AbdonMarinho - O SILÊNCIO DOS CULPADOS OU A VENEZUELA É LOGO ALI.
Bem Vindo a Pag­ina de Abdon Mar­inho, Ideias e Opiniões, Domingo, 24 de Novem­bro de 2024



A palavra é o instru­mento irre­sistível da con­quista da liber­dade.

O SILÊN­CIO DOS CUL­PA­DOS OU A VENEZUELA É LOGO ALI.

O SILÊN­CIO DOS CUL­PA­DOS OU A VENEZUELA É LOGO ALI.

TODOS os dias cen­te­nas de venezue­lanos cruzam a fron­teira para o Brasil em busca de uma condição de vida mel­hor para si e para os seus. Aqui chegando os que não pos­suem meios e/​ou qual­i­fi­cação sufi­ciente, lançam de qual­quer coisa, inclu­sive do próprio corpo para sobreviverem.

Fogem da escassez de ali­men­tos, de remé­dios, da repressão política.

Os que ficam na Venezuela, diari­a­mente, engrossam os cordões de protestos, vio­len­ta­mente reprim­i­dos pelo gov­erno, que, em ape­nas três meses, ceifou a vida de quase uma cen­tena de cidadãos, sobre­tudo de jovens, na faixa de 18 a 25 anos. Não faz muito tempo, em ape­nas um dia, cinco jovens, nesta faixa de idade, perderam vida.

Os caraque­ños mais humildes dis­putam com os ani­mais as sobras das feiras livres e os refu­gos dos super­me­r­ca­dos. Numa das cenas mais tocantes dos últi­mos tem­pos vi uma sen­hora, durante um protesto, enfrentar as forças gov­er­na­men­tais com uma frase cor­tante: — protesto porque tenho fome. Vais me matar por ter fome?

Isso foi lá atrás, hoje os venezue­lanos protes­tam porque, além da fome, da econo­mia em fran­gal­hos, da repressão política, querem democ­ra­cia e não supor­tam mais o mod­elo boli­var­i­ano, implan­tado naquele país.

Noutra ponta temos o gov­erno de Nico­las Maduro ace­nando com mais autori­tarismo, com mais ditadura.

Já falamos em vezes ante­ri­ores sobre a crise na Venezuela e, inclu­sive, dos seus reflexos no nosso país, onde Roraima, porta de entrada destes irmãos do Norte, encontra-​se à beira de uma crise human­itária, sem poder ofer­e­cer os serviços essen­ci­ais a estes migrantes e à sua própria população.

Desta vez abor­dare­mos o estranho silên­cio da classe política brasileira ao que vem ocor­rendo na Venezuela.

Não falo do silên­cio do gov­erno, este até tem se man­i­fes­tado com firmeza, cobrando soluções para a crise e pedindo democracia.

O prob­lema é que estes protestos são repeli­dos sob o argu­mento de que o atual gov­erno é “golpista”, por­tanto, não pos­suindo qual­quer legit­im­i­dade para recla­mar de nada em relação ao país vizinho.

Pois bem, se se pode ale­gar ile­git­im­i­dade do gov­erno – que pode­ria se esten­der até políti­cos da sua base, pelo raciocínio boli­var­i­ano –, o mesmo não se daria em relação aos políti­cos da oposição – aque­les que até ontem eram governo.

Estes políti­cos, que hoje estão na oposição, sobre­tudo, os lig­a­dos ao ex-​presidente Lula – e ainda os mais rad­i­cais –, sem­pre defend­eram o mod­elo boli­var­i­ano como o ideal para ser implan­tado no Brasil. Teciam loas ao ex-​ditador Hugo Chavez e ao seu pupilo Nicolás Maduro, como fig­uras ideais do cenário político mundial.

O Brasil nos gov­er­nos Lula/​Dilma, chegou ao ponto de contentar-​se em ser coad­ju­vante – ape­sar de infini­ta­mente mais rico e impor­tante politi­ca­mente –, no con­texto sul-​americano, deixando a Venezuela como pro­tag­o­nista e “potên­cia” regional.

