AbdonMarinho - UMA GUERRA SEM VENCEDORES.
Bem Vindo a Pag­ina de Abdon Mar­inho, Ideias e Opiniões, Domingo, 24 de Novem­bro de 2024



A palavra é o instru­mento irre­sistível da con­quista da liber­dade.

UMA GUERRA SEM VENCEDORES.

UMA GUERRA SEM VENCEDORES.

QUEM venceu a eleição de São Luís neste segundo turno? Uma per­gunta tola. Uma ligeira pesquisa rev­ela que o atual prefeito, Edi­valdo Holanda Júnior, sagrou-​se vence­dor ao obter 53,94% dos votos váli­dos, con­tra 46,06% dos votos do seu opo­nente, o dep­utado estad­ual Eduardo Braide.

Ao vence­dor bas­taria ape­nas um voto de difer­ença. Obteve mais de 40 mil, em ter­mos per­centu­ais, cerca de sete por cento.

Mas, além dos números, esta­mos diante de uma vitória a mere­cer fes­te­jos e fanfarras?

A análise deve ir além da adu­lação devotada aos eleitos e que nunca é desinteressada.

A expressão Vitória Pír­rica ou Vitória de Pirro serve para des­ig­nar aquela vitória obtida com um custo ele­vado. Leva esse nome em hom­e­nagem ao rei Pirro do Épiro, vence­dor dos romanos na Batalha de Her­a­cleia, em 280 a.C., e na Batalha de Ásculo, em 279 a.C., na chamada Guerra Pír­rica, à custa de per­das irreparáveis ao seu exército.

O prefeito venceu a eleição, ocu­pará por mais qua­tro anos o Palá­cio de La Ravadiere. Mas, a que custo? Qual o nível de acerto fir­mou com os fiadores desta estre­ita vitória?

Quando se escala para batal­has gen­erais do quilate do gov­er­nador Flávio Dino, dos dep­uta­dos Wew­er­ton Rocha, Waldir Maran­hão, Oth­e­lino Neto; lid­er­anças como o secretário Már­cio Jerry, pres­i­dente do PC do B, e tan­tos out­ros, dezenas de vereadores, e se obtém uma vitória com menos de dez por cento de difer­ença, todos se tor­nam sócios da con­quista, todos dese­jarão seu quinhão.

Vou além. Quando ques­tiono quem venceu e custo desta con­quista, tam­bém me refiro aos con­ceitos e con­vicções que adqui­r­i­mos e luta­mos, do que seja uma democ­ra­cia e como os líderes políti­cos nelas, devam se portar.

Vejamos, desde 1985, quando os prefeitos das cap­i­tais pas­saram a ser escol­hi­dos através de eleições dire­tas, após os vinte e um anos do régime de exceção, não se ouvia falar tanto, com tanta inten­si­dade de abuso de poder político, econômico e o que os valham.

Algo semel­hante e ainda assim dis­tante do que vimos nesta eleição – uma ver­dadeira guerra – se deu na eleição daquele ano, quando o can­didato do «gov­erno» fora apoiado pelo prefeito de então, pelo gov­er­nador e até pelo pres­i­dente da República. O can­didato fazia questão e até usou como slo­gan a expressão: «Força Total». E era a força total que se via com máquinas das prefeitura e do estado asfal­tando ruas dia e noite, abrindo estradas, fazendo favores, dis­tribuindo ces­tas bási­cas e tan­tos out­ros bene­fí­cios à pop­u­lação mais vulnerável.

Diante das infini­tas denún­cias de cidadãos que ouvi e vi pelos mais vari­a­dos veícu­los de comu­ni­cação, não foi muito difer­ente do que ocor­reu nesta eleição. E, com um agrava­mento, naquele tempo as coisas não eram divul­gadas como hoje numa infinidade de blogs, redes soci­ais e demais veícu­los à soldo das admin­is­trações estad­ual e munic­i­pal o cria o efeito expo­nen­cial dos malfeitos.

Quem não can­sou de ver a mídia do gov­erno estad­ual divul­gar suas ações, e estas mes­mas serem divul­gadas pelo candidato/​prefeito na pro­pa­ganda eleitoral? E estas mes­mas pro­pa­gan­das serem repli­cadas por inúmeros blogueiros e per­fis nas redes de inter­net e nos diver­sos mod­e­los de mídias? Será que estas obras e ações con­tin­uarão com o mesmo furor daqui para frente?

O que se diz que fiz­eram nes­tas eleições (aqui estendo ao inte­rior) – e não tenho motivos para duvi­dar – é abso­lu­ta­mente incom­patível com a promessa feita pelo gov­er­nador ao assumir o mandato: de que estava procla­mando a República no Maranhão.

Não vejo como repub­li­cano um gov­erno dese­qui­li­brar uma dis­puta eleitoral em favor de um can­didato numa eleição munic­i­pal. E o dese­qui­líbrio ocor­reu com a exe­cução de obras de asfal­ta­mento e calça­mento de ruas e out­ras medi­das clara­mente explo­radas como da suposta «parce­ria» estado/​prefeitura que o próprio gov­er­nador fez questão de enfa­ti­zar na pro­pa­ganda do can­didato que apoiava.

