AbdonMarinho - As omissões injustificadas e o Queiroz.
Bem Vindo a Pag­ina de Abdon Mar­inho, Ideias e Opiniões, Sábado, 23 de Novem­bro de 2024



A palavra é o instru­mento irre­sistível da con­quista da liber­dade.

As omis­sões injus­ti­fi­cadas e o Queiroz.

AS OMIS­SÕES INJUS­TI­FI­CADAS E O QUEIROZ.

Por Abdon Marinho.

OS ASSUN­TOS mais comen­ta­dos no estado nesta sem­ana que finda foram o assas­si­nato do jovem pub­lic­itário Diogo Costa, sobrinho-​neto do ex-​presidente da República José Sar­ney e a acusação, prisão e soltura do jovem apon­tado como respon­sável pelo crime, após com­pro­vação de que fora injus­ta­mente acu­sado – como bem diria o saudoso amigo João Dam­a­s­ceno Mor­eira –, de um crime impos­sível.

Uma tragé­dia den­tro de outra tragé­dia.

Ambas com dores e sofri­men­tos a famil­iares e amigos.

Imag­inem um jovem boa praça, querido por todos, com pouco mais quarenta anos, com família, ami­gos, num dia qual­quer ao sair para resolver algum assunto, ser assas­si­nato prati­ca­mente na porta de casa por conta de um triv­ial aci­dente de trân­sito.

De repente você está vivo, apre­ciando dia de sol, pen­sando em encon­trar os ami­gos logo mais, levar o cachorro para passear, resolver um assunto de tra­balho, abraçar um famil­iar e, num pis­car de olhos, você jaz morto, esten­dido no asfalto quente, coberto por um papelão ou um pedaço de pano que alguma alma cari­dosa colo­cou para evi­tar a exposição a alguma câmera ou olhares indiscretos.

Imag­inem um “quase” ado­les­cente, com pouco mais de vinte anos, igual­mente boa praça, igual­mente querido por todos, que nunca se envolveu em con­fusão, com família, ami­gos, tra­balho e tudo mais, ser acu­sado de haver cometido um crime bár­baro.

De repente você está em casa, des­cansando do almoço ou de um dia de tra­balho, batendo um papo com a família ou com algum amigo e chega a polí­cia e o arrebata do seio da família; pouco depois está diante de um del­e­gado que lhe imputa o crime que acabara de acon­te­cer con­tra um “fig­urão”; pouco depois você está sendo fotografado com far­da­mento do presí­dio; sua imagem, seu nome sendo “vaza­dos” para a imprensa; daí a pouco, seu nome, imagem, fil­i­ação – como um trav­es­seiro de penas que se ras­gou –, voam pelo mundo enquanto você é lev­ado ao cárcere ao encon­tro de pes­soas estranhas.

De nada lhe vale que jure inocên­cia, que seus pais, par­entes e/​ou ami­gos digam que não foi você, a con­vicção da autori­dade é que você come­teu o crime bárbaro.

Mesmo para quem está “fora” da situ­ação, que não con­hece nen­hum dos envolvi­dos, desde que con­siga sen­tir empa­tia pelo próx­imo, não tem como ficar indifer­ente a situ­ações de tamanha gravidade.

A morte, claro, é a tragé­dia maior, mas o que acon­te­ceu a esse quase ado­les­cente, acu­sado injus­ta­mente por um crime que não come­teu, vem logo atrás. Não vem muito dis­tante da morte.

É o ver­dadeiro pesadelo kafkiano.

Um amigo meu, advo­gado expe­ri­ente na área crim­i­nal, cos­tu­mava dizer que em inter­ro­gatórios os crim­i­nosos cale­ja­dos pela vida de crimes, saiam-​se mel­hores do que aque­les cidadãos de bem, que acabara de come­ter seu primeiro delito ou que nunca come­teram nen­hum e estavam sendo acu­sa­dos injustamente.

Pois bem, a tragé­dia que viti­mou o pub­lic­itário ocor­reu pouco antes do meio dia de terça-​feira, pelo que fiquei sabendo ao acom­pan­har a notí­cia dos blogues, pouco depois das 19 horas, pelos mes­mos canais, já éramos infor­ma­dos que o crime havia sido solu­cionado e até o final do dia, o suposto crim­i­noso já estava no cárcere.

Ponto para a polí­cia! Prego batido, a ponta virada.

Na veloci­dade em que cor­riam as notí­cias, com base nas infor­mações poli­ci­ais, já expondo a fotografia do sus­peito preso pre­ven­ti­va­mente pelo hor­rendo crime, divulgou-​se até que o rapaz havia con­fes­sado o crime, dizendo que o tiro não era para matar.

No dia seguinte, graças ao esforço da família e ao tra­balho de seus advo­ga­dos, começou-​se a ques­tionar a elu­ci­dação do crime, vídeos sur­gi­ram mostrando que o carro per­ten­cente ao pai do sus­peito estaria esta­cionado no local de tra­balho de onde saiu com o pai e o sus­peito pouco depois do homicí­dio.

A polí­cia, con­forme noti­ciou a imprensa, con­testou a argu­men­tação da defesa, mas, con­frontada pelo exame feito pelo Insti­tuto de Crim­i­nalís­tica, que apon­tou ser outro o mod­elo de carro e não o do pai do sus­peito, quedou-​se à real­i­dade dos fatos.

A quinta-​feira ini­ciou com a notí­cia de que o crime bár­baro ocor­rido numa área nobre da cidade, repleta de vig­ilân­cia, não estava solu­cionado; que havia um inocente preso e um carro rou­bado, com placa falsa cir­cu­lando pela cidade.

