AbdonMarinho - FRACASSO OLÍMPICO.
Bem Vindo a Pag­ina de Abdon Mar­inho, Ideias e Opiniões, Domingo, 24 de Novem­bro de 2024



A palavra é o instru­mento irre­sistível da con­quista da liber­dade.

FRA­CASSO OLÍMPICO.

FRACASSO OLÍMPICO.

OS JOGOS OLÍMPI­COS do Rio de Janeiro ainda não começaram mas já temos um grande fra­cas­sado: o Brasil. Não falo dos resul­ta­dos dos jogos em ter­mos de medal­has (emb­ora não tenha muitos motivos para acred­i­tar que nos saire­mos bem, um sucesso aqui ou ali será dev­ido, sobre­tudo, ao esforço indi­vid­ual dos atle­tas, emb­ora os gov­er­nos brasileiros, que pouco ou nada con­tribuíram, sejam useiros e vezeiros em usar tais feitos em proveito próprio). Falo do que ire­mos mostrar ao mundo: uma Cidade Olímpica em “Estado de Sítio”.

Neste que­sito o Brasil é um fra­casso, ainda que os jogos transcor­ram sem qual­quer inci­dente sério, como um aten­tando ter­ror­ista – e nação alguma no mundo está imune a qual­quer louco que resolva causar mal aos out­ros –, ou mesmo inci­dentes com os ban­di­dos locais, cada vez mais audaciosos.

Neste que­sito o Brasil vai mostrar o quanto fra­cas­sou na sua política de segu­rança pública – sem igno­rar os demais fra­cas­sos, na saúde, edu­cação, infraestru­tura, cor­rupção, etc. –, ainda que os aten­ta­dos ter­ror­is­tas ocor­ri­dos em escala mundial sir­vam para amainar o prob­lema e poder­mos dizer que os mil­hares de sol­da­dos colo­ca­dos à dis­posição do evento tem haver com essa pre­ocu­pação, na real­i­dade, saber­e­mos que a ver­dade é outra: os mil­hares de sol­da­dos, os mil­hões de reais despendi­dos com a segu­rança dos jogos servirão para pas­sar a falsa ideia de uma nação segura.

Uma olimpíada é a opor­tu­nidade esper­ada por cidades e nações para mostrarem o seu mel­hor, suas poten­cial­i­dades. Tem sido assim em todo canto. Aqui, este fra­casso anunciado.

A Olimpíada do Rio de Janeiro será o que foi a Copa do Mundo de 2014. O nosso país fra­cas­sou bem antes do ver­gonhoso 7 a 1 para Ale­manha. Fra­cas­sou quando se propôs a realizar o evento; fra­cas­sou quando fes­te­jou a escolha; fra­cas­sou na mega­lo­ma­nia de fazer a «maior de todas as copas»; fra­cas­sou ao con­struir ver­dadeiros mon­u­men­tos ao des­perdí­cio que só servi­ram – e mal –, a copa, e hoje estão sem util­i­dade, gerando cus­tos aos esta­dos; fra­cas­sou ao não entre­gar o prometido legado, deixando obras pela metade e super­fat­u­radas; fra­cas­sou ao per­mi­tir um dos maiores assaltos aos cofres públi­cos, con­forme recentes inves­ti­gações revelam.

Não, meus ami­gos, o nosso fra­casso não foi ape­nas perder de 7 a 1 para Ale­manha, aquela der­rota ape­nas foi a cereja do bolo de todos os absur­dos que ante­cedeu a der­rota em campo e que prosseguiram depois.

Ainda hoje temos obras não con­cluí­das a teste­munhar isso; ainda hoje temos a con­fir­mação (já sabíamos) das fábu­las que desviaram com as tais obras da copa; ainda hoje teste­munhamos a inutil­i­dade e sub uso das are­nas esporti­vas con­struí­das onde não existe futebol.

Mas, fize­mos a festa. Os tur­is­tas até devem ter se diver­tido, podem ter fica­dos impres­sion­a­dos com a nossa hos­pi­tal­i­dade e ale­gria. E daí? O que a copa trouxe de bene­fí­cios a nós, brasileiros, que sus­ten­ta­mos a farra das autori­dades irre­spon­sáveis? Quanto deste din­heiro, inclu­sive, o que foi desvi­ado, não teria sido mel­hor empre­gado em obras estru­tu­rantes, saúde, edu­cação, rodovias, fer­rovias, por­tos, tec­nolo­gia da infor­mação, inter­net para ala­van­car o desenvolvimento?

Que­riam mais. Por isso, quase simul­tane­a­mente à can­di­datura para a copa, apre­sen­taram a can­di­datura do Rio de Janeiro para sediar a olimpíada de 2016.

E assim cheg­amos aqui. Como fiz­eram por ocasião da copa prom­e­teram um vig­oroso legado, pouco fiz­eram, o prin­ci­pal, a recu­per­ação da Baia da Gua­n­abara, des­ti­nada aos esportes aquáti­cos, não foi muito longe do plane­ja­mento. Do esgoto e lixo os atle­tas nas escaparão, com sorte talvez não se deparem com cadáveres durante as competições.

O próprio chefe da festa, o prefeito do Rio de Janeiro, recon­hece que esta olimpíada é uma opor­tu­nidade per­dida para o país. Lamen­tavel­mente, só perce­beu isso agora, e não antes de pro­porem a real­iza­ção da mesma.

A vaidade falou mais alto. Qual­quer pes­soa com um mín­imo de bom senso já sabia, à época do evento que seria como está sendo.

Em que pese a importân­cia do evento para o esporte mundial, esse tipo de coisa não era para o Brasil. Nações mais ricas, mais estru­tu­radas e estáveis, têm recu­sado estes even­tos. Aí, o Brasil que cam­inha na con­tramão do desen­volvi­mento, faz festa para recebê-​lo.

O resul­tado é o retum­bante olímpico fra­casso que assistimos.

No mesmo dia em que vemos o min­istro da defesa, reunido com os coman­dantes mil­itares, das três armas, e com out­ras forças de segu­rança, para mon­tar o aparato de guerra, não de festa, vejo os servi­dores do Estado do Rio de Janeiro recep­cio­nando os tur­is­tas nos aero­por­tos com a faixa «bem-​vindos ao inferno», em inglês, claro.

Estarão erra­dos? Esta­mos longe do inferno numa cidade onde os índices de vio­lên­cia são idên­ti­cos aos de nações em guerra? Onde os hos­pi­tais prati­cam med­i­c­ina de zonas de con­flito e não dão conta de aten­der às pes­soas que pre­cisam de socorro médico? Onde esco­las não con­seguem fun­cionar dev­ido à vio­lên­cia? Onde mil­hares de servi­dores e aposen­ta­dos não recebem os salários em dia? Onde as cri­anças têm que se abri­gar atrás de sacos de areias nas esco­las com receio da troca de tiros de armas pesadas entre facções crim­i­nosas ou entre elas e a polí­cia como rotina diária? Esta é a cidade, este é o país que se propõe a rece­ber uma festa olímpica?

Encerro dizendo que fora todos estes per­calços, é até pos­sível que a festa olímpica transcorra sem inci­dentes. Aliás, os ban­di­dos até «maneiram» durante estes even­tos, uma espé­cie de pacto, para que seus «negó­cios» não sejam prejudicados.

O prob­lema do Brasil, e do Rio de Janeiro, em espe­cial, não é o mês olímpico, são os out­ros onze meses, são os out­ros anos.

Abdon Mar­inho é advogado.