AbdonMarinho - A ÉTICA ELÁSTICA.
Bem Vindo a Pag­ina de Abdon Mar­inho, Ideias e Opiniões, Domingo, 24 de Novem­bro de 2024



A palavra é o instru­mento irre­sistível da con­quista da liber­dade.

A ÉTICA ELÁSTICA.

A ÉTICA ELÁSTICA.

UM antigo político maran­hense (mas deve ter out­ros semel­hantes noutras pla­cas) cos­tu­mava dizer que seus ami­gos não tin­ham defeitos, já os inimi­gos quando não os tinha, ele colocava.

Faz uns dias venho pen­sando no quanto a ética do brasileiro é con­tra­ditória e “elástica”.

Nunca se falou tanto em ética e moral­i­dade na política – e isso não vem de hoje –, mas, a cada eleição os cidadãos votam nos mes­mos políti­cos ou noutros piores. Com isso, o que temos teste­munhado é um quadro politico cada vez mais hor­ro­roso onde par­la­mentares dos mais vari­a­dos par­tidos e casas políti­cas não se con­strangem em nego­ciar suas emen­das que dev­e­riam reverter em bene­fí­cio para o povo.

Nos últi­mos anos, este é um dos negó­cios, talvez só per­dendo para o trá­fico de dro­gas e o roubo de car­gas, mais lucrativos.

O cidadão não sabe ou não procura saber o que se encon­tra por trás de uma obra de pés­sima qual­i­dade, entregue pela metade ou não entregue. O que está por trás são os vários “pedá­gios» que se tem que pagar antes que se torne um ben­efi­cio para cidadão que sus­tenta a farra com seus impostos.

Mas o cidadão, acred­ito, não seja muito mel­hor que seus representantes.

Outro dia assisti a uma série de reporta­gens sobre o roubo de car­gas no Rio de Janeiro.

O que vimos foram os cidadãos com­prando nos “feirões» diver­sos, pro­du­tos que sabiam, clara­mente, serem fru­tos de crimes.

Se um pro­duto custa dez e está ven­dido por seis ou cinco, só tem uma expli­cação: alguém o roubou, feriu um pai de família, aten­tou con­tra o patrimônio de out­rem para que chegasse a ser ven­dido por preço tão baixo. A regra é mesma para os celu­lares «barat­in­hos» adquiri­dos nas ruas.

E, esta conta, no final de tudo será paga pelos próprios que acham terem feito um “exce­lente negócio”.

Recen­te­mente, quase que “ao vivo” assis­ti­mos um cam­in­hão dos Cor­reios ser tomado de assalto e lev­ado para uma comu­nidade, local­izada a menos de 8 km do local do roubo, onde diver­sos cidadãos, sem esboçar con­strang­i­mento, e ainda pro­te­gido por um ban­dido armado, se apro­pri­avam dos pro­du­tos do mesmo. Até uma mãe, car­regando uma cri­ança de colo, estava por lá.

Não pre­cisamos ir muito longe. Em qual­quer rodovia ou via pública do Maran­hão, onde tombe um veiculo de carga, um veiculo de pas­seio – mesmo um aci­dente com viti­mas fatais –, se aprox­ima uma mul­ti­dão não pre­ocu­pada em socor­rer as víti­mas, mas sim para lhes fur­tar os per­tences. Não faz muito tempo repe­ti­ram tal prática, igual­mente odi­enta, com pequeno avião.

Em muitas estradas do Maran­hão, tem-​se notí­cias que pes­soas colo­cam obstácu­los nas vias para faz­erem cam­in­hões tombarem e roubarem suas cargas.

Essas práti­cas diferem muito daquele cidadão que coloca a arma na cabeça do transe­unte para lhe roubar os per­tences? Acred­ito que não.

A degen­er­ação do padrão ético nacional é refletido e é o reflexo da classe política que temos hoje.

Ano que vem ter­e­mos eleições gerais. Ire­mos eleger, de pres­i­dente da República a dep­uta­dos estad­u­ais. E bem poucos não pos­suem folha corrida.

Vejam onde cheg­amos, não ter­e­mos que escol­her entre quem fez ou faz algo em prol da sociedade, mas, sim entre os pos­suidores das menores fol­has cor­ri­das, ou mesmo entre aque­les que sabe­mos serem, notada­mente, mal-​intencionados.

Será que existe algo mais emblemático para uma nação que o fato do prin­ci­pal can­didato ao cargo de man­datário maior do país ser, jus­ta­mente, alguém já con­de­nado por cor­rupção pas­siva (ainda em primeira instân­cia) e ser réu em cinco out­ros proces­sos por deli­tos diver­sos, entre os quais pon­tif­ica o de corrupção?

