AbdonMarinho - UM WATERGATE MARANHENSE?
Bem Vindo a Pag­ina de Abdon Mar­inho, Ideias e Opiniões, Domingo, 24 de Novem­bro de 2024



A palavra é o instru­mento irre­sistível da con­quista da liber­dade.

UM WATER­GATE MARANHENSE?

UM WATER­GATE MARANHENSE?

Por Abdon Marinho.

O IDEÓL­OGO do Comu­nismo, Karl Marx, disse – den­tro, claro de um con­texto maior –, que a história só se repete como farsa.

No iní­cio dos anos 70 do século pas­sado, o pres­i­dente amer­i­cano Richard Nixon foi envolvido em um escân­dalo de espi­onagem à sede do par­tido adver­sário, o Democ­rata. A par­tir de uma denún­cia anôn­ima dois jor­nal­is­tas do The Wash­ing­ton Post, inves­ti­garam o assunto que pas­sou à história como o “Caso Water­gate”, em refer­ên­cia ao edifí­cio onde se local­izava a sede do par­tido espi­onado, o Democ­rata.

O escân­dalo cul­mi­nou com a renún­cia de Nixon. Antes, porém, na efer­vescên­cia daque­les dias, o então pres­i­dente cun­hou uma frase lap­i­dar: “o inimigo é a imprensa”.

Pois é, quem diria que tanto tempo depois Marx, Nixon e a farsa fos­sem se encon­trar no Maran­hão? Parece uma piada de mau gosto.

Desde a “implan­tação” do gov­erno comu­nista no nosso estado que se têm notí­cias de inves­ti­gações (bis­bil­ho­tagem) con­tra os adver­sários políti­cos dos “donos do poder”.

Eram insin­u­ações, sus­sur­ros que foram se ampli­f­i­cando e gan­hando as ruas a ponto de às vésperas das eleições de 2018 um doc­u­mento ofi­cial da polí­cia estad­ual cir­cu­lar com um pedido para que os mil­itares lota­dos no inte­rior fizessem “lev­an­ta­men­tos” sobre os posi­ciona­men­tos políti­cos de lid­er­anças.

Ainda para aquela eleição ouvi de alguém, ali­ado do gov­erno comu­nista, que uma lid­er­ança que já tinha hipotecado apoio à sua can­di­datura fora “con­ven­cida” a mudar de posição após “con­versa” com pes­soas lig­adas à Sec­re­taria de Segu­rança ocor­rida den­tro do próprio palá­cio do gov­erno.

Não dei crédito e até pen­sei que fosse um exagero político que estava vendo os votos min­guarem à véspera da eleição. Onde já se viu autori­dades repub­li­canas chamarem lid­er­anças políti­cas “em palá­cio” para ameaça-​las para mudar de lado?

Custava-​me ( e ainda custa) acred­i­tar em tamanha degradação, isso ape­sar de tudo que assis­ti­mos – e das notí­cias que nos chegou –, dando conta de toda sorte abu­sos prat­i­ca­dos por agentes do gov­erno nas eleições de 2016.

Muitas delas, segundo dizem, “tomadas”, pelo gov­erno estad­ual para os seus ali­a­dos.

Tudo que se imag­i­nava sobre a espi­onagem que, suposta­mente, estaria ocor­rendo no nosso estado – só reg­is­trando que uma das prin­ci­pais medi­das do gov­erno comu­nista foi mel­hor equipar os lab­o­ratórios de inves­ti­gações crim­i­nais e de inteligên­cia –, restou ampli­fi­cado (ou con­fir­mado) a par­tir do depoi­mento em juízo do ex-​delegado Thi­ago Bardal e de um depoi­mento em carta e em áudio do del­e­gado Ney Anderson.

Ainda que os acusem de crim­i­nosos ou “malu­cos”, suas palavras ape­nas reforçam (ou con­fir­mam) aquilo que sem­pre foi a voz cor­rente das ruas.

Como dito noutras opor­tu­nidades, eram mais que reais uma pos­sível bis­bil­ho­tagem da parte dos deten­tores do poder, mais de uma vez ouvi de ami­gos sin­ceros uma inda­gação: –– tu duvi­das, Abdon, que não este­jamos sendo “escu­ta­dos”?

Em um texto escrito no ano pas­sado – ou em 2017 –, dizia ter curiosi­dade sobre que tipo de lev­an­ta­mento o serviço de “espi­onagem” teria feito a meu respeito. Talvez nenhum.

Pois bem, o que os del­e­ga­dos (ou ex-​delegados, não sei a situ­ação fun­cional de ambos) fiz­eram foi rev­e­lar um grave esquema de espi­onagem a fig­uras públi­cas do estado.

Segundo já dito pelos mes­mos, diver­sos desem­bar­gadores – e seus famil­iares –, um senador da República, dep­uta­dos estad­u­ais e fed­erais, todos espi­ona­dos – e uma curiosi­dade, como se fazia noutros nefas­tos regimes total­itários, a espi­onagem, con­forme denun­ci­ada, tam­bém teria recaído sobre “ali­a­dos”.

Alguém lem­bra da machad­inha que alcançou Trot­ski?

