AbdonMarinho - ESTAMOS CONDENADOS AO ATRASO ETERNO?
Bem Vindo a Pag­ina de Abdon Mar­inho, Ideias e Opiniões, Domingo, 24 de Novem­bro de 2024



A palavra é o instru­mento irre­sistível da con­quista da liber­dade.

ESTA­MOS CON­DE­NA­DOS AO ATRASO ETERNO?

ESTA­MOS CON­DE­NA­DOS AO ATRASO ETERNO?

QUANDO escrevi “O Maran­hão na Encruzil­hada do Atraso”, onde anal­isava as duas alter­na­ti­vas de can­di­dat­uras que achava mais viáveis para con­duzir o estado a par­tir de 2019, o atual gov­er­nador, Flávio Dino e a ex-​governadora Roseana Sar­ney, um amigo ligou para recla­mar do pes­simismo exposto em relação ao futuro do Maranhão.

Com efeito, as duas alter­na­ti­vas são ter­ríveis. A Era Sar­ne­y­sista e o que a Era Din­ista tem mostrado não levará o Estado do Maran­hão a lugar algum. O futuro prometido nada mais se rev­elou que uma con­tin­u­ação, mal engen­drada do pas­sado. Mais de meio século que tem assis­tido o nosso povo empo­bre­cer e o estado ficar para trás. Mais de meio século de atraso já deu. Como ser otimista?

Dois ami­gos, um que viaja con­stan­te­mente para o Ceará e outro que viaja sem­pre para o Pará, ambos de carro, mais de uma vez já me dis­seram: – Abdon, se estiveres de olhos fechado, quando cruzares a fron­teira do Maran­hão tu vais perce­ber o quanto ficamos para trás.

O que se vê e percebe de mudança na estru­tura viária é o reflexo do quanto o nosso estado tem ficado para trás em relação aos seus viz­in­hos. Ainda que aque­les enfrentem os prob­le­mas comuns de todos no Brasil, percebe-​se, clara­mente a existên­cia de um norte, um rumo para um futuro melhor.

Essa é a con­statação que faze­mos ao per­gun­tar aos maran­henses que cos­tu­mam fazer tur­ismo nos esta­dos vizinhos.

São unân­imes em dizer que não dá para com­parar, por exem­plo, For­t­aleza ou Belém e, mesmo, Teresina com São Luís, em todos os aspec­tos. Pois é quem iria imag­i­nar que os maran­henses fos­sem preferir For­t­aleza, Belém e Teresina para suas férias? É que vem ocorrendo.

Cer­ta­mente tem algo de muito errado com nossa cap­i­tal, pois temos um patrimônio histórico recon­hecido mundial­mente, temos pra­ias belís­si­mas, coisas que, teori­ca­mente, dev­e­riam atrair o tur­ismo, pelo menos. Nada. Esta­mos às moscas.

O mesmo vem acon­te­cendo o Maran­hão. Temos um estado riquís­simo em recur­sos hídri­cos (por enquanto, pois nos­sos rios estão mor­rendo à min­gua); segundo maior litoral do país; minérios diver­sos; ven­tos em abundân­cia; inverno e verão bem definidos; um vasto ter­ritório; um dos mel­hores por­tos do mundo e o que vemos no estado todo são pes­soas, entrando dia, saindo dia, esperando as esmo­las dos gov­er­nos. Como se dizia no meu inte­rior, de cara pro vento.

A con­statação que faze­mos é que nosso povo foi desacos­tu­mado do tra­balho e, por isso mesmo, está muito mais pobre. Noutras palavras fal­tou e falta gov­erno para estim­u­lar o desenvolvimento.

E pen­sar que o Maran­hão já foi grande pro­du­tor de grandes cul­turas, que mesmo os mais pobres con­seguiam sus­ten­tar seus famílias com o seu tra­balho, pois tin­ham suas roças, tin­ham seus por­cos, suas gal­in­has, seus patos, suas cabras e mesmo umas cabeças de gado para garan­tir o leite das crianças.

