AbdonMarinho - O petismo é o pasto que alimenta o bolsonarismo.
Bem Vindo a Pag­ina de Abdon Mar­inho, Ideias e Opiniões, Domingo, 24 de Novem­bro de 2024



A palavra é o instru­mento irre­sistível da con­quista da liber­dade.

O petismo é o pasto que ali­menta o bolsonarismo.

O PETISMO É O PASTO QUE ALI­MENTA O BOL­SONAR­ISMO.

Por Abdon Marinho.

BUSQUEI out­ros temas para o nosso texto hoje – de prefer­ên­cia que pas­sasse longe da nossa tóx­ica pauta política –, entre­tanto, a sem­ana política no Brasil acabou por se impor sobre todas as out­ras.

Exceto para os tan­sos, o Brasil viveu/​vive uma sem­ana histórica para o seu futuro político e que pode ser deter­mi­nante para as futuras engen­harias políti­cas e as eleições de 2022.

A sem­ana histórica teve iní­cio no domingo, 17, com a aprovação pela Anvisa, das vaci­nas do con­sór­cio Butantan/​Sinovac e do con­sór­cio Oxford/​AstraZeneca/​Fiocruz, e ter­mina com dezenas de man­i­fes­tações, sobre­tudo, car­reatas con­tra o gov­erno em diver­sas cap­i­tais do país.

No episó­dio da vacina tudo que o gov­erno fed­eral se propôs a fazer con­tra si saiu, mel­hor do que a encomenda.

Nega­cionista desde o iní­cio da pan­demia, não acred­i­tou que ela fosse cei­far tan­tas vidas; com os mor­tos se acu­mu­lando min­i­mi­zou ou “con­solou” os famil­iares e víti­mas: — todos vão mor­rer um dia; enquanto o mundo inteiro apos­tava e inves­tia no desen­volvi­mento de vaci­nas e se prepar­ava para quando ela estivesse pronta, o gov­erno brasileiro apos­tou em ape­nas uma: a da parce­ria Oxford/​AstraZeneca/​Fiocruz.

Foi além e fez pior. Como se uma vacina fosse a causa e não a solução, “danou-​se” a falar mal da vacina do con­sór­cio Butantan/​Sinovac, de “que­bra”, o próprio pres­i­dente, seus famil­iares e seu gov­erno, pas­sou a fusti­gar a China, que, diga-​se de pas­sagem, é o prin­ci­pal par­ceiro com­er­cial do Brasil e de onde vem a grande maio­ria dos insumos para se pro­duzir vaci­nas e… quase tudo.

Como a vacina do con­sór­cio Butantan/​Sinovac estava sendo “ban­cada” pelo gov­erno de São Paulo, dirigido por seu prin­ci­pal adver­sário político, além de torcer pelo seu insucesso, vibrar diante de qual­quer inter­cor­rên­cia, além de falar mal, de manhã, de tarde e de noite, lá atrás, aten­dendo – ou respon­dendo –, a um “con­sel­heiro” de uma de suas redes soci­ais, de ape­nas 17 anos, proibiu e desautor­i­zou o seu min­istro da saúde – que um dia antes anun­ciara, em reunião com todos os gov­er­nadores do país, a intenção de adquirir a dita vacina –, de efe­t­uar o negó­cio.

O Brasil tem dessas coisas que só viven­ciando para se acred­i­tar, essa foi uma delas: um gen­eral de exército de qua­tro estre­las foi desautor­izado pela inter­venção de um fedelho de 17 anos.

O pres­i­dente disse tex­tual­mente que o pres­i­dente era ele e que não iriam com­prar a p* da vacina chi­nesa do gov­er­nador das calças aper­tadas. Ele que procurasse outro.

O gen­eral, na defesa de sua honra, diante do escu­la­cho, saiu-​se com essa: “é sim­ples, um manda, outro obe­dece”.

Enquanto o tempo pas­sava o gov­erno de São Paulo ia recebendo as doses da vacina do seu con­sór­cio e pro­duzindo out­ras tan­tas, ficando só na dependên­cia da autor­iza­ção da Anvisa para ini­ciar a vaci­nação.

