AbdonMarinho - DOR DE COTOVELO FAZ MAL AO MARANHÃO.
Bem Vindo a Pag­ina de Abdon Mar­inho, Ideias e Opiniões, Domingo, 24 de Novem­bro de 2024



A palavra é o instru­mento irre­sistível da con­quista da liber­dade.

DOR DE COTOVELO FAZ MAL AO MARANHÃO.

DOR DE COTOVELO FAZ MAL AO MARANHÃO.

Por Abdon Mar­inho.

DURANTE a cam­panha eleitoral de 2014 o então can­didato a gov­er­nador, Flávio Dino, fez uma promessa que reputei como de grande importân­cia. Sua excelên­cia disse que iria trans­for­mar a MA 006 na grande rodovia de inte­gração do Maran­hão. Cré­dulo, emb­ora sabendo que difi­cil­mente sairia do campo das ideias, fiquei muito feliz com a promessa.

Os que não têm famil­iari­dade com as estradas do Maran­hão, essa rodovia sin­gra o estado de norte a sul, vai de Apicum-​Açu a Alto Par­naíba, com mais de 1200 km. Caso a promessa de sua excelên­cia tivesse vin­gado seria, hoje, um dos prin­ci­pais eixos propul­sores para desen­volvi­mento do estado.

Pois bem, lembrei-​me da estrada – e da promessa não cumprida –, por dois motivos.

O primeiro, porque recebi, pelas redes soci­ais, inclu­sive com supos­tos áudios do prefeito de For­mosa da Serra Negra, dando conta que moradores daquela local­i­dade teriam sido reprim­i­dos por forças gov­ernistas. O suposto alcaide, dizendo-​se ali­ado de “primeira hora” do gov­erno, apelava aos ami­gos, secretários e fun­cionários para que fos­sem com ele até o local do con­flito nego­ciar uma solução pací­fica.

Ao tomar con­hec­i­mento da situ­ação e ouvir os áudios fiquei matu­tando: “ora, como é pos­sível reprimir protestos de cidadãos que ape­nas cobram uma mín­ima parte de uma promessa que, fin­d­ando o quadriênio no qual seria exe­cu­tada, pouca ou nada foi feito?” Quer dizer que, além de não ter cumprido a promessa, ainda se desce o “sar­rafo” nos que ousam cobrar?

O segundo, por ter lido em algum lugar que um dep­utado estad­ual – ao menos um –, teria dis­cu­tido a pos­si­bil­i­dade de se “fed­er­alizar” a MA 006, ou seja, transformá-​la numa BR.

A ideia, em princí­pio, boa, con­siderando que o gov­erno estad­ual não tem como supor­tar o ônus de cumprir a promessa feita no já longín­quo ano de 2014, parece-​me inal­cançável, pois não bas­tasse o fato de tratar-​se de uma rodovia estad­ual (impor­tan­tís­sima, mas, estad­ual), o atual gov­er­nador não se mostra dis­posto a bus­car qual­quer apoio junto ao gov­erno fed­eral, pelo con­trário, dia sim e no outro tam­bém, procura, até onde não existe, motivos para “espinafrar” o pres­i­dente eleito e a equipe de gov­erno que se insta­lará a par­tir de 1º de janeiro de 2019.

Até o juiz Sér­gio Moro de quem foi colega de mag­i­s­tratura e que pode­ria, por conta disso, ser um canal de comu­ni­cação para aju­dar o Maran­hão, já foi, e tem sido “destratado”, por sua excelência.

Este é o propósito deste texto. Aler­tar a sociedade e, sobre­tudo, as autori­dades para o fato de pre­cis­ar­mos colo­car os inter­esses do estado à frente dos inter­esses políticos/​eleitorais de quem quer que seja.

A eleição pas­sou, o gov­er­nador foi reeleito ainda no primeiro turno das eleições, inde­pen­dente de ações que já responde e que venha a respon­der, é uma autori­dade que pos­sui legit­im­i­dade como rep­re­sen­tante de todos os maran­henses.