O Maran­hão de quarenta ou cinqüenta anos era assim. Hoje, se, de uma hora para outra cortarem o bolsa família, poucos serão os que vão escapar.

Con­heço na prática a real­i­dade antes (meu pai criou mais de dez fil­hos sem nunca ter con­hecido uma prefeitura ou órgão público, só com o seu tra­balho) e de agora (viajo o Maran­hão inteiro e o que vejo são pes­soas des­ocu­padas qual­quer que seja o dia da sem­ana, qual­quer que seja a hora do dia).

Como o estado vai, ao menos alcançar os esta­dos vizinhos?

Esse amigo me dizia: – Abdon, imag­i­nas, o Ceará, com aquela secura toda, está pro­duzindo bró­co­lis. Imag­ina, brócolis.

Via­jando pelas nos­sas pés­si­mas estradas, encon­tro os cam­in­hões car­rega­dos de fru­tas, legumes, ver­duras… todos vin­dos dos esta­dos vizinhos.

Aves­sos ao recon­hec­i­mento dos próprios erros, os adu­ladores do atual gov­erno, dirão que este atraso todo, aqui retratado, é fruto da “her­ança maldita” da Era Sarneysista.

Faz bem ao seus egos diz­erem isso. Infe­liz­mente não é ape­nas isso.

Já esta­mos fin­d­ando o ter­ceiro ano deste gov­erno, que nos prom­e­teu um novo rumo, e o que vemos é uma con­tin­u­ação, pio­rada, da oli­gar­quia anterior.

Qual é pro­posta de desen­volvi­mento que imple­men­taram nestes três anos? Nenhuma.

O Maran­hão con­tinua empobrecendo.

O gov­erno “inau­gura» a per­furação de um poço arte­siano (dar para acred­ita que inau­gu­ram poços?), em um povoado onde Judas perdeu as botas, e faz uma festa; sub­sti­tui uma “tapera» por uma escol­inha de uma ou duas salas e isso é motivo para fes­te­jar um mês.

Não estou dizendo que estas não são coisas impor­tantes, são sim, reflete o quanto o nosso povo é car­ente. Mas, tam­bém, é o reflexo do quanto o atual gov­erno é pequeno, essas coisas não eram sequer para ser inau­gu­radas, entre­tanto, gan­ham meses de pro­pa­ganda, divul­gando nossa própria miséria.

Em suma, o atual gov­erno, repito, é uma con­tin­u­ação, pio­rada, do gov­erno ante­rior, sim, pois não bas­tasse a falta de visão, obras mal feitas, envereda agora pela política de coop­tação, o velho con­hecido “toma lá, dá cá”, trazendo para o lado do gov­erno, segundo dizem, com muitos «mimos», tudo que foi lid­er­ança política nos tem­pos da gov­er­nadora Roseana Sarney.

As infor­mações que me chegam é os “sarno-​comunistas» – gostaram do neol­o­gismo? – têm pedido “alto”, quase absurdo, se os atu­ais inquili­nos dos Leões «ban­carem», «estarão feitos», se não cumprirem, voltam para o seio da amada.

Aliás, dizem que pede “alto» jus­ta­mente para, na even­tu­al­i­dade, de não cumprirem, já terem a des­culpa para voltar.

Até agora, pelo menos em ter­mos de promessa não têm pedido “desconto”. Os defeitos de ontem, são qual­i­dades ímpares, agora.

Essa escan­car­ada política de coop­tação rev­ela duas coisas, ao meu sen­tir. Primeiro, que não há difer­ença de méto­dos entre este “gov­erno novo” e o gov­erno ante­rior. Segundo, que as pesquisas intim­i­datórias do palá­cio são tão con­fiáveis quanto cédu­las de três reais. Teriam neces­si­dade de “con­vencerem» tan­tos próceres do «sar­ne­y­sismo» se estivessem “sur­fando» em índices estratos­féri­cos acima de cinquenta por cento, como rev­ela pesquisa ofi­cial mais pes­simista? A resposta, cer­ta­mente, é não.

