AbdonMarinho - A SEDUÇÃO DO ERRO.
Bem Vindo a Pag­ina de Abdon Mar­inho, Ideias e Opiniões, Domingo, 24 de Novem­bro de 2024



A palavra é o instru­mento irre­sistível da con­quista da liber­dade.

A SEDUÇÃO DO ERRO.

A SEDUÇÃO DO ERRO.

Por Abdon Marino.

ANTIGA­MENTE a edu­cação tinha iní­cio, pas­mem, pelo iní­cio. Assim, começá­va­mos por estu­dar a antigu­idade clás­sica, sabíamos quase de cor tudo sobre a Gré­cia e sobre o vasto império Romano.

E, foi ainda no “primário”, como chamá­va­mos a primeira fase do ensino fun­da­men­tal, que aprendi sobre a imensa con­tribuição da civ­i­liza­ção romana no desen­volvi­mento do dire­ito, arte, lit­er­atura, tec­nolo­gia, religião, gov­erno e mesmo da linguagem.

Emb­ora muitos descon­heçam, Roma é incon­tornável nas sociedades e cul­turas con­tem­porâneas, raras são as coisas da atu­al­i­dade que não ten­ham uma lig­ação, ainda que trans­ver­sal, com a civ­i­liza­ção romana. E, sendo Roma incon­tornável, ninguém, sobre­tudo na política, é mais incon­tornável que Júlio César (100 a.C. a 44 a.C.), chefe mil­i­tar, con­quis­ta­dor, líder nato, imper­ador.

Por isso mesmo, as histórias dele, nas suas próprias palavras ou nas dos seus bió­grafos, como Suetônio e Plutarco são tão ricas em ensi­na­men­tos. Plutarco, conta-​nos, por exem­plo, que o con­quis­ta­dor ao pas­sar certa vez por uma pequena aldeia disse: “ — Garanto-​lhe que pre­firo ser o primeiro homem aqui que o segundo em Roma”.

Todas estas lem­branças assaltaram-​me na esteira da notí­cia dando conta que o alcaide da minha urbe pre­tende­ria renun­ciar ao mandato – onde é o primeiro na aldeia –, para ser mais um no sec­re­tari­ado do gov­erno estadual.

Quando li a notí­cia pela primeira vez, em que pesasse a segu­rança da infor­mação, não lhe dei crédito, atribui ser mais uma “fake news”, para usar o termo da moda.

Ora, me era cus­toso acred­i­tar que o alcaide fosse, mais uma vez, desafiar os milenares ensi­na­men­tos de Júlio César, sobre­tudo, depois dar com os “bur­ros n’água”, como foi da vez ante­rior.

A menos que tenha per­dido todas as aulas sobre a política clás­sica que se cos­tu­mava ter no primário.

A con­fir­mação da veraci­dade da infor­mação (não tenha ou vá renun­ciar) trouxe-​me à lume a con­vicção que o “erro” pos­sui um certo encan­ta­mento.

Lem­bro que quando saiu a notí­cia sobre a pos­sível saída do alcaide para ser secretário do gov­erno Roseana Sar­ney, escrevi algo remem­o­rando o ensi­na­mento romano sobre ser prefer­ível “ser o primeiro na aldeia do que o segundo Roma”.

Naquela opor­tu­nidade a situ­ação do alcaide era infini­ta­mente mais con­fortável. Era recon­hecido como um dos mel­hores prefeitos do estado. Tanto assim que dividia com São José a atenção dos romeiros. Vale dizer, assim como apare­ciam por estas pla­gas car­a­vanas de romeiros a saudar o santo padroeiro do estado, para cá acor­riam prefeitos, secretários ou mesmo curiosos, para con­hecer as ino­vações admin­is­tra­ti­vas que o mesmo estava implan­tando.

Se era con­fortável a situ­ação como gestor munic­i­pal, querido e respeitado por todos, mel­hor ainda a situ­ação como seria rece­bido no gov­erno estad­ual: na condição de “primeiro-​secretário” e can­didato “já escol­hido” à sucessão da gov­er­nadora nas eleições de 2014.

E, ver­dade seja dita, Roseana Sar­ney cumpriu reli­giosa­mente o papel de gov­er­nadora “dec­o­ra­tiva” enquanto o “primeiro-​secretário” bril­hava, man­dava e des­man­dava no gov­erno (respei­tando, claro, alguns nichos: saúde, SEPLAN).