Do mesmo modo é o pres­i­dente eleito Jair Bol­sonaro, vence­dor em segundo turno das eleições com mais de 55% (cinquenta e cinco por cento) dos votos váli­dos. Queiram ou não, os que dele dis­cor­dam, pos­sui a mesma legit­im­i­dade que pos­sui o gov­er­nador do Maran­hão, como tal, é mere­ce­dor do respeito de todos.

Já, prati­ca­mente nos encam­in­hando para as solenidades das posses, cheg­amos à bizarra situ­ação em que uma autori­dade eleita, no caso o gov­er­nador, se recusa a recon­hecer a legit­im­i­dade de outra autori­dade nacional, igual­mente eleita, no caso o pres­i­dente da República, que, ape­nas para efeitos de com­para­ção, teve “só” 56 mil­hões de votos a mais que o “nosso rebelde sem causa”.

Pelo clima só falta dizer que sua foto não dividirá a mesma parede com a foto do pres­i­dente da República a par­tir do ano que vem.

Quando, há cerca de dois anos, escrevi “O Menino Só”, ques­tion­ava o fato de sua excelên­cia não ter se cer­cado de aux­il­iares ou de pos­suir ami­gos para chamar-​lhe à atenção quando o visse incor­rer em erros.

Emb­ora de longe, muito longe, quer me pare­cer que sua excelên­cia per­manece o mesmo “menino” do referido texto, amar­gando a solidão do poder, emb­ora cer­cado por devota­dos aux­il­iares, a quem não ape­nas falece cor­agem para lhe chamar a atenção, como ainda saú­dam e fes­te­jam todas as suas incon­tinên­cias.

Fin­d­ando os qua­tro anos do primeiro mandato não encon­tramos uma obra estru­tu­rante no estado que tenha sido ide­al­izada e exe­cu­tada no atual governo;

Um pro­jeto com começo, meio e fim com o condão de mel­ho­rar a vida da nossa pop­u­lação e a mino­rar os efeitos da mis­éria extrema.

Pelo con­trário, apon­tam os indi­cadores de diver­sas insti­tu­ições, a mis­éria do estado fez foi aumen­tar nos últi­mos qua­tro anos e a econo­mia se tornou mais frágil.

Os indi­cadores soci­ais per­manecem estag­na­dos e, em alguns casos, até apre­sen­tando piora.

Têm-​se notí­cias que o quadro das finanças públi­cas se apre­senta de tal forma com­balido que o gov­erno lança mão dos recur­sos dos aposen­ta­dos para hon­rar suas despe­sas ordinárias.

Sem con­tar – e não é seg­redo para ninguém –, que o estado pos­sui uma econo­mia de dependên­cia, não sobre­vivendo – como qual­quer municí­pio dos rincões –, sem os repasses do Fundo de Par­tic­i­pação dos Esta­dos — FPE.

Ape­sar do quadro econômico ser tão desan­i­mador, em grande parte pela falta de ação e de ideias dos gov­er­nantes, sua excelên­cia acha opor­tuno ao invés de bus­car uma mel­hora na inter­locução com o novo gov­erno, fustigá-​lo de todas as formas.

Mas, se sobra ape­nas pobreza e falta ini­cia­ti­vas aos atu­ais donatários do poder, abunda a autossu­fi­ciên­cia. Nada que não seja ideia sua tem qual­quer serventia.

Veja o caso da MA006, alguém acred­ita que o gov­erno estad­ual moverá uma “palha” para con­vencer o gov­erno fed­eral a “federalizá-​la”? Duvido. E vejam que foi uma promessa de cam­panha da eleição de 2014.

Tem sido assim com tudo. Uma das ideias mais inter­es­santes para ala­van­car a econo­mia do estado é a cri­ação da Zona de Expor­tação do Maran­hão — ZEMA, um pro­jeto ide­al­izado e “batal­hado” pelo senador Roberto Rocha. Se tiver­mos a sorte de algum dia vê-​lo implan­tado, acred­ito que a real­i­dade do Maran­hão mel­hora sen­sivel­mente.