Com a faca e o queijo na mão, digo a vacina, o gov­er­nador de São Paulo mar­cou uma data para ini­ciar a vaci­nação de seus cidadãos: 25 de janeiro, ele­vando a pressão sobre o gov­erno fed­eral, que não tinha/​tem plano, nem vacina.

Somente quando encur­ral­ado pela real­i­dade: mais de cinquenta países já tendo ini­ci­ado a imu­niza­ção de seus cidadãos e o Brasil sem nem pre­visão, foi que o gov­erno cor­reu para ten­tar des­dizer tudo que havia dito e feito.

A “vachina” chi­nesa do Dória, com 50% por cento de eficá­cia e que pode­ria fazer as pes­soas que a tomassem virar “jacaré” pas­saria a ser a vacina do Brasil e Min­istério da Saúde que­ria todo o estoque imediatamente.

Registre-​se que o gov­erno fed­eral ainda ten­tou uma “Oper­ação Taba­jara” para bus­car dois mil­hões de doses de vaci­nas do con­sór­cio Oxford/​AstraZeneca, que vamos com­bi­nar é uma “amostra grátis”, com­parado a nossa neces­si­dade, para ini­ciar a vaci­nação dos cidadãos por ela, com pres­i­dente levando os louros.

Não deu certo. Só essa sem­ana os dois mil­hões de doses chegaram da Índia. Pior, a Fiocruz anun­ciou que ter­e­mos pro­dução de vaci­nas desta parce­ria no Brasil, lá por março.

O certo é que no dia 17/​01, pouco depois da Anvisa lib­erar o uso das duas vaci­nas, o gov­er­nador de São Paulo, tirava sua “casquinha política” ao ini­ciar a vaci­nação dos cidadãos do seu estado con­tra a COVID.

Se o pres­i­dente não estava lendo gibi ou tro­cando impressões sobre a macro­econo­mia global com seus coleguin­has de 17 anos das suas redes soci­ais, assis­tiu a tudo pela tele­visão. Assis­tiu, inclu­sive, seu min­istro da saúde men­tir em rede nacional ao dizer que as vaci­nas foram custeadas com recur­sos do SUS para ser des­men­tido na mesma hora pelo gov­er­nador de São Paulo que, tam­bém, con­ce­dia uma entre­vista cole­tiva.

Na mesma sem­ana o gov­erno fed­eral teve que assi­s­tir, para suprema ver­gonha, a ditadura venezue­lana, que está matando seus cidadãos de fome, enviar cam­in­hões com supri­men­tos de oxigênio para socor­rer a pop­u­lação do Ama­zonas que estava – e ainda está –, per­dendo vidas por falta de oxigênio.

Pois é, uma ditadura ver­gonhosa e mis­erável teve que socor­rer nos­sos cidadãos porque o gov­erno brasileiro que dias antes fora avisado do prob­lema “não ligou” ou não se mostrou capaz de resolver. Par­tiu foi para a ter­ce­i­riza­ção da respon­s­abil­i­dade. Ah, o cul­pado é o gov­er­nador; ah, o cul­pado é o prefeito; ah, o cul­pado é o dire­tor do hos­pi­tal; ah, o cul­pado é a vítima – afi­nal, quem man­dou pre­cisar de oxigênio.

Na ver­dade só quem não tem culpa é vítima. Todos demais têm culpa e respon­s­abil­i­dades, inclu­sive, o gov­erno fed­eral.

O nosso sis­tema de saúde, uma das mel­hores coisas implan­tadas pela Carta de 1988 e dis­ci­plinado pela Lei 8080, é único e hier­ar­quizado, com cada esfera de poder assu­mindo suas respon­s­abil­i­dades.

Ainda que o Min­istério da Saúde, que na esfera fed­eral é quem coman­dava sis­tema todo, não tivesse “nada” com o prob­lema de escassez de oxigênio, ele tinha a obri­gação de ado­tar as medi­das cabíveis para que isso não ocor­resse.

