AbdonMarinho - Ditadura é ditadura.
Bem Vindo a Pag­ina de Abdon Mar­inho, Ideias e Opiniões, Sábado, 23 de Novem­bro de 2024



A palavra é o instru­mento irre­sistível da con­quista da liber­dade.

Ditadura é ditadura.


Ditadura é ditadura.

Por Abdon Mar­inho.

LEM­BRO que certa vez, há muitos anos – quase quarenta –, ainda ado­les­cente secun­darista do Liceu Maran­hense, está­va­mos na recepção do colé­gio, encosta­dos no bal­cão, e falá­va­mos sobre política.

Era mea­dos dos anos oitenta, o Brasil, depois de vinte e um anos, tinha um gov­erno civil. Era o Sar­ney, que formou-​se politi­ca­mente apoiando os generais-​ditadores, mas era civil e isso já pare­cia bastar.

Claro, crit­icá­va­mos a “nossa” ditadura recém-​sepultada mas, no calor da juven­tude, român­ti­cos e rev­olu­cionários, elogiá­va­mos o régime cubano.

Um pro­fes­sor que a tudo ouvia inter­veio: — quero dizer-​lhes que não existe ditadura boa, seja de dire­ita, seja de esquerda. Uma ditadura é uma ditadura e ponto, é um mal por si só.

Como disse, eram mea­dos dos anos oitenta, ainda exis­tia a União Soviética, a guerra fria, o mundo divi­dido entre dois blo­cos: o cap­i­tal­ista e o comu­nista.

Nas Améri­cas Cuba era a rep­re­sen­tante do bloco comu­nista e sobre ela o pro­fes­sor pro­fe­ti­zou: — para os dita­dores, ainda que no iní­cio da “sua rev­olução” ten­ham algum motivo nobre, com o tempo o que inter­es­sará será o poder pelo poder, será a explo­ração do povo para man­terem os seus priv­ilé­gios e do seu grupo. Fidel Cas­tro ficará no poder até se “cansar” e quando este dia chegar, pas­sará o poder ao irmão e quando este “cansar” pas­sará o poder para algum xerim­babo do par­tido, caso não tenha for­mado um quadro den­tro da própria família. E arrematava: essa é a lóg­ica das ditaduras.

Como tive­mos a opor­tu­nidade de con­statar, nestes quase quarenta anos, deu-​se tudo con­forme o meu pro­fes­sor dis­sera naque­les mea­dos dos anos oitenta. Há mais sessenta anos que a ditadura cubana luta para se man­ter ainda que para isso tenha como método a explo­ração, a opressão e sofri­mento do povo.

Agora mesmo assis­ti­mos a repressão aos protestos de cidadãos que cla­mam por mais liber­dade, por ali­men­tos, por vaci­nação.

Não se sabe quan­tos foram pre­sos ou deti­dos, o acesso à inter­net, prin­ci­pal­mente as redes soci­ais, foi cor­tado ou restrito.

Uma ditadura – pego a definição do dicionário Michaelis, para evi­tar polêmi­cas –, é “Gov­erno autoritário, unipes­soal ou cole­giado, car­ac­ter­i­zado pela tomada do poder político, com o apoio das Forças Armadas, em desre­speito às leis em vigor, com a con­se­quente sub­or­di­nação dos órgãos leg­isla­tivos e judi­ciários, a sus­pen­são das eleições e do estado de dire­ito, com medi­das con­tro­lado­ras da liber­dade indi­vid­ual, repressão da livre expressão, cen­sura da imprensa e ausên­cia de regras trans­par­entes em relação ao processo de sucessão governamental”.

Cuba, China, Nicarágua, Venezuela, Cor­eia do Norte, são exem­p­los claros de ditaduras de viés esquerdista. O Egito, Omã, Arábia Sau­dita, Fil­ip­inas são nações que podemos con­sid­erar como ditaduras com viés dire­itista.

Em todas elas temos como certo a opressão às liber­dades indi­vid­u­ais e o imped­i­mento à alternân­cia de poder ou a par­tic­i­pação do povo no seu próprio des­tino.

Faço tais refer­ên­cias ape­nas como ilus­tração – temos diver­sas out­ras nações, sobre­tudo na África e na Ásia onde a opressão dos cidadãos é a tônica dos gov­er­nos –, para trazer o debate sobre ditaduras para o cenário político brasileiro.

Na esteira do lev­ante dos cidadãos cubanos por mais liber­dade, ali­men­tos, vaci­nas, os brasileiros se dividi­ram: aque­les que se definem como de esquerda, defend­endo o régime cubano e os que se definem com de dire­ita, defend­endo o fim daquele régime.

Em comum, o que vi, da maio­ria deles, foi a mesma coisa: a defesa das ditaduras.

De um lado temos os devo­tos do lulopetismo defend­endo a car­co­mida ditadura cubana que há mais sessenta anos oprime e explora o povo cubano – assim como faz com a ditadura venezue­lana, a nicaraguense, a norte-​coreana e tan­tas out­ras ao redor do mundo.