Não recordo de ter ouvido ou lido uma única man­i­fes­tação do atual gov­er­nador a respeito do pro­jeto, sequer para somar forças para sua implan­tação. A notí­cia que tenho é que o único voto da comis­são do Senado que dis­cu­tiu o assunto, con­trário ao pro­jeto veio jus­ta­mente de uma senadora do par­tido do gov­er­nador.

O mesmo desin­ter­esse, tam­bém, ocor­reu diante da ini­cia­tiva do dep­utado fed­eral José Reinaldo – respon­sável pelo ingresso de sua excelên­cia na vida pública –, quando este propôs a explo­ração da Estação Espa­cial de Alcân­tara. Pro­jeto, aliás, que o futuro min­istro de Ciên­cia e Tec­nolo­gia do futuro gov­erno, o astro­nauta Mar­cos Pontes, já se mostrou sen­sível.

Seria bom que sua excelên­cia enten­desse, ou que algum amigo, ou aux­il­iar lhe expli­casse que os quase dois mil­hões de eleitores que votaram nele assim o fiz­eram – duas vezes –, por con­fiar que trará dias mel­hores para suas vidas.

Seria exce­lente que alguém dissesse a sua excelên­cia que os mais de seis mil­hões de brasileiros que habitam o estado não são de esquerda ou de dire­ita, não são comu­nistas ou cap­i­tal­is­tas – arrisco dizer que bem poucos sabem o que é isso –, na ver­dade, são cidadãos pre­ocu­pa­dos em como vão fechar as con­tas no final do mês; se não vão perder o emprego; muitos, infe­liz­mente, se terão o que colo­car na pan­ela para o almoço; se o filho terá uma escola para apren­der alguma coisa; ou um posto de saúde com, pelo menos, um enfer­meiro para lhe fazer um cura­tivo em caso de necessidade.

Seria impor­tante que alguém pon­derasse para o fato do estado, com tan­tas neces­si­dades, não pode servir de “lab­o­ratório” para exper­iên­cias gov­er­na­ti­vas infan­tis, que, pelo con­trário, pre­cisamos de tan­tos quan­tos pos­sam somar e con­tribuir de alguma forma com nosso desen­volvi­mento.

Já passa da hora disso acontecer.

Durante toda nossa história os inter­esses políti­cos do grupo dom­i­nante da vez sem­pre se sobre­puseram aos inter­esses do estado. Essa é uma, senão a prin­ci­pal, razão do nosso atraso. Enquanto out­ros esta­dos como o Ceará, Bahia e Per­nam­buco avançaram o nosso ficou para trás.

O Maran­hão tem sua própria pauta a qual deve submeter-​se a classe polit­ica, em espe­cial aque­les com a respon­s­abil­i­dade de administrá-​lo. Entre­tanto, como assis­ti­mos agora, o que vemos é o inverso, são os gov­er­nantes impondo seus pro­je­tos de cunho pes­soal à frente dos inter­esses maiores do estado.

Qual o inter­esse do estado em inter­di­tar o diál­ogo com os diri­gentes do país a par­tir de 1 de janeiro de 2019? Nenhum.

O inter­esse, se exis­tente, é ape­nas do diri­gente que parece acometido de uma tremenda “dor de cotovelo” com a vitória do can­didato que não era o de sua prefer­ên­cia e, depois, com a indi­cação do juiz Moro para o cargo de min­istro da Justiça e Segu­rança Pública, a quem injus­ti­fi­cada­mente ataca.

Sua excelên­cia, me parece, tenta atrair para si o pro­tag­o­nismo de ser o líder da oposição ao futuro gov­erno sem preocupar-​se com a real situ­ação do estado que administra.

Mais uma vez, o Maran­hão não merece isso.

Abdon Mar­inho é advogado.