E ele, o Min­istério, foi avisado com ante­cedên­cia do prob­lema.

E por diver­sas fontes.

A respon­s­abil­i­dade parece tão patente que até o procurador-​geral da República, que tem uma preguiça mór­bida para “procu­rar” algo que envolva o gov­erno fed­eral, pediu ao Supremo que abrisse um inquérito para inves­ti­gar e apu­rar as cir­cun­stân­cias do mor­ticínio ocor­rido em Man­aus, Amazonas.

O gov­erno do sen­hor Bol­sonaro vive um mau momento, tanto que ele já cor­reu para des­dizer diver­sas coisas que disse ao longo dos últi­mos anos e parte para fazer mais con­cessões ao grupo que lhe dá sus­ten­tação no Con­gresso Nacional, o famoso “cen­trão” – pois já são insis­tentes os pedi­dos de impeach­ment, o que impli­caria, com ou sem êxito, no fim do gov­erno –, enquanto acena para as Forças Armadas, ten­tando seduzi-​las para um golpe.

No dia seguinte ao iní­cio da vaci­nação, enquanto todo mundo estava falando disso, do nada, saiu com a declar­ação torta de que só existe democ­ra­cia porque as Forças Armadas querem, mais para frente, almoço no clube mil­i­tar.

Toda vez que o gov­erno é con­frontado com a real­i­dade, o pres­i­dente corre para trás de uma farda. E olha que ele não se cansa de humil­har os mil­itares, que o diga o gen­eral Paz­zuelo.

Como dito ante­ri­or­mente o gov­erno do sen­hor Bol­sonaro se encon­tra em um pés­simo momento. As últi­mas pesquisas já rev­e­lam isso.

A rejeição ao gov­erno já é bem supe­rior a aprovação e existe uma tendên­cia de piora com o fim do auxílio emer­gen­cial e o aumento da pobreza decor­rente disso.

Com isso, o pro­jeto de reeleição “subiu no tel­hado”.

Emb­ora propague – de forma cal­cu­lada –, que foi eleito no primeiro turno, o sen­hor Bol­sonaro é sabedor que a sua eleição, mas do que qual­quer outra coisa, foi um rechaço ao petismo.

Muitos eleitores não foram votar em Bol­sonaro, foram votar con­tra o PT, que desde 2005 sabe dos seus desac­er­tos e até hoje não fez uma autocrítica ou pediu des­cul­pas ao povo brasileiro.

Na próx­ima eleição, Bol­sonaro será o PT. As pes­soas irão às urnas, sem olhar para o outro lado, porque querem derrotá-​lo.

O pres­i­dente Bol­sonaro e os poucos no seu entorno que pen­sam, sabem disso. Ele próprio sabe disso, tanto assim que essa sem­ana histórica, enquanto via sua aceitação ruir, numa de suas falas, disse esperar que o seu suces­sor não seja uma volta ao pas­sado.

Aliás, toda vez que alguém crit­ica o gov­erno ou o próprio Bol­sonaro diante de um bol­sonar­ista, não se ouve uma defesa do gov­erno ou do pres­i­dente. O que se ouve em ambas as defe­sas é: — e o PT? E o Lula? Ou, o supremo sar­casmo: — bom mesmo era com o PT.

Na ver­dade, tudo que ele e os bol­sonar­is­tas querem é uma nova dis­puta com um can­didato petista, para tentarem gal­va­nizar todo o sen­ti­mento anti­cor­rupção que pavi­men­tou sua vitória em 2018 – muito emb­ora seja ele, hoje, o “fiador” de todos os cor­rup­tos que se far­taram nos gov­er­nos petis­tas.

Sabem muito bem que a via­bi­liza­ção de alguém com­pet­i­tivo fora do espec­tro petista – e seus satélites –, pelas razões já ditas, não será tão fácil de ser derrotado.

Noutra palavras, como assen­tei no título, o petismo é o pasto que ali­menta o bolsonarismo.

Abdon Mar­inho é advo­gado.