Mas não é só, todos – ou quase todos – aux­il­iares do gov­er­nador estavam envolvi­dos dire­ta­mente na cam­panha do candidato/​prefeito. Não se tratava de man­i­fes­tação indi­vid­ual de cidada­nia. Era uma orques­tração delib­er­ada obe­di­ente a um comando central.

Numa República que mereça ser chamada assim, o mín­imo que se pode esperar das autori­dades é um dis­tan­ci­a­mento insti­tu­cional da dis­puta, garan­ti­ndo que os com­peti­dores ten­ham mesmo nível de armas. Não foi o que se viu.

E teve mais. Não lem­bro de ter ouvido, noutras opor­tu­nidades o que ouvi nes­tas eleições. Segundo dizem, dezenas de jornalistas/​blogueiros, talvez cen­te­nas, estavam a serviço da prefeitura e do gov­erno estad­ual para «descon­struir» o adver­sário ou adver­sários do candidato/​prefeito, ou seja, essa infinidade de matérias neg­a­ti­vas do can­didato opos­i­tor, segundo dizem, estavam/​estão sendo ban­cadas pelo cidadão con­tribuinte que vota, no prefeito, no opos­i­tor ou em quem quiser, mas o seu din­heir­inho é usado em bene­fí­cio de ape­nas um.

Não é de agora, serviços de «inteligên­cia» ou para fazer «jogo sujo», inves­ti­gar os adver­sários, soltar notí­cias sobre os mes­mos sem­pre exi­s­ti­ram. Emb­ora não seja recomendável – acred­ito que o debate eleitoral deva ocor­rer no campo das ideias –, não se tem como impedir. O que tem de difer­ente, repito, segundo dizem, é que o poder público, nas duas esferas esteve «ban­cando» este tipo de com­por­ta­mento crim­i­noso. Daí porque diver­sos blogueiros e jor­nal­is­tas críti­cos dos gov­er­nos munic­i­pal e/​ou estad­ual pas­saram a só enx­er­gar as qual­i­dades de ambos e a pin­tar os opos­i­tores com as cores de satanás.

Como des­graça pouca é bobagem, ainda segundo dizem, infor­mações sob a guarda e respon­s­abil­i­dade do Estado e infor­mações de inquéri­tos e proces­sos em cur­sos foram «facil­i­tadas» para que chegassem ao con­hec­i­mento deste apar­elho crim­i­noso de difamação.

As notí­cias são graves e não guardam semel­hança com as promes­sas do gov­er­nador na sua cam­panha e por ocasião de sua posse e que pre­cisam de um olhar atento das demais autori­dades do Min­istério Público e do Judi­ciário. Aliás, pre­cisam que o próprio gov­er­nador caia em si e perceba que tem algo fora de ordem. Essa não foi a luta que trava­mos durante toda a nossa vida pela alternân­cia de poder no Maranhão.

A luta sem­pre foi por uma alter­na­tiva ao sar­neysmo e não por um retorno ao vitorin­ismo ou algo pior. Não se trata de com­bater pes­soas e sim, ideias, práti­cas. Se você assume em com­bater deter­mi­na­dos méto­dos e passa, ao con­trário, a praticá-​los, não está sendo igual aos ante­ces­sores, está sim, sendo pior.

Se tem fundo de ver­dade tais notí­cias, esta­mos diante de um estado poli­cial que usa poder para oprimir, difamar e con­stranger as pes­soas que ousam dis­cor­dar do governo.

Pois bem, com tudo isso, e ainda com a escalação do «bate­dor de pênalti», gov­er­nador Flávio Dino, para decidir a par­tida – numa prática de inserções, segundo soube, con­sid­er­adas abu­si­vas pela justiça eleitoral –, con­seguiu colo­car ape­nas sete pon­tos per­centu­ais à frente do adver­sário. Ainda mais, quando este adver­sário revelou-​se pos­suir frag­ili­dades intransponíveis no campo da ética, apon­tando, inclu­sive, como par­ticipe em escân­da­los inde­fen­sáveis. Tudo isso explo­rado à exaustão diante dos olhos da sociedade.

Ora, se para vencer um can­didato com tan­tas frag­ili­dades fez-​se uso de todo esse arse­nal, o que teriam de fazer para vencer alguém com bom nome, inat­acável, com com­petên­cia reconhecida?

Con­siderando todos esses fatos; con­siderando que até levar o can­didato para votar o gov­er­nador se prestou – e logo cedo para imagem ressoar o dia inteiro nos meios de comu­ni­cação –, não é sem razão inda­gar se houve algum vence­dor nesta guerra. Se houve, esta­mos diante de uma autên­tica vitória de Pirro.

Ao meu sen­tir, ninguém saiu vito­rioso. Mas a maior der­rota foi mesmo da esper­ança que um dia tive­mos de ver o Maran­hão longe de tan­tos vícios e cam­in­hando para o desen­volvi­mento com democ­ra­cia, com liber­dade, com igualdade.

Como dizia o poeta: «vejo o futuro repe­tir o pas­sado, vejo um museu de grandes novidades…»

Abdon Mar­inho é advogado.

(Texto sem correção).