AbdonMarinho - SALAMALEQUES EM CARACAS.
Bem Vindo a Pag­ina de Abdon Mar­inho, Ideias e Opiniões, Domingo, 24 de Novem­bro de 2024



A palavra é o instru­mento irre­sistível da con­quista da liber­dade.

SALA­MALE­QUES EM CARACAS.

SALA­MALE­QUES EM CARA­CAS.

Por Abdon Mar­inho.

UMA FALSA polêmica instalou-​se nos últi­mos nes­tas ter­ras avis­tadas por Cabral. Falo da ida da pres­i­dente do Par­tido dos Tra­bal­hadores — PT, sen­hora Gleisi Hoff­man, a Cara­cas para prestar men­su­ras e saudar o dita­dor Nicolás Maduro que assumiu por mais seis anos o gov­erno da Venezuela.

A sen­hora Gleisi Hoff­mann, assim, fez com­pan­hia aos pouquís­si­mos estrangeiros, que recon­hecem como legí­timo o novo gov­erno venezue­lano, eleito após mas­sacrar a oposição e os cidadãos do seu país, com vio­lên­cia, fome e mis­éria, num processo admi­tido por quase todas as nações do mundo civ­i­lizado como fraud­u­lento. De líderes estrangeiros só pude recon­hecer, Evo Morales, da Bolívia, que tenta implan­tar seu próprio mod­elo de per­pet­u­ação no poder; Daniel Ortega, da Nicarágua, que tenta implan­tar sua própria ditadura e car­rega nos ombros o peso das qua­tro­cen­tas almas dos cidadãos que foram mor­tas nos protestos con­tra seu gov­erno reprim­i­das vio­len­ta­mente no iní­cio de 2018; e Díaz-​Canel, de Cuba, a mori­bunda ditadura dos Cas­tro, que dis­pensa qual­quer outra apresentação.

Pois é, o gov­erno venezue­lano, empos­sado neste iní­cio de ano, não é aceito pelos países con­ti­nente – que até fiz­eram uma nota de repú­dio através do Grupo de Lima –, pela Comu­nidade Europeia, pela Orga­ni­za­ção dos Esta­dos Amer­i­canos — OEA, pelos Esta­dos Unidos e, frise-​se, pelo Brasil, mas lá estava a pres­i­dente do par­tido que até ontem gov­ernou o país, com men­su­ras e sala­male­ques, saudando e postando nas redes soci­ais o orgulho de fazer parte daquela fraude – uma vez que o novo gov­erno não é recon­hecido pelo Par­la­mento venezue­lano.

A falsa polêmica só não foi maior dev­ido a prisão, dois dias depois, na Bolívia, de Cesare Bat­tisti, o ter­ror­ista ital­iano que ficou, a con­vite do gov­erno do PT, homiziado no Brasil, por mais de uma década, para a ver­gonha e con­strang­i­mento dos cidadãos de bem.

Claro que pode­ria ter sido bem pior. Caso o gov­erno tivesse voltado ao PT, cer­ta­mente, estaria saudando o novo dita­dor, ofi­cial­mente, o gov­erno brasileiro, e não a pres­i­dente de um par­tido (ou de alguns par­tidos) e, para com­ple­tar o vex­ame, ainda estaríamos “acoitando” um ter­ror­ista inter­na­cional con­de­nado à prisão per­pé­tua no seu país por ter matado qua­tro cidadãos e ter deix­ado um outro para­plégico.

Pelo menos isso! Não tive­mos que pas­sar por esse con­strang­i­mento.

Mas por que digo ser falsa a polêmica em torno da ida da pres­i­dente do PT a Cara­cas? Muito sim­ples, o Par­tido dos Tra­bal­hadores — PT, nunca na sua história teve qual­quer apreço à democ­ra­cia, tanto antes de chegar ao poder, durante o exer­cí­cio do poder e depois – como teste­munhamos agora.

Os exem­p­los estão aí para quem quiser com­pro­var e tiver apreço pela história. Citarei ape­nas aque­les que lembro.

No iní­cio de 1985, depois da der­rota da Emenda Dante de Oliveira, que prop­unha a eleição direta para pres­i­dente da República, as forças que que­riam o fim da ditadura mil­i­tar no Brasil enten­deram que dev­e­riam par­tic­i­par do processo pelas regras do jogo esta­b­ele­ci­das e apoiar Tan­credo Neves em oposição ao ex-​governador de São Paulo, Paulo Maluf, rep­re­sen­tante das forças até então no poder.

O que fez o PT? Se absteve de votar no Colé­gio Eleitoral, deixando, assim, de aju­dar na der­rota de Paulo Maluf. Mas não só isso, fez pior, expul­sou do par­tido três de seus quadros que votaram a favor de Tan­credo Neves e do fim da ditadura, José Eudes, Air­ton Soares e Bete Mendes.

Outro momento emblemático foi o quipro­quó que cri­aram para não assi­nar Con­sti­tu­ição Fed­eral de 1988. Fiz­eram tanta con­fusão que muitos pen­sam, até hoje, que não assi­naram, pois ale­gavam dis­cor­dar de muitos dos seus pon­tos.