No final do dia (quinta-​feira) o já ex-​suspeito era posto em liber­dade e retor­nava à sua casa onde foi rece­bido, com muita emoção, pelos famil­iares, viz­in­hos e amigos.

Em meus vagares fico angus­ti­ado pelo “e se”. E se o rapaz não tivesse um álibi forte? E se seus pais, ami­gos, par­entes e advo­ga­dos não tivessem movido céus e terra na busca da ver­dade? E se o vídeo das ime­di­ações do local de tra­balho do pai do rapaz não exis­tisse?

É angus­tiante pen­sar que o rapaz, um quase ado­les­cente, ainda estivesse preso; seria denun­ci­ado, con­de­nado e pas­saria muitos anos no cárcere por um crime que não cometeu.

O assas­sino restaria solto; o homicí­dio do jovem pub­lic­itário, querido por todos, impune.

E se você com você? Com alguém de sua família? Ter­rível pen­sar nisso, não é?

Aqui que entra o Queiroz.

O leitor que teve a gen­til paciên­cia de ler o texto até aqui deve se per­gun­tar: o que dia­bos tem o Queiroz com o texto?

Pois é, não dev­e­ria ter, mas tem.

Na quinta-​feira, no ápice de uma sem­ana trág­ica, com os fatos nar­ra­dos acima tomando conta do noti­ciário local, o gov­er­nador do estado não ocupou suas redes soci­ais para falar fatos de tamanha gravi­dade envol­vendo seus admin­istra­dos, mas ocupou para falar da prisão do cidadão Fab­rí­cio Queiroz, amigo do pres­i­dente da República, ex-​assessor de seu filho Flávio Bol­sonaro.

Foram diver­sos tuítes, retuítes do gov­er­nador tratando da prisão do Queiroz, do fato do mesmo ter sido encon­trado homiziado na casa do advo­gado da família Bol­sonaro, etc., mas não dis­pen­sou um min­uto para falar de dois fatos graves sobre os quais tem respon­s­abil­i­dade direta: a segu­rança dos cidadãos e o tra­balho da polícia.

Não dis­cordo que a prisão do sen­hor Queiroz é rel­e­vante – tratarei dela, inclu­sive, no próx­imo tex­tão –, mas, sua excelên­cia tratar deste assunto e igno­rar com­ple­ta­mente o que ocorre “sob suas bar­bas”, no seu gov­erno é um despropósito, uma falta de senso, sol­i­dariedade e empa­tia para com os maran­henses.

Vejam, mesmo o Bol­sonaro, que descon­heço quem o asses­sora, tra­tou – de forma equiv­o­cada, ao meu sen­tir –, da prisão do Queiroz, mas, para o gov­er­nador do Maran­hão e seu gov­erno, tudo que acon­te­ceu essa sem­ana no estado é como se não tivesse qual­quer gravi­dade.

Duas famílias sofr­eram hor­rores, a segunda, dire­ta­mente por uma ação do polí­cia que comanda e é como se nada tivesse acon­te­cido, é como se nada estivesse acon­te­cendo.

O impor­tante, para sua excelên­cia, é a prisão do Queiroz.

Eu entendo que a polí­cia possa come­ter erros – são humanos –, ainda que alguns me pareçam primários, como parece ser o que ocor­reu nesta última semana.

O que não com­preendo e não entendo é a razão – diante de um erro cometido –, que as autori­dades não peçam des­cul­pas, às víti­mas, aos famil­iares, aos ami­gos das víti­mas e à sociedade.

Em out­ros lugares do mundo – e mesmo no Brasil –, é comum as autori­dades pedi­rem des­cul­pas pub­li­ca­mente quando elas próprias ou seus sub­or­di­na­dos come­tem erros, aqui, não.

É como se nada devessem à pat­uleia ignara.

Emb­ora menos grave – pelo resul­tado final –, o que ocor­reu nesta sem­ana que finda não é o primeiro erro grave cometido pela segu­rança pública estad­ual.

Antes deste fato tive­mos o hor­ro­roso episó­dio do cidadão que foi lev­ado para uma “gaiola” ao relento onde veio a mor­rer, no Municí­pio de Barra do Corda; antes deste tive­mos a desastrada ação da polí­cia em Bal­sas, que metral­hou um carro, levando a morte uma jovem que mal começara a vida.

Estes só os fatos que lembro.

Em todos estes casos – e talvez exis­tam out­ros –, não se tem notí­cias de um pedido de des­cul­pas ofi­cial do gov­er­nador e demais autori­dades ou mesmo uma man­i­fes­tação de solidariedade.

Não se tem notí­cias de qual­quer sat­is­fação à sociedade.

É como se estes fatos e a vida das pes­soas, o sofri­mento de seus ami­gos e par­entes não tivessem qual­quer importân­cia.

Como disse – e repito –, erros ou mesmo exces­sos podem até acon­te­cer, mas pre­cisam ser punidos e, prin­ci­pal­mente, as víti­mas e/​ou seus famil­iares e ami­gos, e a sociedade, de forma geral, mere­cem um pedido de des­cul­pas.

Não encon­tramos nada neste sen­tido. Nem no site ofi­cial do gov­erno, nem site da sec­re­taria, nem nas redes soci­ais de sua excelên­cia. Nada.

Mas o Queiroz está preso.

Abdon Mar­inho é advogado.

Comen­tários

0 #1 Luis 24-​06-​2020 19:39
Você já ouviu falar em RINO­PLAS­TIA? Sabe o que é? E para que serve?…Equem precisa?…Tenho uma em nada leve sus­peita de que pre­cisa se interar mais da RINOPLASTIA!
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