AbdonMarinho - ROUBAM TUDO, ATÉ O FUTURO DO BRASIL.
Bem Vindo a Pag­ina de Abdon Mar­inho, Ideias e Opiniões, Domingo, 24 de Novem­bro de 2024



A palavra é o instru­mento irre­sistível da con­quista da liber­dade.

ROUBAM TUDO, ATÉ O FUTURO DO BRASIL.

ROUBAM TUDO, ATÉ O FUTURO DO BRASIL.

CRESCE­MOS com uma ideia: o Brasil é o país do futuro. Só que o tempo pas­sou, o futuro chegou e o Brasil, ao que parece, não avançou muito. Em alguns setores, podemos dizer sem medo de errar, o país andou para trás.

A impressão que tenho ao exam­i­nar o que acon­te­ceu é que o Brasil viveu a exper­iên­cia de cer­tos fru­tos: ficou bonito, vis­toso, mas apo­dreceu sem que ficasse maduro. Secou no pé.

Esta impressão é cor­rob­o­rada por diver­sos fatos.

Não faz muito, ao assi­s­tir um debate numa rede de tele­visão sobre o que aguarda o país para os próx­i­mos anos, chegou-​se a uma con­clusão, com­par­til­hada por mim, que assis­tia, e aos debate­dores: o Brasil não tem um pro­jeto de futuro. Pelo menos não tem um pos­samos con­sid­erar como tal. Pes­simismo?! Talvez. Mas é o que se afigura.

A classe política do país – que teria a respon­s­abil­i­dade de apon­tar um rumo –, não tem nada a ofer­e­cer. Não con­seguem reunir-​se, em nome do país, em torno de uma agenda mín­ima. Na ver­dade, os nos­sos políti­cos só têm dois pen­sa­men­tos: as próx­i­mas eleições e como ficar rico fazendo política. A estes dois pen­sa­men­tos somou-​se um ter­ceiro, como sal­var o próprio pescoço diante das investi­das da Polí­cia Fed­eral, do Min­istério Público e de de alguns setores do Judiciário.

A cada fato rev­e­lado pela Oper­ação Lava Jato, descobre-​se, um pouco mais, como for­tu­nas foram – e são – feitas tendo matriz recur­sos públi­cos desvi­a­dos, seja de empre­sas, sejam de ban­cos ofi­ci­ais, sejam de fun­dos de pen­são dos servi­dores públi­cos, ou seja, recur­sos do povo brasileiro, que dev­e­riam ser investi­dos, na edu­cação das cri­anças e jovens, na saúde da pop­u­lação, no sanea­mento básico uma vez que o país ainda pos­sui indi­cadores africanos, ou mesmo na infra-​estrutura de rodovias, hidrovias, fer­rovias ou por­tuárias, sim­ples­mente são desviados.

Vive­mos em um país em que din­heiro público serviu e serve para irri­gar con­tas de políti­cos, transformá-​los em mil­ionários da noite para o dia. Pes­soas que nada tin­ham antes de entrar na política, não mais que de repente, apare­cem como prósperos empresários, fazen­deiros, etc.

Como sabe­mos os políti­cos brasileiros – agentes públi­cos – são os mel­hores renu­mer­a­dos do mundo. Em que pese esse fausto e, ainda, com todas as mor­do­mias pro­por­cionadas pelos car­gos, não teriam como con­struir as for­tu­nas que constroem.

A expli­cação é ape­nas uma: cor­rupção desenfreada.

Neste que­sito pos­suem «exper­tise» e, sabe­mos agora, cri­aram até uma nova Unidade de Medida: a mochila, capaz de armazenar 500 mil dólares ou euros, prin­ci­pal­mente esta última moeda, segundo os nos­sos políti­cos, mais difí­cil de ser rastreada.

Enquanto isso, diante de uma safra recorde – graças a um inverno gen­eroso –, não con­seguimos fazê-​la chegar ao des­tino, no prazo e sem per­das sig­ni­fica­ti­vas, porque a infraestru­tura de trans­porte inex­iste, ou são, tam­bém, novos bio­m­bos de corrupção.

Como podemos acred­i­tar no futuro do país se no pas­sado e no pre­sente não há quais­quer medi­das ten­dentes a implementá-​lo? Quem liga para o país, para os esta­dos ou municí­pios? Bem poucos, a exceção da exceção. No geral, estão, cada um, pre­ocu­pa­dos em se darem bem, em tirarem todas as van­ta­gens dos car­gos e dos espaços de poder que pos­suem, sejam estas líc­i­tas ou ilíc­i­tas, prin­ci­pal­mente esta última.

Neste momento, em que os seus crimes se tornaram nos­sas com­pan­hias diárias, no acor­dar, no café da manhã, no almoço, no jan­tar e mesmo na hora de dormir, as ideias surgi­das nos palá­cios são ape­nas no sen­tido de se preser­varem e de man­terem ainda mais intocáveis seus nichos de poder e de corrupção.

A porta de entrada da cor­rupção na política brasileira é o sis­tema político, a dom­i­nação dos par­tidos por aut­en­ti­cas máfias, que criam par­tidos (salvo as exceções) com o único propósito de enri­carem com eles, nego­ciando as leg­en­das, vendendo seus espaços “gra­tu­itos» no rádio e na tele­visão e/​ou, mesmo, «vendendo» a leg­enda a quem quer se can­di­datar e ainda “vendendo” a leg­enda aos adver­sários de seus can­didatos. Uma espé­cie de crime per­feito: você ganha a eleição impedindo que seu adver­sário dispute.