Estran­hamente, uma grande parcela da pop­u­lação apoia este tipo de coisa. E, não são ape­nas cidadãos sim­plórios, inocentes a ponto de acred­i­tar que o ex-​presidente é vítima de con­spir­ação da “dire­ita”, do cap­i­tal­ismo inter­na­cional e de out­ros espec­tros que usam para jus­ti­ficar o injus­ti­ficável, alcança, tam­bém, grande parte da chamada «elite int­elec­tual» brasileira, que não vê nada demais nos malfeitos que não seg­re­dos a ninguém.

Mes­mos os mil­hões encon­tra­dos nas contas-​correntes e planos de pre­v­idên­cia pri­vada, de origem sus­peita, depósi­tos em cur­tos inter­va­los e em quan­tias incom­patíveis, pare­cem sufi­cientes para demove-​los do apoio absurdo ao demi­urgo petista.

Ao menos em tese essas pes­soas, da chamada int­elec­tu­al­i­dade nacional, dev­e­riam ser intran­si­gentes na defesa da ética e da pro­bidade pública, serem uma espé­cie de farol a con­duzir a pop­u­lação em busca de um país melhor.

Não, não venha dizer que a con­de­nação é em primeira instân­cia e que defen­dem o Estado Democrático de Direito.

Isso não é ver­dade, basta lem­brar que por ocasião da con­de­nação de impor­tantes fig­uras do par­tido e seus ali­a­dos pela mais alta Corte de Justiça, o Supremo Tri­bunal Fed­eral — STF, tam­bém colo­caram em xeque aque­las condenações.

Diziam, numa argu­men­tação meio tosca, que os mes­mos dev­e­riam ser jul­ga­dos pela primeira instân­cia da Justiça.

Foram além, por ocasião da imposição do cumpri­mento das penas, saíram as ruas – e nas mídias –, chamando os con­de­na­dos de “guer­reiros do povo brasileiro”.

Agora, por ocasião da primeira con­de­nação do ex-​presidente, ten­tam, por todas for­mas, desqual­i­ficar a sen­tença de primeiro grau, com argu­men­tos que não são jurídi­cos, posto que inex­is­tentes, mas uma ten­ta­tiva de dar viés politico ao processo judicial.

A bem da ver­dade, essas pes­soas não acred­i­tam na Justiça como um valor uni­ver­sal. Justiça é aquela que se sub­mete à leitura ide­ológ­ica dos seus interesses.

Assim, é válido que desviem os recur­sos públi­cos, se no inter­esse da “causa» ou dos seus comandantes.

São pes­soas que pos­suem uma ética con­forme a conveniência.

Agora mesmo, durante a sessão da Câmara dos Dep­uta­dos que rejeitou a autor­iza­ção para que o atual pres­i­dente Michel Temer tivesse uma denún­cia por cor­rupção encam­in­hada ao Supremo Tri­bunal Fed­eral, o que mais vimos foram os defen­sores da ética de ocasião, procla­marem por justiça e con­tra a corrupção.

Ora, estes mes­mos indig­na­dos são os mais ardorosos defen­sores de uma can­di­datura de alguém já con­de­nado por cor­rupção (ainda em primeira instân­cia, mas con­de­nado) e que lid­erou os gov­er­nos mais cor­rup­tos que se tem noti­cias na história do país.

O “men­salão”, o “petrolão”, o “quadrilhão”, os escân­da­los nos fun­dos de pen­são, o alcance nos recur­sos do BNDES são fru­tos da Era lulo-​petista.

Vou além, mesmo o sen­hor Michel Temer – que faz um gov­erno hor­ro­roso –, é fruto daquela Era, do mod­elo que inven­taram para governar.

Ape­nas para lem­brar: o sen­hor Temer foi escol­hido vice-​presidente nos dois mandatos da sen­hora Dilma Rouss­eff, por eles – pelos mes­mos que agora resolveram enx­er­gar seus defeitos.

Será que desco­bri­ram só agora que Temer e seu grupo é cor­rupto? Não! A difer­ença é que antes estavam todos jun­tos mamando nas tetas do Estado brasileiro.

Falam agora em ética e em cor­rupção e não viam o que acon­te­cia no seu próprio gov­erno? Ora, a única difer­ença entre este e os gov­er­nos lulo-​petistas é que o pres­i­dente fala por­tuguês um pouquinho (só um pouquinho) mel­hor que seus ante­ces­sores. Fora isso a ban­dalha é a mesma.

Só que antes era con­ve­niente que não vissem.