Desde a primeira vez que tratei deste assunto que alerto para a gravi­dade destas denún­cias – não ape­nas as recentes, mas aque­las que são ditas, insin­u­adas, inferi­das, desde o começo do atual gov­erno –, não sendo aceitável que em pleno século vinte um ainda viva­mos sob o escrutínio de um “estado policial”.

Infe­liz­mente, ape­nas agora as autori­dades pare­cem “acor­dar” para a gravi­dade da situ­ação e – como o TJMA e o senador Roberto Rocha –, pas­saram a cobrar providên­cias junto as autori­dades fed­erais.

Antes, ape­sar do zun­zun­zum em todas as rodas, pare­cia – ou não davam crédito que suas esposas, fil­hos, pais, par­entes ou ader­entes e mesmo os próprios –, que nada estava acon­te­cendo.

Outra curiosi­dade é que as autori­dades maran­henses, a quem se imputavam tão graves acusações, fin­giam que não deviam quais­quer sat­is­fações à pat­uleia.

Ape­nas agora, após os supos­tos “bis­bil­ho­ta­dos” cobrarem a apu­ração dos fatos ao Min­istério da Justiça, ao Con­selho Nacional de Justiça, ao Supremo Tri­bunal Fed­eral e a Procuradoria-​Geral da República, tanto o secretário de segu­rança pública – e o gov­er­nador, indi­re­ta­mente –, apare­cem de forma enviesada, para prestar esclarecimentos.

E, como dis­se­mos ante­ri­or­mente, apare­ce­ram ao velho estilo Nixon.

Junto com uma rep­re­sen­tação con­tra os del­e­ga­dos que denun­cia­ram os supos­tos “malfeitos”, rep­re­sen­taram con­tra os jor­nal­is­tas que divul­garam as infor­mações que lhes chegaram.

Quem disse que a imprensa não é a inimiga?

Em sendo ver­dade o que vem sendo posto – não ape­nas pelos delegados/​denunciantes ou pelos jornalistas/​blogueiros que cobri­ram o assunto, mas tam­bém pelo mur­múrio das ruas, que são muitos e inten­sos desde muito tempo –, estare­mos diante do mais grave aten­tado à democ­ra­cia em nosso país, crimes que nem o ditadura mil­i­tar ousou colo­car em prática.

Diante de indí­cios é certo que o papel da polí­cia é inves­ti­gar.

Mas não esta­mos falando disso, até porque ao indí­cio de qual­quer crime, o papel da autori­dade poli­cial seria reme­ter os mes­mos às instân­cias judi­ci­ais com­pe­tentes para que elas deter­mi­nassem e/​ou prosseguis­sem com as inves­ti­gações em face das pre­rrog­a­ti­vas dos impli­ca­dos.

Até onde se sabe, não foi o que acon­te­ceu, pelo menos não se tem notí­cias de nada desta natureza.

Então, esta­mos falando de crime, de bis­bil­ho­tagem crim­i­nosa, escu­tas clan­des­ti­nas, desvir­tu­a­mento da função estatal.

Qual o obje­tivo disso? Chan­tagear os desem­bar­gadores e seus famil­iares? Chan­tagear os políti­cos? Quem tinha (ou tem) inter­esse neste tipo de pro­ced­i­mento crim­i­noso? Tais fatos, se ocor­reram, foi à rev­elia do gov­er­nador ou foi uma mis­são trans­mi­tida aos crim­i­nosos por quem estava acima na cadeia de comando?

Como disse, são fatos de gravi­dade ímpar a recla­mar uma inves­ti­gação célere e com­pleta, capaz de aferir as respon­s­abil­i­dades de cada um (se exis­tentes), com punições, igual­mente, exem­plares.

O Supremo Tri­bunal Fed­eral ou o Con­selho Nacional de Justiça ou mesmo a Procuradoria-​Geral da República ou todos, pela gravi­dade dos fatos relata­dos, pre­cisam colo­car ao encargo da Polí­cia Fed­eral a respon­s­abil­i­dade de tal inves­ti­gação.

Faz-​se necessário, anda, que se garanta aos del­e­ga­dos – e a quan­tos mais sou­berem dos fatos e pud­erem provar –, os bene­fí­cios da colab­o­ração premiada.

É medida urgente que se impõe.

Noutra quadra, é de soar estranho que o gov­er­nador do estado, que tanto fala em democ­ra­cia para o público externo, diante de fatos tão graves e que não estão na pauta ape­nas agora – , mas que vêm de longe –, se não tem nada com os mes­mos, até o momento não tenha tomado quais­quer providên­cias no sen­tido de apu­rar – e fazer ces­sar a nuvem de sus­peitas –, e punir os respon­sáveis. Muito pelo con­trário, o que sabe é que devota toda con­fi­ança naque­les que, segundo as denún­cias, estariam impli­ca­dos nas práti­cas deli­tu­osas.

O que dizer? A história recente com­prova que Stálin sentou-​se e par­ticipou dos esforços de guerra com os ali­a­dos para livrar o mundo do pesadelo nazista, enquanto ele mesmo man­tinha uma máquina de destru­ição sim­i­lar ou mais efi­ciente que a de Hittler.

Quem disse que a história não se repete como farsa?

Abdon Mar­inho é advo­gado.