Não se escan­dal­izem, na eleição pas­sada, munic­i­pal, foi o que mais se viu. Não se escan­dal­ize dois, na última eleição geral, de 2014, as delações ates­tam, os par­tidos, inclu­sive os tidos por sérios, rece­beram propina, caixa dois, din­heiro sujo, ou o que o valha, para apoiar deter­mi­na­dos can­didatos. Din­heiro alto, na casa dos milhões.

Com tudo isso, estran­hamente, ninguém fala, em cas­sar tais leg­en­das, em punir seus diri­gentes e/​ou can­didatos eleitos ou não, que rece­beram o din­heiro sujo, muito pelo con­trário, os “sábios» de Brasilia, inclu­sive alguns setores da int­elec­tu­al­i­dade brasileira (eu morro e não des­cubro que tipo de erva esse povo usa), saíram com a ideia genial de aprovarem uma lei para dar a estes par­tidos, estes mes­mos, que fazem todo tipo de negó­cio com as leg­en­das e com o din­heiro público, o poder de man­dar a ainda mais. Pas­sar a eles o poder que hoje tem maior par­tic­i­pação do povo: o de decidi­rem quem serão seus rep­re­sen­tantes nos parlamentos.

Para isso, usam uma ideia que, segundo dizem, é apli­cada com êxito em quase todas as democ­ra­cias do mundo civ­i­lizado: a tal da lista fechada, pre­or­de­nada. O cidadão vai votar no par­tido con­forme a lista pre­vi­a­mente disponi­bi­lizada pelo par­tido. Você quer votar em fulano que está lá no fim da fila e ao invés disso, o seu voto elege o que o par­tido colo­cou no começo da fila. Genial.

Não duvido que isso fun­cione noutros países. Mas fun­cionará com sucesso no Brasil, diante dos níveis de cor­rupção que vemos nas máquinas par­tidárias, onde os par­tidos são negó­cios de famílias, onde as leg­en­das são nego­ci­adas a cada esquina?

Deduzo tratar-​se de mais um engodo. Um desvio de atenção e uma ten­ta­tiva de man­ter os mes­mos cor­rup­tos de sem­pre encaste­la­dos no poder.

Alguém tem dúvi­das como serão for­madas as lis­tas? Será que as leg­en­das vão deixar de fora seus fig­urões, ainda que enro­la­dos até o fios de cabe­los na lama da cor­rupção? Ou os seus famil­iares? Quando muito, para enga­nar os incau­tos, colo­carão alguém famoso, um artista, na lista para puxar os votos e aju­darem a man­ter o «sta­tus quo” dos cor­rup­tos. Será que não intuem que nos municí­pios, com a pos­si­bil­i­dade dos par­tidos, prati­ca­mente, indi­carem quem serão os seus rep­re­sen­tantes, isso vai ape­nas incen­ti­var ainda mais o valioso negó­cio de venda de leg­en­das ou as vel­has oli­gar­quias familiares?

Infe­liz­mente, ideias boas, sucesso no mundo inteiro e que, não duvido, até serviriam para baratear o custo das cam­pan­has, no Brasil terá o efeito jus­ta­mente inverso. Os can­didatos, mesmo os traf­i­cantes, as máfias, o crime orga­ni­zado, vão com­prar as leg­en­das par­tidárias, numa primeira ver­tente da cor­rupção e depois, se inserirem no poder.

Os ideól­o­gos do Brasil ou agem de má-​fé ou não con­hecem a real­i­dade do país. Não sabem que os par­tidos são car­to­ri­ais, que exis­tem den­tro de uma pasta e são con­sti­tuí­dos, pelo pai, mãe, pri­mos ou empre­ga­dos, que os brasileiros comuns, se não par­tic­i­pam da vida política do país, muito menos têm quais­quer inserção den­tro das agremi­ações. Se a política já virou uma espé­cie de «Pro­grama Primeiro Emprego” para muitos que não deram “para nada”, exper­i­mentem fazer este novo arranjo.

O Brasil pre­cisa atrair os brasileiros para o cen­tro de suas decisões, acred­ito que a forma mais certa disso ocor­rer é fazendo com que escol­ham seus rep­re­sen­tante de forma mais próx­ima pos­sível. Uma forma disso ocor­rer é com a divisão do país, esta­dos, municí­pios em dis­tri­tos e colo­car os par­tidos, através dos seus can­didatos, para bus­car o apoio da pop­u­lação. Seguido a isso com a pos­si­bil­i­dade de recall.

Voltare­mos a esse debate noutra oportunidade.

Outra porta de entrada da cor­rupção no país atende pelo nome de emenda par­la­men­tar. O par­la­men­tar tem com mis­são leg­is­lar e fis­calizar. A emenda par­la­men­tar é uma forma de exe­cu­tar e, segundo a voz cor­rente, estas emen­das são nego­ci­adas país a fora sem qual­quer pudor ou con­t­role. O par­la­men­tar des­tina uma emenda e cobra do des­ti­natário, gestor ou empresário, um per­centual da mesma – com as ressal­vas de sem­pre. Como resul­tado temos obras cada vez mais frágeis e que pas­sam o resto da vida a neces­si­tar de reparos.

Por incrível que pareça, todos pare­cem fin­gir descon­hecer que isso ocorre e, pelo con­trário, tratam de reforçar o papel de tais práti­cas, fazendo de tais emen­das “impositivas”.

Vez por outra me per­gunto, como podemos con­tin­uar acred­i­tando num país em que o errado é o certo, em que a des­on­esti­dade é pre­mi­ada e em que as insti­tu­ições, que dev­e­riam zelar pela coisa pública, tornaram-​se ver­dadeiros antros de malfeitores?

Vejo, não sem pesar, mil­hares de brasileiros cansa­dos, se mudando para out­ros países. Desi­s­ti­ram. Perderam as esperanças.

Abdon Mar­inho é advogado.