­riam elim­i­nar, neste e no próx­imo ano, as emen­das de rela­tor – que o pres­i­dente pode­ria ter vetado; ou que pode­riam sus­pender para as próx­i­mas eleições os recur­sos do fundo par­tidário ou fundo eleitoral; ou que pode­riam cor­tar pelo menos um terço das mor­do­mias e van­ta­gens que auferem.

Pois é, ninguém lem­bra disso, ninguém lem­bra que pode­riam encon­trar out­ras alter­na­ti­vas antes de apli­carem um calote em vel­hin­hos que, na sua maio­ria, esperam há uma vida para rece­berem o que lhes é dev­ido pela União.

Sabem por que fazem isso? A resposta é muito sim­ples: da verba do “calote” e do “furo de teto” tirarão um pedaço para si.

E assim cam­inha o Brasil rumo ao caos.

Cer­ta­mente não é isso que quer­e­mos para o futuro.

Abdon Mar­inho é advogado.