O certo é que o dep­utado Ulysses Guimarães, pres­i­dente da Assem­bleia Nacional Con­sti­tu­inte, inda­gado sobre o que faria, disse que os nomes de todos os con­sti­tu­intes iriam con­star no doc­u­mento. Assim, votaram con­tra, mas, por fim, acabaram assi­nando a Carta Magna.

Outro momento cru­cial que opôs o Brasil ao PT – reg­is­trando só min­has lem­bras do momento –, foi cam­panha que fiz­eram con­tra o Plano Real.

O país sofrendo com uma inflação galopante, insta­bil­i­dade política, ainda ten­tando superar o traumático impeach­ment de Col­lor, com um fraco e instável Ita­mar Franco no poder e par­tido não ape­nas se opondo à con­sis­tente pro­posta de debe­lar a inflação rep­re­sen­tada pelo Plano Real.

Desnecessário dizer que ao mesmo tempo fez cer­rada oposição a todos os gov­er­nos, inde­pen­dente destes apre­sentarem alguma pro­posta pos­i­tiva para o país ou não.

Mas eis que, final­mente, chegam ao tão son­hado e alme­jado poder em 2002.

E, no poder, fazem tudo aquilo que sem­pre criticaram e com­bat­eram nos gov­er­nos que os ante­ced­eram, com espe­cial destaque para a cor­rupção – que sem­pre exis­tiu no país –, mas que o par­tido e seus líderes tornaram uma prática de Estado, uma política de gov­erno, encar­regada de roubar a nação, e com o fruto do roubo perpetuá-​los no poder.

Isso está sobe­ja­mente com­pro­vado por todos os proces­sos civis e crim­i­nais que respon­deram, respon­dem e pelos quais estão sendo con­de­na­dos, notada­mente, os escân­da­los apel­i­da­dos de “Men­salão” e “Petrolão”.

Além da cor­rupção desen­f­reada – e talvez por conta dela –, outra car­ac­terís­tica do petismo no poder, foi o seu alin­hamento com prati­ca­mente todos os regimes total­itários do mundo, sejam as ditaduras ditas de “esquerda” rep­re­sen­tadas por Cuba, Cor­eia do Norte, Venezuela, Nicarágua e China, seja pelos regimes san­guinários da África – que se sus­peita, além da predileção pela ditadura em si, a aprox­i­mação envolvia negó­cios poucos esclare­ci­dos.

Foi esse espe­cial apreço dos gov­er­nantes de então por ditaduras que fez o país escr­ever as pági­nas mais ver­gonhosas de nossa história, como a “entrega” dos pugilis­tas cubanos à ditadura dos irmãos Cas­tro, negando pela primeira vez na história um pedido de asilo, no ano de 2007, e quando, no último dia 2010, e do mandato, o sen­hor Luís Iná­cio Lula da Silva, descon­hecendo decisão do Con­selho de Refu­gia­dos e do Supremo Tri­bunal Fed­eral — STF, que autor­i­zou a extradição, decidiu por “acoitar”, com sta­tus de refu­giado, o ter­ror­ista Batisti, ofend­endo toda a nação ital­iana – a quem tanto deve­mos e com quem sem­pre tive­mos uma das mel­hores relações.

Em relação aos pugilis­tas cubanos, que tem­pos depois, con­seguiram fugir da ditadura dos irmãos Cas­tro, ter­e­mos que car­regar essa ver­gonha pelo resto da vida. Com relação ao ter­ror­ista ital­iano, ainda que tarde, o Brasil deu uma pequena con­tribuição para que, final­mente, pague pelos seus crimes.

Este é um breve retrato do que foi o par­tido da sen­hora Hoff­mann antes e durante o poder.

Na oposição nova­mente, começou por negar a democ­ra­cia brasileira, da qual sem­pre foi ator desta­cado, não com­pare­cendo a posse do pres­i­dente da República legit­i­ma­mente eleito (goste­mos dele ou não), mas indo ren­der hom­e­nagem a um pro­jeto de dita­dor que não tem legit­im­i­dade recon­hecida pela comu­nidade inter­na­cional e nem mesmo pelos cidadãos de seu país.

O com­parec­i­mento da pres­i­dente do PT à posse do sen­hor Maduro é a prova mais elo­quente de coerên­cia com a sua história ao longo de todos esses anos. Com a abstenção no Colé­gio Eleitoral, em 1985; com o “beicinho” para não assi­nar a Con­sti­tu­ição e/​ou votar con­tra seu texto final; com a oposição fer­renha ao Plano Real; com a cor­rupção gen­er­al­izada nos seus gov­er­nos; com a “entrega” dos jovens dis­si­dentes cubanos aos seus algo­zes; com exílio e apoio ao ter­ror­ista ital­iano Cesare Batisti; e tan­tos out­ros absur­dos.

Tudo que ocor­reu, antes, durante, e agora, depois dos seus anos de poder, nada mais é do que o PT sendo o PT, muito bem rep­re­sen­tado pela sen­hora Hoff­mann.

Abdon Mar­inho é advo­gado.