AbdonMarinho - OS BOLSONARO E O LEÃO DA METRO.
Bem Vindo a Pag­ina de Abdon Mar­inho, Ideias e Opiniões, Domingo, 24 de Novem­bro de 2024



A palavra é o instru­mento irre­sistível da con­quista da liber­dade.

OS BOL­SONARO E O LEÃO DA METRO.

OS BOL­SONARO E O LEÃO DA METRO.

Por Abdon Marinho.

O SAUDOSO senador Epitá­cio Cafeteira tinha umas “tiradas” formidáveis. Vez ou outra, para fusti­gar um adver­sário, saia-​se com essa: — Fulano é como o leão da Metro.

Era uma alusão à famosa empresa de entreten­i­mento amer­i­cana Metro-​Goldwyn-​Mayer Inc., ou MGM, que ostenta na sua marca um leão que ruge alto. O senador que­ria dizer que aquele opo­nente – e mesmo alguns ali­a­dos –, só falavam muito e/​ou alto mas sem qual­quer efeito prático. Como o leão da marca, não mor­diam ou assus­tavam ninguém.

Os Bol­sonaro (pai e fil­hos envolvi­dos com a política), ao que parece, são “vici­a­dos” em falar bobagem e, em tem­pos de comu­ni­cação instan­tânea, acabam por gan­har ampli­tude maior do que real­mente são.

Isso não vem de hoje e, difer­ente­mente do muitos imag­i­navam, a chegada ao pín­caro da fama e poder não os mod­i­fi­cou em nada. Todas as “crises” e “stress” ocor­ri­dos até aqui no gov­erno – e na política nacional –, têm como origem uma declar­ação desastrada de algum inte­grante da “primeira família”.

Ainda que digam que a imprensa tem “má von­tade”, que estão con­tra o gov­erno porque perderam a “boquinha”, e tan­tas out­ras des­cul­pas – já cansadas por aque­les que teimam num voto de con­fi­ança ao gov­erno –, jus­ti­fi­cam as tolices, a falta de “litur­gia” aos car­gos e à importân­cia que ocu­pam.

A “última” – entre aspas porque enquanto escrevo provavel­mente estão estão falando ou fazendo asnices –, foi pro­ferida pelo vereador Car­los Bol­sonaro, o zero dois que numa rede social escreveu: “por vias democráti­cas a trans­for­mação que o Brasil quer não acon­te­cerá na veloci­dade que alme­jamos”.

Car­tuxo, como é referido por alguns, parece ser daque­les que “não con­seguem assi­nar o nome sem que­brar a ponta do lápis”, razão pela qual a frase intem­pes­tiva virou motivo para todo tipo de inter­pre­tação, com alguns, da oposição, sug­erindo tratar-​se de uma ameaça de golpe mil­i­tar e out­ros, até mais exager­a­dos, dizendo que filho do pres­i­dente lhe dera mais uma “facada”, jus­ta­mente quando este, o pres­i­dente, se encon­trava con­va­lescendo em um hos­pi­tal em decor­rên­cia da facada que levou no dia 06 de out­ubro de 2018, véspera da eleição, e que muitos atribuem ter sido deter­mi­nante para sua vitória nas urnas.

Refletindo essa falação desen­f­reada dos Bol­sonaro foi que lem­brei da famosa “tirada” de Cafeteira sobre o leão da Metro-​Goldwyn-​Mayer Inc., eles, assim como o leão que aparece na exibição de cada película do estú­dio amer­i­cano, podem até rugirem alto, mas não assus­tam ninguém.

Con­forme alertei em tex­tos ante­ri­ores o pres­i­dente Bol­sonaro pas­sou a inte­grar um “pacto da elite”, a favor da impunidade e con­tra os inter­esses da sociedade brasileira. Esse “pacto” tem pauta própria: implodir a Oper­ação Lava Jato; soltar os cor­rup­tos pre­sos, den­tre os quais o ex-​presidente Lula; man­ter a ban­dalha em pleno fun­ciona­mento; e, deixar tudo como dantes no quar­tel de Abrantes, como no dito.

Nada soa mais ilus­tra­tivo deste pacto que o apoio que rece­beu a indi­cação, pelo pres­i­dente do futuro procurador-​geral da República, o sen­hor Aras, que não foi sequer votado na lista trí­plice do Min­istério Público e já demon­strou mais de uma vez sua afinidade com as pau­tas que inter­es­sam aos saque­adores do país.

A indi­cação foi rece­bida com júbilo pelas “ban­cada” do STF con­trária à Lava Jato, pelos diver­sos senadores “enro­la­dos” com a Justiça, inclu­sive, pelos senadores do Par­tido dos Tra­bal­hadores — PT, com­pro­vando o “jogo de car­tas mar­cadas” em curso.