Não sei se por von­tade dela ou não só não foi pos­sível fazê-​lo gov­er­nador para dis­putar no cargo (fal­tou com­bi­nar com os “rus­sos”). De resto, esteve “lib­er­ado” para se via­bi­lizar como can­didato.

Com tan­tas condições favoráveis – emb­ora não con­heçamos os basti­dores –, o “primeiro-​secretário” e ex-​alcaide, não se via­bi­li­zou ou, pior, ape­sar de não ter nada a perder, não lhe socor­reu a cor­agem para enfrentar a dis­puta.

Ao meu sen­tir, um dos maiores erros políti­cos da história recente do Maran­hão, pois ainda que perdesse – e podia gan­har –, sairia com cap­i­tal político para dis­putar futu­ra­mente o gov­erno estad­ual, uma vaga de senador. Ou seja, seria figura impor­tante no “tab­uleiro” político.

Por um destes mis­térios que só a política pos­sui, o ex-​todo-​poderoso do gov­erno estad­ual preferiu o “começar de novo”. Só que agora em situ­ação bem dis­tinta.

Sem adver­sários, voltou ao cargo ao qual renun­ciara pouco mais de meia década antes, com mais de noventa por cento dos votos váli­dos. Uma das maiores con­sagrações das urnas do estado.

Infe­liz­mente, ape­sar da con­sagração das urnas, as condições admin­is­tra­tivis­tas não têm per­mi­tido fazer um gov­erno que seja com­parável aos anos em que dirigiu o municí­pio ante­ri­or­mente.

Se naque­les anos teve “din­heiro novo” para via­bi­lizar uma série de deman­das nunca aten­di­das pelas gestões ante­ri­ores, agora o din­heiro é o mesmo – e até menos –, e o que aumen­taram foram as deman­das.

Antes, a gestão, era com­parada com gestões que pouco ou nada realizaram, agora é com­parada com a sua primeira gestão de bonança, com muitas real­iza­ções e ino­vações.

Na com­para­ção que os eleitores fazem o gestor ante­rior era o bam­bambã, o de agora – emb­ora o mesmo –, crava um “medíocre” para, com sorte, “reg­u­lar”, que saindo para ser “mais um secretário”, difer­ente da primeira vez, não deixaria saudades.

Emb­ora o foguetório que se ouviu – e se noti­ciou –, quando se “vazou” a história do con­vite para ser secretário nova­mente, tenha sido mais obra de suas próprias “crias”, que son­ham e vibram com o destru­ição do mito do bom gestor, não podemos deixar de reg­is­trar que se o clima entre os munícipes não é de fes­tejo, tam­bém não é de pesar, como viu na vez ante­rior, acred­ito, mesmo que seja de apa­tia ou indifer­ença com uma pitada de decepção.

É neste con­texto abso­lu­ta­mente des­fa­vorável que faz menos sen­tido o con­vite feito ao alcaide – a menos que o gov­er­nador o tenha chamado para perto “para matar de faca”, como sem­pre se atribuiu ao Sarney.

Menos sen­tido ainda que o alcaide vire secretário do gov­erno em situ­ação tão ruim. Difer­ente daquela vez em foi chamado para ser o “primeiro-​secretário” e can­didato à sucessão, agora seria ape­nas mais um no reinado do Rei Sol, sem chance de man­dar em qual­quer coisa no gov­erno, nem mesmo na própria sec­re­taria, con­forme os exem­p­los aí à vista de todos.

Chances de ser can­didato à sucessão? Nen­huma. Essa vaga já está “reser­vada” e a menos que se acon­teça o “impon­derável” o futuro gov­er­nador já está definido, inde­pen­dente, até mesmo, da von­tade do gov­er­nador que virou uma espé­cie de refém de suas próprias ambições.

Ser can­didato a vice-​governador? Seria uma “emenda pior que o soneto”. Esmola pouca para quem já foi soberano.

Escapar à “sedução do erro” em que se enre­dou o alcaide – e diga-​se, por suas próprias decisões –, exi­girá muita ded­i­cação, tra­balho e muita ajuda, tanto do gov­erno fed­eral, quanto do estad­ual, além de uma boa dose de “sorte”, mer­cado­ria escassa na política.

Em todo caso, como lá atrás decidiu “começar de novo”, o mel­hor cam­inho será fazendo valer a inques­tionável votação que teve há pouco mais de dois anos. Mas essa é ape­nas uma opinião.

Abdon Mar­inho é advo­gado.

Comen­tários

0 #1 Amélia Soares 24-​02-​2019 16:53
Exce­lente
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