Mas não é isso que esta­mos vendo, dia sim e no outro tam­bém, lá está o gov­er­nador, posando em Palá­cio, com alguém que foi con­ven­cido a lhe fazer juras de amor, ainda que falsas.

Até arrisco dizer que deve ter mais «sar­ne­y­sis­tas» no atual gov­erno que comu­nistas ou inte­grantes dos demais par­tidos que apoiaram a eleição do gov­er­nador. Isso é só um cálculo.

Por tudo isso, exceto pelo estilo da fran­quia comu­nista, mate­ri­al­izado no autori­tarismo, na pre­potên­cia, na refração à divergên­cia, é que digo enx­er­gar ape­nas um gov­erno de con­tinuidade com sub­sti­tu­ição: A Era Sar­ne­y­sista pela Era Din­ista, com as agra­vantes já referidas.

Aí volto ao começo deste texto. Quando este dileto amigo recla­mava de que no texto fui bas­tante pes­simista, pelo fato da eleição pare­cer definida entre os dois can­didatos mais bem posi­ciona­dos nas pesquisas, disse-​lhe: – Até aqui.

O “até aqui” tem uma sig­nificân­cia. Neste momento, se eleição fosse hoje ou amanhã, não tenho dúvi­das de que seria deci­dida entre aque­les dois.

Entre­tanto, fal­tando ainda quase um ano para o pleito e con­ver­sando muito com as pes­soas por onde passo, mesmo entre os par­tidários mais mil­i­tantes, percebo que o voto em um ou outro can­didato dar-​se mais pelo critério da exclusão.

Muitos são os que dizem: no atual gov­er­nador não voto de jeito nen­hum. out­ros que dizem: se só tiver estes dois voto no atual para o gov­erno não voltar para a Sar­ney, em que pese haver mais «sar­ne­y­sis­tas» neste que gov­erno que no da sen­hora Roseana – e cada vez chegando mais.

Assim, percebo que existe, sim, espaço para o surg­i­mento de uma ter­ceira via.

Uma can­di­datura que con­siga mostrar para a sociedade que rep­re­senta algo novo, difer­ente do maniqueísmo desta política pró e anti-​Sarney, pró e con­tra o “din­ismo”. Alguém que mostre ideias e pro­postas capazes de, efe­ti­va­mente, reti­rar o Maran­hão do atraso a que está sub­metido esses anos todos.

O Alguém que faça o papel que esperá­va­mos fosse exer­cido pelo atual gov­erno, que era virar a página do atraso e que ele não foi capaz de fazer, e, ainda, tornou-​se uma espé­cie de “cov­eiro» da esper­ança dos maran­henses que ousaram pen­sar num estado difer­ente, avançado, com plena liber­dade de pen­sa­mento e desen­volvi­mento econômico e social.

A sociedade maran­hense tem a neces­si­dade de encon­trar esse alguém capaz de fazer a rup­tura defin­i­tiva com o atraso, sem o risco de vir a tornar-​se ape­nas mais um engodo.

Acred­ito que só assim, o Maran­hão poderá pen­sar em acom­pan­har seus viz­in­hos e tornar-​se, graças a tan­tos recur­sos que pos­sui, e a seu povo, um estado próspero e desenvolvido.

A per­manecer o atual quadro não tenho motivos para qual­quer otimismo pois esta é a quadra do atraso.

Encerro dizendo que certa vez atribuíram a Sar­ney uma colo­cação emblemática. Per­gun­tado sobre por que não unir o Piauí com o Maran­hão, teria respon­dido que mel­hor jun­tar com São Paulo ou outro estado mais desen­volvido. A junção destes dois, do meio norte, só serviria para criar o “Piorão”.

Se disse ou não, eu não sei, mas, pelo andar da car­ru­agem, com o Maran­hão tão mal na fita, acho que quem não quer se unir a ele é o Piauí.

Mas podemos mudar isso e só depende de nós fazê-​lo.

Abdon Mar­inho é advogado.