Sem qual­quer escrúpulo de con­sciên­cia (o que não é estranho), o PT embarca no “pacto” das elites em apoio à indi­cação do futuro procurador-​geral.

O par­tido, em ver­dade, será o primeiro (ou estará entre os primeiros) a se ben­e­fi­ci­ado, com a soltura de parte de sua elite par­tidária já nos próx­i­mos meses, entre eles o con­de­nado por cor­rupção e lavagem de din­heiro, o ex-​presidente-​presidiário Lula da Silva, que, dizem, será solto já em out­ubro, ainda que ten­ham que mover “céus e terra”.

A novi­dade da estação é essa “dobrad­inha” do PT com o gov­erno Bol­sonaro.

Alguém perce­beu que os inte­grantes do par­tido (e a esquerda de uma forma geral) arrefe­ce­ram nas críti­cas ao gov­erno?

Pois é, estão com inter­esses comuns. E, este­jam cer­tos, não é a favor do Brasil.

O arrefec­i­mento é para, sabendo que os Bol­sonaro não tendo “papas nas lín­guas”, acabem por “melar” o “acordão”.

Os Bol­sonaro foram “arras­ta­dos” ao pacto por seus próprios inter­esses: a nomeação do filho que sabe fritar ham­búr­guer para o cargo de embaix­ador; o alívio nos per­rengues judi­ci­ais dos dois out­ros; mas, tam­bém, pela incon­trolável mania de falar além do dev­ido, o que serviu para enfraque­cer o gov­erno tanto per­ante sua base eleitoral – e na sociedade, de forma geral –, como no plano internacional.

Em ter­mos com­par­a­tivos, o gov­erno Bol­sonaro, com pouco mais de oito meses de implan­tação, revela-​se tão frágil quando o foi nos seus ester­tores, o gov­erno de João Goulart, nos anos sessenta. Difer­ente daquele gov­erno que teve de aceitar um régime par­la­men­tarista aprovado às pres­sas, o atual gov­erno ainda finge governar.

A real­i­dade – só não vê quem não quer –, é que gov­erno Bol­sonaro capit­u­lou. Ninguém ver­bal­iza nos meios de comu­ni­cação ou pub­li­ca­mente, mas o Brasil “virou” par­la­men­tarista, com a pauta do país coor­de­nada, não pelo Con­gresso Nacional, como seria nor­mal, se vivêsse­mos tem­pos nor­mais, mas, pela “elite”, parte dela não eleita, que seque­strou em bene­fí­cio próprio os inter­esses nacionais.

Muitos têm a ilusão que alguns min­istros do Supremo quando lançam ataques à Oper­ação Lava Jato estão defend­endo os inter­esses da sociedade ou da Justiça. Isso não é ver­dade. Estão, na ver­dade, defend­endo os próprios inter­esses ou de pes­soas bem próx­i­mas. Quando os téc­ni­cos da receita fed­eral ou do COAF iden­ti­ficaram movi­men­tações finan­ceiras “atípi­cas” na con­tas de famil­iares de Gilmar Mendes ou Dias Tof­foli o mundo veio abaixo. Logo um min­istro amigo con­cedeu lim­i­nar para par­al­isar o tra­balho dos órgãos, logo se deu uma lim­i­nar para sus­pender todas as inves­ti­gações que tivessem essas infor­mações sem ordem judi­cial prévia.

Muitos têm a ilusão de que temos um Con­gresso Nacional altivo pre­ocu­pado com abu­sos de autori­dade cometi­dos por juízes, pro­mo­tores, del­e­ga­dos, poli­ci­ais ou pelo guarda de trân­sito que fica na esquina – não que estes abu­sos inex­is­tam ou não devam ser coibidos, pelo con­trário. Mas, não estão, suas excelên­cias, grande parte con­heci­das das famosas lis­tas de propinas de empre­it­eiras por pseudôn­i­mos, estão pre­ocu­padas é em sal­var a própria pele, estão pre­ocu­pa­dos em não serem molesta­dos para con­tin­uarem a extorquirem a nação, querem é con­tin­uar “tirando o seu” das obras e serviços públi­cos, da emen­das par­la­mentares.

Esta real­i­dade infame que o atual pres­i­dente se com­pro­m­e­teu em mudar mas, no poder, acabou aderindo ao velho mod­elo, ao velho pacto de sem­pre e, pior, acres­cen­tando uma pauta de obscu­ran­tismo nas relações soci­ais.

O Brasil, pelo andar da car­ru­agem, terá que aguardar as próx­i­mas eleições pres­i­den­ci­ais ou as seguintes em busca, nova­mente, de um pro­jeto de mudança para o país.

O Bol­sonaro que prom­e­teu romper com as estru­turas do atraso e da cor­rupção é o “novo” leão da Metro, como cer­ta­mente diria o velho Cafifa.

Abdon Mar­inho é advo­gado.