Do outro lado temos os devo­tos do bol­sonar­ismo, que defen­dem uma ditadura no Brasil.

Desde que o sen­hor Bol­sonaro chegou ao poder, ele, o seu grupo mais seleto e uma troupe de “idio­tas inúteis”, defen­dem e tra­bal­ham pela retro­cesso democrático no nosso país, seguindo, inclu­sive, os mes­mos pas­sos dos regimes total­itários da Ale­manha, nos anos trinta, de Cuba, nos anos sessenta e da Venezuela, em tem­pos mais recentes.

Desde o iní­cio do gov­erno – e até mesmo antes –, tra­bal­ham para o descrédito das insti­tu­ições e dos Poderes do Estado, inter­fer­ên­cia nas Forças Armadas, com coman­dantes que ten­ham posi­ciona­mento político afi­nado com o gov­erno – quando sabe­mos que mil­itares não dev­e­riam ter qual­quer posi­ciona­mento político –, inter­fer­ên­cia na Polí­cia Fed­eral; “amor­daça­mento” do Min­istério Público, com a nomeação de Procurador-​Geral que só procura se dá bem com o atual gov­erno, etc.

Assim, desde o iní­cio do gov­erno mem­bros do gov­erno, servi­dores públi­cos nomea­dos por ele, orga­ni­zavam movi­men­tos públi­cos pedindo o fechamento do Con­gresso Nacional e do Supremo Tri­bunal Fed­eral — STF. Movi­men­tos dos quais até mesmo o pres­i­dente par­ticipou, fez comí­cio, etc.

Noutra quadra, não podemos esque­cer que dia após dia o pres­i­dente da República ataca min­istros e até mesmo as insti­tu­ições; que um dos fil­hos do pres­i­dente e dep­utado fed­eral disse que bas­taria um soltado é um cabo para fechar o STF e que tal dia chegaria e ainda fazendo uma defesa tosca do Ato Insti­tu­cional nº. 5, que o cidadão sequer sabe do que se trata.

Tam­bém não deve­mos esque­cer o fatos dos ali­a­dos do pres­i­dente não se ocu­parem de outra coisa que não seja atacar o STF e seus min­istros; o Con­gresso Nacional e seus inte­grantes, não no sen­tido da crítica con­stru­tiva, mas sim no propósito de criar um sen­ti­mento pop­u­lar de desapreço para jus­ti­ficar o intento golpista que sem­pre deixaram claro desde o iní­cio do gov­erno.

E volte­mos a Cuba.

Pois bem, vejo essas pes­soas crit­i­cando a ditadura cubana (ou venezue­lana, ou norte-​coreana, etc), sem nem ao menos se darem ao tra­balho de tro­carem de roupa para defend­erem uma ditadura no Brasil.

Muitos dos que falam ou escrevem críti­cas a ditadura cubana – sem­pre reforço tratar-​se de uma ditadura –, saíram às ruas no Brasil, pedindo inter­venção mil­i­tar, fechamento do Con­gresso Nacional e Supremo Tri­bunal Fed­eral, uma reed­ição do AI5, inter­venção nos esta­dos e municí­pios, etc.

O bol­sonar­ismo que tanto fala em “garan­tir”, “defender” a liber­dade dos cidadãos não des­cansa do propósito de devolver o país aos som­brios anos da ditadura mil­i­tar – já pedi­ram isso em man­i­fes­tações de ruas –, que nen­hum cidadão de bem tem saudade ou deseje exper­i­men­tar.

Já o lulopetismo, que tanto reclama dos pendões autoritários do atual gov­erno, é, tam­bém, um feroz defen­sor dos regimes dita­to­ri­ais ao redor do mundo e sonha com a implan­tação de um deles no Brasil.

Para eles Cuba é um exem­plo a ser seguido.

Como sem­pre digo, são as duas faces uma uma mesma moeda.

Ninguém mais torce pelo pleno resta­b­elec­i­mento da saúde de Bol­sonaro quanto os lulopeti­tas, assim como ninguém torce tanto para o can­didato a ser enfrentado pelo atual pres­i­dente seja o

Lula.

São siame­ses nos méto­dos e nos propósi­tos, e um pre­cisa do outro para sobreviver

Os brasileiros de bem pre­cisamos ficar aten­tos para não nos deixar­mos iludir com dois pro­je­tos que no fundo é o mesmo e se calça no obscu­ran­tismo, no atraso, na cor­rupção, no desin­ter­esse pelo pro­gresso do país.

Dois pro­je­tos cujos os expoentes são defen­sores de ditaduras que tanto infe­lic­i­taram e infe­licita os povos e que só não implan­taram aqui pela falta de condições obje­ti­vas para isso – mas insis­tem em via­bi­lizar.

Como dizia meu mestre: ditadura é ditadura. Não existe ditadura boa.

Temos que nos dá conta disso antes e não quando for tarde demais.

Não é sem muito pesar que teste­munho o quanto o Brasil insis­tem em andar para trás.

Abdon Mar­inho é advogado.