AbdonMarinho - Uma trégua de Natal
Bem Vindo a Pag­ina de Abdon Mar­inho, Ideias e Opiniões, Sábado, 23 de Novem­bro de 2024



A palavra é o instru­mento irre­sistível da con­quista da liber­dade.

Uma trégua de Natal

UMA TRÉGUA DE NATAL.

Por Abdon Marinho.

UM amigo reclama da ausên­cia dos tex­tões – pois é, tem quem sinta falta. Rsrsrs.

Impus-​me essa parada pouco antes do Natal e que deve ir até o Dia de Reis. Fiz isso, não pela falta de assun­tos para comen­tar, pelo con­trário. Decidi parar jus­ta­mente pelo excesso de assun­tos de uma pauta política que não encon­tra um momento de trégua.

O Brasil, entenda-​se com isso, o con­junto dos cidadãos brasileiros, parece-​me, não saber mais o sig­nifi­cado de Natal, Ano Bom, dia de Reis, tudo é polit­ica, tudo é enfrenta­mento, tudo é guerra ide­ológ­ica.

A pauta política, como se estivesse acima de tudo e de todos, é o que os guia. Não sabem mais o que sig­nifica trégua natalina, essa reta final do ano em que as pes­soas – era assim até bem pouco tempo –, se ded­ica a reflexão sobre o sen­tido da vida, rep­re­sen­tado pela comem­o­ração do nasci­mento do Menino Jesus e a fé em um futuro mel­hor que se chamava de “Ano Bom”.

Sufo­caram o país com os debates extrema­dos e ninguém mais ligou para o sen­tido do Natal e do Ano Bom.

O que inter­essa, a única coisa que pas­sou a inter­es­sar ao país, é o insano debate político.

Cheg­amos ao ponto de, na noite de Natal, o pres­i­dente da República, ao invés de se diri­gir à nação com um dis­curso de con­forto pelo natalí­cio do Deus Homem, ocupou-​se, em sua live sem­anal de fazer pros­elit­ismo sobre suas pau­tas políti­cas, em espe­cial aquela que lhe parece mais cara: armar a pop­u­lação civil ou a for­mação de milí­cias, sob o argu­mento de que “os ban­di­dos já estão armados”.

Em tese, pes­soal­mente, não sou refratário a ideia de que o cidadão tem o dire­ito de adquirir armas para a defesa pes­soal, entre­tanto, não acred­ito que essa deva ser a pauta do país em um momento de tamanha difi­cul­dade para todo mundo por conta de uma pan­demia e com o país chegando próx­imo à estar­rece­dora marca de 200 mil mor­tos pela covid-​19.

Em um país em a pop­u­lação de pes­soas por­ta­do­ras de neces­si­dades espe­ci­ais é de quase dez por cento, parece-​me um escárnio que se fale em armar a pop­u­lação e zerar as tar­i­fas de impor­tações de armas e, ao mesmo tempo man­ter tar­i­fas de impor­tação para pro­du­tos médi­cos e/​ou ortopédi­cos.

Ainda mais, que seja esta a pauta a ser tratada na noite de Natal.

Se já era um excesso o dis­curso arma­men­tista do pres­i­dente da República na noite de Natal ou invés de uma men­sagem de con­forto para uma uma pop­u­lação assom­brada pela mais tragé­dia human­itária deste século, a reação ou con­tra­posição de um gov­er­nador de estado a tal dis­curso, com­para­ndo o man­datário da nação à “besta fera” e que tal fala seria coisa de “satanás”, ape­nas com­prova a que nível chegou a política nacional.

Em uma nação onde mais de noventa por cento da pop­u­lação se diz cristã, para a prin­ci­pal data da cri­stan­dade, o nasci­mento de Jesus Cristo, autori­dades “con­vi­dam” para Ceia de Natal, “milí­cias armadas”, a “besta fera” e “satanás”.

Pois é, para a des­graça da nação, parece-​nos que as “autori­dades” já não pos­suem qualque senso de pro­por­cional­i­dade, de decoro ou mesmo do ridículo.

Será que alguém achou nor­mal que na noite de Natal fos­sem feitos tais dis­cur­sos?

O pior é que a pop­u­lação – ou devo dizer, o gado trav­es­tido de mil­itân­cia –, achou nor­mal e, na véspera de natal, na própria noite de Natal, ao invés de estarem com suas famílias saudando o nasci­mento de Jesus, estavam de lado a lado, reper­cutindo as insanidades de seus líderes.

