AbdonMarinho - UM TRISTE FIM.
Bem Vindo a Pag­ina de Abdon Mar­inho, Ideias e Opiniões, Domingo, 24 de Novem­bro de 2024



A palavra é o instru­mento irre­sistível da con­quista da liber­dade.

UM TRISTE FIM.

A ÚNICA fil­i­ação par­tidária que tive – e man­tenho até hoje – é a do Par­tido Social­ista Brasileiro – PSB onde ingres­sei logo no iní­cio dos anos noventa. Por conta desse enga­ja­mento, emb­ora sem pre­tender con­cor­rer a qual­quer cargo público, ele­tivo ou não, par­ticipei, com meu par­tido, das cam­pan­has do Par­tido dos Tra­bal­hadores — PT, de 1989

até aquela que elegeu o ex-​presidente Luis Iná­cio Lula da Silva em 2002 – sim, tenho minha parcela de culpa, peço perdão a todos.

Já no iní­cio do gov­erno, vi que o mesmo «não tinha perigo de dar certo» e me afastei, emb­ora o PSB, fizesse parte do gov­erno. Assim, como me afastei, quase com­ple­ta­mente de qual­quer mil­itân­cia político/​partidária durante os anos seguintes. Advo­gado novo, em iní­cio de car­reira e sem – como se diz no sertão – ter um cachorro a latir por mim em qual­quer lugar, tive que mer­gul­har no trabalho.

Mas, ape­sar do tra­balho, sem­pre me man­tive ativo e inteirado sobre a política nacional e local. Até porque, como advo­gado atu­ante no dire­ito eleitoral está era e é uma neces­si­dade que se impõe.

Fiz estas con­sid­er­ações para dizer que emb­ora crítico do PT e do gov­erno que fiz­eram, a imagem da sua sede nacional siti­ada por poli­ci­ais camu­fla­dos enquanto faziam uma busca de quase oito horas me falou fundo.

Não me chamou atenção às prisões de impor­tantes ex-​ministros, mais de dezena de man­da­dos de prisão con­tra out­ros cidadãos, as bus­cas ou apreen­sões real­izada sem diver­sos lugares. O que ficou mar­cado, neste olhar fati­gado – como diria Ban­deira –, foram os homens das forças de segu­rança, arma­dos, em posição de com­bate sitiando a sede do Par­tido dos Tra­bal­hadores – PT. Não se trata, neste momento, sequer, de inda­gar as moti­vações. Cer­ta­mente, motivos exis­tem em abundân­cia e bem poucos descon­hecem o que o par­tido e seus diri­gentes andaram fazendo com o din­heiro público. Ainda aque­les que encon­tram numa enganosa ascen­são social uma jus­ti­fica­tiva para elidir os crimes cometi­dos, eles estão aí, à vista de todos e cla­mam para não serem ignorados.

Ape­sar disso tudo, o que me des­perta inter­esse é a simbologia.

Lem­bro, como se fosse hoje, que chorei ao ouvir o dis­curso de posse de Lula em janeiro de 2003. Ainda recordo da emoção que senti ao ver, pela primeira vez, um homem do povo, operário, cidadão comum, com eu e tan­tos out­ros, chegar ao posto de man­datário maior do país. Mais, que chegava com uma ideia ven­dida para mil­hões de brasileiros de que o din­heiro público não iria mais ser desvi­ado para uma elite que espo­li­ava a nação para aten­der às suas ambições pes­soais; que não iria roubar, não iria deixar que os rou­bos acon­te­cessem mais e que iria inve­stir com respon­s­abil­i­dade os recur­sos públicos.

A imagem da polí­cia cer­cando a sede do par­tido, em plena democ­ra­cia, com as insti­tu­ições fun­cio­nando de forma reg­u­lar, por seus «malfeitos», por terem suas lid­er­anças máx­i­mas se tor­nado, em uma década, os ver­dadeiros ladravazes da República é algo efe­ti­va­mente chocante e simbólico.

Em meio a tanta infor­mação, não lem­bro de ter teste­munhado a polí­cia fed­eral fed­eral cer­cando outro diretório de par­tido. Não lem­bro ver cerco ao diretório do PMDB, do PR, do PP, ape­nas para citar out­ros inte­grantes do con­sór­cio que dirigiu o país na última década.

O cerco deu-​se jus­ta­mente naquele par­tido que um dia já foi depositário das esper­anças de tan­tos e tan­tos mil­hões de brasileiros.

Emb­ora desde muito tempo soubésse­mos dos malfeitos e traquina­gens do par­tido a quem um dia con­fi­amos o voto, o sig­nifi­cado do cerco é que aque­les em quem deposi­ta­mos tanta con­fi­ança são tão iguais ou piores que os demais aos quais nos habit­u­amos a satanizar.

O pior, repito, é saber­mos que a Justiça Fed­eral, o Min­istério Público e a Polí­cia Fed­eral não se equiv­o­caram ao pro­mover o cerco e ainda nos fazer com­pro­var que esper­ança um dia deposi­tada num sonho de mudança foi uma aposta em quem nada tinha a ofer­e­cer. Mais, que mon­taram e coman­daram uma estru­tura com o claro propósito de saquear a nação, tanto para si e para o deleite pes­soal dos seus, quanto para o deleite daque­les a quem se asso­cia­ram no intento criminoso.

Encerro com uma rem­i­nis­cên­cia. Logo que o sen­hor Lula chegou ao poder – quem me con­tou essa foi um amigo petista – um dos mil­i­tantes mais aguer­ri­dos da leg­enda confidenciou-​lhe que a maior decepção da sua vida seria desco­brir que o pres­i­dente recém-​empossado deixara o cargo rico, com fazen­das, etc. Infe­liz­mente, acho, que este mil­i­tante estava longe de imag­i­nar que coisas bem piores faria e que a imagem do diretório nacional do par­tido siti­ado pela polí­cia seria a mais expres­siva prova do mal que o sen­hor Lula e os seus causaram ao país.

Tamanha des­graça não é algo a se fes­te­jar, é, sim, motivo para refle­tir e lamen­tar. Sobre­tudo lamen­tar pelos mil­hões que viram suas esper­anças se esvair.

Abdon Mar­inho é advogado.

Obser­vação: imagem col­hida do site UOL.