No exem­plo claro das prefer­ên­cias ide­ológ­ica superando a lóg­ica política, o Brasil que, can­di­da­mente, aceitava ser coad­ju­vante, abria os cofres nacionais para inves­ti­men­tos no país viz­inho – e não ao con­trário –, na clás­sica situ­ação do “rabo bal­ançando o cachorro”.

No único episó­dio em que a Venezuela, ainda através de Chavez, disse que iria inve­stir no Brasil, foi na já famosa refi­naria Abreu e Lima, em Per­nam­buco, e lev­a­mos um “cano” bil­ionário, mais de 8 bil­hões de dólares.

Ape­sar do “cano” o Brasil con­tin­uou seus inves­ti­men­tos por lá, abrindo os cofres do BNDES para diver­sos empresários ami­gos para estes faz­erem lá, na Venezuela, as obras estru­tu­rantes que tam­bém fal­tavam ao Brasil.

Estes são recur­sos que o Brasil difi­cil­mente rece­berá de volta.

Pois bem, os políti­cos nacionais que par­tic­i­param, endos­saram, fes­te­jaram, raste­jaram aos pés de Chavez e Maduro, hoje não têm nada a dizer sobre a crise política, a vio­lên­cia desen­f­reada – muitas vezes por ordem estatal –, con­tra os cidadãos, a dis­solução das insti­tu­ições e o fim da democracia.

As vezes até procuro em seus sites alguma opinião sobre a situ­ação venezue­lana e nada encon­tro. É como se a Venezuela tivesse “sum­ido” do mapa para estes políti­cos brasileiros.

Quando cobro essa coerên­cia, essa man­i­fes­tação, faço isso porque estes políti­cos endos­saram o chav­ismo, o mod­elo boli­var­i­ano. Se cobro dos ex-​presidentes Lula e Dilma que digam algo, é porque o primeiro esteve lá par­tic­i­pando da cam­panha que “elegeu” o sen­hor Maduro. É porque eles, com nos­sos recur­sos, recur­sos do povo brasileiro, con­tribuíram com a ditadura que se instalou por lá.

Estes ex-​governantes “fiz­eram o diabo” para elegerem Maduro. Até os seus mar­queteiros foram deslo­ca­dos para lá, regia­mente pagos com din­heiro de propinas, con­forme eles mes­mos con­fes­saram à justiça brasileira.

Estes, e tan­tos out­ros políti­cos brasileiros, ainda os que não con­tribuíram dire­ta­mente com a eleição de Maduro, sem­pre defend­eram o mod­elo bolivariano.

E não só os políti­cos, os chama­dos “int­elec­tu­ais” foram na mesma onda.

O que têm a dizer sobre a “con­sti­tu­inte” con­vo­cada por Maduro com o claro propósito de diminuir os poderes dos par­la­mentares e aumen­tar os seus? Que têm a final­i­dade de levar as próx­i­mas eleições para as cal­en­das? Que pre­tende criar um mod­elo tar­dio de par­tido único com o poder entregue aos poucos boli­var­i­anos que restam em detri­mento do resto da população?

Ninguém escuta a opinião destes valentes sobre a atual real­i­dade da Venezuela. Estão todos silentes.

Este é o silên­cio da culpa ou da covar­dia, con­forme queiram.

Abdon Mar­inho é advogado.

Em tempo: Este texto foi escrito antes das declar­ações da senadora Gleisi Hoff­mann, nos seguintes ter­mos: “O PT man­i­festa seu apoio e sol­i­dariedade ao gov­erno do PSUV, seus ali­a­dos e ao pres­i­dente Nicolás Maduro frente à vio­lenta ofen­siva da dire­ita con­tra o gov­erno da Venezuela e con­de­n­amos o recente ataque ter­ror­ista con­tra a Corte Suprema. Temos a expec­ta­tiva que a Assem­bleia Con­sti­tu­inte possa con­tribuir para uma con­sol­i­dação cada vez maior da rev­olução boli­var­i­ana e que as divergên­cias políti­cas se resolvam de forma pacífica”.