A insanidade que toma conta da política nacional chegou a esse “estar­rece­dor” ponto.

Por tudo isso – até porque não tocarei bum­bos para malu­cos dançarem –, resolvi esta­b­ele­cer uma “trégua natalina”, que, como dito ante­ri­or­mente, deve durar até o Dia de Reis, data, segundo a tradição cristã, encerra-​se o cír­culo do nasci­mento de Jesus Cristo.

Essa foi a razão para não ter me man­i­fes­tado sobre tan­tos assun­tos que os políti­cos insanos impuseram à pop­u­lação como os mais rel­e­vantes para a sociedade.

Tudo isso, repito, pas­sando por cima de toda a tradição de respeito ao período natal­ino.

Con­fesso que fique ten­tado a manifestar-​me sobre a “pauta maluca”, mas me con­tive para não lhes dar esse “gostinho”, como dizíamos ante­ri­or­mente.

O restante da pop­u­lação dev­e­ria fazer o mesmo. Sim­ples­mente igno­rar as insanidades pro­tag­on­i­zadas pelos líderes da nação pois nen­hum deles têm qual­quer inter­esse no bem-​estar do povo.

Para eles o povo não mere­cem qual­quer respeito e não pas­sam de “massa de manobra” para os seus pro­je­tos de poder.

Essa pauta política que não encon­tra uma trégua nem na noite de Natal trata-​se ape­nas de briga pelo poder, nada além disso. E, pior, ninguém tem inter­esse em con­quis­tar e deter o poder em prol do bem comum, mas, ape­nas dos seus próprios inter­esses.

A guerra política e o inces­sante enfrenta­mento é uma “dis­tração” para man­ter o povo sec­tário de ambos os lados e inca­pazes de enx­er­garem o que ver­dadeira­mente são: líderes de “pés de barro”, incon­sis­tentes ide­o­logi­ca­mente e incom­pen­tentes nos e exer­cí­cios dos mandatos que lhe foram con­fi­a­dos.

Este é um dos motivos para a “guerra política”.

Sem as “dis­trações” as pes­soas terão tempo para examiná-​los e, inclu­sive, perce­ber as fal­has de caráter que pos­suem.

Por isso que não respeitam as tradições do Natal e de ano bom, pois é impor­tante man­ter a beligerân­cia entre seus “fac­ciona­dos”.

Entra dia, sai dia, e as “guer­ras fakes” inun­dam as redes soci­ais, os gru­pos de aplica­tivo como se não hou­vesse qual­quer outro inter­esse do povo enquanto mil­hares já perderam a vida e out­ros tan­tos ainda a perderão. Nem o recesso natal­ino e de ano são respeita­dos. Nem mesmo a noite de Natal, con­forme assis­ti­mos estarrecidos.

Vejam que mesmo em guer­ras de ver­dade é comum se obser­var tréguas de natal.

O exem­plo mais tocante neste sen­tido deu-​se no Natal de 1914, na Primeira Guerra Mundial, nas prox­im­i­dades da cidade de Yprès, Bél­gica. Durante meses de inten­sos com­bates e em trincheiras próx­i­mas, na noite de 24 de dezem­bro, os com­ba­t­iam seus inimi­gos começaram a sair de suas trincheiras desar­ma­dos e irem para “terra de ninguém”, onde pode­riam ser abati­dos por seus inimi­gos, para desejarem-​lhes feliz natal. Naquela noite e no dia seguinte, a trégua de natal foi respeitada. Sem ordens supe­ri­ores, sem políti­cos deter­mi­nando. Ape­nas homens que enten­diam o real sig­nifi­cado do Natal.

A guerra depois prosseguiu e, infe­liz­mente, por muitos anos. Mil­hares de vidas foram per­di­das e muitos daque­les sol­da­dos e seus supe­ri­ores punidos. Mas nada tira a grandeza daquela trégua de Natal.

Aqui, nas nos­sas “guer­ras fakes” do dia a dia, nem o nasci­mento de Cristo é capaz de deter­mi­nar uma trégua.

Não para nós e para os homens de boa von­tade.

Temos muitos assun­tos a tratar, mas fare­mos isso no tempo certo.

Abdon Mar­inho é advo­gado.

Comen­tários

0 #1 Amélia 10-​01-​2021 14:40
A sede de per­manecer no poder somada a impul­sivi­dade infan­til de quem não apren­deu a perder, resul­tou nessa situaç ridícula
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